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Bartholomeu Bueno da Silva, o Anhanguera  (n.1634)
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1970


MARCHA PARA OESTE
01/01/197011/09/2025 04:50:07

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      1970
MARCHA PARA OESTE
Atualizado em 11/09/2025 04:50:07
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ná-européia. Os que atacaram o colonizador imediatamente. Os quevieram depois, de boas pazes. Os que vieram trazidos pelo preador,em guerra justa ou injusta. Os que tomam parte na vida social doPlanalto. Enquanto o índio entrava para a bandeira, a mulher indígenaentrava na forma9ao biológica do grupo através da mesti9agem. Aluta contra carijós e piratas. O índio era "vegetal na agressao?" AfonsoSardinha, capitáo-de-guerra. Cataguás e guaicurus. Os bugres docontinente de Lajes. Se haviam de se comer uns aos outros, que osdescessem os bandeirantes. Se os moradores de Piratininga nao oshouvessem descido, o teriam feito os espanhóis pra seu lado. Os índiostrazidos pela bandeira: tamoios, carijós, tupiáes, temiminós, caiapós,bilreiros, patos, tapes, biobebas, miramomis, guarulhos, "pés largos"e outros. O número de pe9as vermelhas trazidos em cada expedi9áoe o cálculo de Varnhagen. As fun9é5es que o índio desempenhou, nocombate ao invasor e na conquista. O recurso pronto e rápido dafuga. Sem o bra90 indígena o branco náo poderia viver. Os jesuítase os escravos vermelhos. A catequese. A zanga do padre contrao curupira. Qual o santo preferido pelos indígenas? A cria9ao dasaldeias e a defesa do aborígine. A primeira gera9ao de mamelucos.O bandeirante apartador de briga entre tribos rivais. A democratiza9áo social pela miscigena9ao.Cap. IV - A BANDEIRA E A SUA ORIGEM SOCIAL . . 119A f amília, o clá e a bandeira. A mulher branca e o seu papel, nasociedade bandeirante. Veemente nas respostas ao rei, cordial notrato com a mulher. A água dos rios democratizando os costumeslocais. Todos bebem no mesmo copo e tomam água na mesma vasilha.Sem f amília nao teria ha vi do bandeira. Meninos que já eram bandeirantes tao sabidos como os país. Tres irmáos bandeirantes, fundadores de tres cidades. Os filhos d´ el Tuerto, irmaos no sangue, nosertanismo e no infortúnio. O ter tomado parte numa bandeira, "títu- lo de honra para cada família". A policultura e a pequena propriedade, nos arredores da vila. O espírito de coopera9ao em assuntos deinteresse público. A cria9ao de gado e os pequenos rebanhos daredondeza. A falta de "casa de pedra e cal", na explica9ao da bandeira. O primeiro sobrado e a casa lúbrida. A falta de ornamentosrefletindo a vida geométrica e apressada do bandeirante. A camaradagem da "casa de taipa" coro o mato. O quase nenhum valor dapropriedade imobiliária. Rosas a procura de jardim. O hornero que,ao tempo de Fernao Cardim, já colhia doze mil marmelos. A terrafertilíssima, sem "nenhum extremo de quentura ou frialdade". Urnademocracia rural que faria inveja a André Rebou9as e Chesterton.O "equilíbrio ecológico", a fartura de mantimentos e o papel que oboi representou na nutri9áo do Planalto e na realiza9ao da bandeira.O "latim" do criador de Curitiba nao foi perdido.Cap. V - A BANDEIRA E A SUA ORIGEM ECONOMICA . . 149O ouro descoberto (Brás Cubas, Clemente Alvares, Afonso Sardinha) eas fábulas dos potentados, dos nababos e das cem bacías de prata. Pobreza, em assunto de comes-e-bebes. Qual o modo do bandeirantevestir-se, comer, beber e dormir? Náo é só a pobreza que faz o ho-
[p. 8]

