1° fonte: A “Ilha Brasil” de Jaime Cortesão: ideias geográficas e expressão cartográfica de um conceito geopolítico. Francisco Roque de Oliveira
O passo seguinte dá-o Cortesão ainda sem recorrer aos mapas antigos, mas a um par de textos do século XVI. No seu entender, o que conferia uma dimensão épica à história da colonização portuguesa do Brasil era o facto de os colonos portugueses terem tido desde muito cedo "a consciência embora confusa, da unidade geográfica do Brasil e do dever de realizar a integração desse território imperial, defeso nos seus dois terços pela linha divisória de Tordesilhas".
O sentido quase teleológico que esta afirmação supunha justificava-o com base nos conteúdos de dois escritos do cosmógrafo João Afonso, amiúde identificado como Jean Fontenau ou Jean Alphonse Saintongeois e de suposta origem francesa, mas cuja prova de nacionalidade portuguesa Cortesão pretendeu haver definitivamente resgatado dos arquivos de Sevilha. Diz o nosso historiador que João Afonso
"já assinalava essa intuição geográfica, que lhe fora transmitida, por certo, nalguma das suas viagens ao Brasil, pelos primeiros colonos. Na sua Cosmographie, terminada de escrever em Maio de 1544, afirmava que tanto o Amazonas, a que ainda dava o nome de Maranhão, como o rio da Prata nasciam de um lago no interior do Brasil, fazendo deste uma ilha que fora totalmente circum-navegada. Mas já antes, nas Voyages Aventureux, redigidas cerca de 1527, fizera a mesma afirmação, com referências mais concretas ao Amazonas, cuja foz assinala como divisória entre as terras dos Portugueses e dos Espanhóis".