1° fonte: “Entre a sombra e o sol. A Revolta da Cachaça, a freguesia de São Gonçalo e a crise política fluminense (Rio de Janeiro, 1640-1667)”. Antonio Filipe Pereira Caetano
De volta à vila de São Paulo, os revoltosos fluminenses até que tentaram alertar os paulistas sobre os males causados pela administração de Salvador de Sá, quando em 16 de novembro de 1660 escreveram aos vizinhos:
são tantos os apertos, ou para melhor dizer, as tiranias, com que o mau governo de Salvador Correia de Sá e Benavides e seus parentes tem oprimido a toda a esta capitania, que não podendo já suportá -los (por mais o intentou), se resolveu a nobreza, clero e povo, unânimes e conformes a deitar de si carga, com que já não podia, fiados na justificação ante as razões pés de Sua Majestade das causas que tiveram e os moveram, em que se fundamentaram para depor ao dito Salvador Correia de Sá e Benavides (...)
Por trás da tentativa de alerta, os fluminenses visavam, além do esclarecimento
sobre a morte do mineiro Jayme Commere, angariar o apoio dos paulistas frente ao domínio do luso-espanhol na repartição sul. Um mês e dois dias depois, a resposta dos paulistas deixaria os camareiros fluminenses perplexos:
em razão do general Salvador Correia de Sá nosso Governador, experimentamos tanto pelo contrário as mau fundadas queixar desse povo, que com todos os desse povo, que com todos os dessa capitania juntos e não deverão parte do muito que as estranham a novidade do sucesso, a que vos mercês devem acudir com remédio, para que Sua Majestade fique melhor servido, e nós não faltaremos a obrigação que temos de seus leais vassalos.
O apoio dos paulistas a Salvador de Sá para os fluminenses não correspondia aos
acontecimentos de 1640, quando governador da repartição sul ficou ao lado dos
eclesiásticos nas restrições à escravização dos negros da terra. No entanto, o
posicionamento dos paulistas relacionava-se muito mais aos benefícios imediatos
empreendidos pelo governador nas regiões mineradoras, que se encontravam listadas na
carta que a câmara da vila de São Paulo escreveu a Salvador Correia de Sá declarando seu apoio:
(...) grandes benefícios nas estradas, nas passagens do rio na
observância da justiça, tendo-se nestas capitanias o que parecia impossível
em tão breve tempo, sobretudo a V.S. mandado fazer a estrada do mar de
que posso mandar carros por elas, cortando serras, e passar por onde uma
pessoa passava mal (...), onde fizeram mais de setenta pontes, obra que
ainda é aos que a fizeram lhes parecem impossível.