0 "náo vá" do jesuíta e da governan9a. O piratiningano "nao podiaviver sem o sertáo". O bandeirante, mandatário do agricultor noapresamento do índio. O número de índios em cada bandeira. Osaviamentos e gastos, sem nenhum ajutório dos poderes coloniais.Até que ponto o sertáo colaborou na bandeira. O paiaguá, vagabundoda ácua. Nao é a toa que a água e sertao se associam, pois aqueladá a~ bandeirante o caminho que anda e este lhe dá o índio queconhece a terra de cor e salteado. As bandeiras fluviais e a fun9áodo Tiete na conquista do Oeste. A água que é a "alma do ouro" naminera9áo. Grandes ríos imperialistas e pequenos ríos democráticos.As homenagens que a cidade e o bandeirante prestam ao sertao.Internada no sertáo bruto, perdía a bandeira o contacto com o litoral,tomando-se urna verdadeira "cidade em marcha". Enquanto o senhorde engenho manda, o cabo-de-tropa comanda. Voltar? seria muitopior que prosseguir, fosse pra onde fosse. "As árvores caminham".As vicissitudes da jornada. A luta com os índios, com o sol, com amaleita e com a falta de manti.mentos. O "horizonte cultural" dabandeira. "Tropa da gente de S. Paulo que vos achais nas cabeceirasdo rio Tocantins .e do Gráo-Pará; eu, o Príncipe, vos envio muitod ,, sau ar.Cap. IX - A "CRUELDADE" DO BANDEIRANTE E A VERDADEIRA TÉCNICA DA CONQUISTA . . . . . . . . 267Os índios trazidos "em paz". O maior número de escravos nem semprequer dizer maior escraviza9áo. Como o bandeirante "continuava" oíndio. O ciclo da ca9a ao bugre e as chamadas bandeiras despovoadoras. Os irmáos Leme perante a história. Os heróis, os santos e osbandidos. Os bandeirantes em· confronto com os aventureiros espanhóis. Erros de julgamento. O que espanta é náo terem sido osbandeirantes mais violentos do que f oram.Cap. X - O NEGRO NO BANDEIRISMO . . 284XAfonso Sardinha e os seus africanos, trazidos de An~ola. Tapuiúnase tapuitingas. Negros "da terra" e negros "de fora´ (tapanhunos).As pe9as pretas que figuram nos inventários, desde o quinhentismo.Quando se realizam as primeiras expedi9óes, já o negro faz partedelas. Manuel Joáo Branco, Femando Raposo Tavares e os seusnegros. Os africanos dos Camargos. Bandeirantes de grande raio dea9áo na conquista do Sul. Urna bandeira só de negros e tupis,comandada por um mulato. O concurso do negro no ataque as redu96es jesuíticas do ltatim, do Guairá e do Tape. Um documento de1629 que se refere expressamente aos "tapanhunos" que tinham idoao sertao. A contribui9áo do africano na vida social do Planalto,nas lavouras dos pousos, na condu9áo dos mantimentos, na conquistaterritorial, na luta contra os emboabas. O negro "bom trombeteiro".Fernáo Días País e os seus negros em Sabarabuc;u. As bandeiras dePascoal Moreira e Bartolomeu Bueno da Silva (o 2.0) e o numerosocontingente de negros que nelas tomaram parte. A bandeira come9aindígena e termina africana, na fase da minera9áo. A luta do negro [p. 10]

Uma coisa é o mito resultante das "leis épicas" da História - outra o mito que funcionou como coisa natural, cotidiana, pedestre, mo sistema de vida e economia do Planalto de Piratininga.E essa distinção é importantíssima, em qualquer estudo se queria fazer, honestamente, do fenômeno social que foi a bandeira, ou da bandeira em seu processo sociológico de expansão para o Oeste.De fato, foram os mitos, o das "esmeraldas", o da "lagoa dourada", o de "Itaberaboçu resplandescente", etc., que o levaram sertão adentro nas suas caminhadas continentais. O ciclo do outro são capítulos que os historiadores apontam como clássicos, não tem dúvida.Mas os mitos de fundo econômico (como lhes chamarei) é que antecedem, entremeiam aqueles dois ciclos, e sobrevivem como uma "constante" do bandeirismo durante nada menos de três séculos.
1782 - o "ivutucavaru" ainda funciona.
1810 - a "lagoa dourada" ainda é objetivo de uma expedição que devia subir o Jequitinhonha, etc.[p. XXVIII]

