Falta de registros impede uma resposta precisa – mas isso não significa que alguns povos não tivessem conhecimentos avançados de astronomia. É difícil cravar uma resposta, por uma série de fatores.
Primeiro, não dá para generalizar: havia mais de mil povos indígenas por aqui na época em que Cabral desembarcou, cada um com cultura e visão de mundo próprias.
Segundo: faltam registros. “Não há fontes escritas anteriores à colonização. O que existem são registros arqueológicos (utensílios, cerâmica, marcas de uso da terra)”, diz Luma Prado, mestra em História Social pela USP. Eles ajudam a entender aspectos gerais (onde os indígenas viviam, do que se alimentavam, qual era a densidade populacional), mas não permitem responder perguntas mais precisas.
Luiz Carlos Borges, pesquisador do MAST (Museu de Astronomia e Ciência Afins), acredita que, mesmo considerando essas ressalvas, é pouco provável que os povos indígenas soubessem que a Terra era redonda. “Nos antigos mitos, não há nenhuma menção ao formato do planeta”, diz Borges, que estuda as observações astronômicas indígenas.
“Eles estavam preocupados com a própria realidade geográfica. Seria difícil tirar esse tipo de conclusão de forma empírica: ou seja, apenas observando o horizonte.”
Isso não quer dizer que os indígenas não desenvolveram os seus próprios conhecimentos astronômicos. No único registro a respeito disso, datado do século 17, a dupla de capuchinhos franceses Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux descreveu o povo Tupinambá do Maranhão. Eles sabiam a maioria dos corpos celestes do hemisfério e possuíam o próprio sistema de constelações.
Com isso, era possível organizar calendários para marcar as estações chuvosas e as épocas de colheita. Os Tupinambá do Maranhão também já associavam as fases da Lua com as subidas e descidas das marés.