Duas coisas eram o fio de Ariadne pra entrar no desconhecido. Sem os caminhos de pé posto o remédio seria mesmo ficar plantando cana no litoral, e adeus. Mas não: funcionariam logo os caminhos de Ubatuba e Caraguatatuba para o Vale do Paraíba e Paraibuna; e de Bertioga, chamado "caminho do sertão" pelo rio Tutinga até Moji, o de Jurubatuba (porto de Santos) com igual destino; e de Piaçaguera, chamado "caminho velho", para Santo André, São Paulo de Piratininga; e de Cubatão - ou o "caminho do mar"; o caminho do Padre José, o "caminho do gado", de Itanhaém, M´Boy e Santo Amaro [p. 14]

que a fantasia me facilita. A nenhuma cultura intelectual da época,facilitando o contacto áspero coro o sertao.8°6. ª) O conhecimento do tupi, pois bandeirante chega a ser sinónimo de "conhecedor da língua-geral". O portugues dificulta apenetra9ao; a língua do aborígine, aprendida pelo bandeirante, lhetorna fácil o acesso ao mundo primitivo.7. ª) O Cristianismo. A promessa de dar os primeiros granulosamarelos para a coroa de N ossa Senbora. O bandeirante sabe quecometerá crimes, em razao do sertao, e precisa do padre para lhedesc~rreg~r a consciencia. Embora sem a mesma fór9a dos mitos,no dmam1smo da bandeira, nao se pode negar que o Cristianismof oi urna condi9ao pra que a bandeira se realizasse.Tóda p~voa9ao come~a por um curta! e por urna igreja. Deviamos descobndores 81 lembrar-se--diz Frei Agostinho de Santa Maria--de que, como católicos, era necessário, naqueles incultos sertóes,louv~r a No ... ssa Senhora; P.t:
1!. ª) A força motriz, e mágica, porém, que arrasta os homenssertao adentro, é a dos mitos de origem económica: a itaberabo~ura~~e BART
resplandecente, o sol da terra, a montanha dourada, a serra daspedras verdes. .

Já Martim Afonso acredita nos 400 pajens que lhe tranam 400cargueiros de ouro e prata. A serra "mui formos~ e resplan~ecente"é "alvo das mais arrojadas expedi96es sertane1as conduzidas deSao Paulo em dir~áo ao Vale de Sao Francisco". A • A A bandeira revela entáo um fundamento econom1co na genesedos mitos. 82 lmagin~9áo e ´ambi9áo, cheias de riqueza sensorial eligadas, por assim dizer, a conce~ao espacial da vida, deflagraraem formas expansionistas de movimento.Os mitos conduzem, instigam a marcha; os santos a acompanham. "Pe90 ao anjo Sao Gabriel e ao santo do meu nome e aoanjo de minha guarda me queiram acompanhar."Mitos a frente; santos atrás, e lá s·e vai a bandeira.Nao é só a pobreza que faz o hornero do planalto emigrar; é omito do ouro. .É também o fascínio do desconhecido.12. ª) Ninguém negará ainda que, na mobilidade do bandeirante teriam influído alguns sentimentos que só se encontramjunto~ no Planalto de Piratininga: a ambi9áo do portugues, o ódioao espanhol, a vingan9a contra os carijós, a rivalidade entre ~stribos facilitando a "localiza~ao do homem branco", a nostalgiacó mi~a do índio que queria regressar para a taba, e que ajudavaa empurrar a bandeira sertao adentro. , . . .

13. ª) A bandeira nasce, num sentido etmco, com a pnmerragera9ao de mamelucos. 83 A democratiza9ao pela mesti~agem é, pois,0 seu nascedouro; mesti9agem resultante do conúbio dos brancoscom as cunhas do reino guaianá. Mas nao eram só os portu~esesos moradores do planalto. Aí vamos encontrar um boro numerode flamengos, ingleses, italianos e principalmente espanhóis, naose falando nos da na~ao hebréia e nos africanos de Guiné e Angola,importados, já em 1590, por Afons? Sardinha.. , "

Embora em menor número-po1s a banderra e um fenomenoprincipalmente indígena, e~ sua fase in~cia!¿ afric~no toma P~:nela, desde o primeiro seculo. Em pnnc.1.p10 do seculo XVII, Jª82. o nome de i sola de braQ´ill, que figura na carta geográfica de Benincasa(1483) ou de i sola di Brazi a que alude o mapa do venezlano Andréa. Blanco(1486) está demonstrando o "isolamento" da. terra (tsoLa) que enganou opróprlo Cabral (Ilha de Vera Cruz) e que também teve a gra~a. de ser descobertatantas vézes quantas exlgiu a. sua teimosia em ni.o se deixar descobrtr. Ahlpót ese de " i sola" ou o mito da. llha. Brasil pode constituir já uma ra.záocultural, geográfica´ do Estado portugues (como quer JAIME CORTESAO). masni.o par a. 08 moradores de s. Paulo de Piratlninga, alheios a. esse mito.83. BASíLIO DE MAGALHAES, obra. cit., p. 73 [p. 42]

Em suma, parece não haver exagero, e isto se verificará nos capítulos subsequentes, em se afirmar:

a) por sua duração, pois é um sistema de vida que vai do século XVI ao XVIII, não havendo exemplo de coisa semelhante em qualquer outra região do país;
b) por seu foco de propulsão; São Paulo é o único ponto do país onde a bandeira constitui um fenômeno social pela constância e pluralidade com que se repete durante quase três séculos;
c) o próprio governador-geral do Braisl, quando quer organizar bandeiras à Lagoa Dourada, que se presumia estar nas cabeceiras do São Francisco, se transfere para São Paulo, com governo-geral e respectiva bagagem. [p. 48]

ordem-—ninguém vá ao Planalto “regatear com índios”, tambémnão foi tomada a sério; sua própria mulher a revoga, hàbilmente. . .Abrem-se os três caminhos principais que eram os do Mar, deVirapocira e o de Pinheiros. À preocupação da governança nãocessa, no sentido de manter limpos êsses caminhos, vedando alguns—aquêles por onde os nativos se arremessavam contra o Planalto,e esforçando-se no sentido de conservar o principal dêles, que erao do mar. Certa ocasião trinta e três pessoas requereram que sepusesse em “praça” o Caminho do Mar, pra se confiar a construçãodêle a quem menos pedisse, pagando-se “hum tanto por cada cargaque vier de Santos."? Porém, só em 1789, se estabelecerá “umalivre e relativamente acessível comunicação entre o Planalto eCubatão”.Ao lado dos caminhos primitivos, abertos pelo índio, estarãotambém os de “pé pôsto”, as picadas, as veredas anônimas, abertasno ínvio sertão pelos heróis dos descaminhos. Ao lado do “cami-nho que anda”, o caminho “que fixa” as populações; que promovea circulação do estôrço humano. Construindo estradas em tôdas asdireções, a bandeira inaugura também no seu âmbito os primeirosmeios de transporte: canoa, índio, negro, boi, rêde de conduzir gente,carro de boi, bêsta de carga e tropa. Quando nada fizesse, abriaum caminho..A função do bandeirante, como se verá, era abrir caminhos. Oscaminhos para o interior: o das Gerais, aberto por Garcia Pais; ode Goiás, aberto por Bartolomeu Bueno da Silva; o do Rio deS. Pedro para Curitiba, aberto por Cristóvão Pereira de Abreu;50 de Laguna para o Rio Grande do Sul, aberto por Francisco DiasPeixoto,"* que no primeiro quartel do século XVIII, abre caminho,também, de Laguna à colônia de Sacramento; o de S. Paulo àBahia, aberto por Matias Cardoso de Almeida; o de Cuiabá a Goiásaberto por Ângelo Préto; o do Rio S. Francisco, ligando a Bahiaàs Gerais, aberto por Antônio Gonçalves Figueira; o de S. Pauloao Rio Paraná, aberto por Luís Pedroso de Barros; o de Cuiabá aoParaguai, aberto por Antônio de Almeida Lara; o de Mato Grossopra Goiás, aberto por Antônio Pinho de Azevedo. Da importânciade tais caminhos se dizia, como se disse a respeito do que GarciaPais abriu do Rio para os Campos Gerais e minas de Cataguases”e Sabarabuçu: é o meio de se povoarem os sertões, de se evitar que43: Atos, vol. 0, p. aum28 Doc nisto pas. .16 1dem: Pie 3% SATOMÃO DE VASCONCELOS, Bendeirismo, p. 18.[p. 57]

(Para o Maranhão - explica Barbosa Lima Sobrinho, em seu Devassamento do Piauí - a proteção dos interesses do posseiro se tornou um capítulo do seu programa de autonomia.) Aparece, também, no "caminho das Minas", onde as sesmarias são concedidas abrangendo áreas forçadamente menores, com maior distribuição de propriedade, para que "não se formem régulos", na linguagem expressiva dos documentos. Coisa bem diversa, como se vê, do que se passa na vila de São Paulo, onde a pequena propriedade explica a ânimo do bandeirante; onde uma esmeralda vale mais do que um latifúndio; onde um catre vale mais que uma "casa de dois lances". [p. 74]

Clemente Álvares não tinha terras pra lavrar "nem com que pudesse sustentar seus filhos" e pede uma légua, no limite de Pirapetingui; o Padre João Álvares quer fazer as suas "milharadas" e pede uma sesmaria no "Boigi-miri". Manuel Prêto, para suas roças e benfeitorias quer "um capão de mato junto à vila de São Paulo"; Amador Bueno precisa de terra a fim de "agasalhar-se" e pede uma légua "para banda de Moygy", Bartolomeu Bueno, "carregado de filhos, requer uma légua de terras na paragem a que chamam aldeia dos índios, junto a Mariaálvares dona viúva";

(...) Pedro Vaz de Barros possui "parte mui limitada nas terras dos índios" e não pode sustentar sua casa; quer passar a viver onde, com largueza, pudesse caber, no caminho velho do sertão onde chamam Itacoatiara; suplica "duas léguas de longo".

(...) Luís Lopes de Carvalho quer uma sesmaria na Serra "Birassoaba" pra lhe fornecer matos e águas à fábrica de fundição de ferro que ali irá instalar. Inocêncio Prêto Moreira, por ser filho e neto dos principais povoadores da vila de São Paulo, quer...

Manuel Gonçalves de Aguiar e João de Sousa tinham "povoado" uns campos entre os Rios Paranapanema e Paranampitanga" e o fundamento do seu pedido é esse. [p. 75]

Tupis eram amigos; (5. "indios, nossos naturats e amigos da nac;áo tupi" (Ata de 7 de janeiro de 1612) os tupiniquins sao "compadres" dos piratininganos; tamoios e carijós fizeram-se inimigos do conquistador.

A luta entre carijós e tupis tornara-se "mais atroz e encarni~da";a ati9avam, µiui de propósito, alguns espanhóis largados no litoralpelas expedi9óes marítimas que haviam seguido em procura do Rioda Prata.6

O grupo serra acima nasceu lutando contra o carijó e contra opirata. Houve um momento em que Afonso Sardinha nao sabia qualdos dois devia combater primeiro: se o pirata, se o carijó. Aliásjá esta posi9ao de luta o colonizador viera encontrar estabelecida;Ramalho serra acima em luta contra o carijó e Caiubi no litoral,em luta contra o pirata. A primeira expedi9ao ( aquela que MartimAf onso mandou terra adentro a procura de o uro e de prata) naodeu certo: foi logo destro9ada pelos "bárbaros carijós, senhores dopaís ao sul de Cananéia". [FREI GASPAR, Memórias, p. 190]

O primeiro conflito com espanhóis verificou-se em 1537, quando Rui Moschera, a frente do seu grupo,tentou apossar-se de S. Vicente. 8 Passada a primeira fase da brigacomo pirata, vem o tamoio e ataca Bertioga, em 1547. Nem faltoupirata na linguagem dos inventários. Ora é o pirata holandes, naaltura da barra de S. Sebastiao, assaltando o cabedal de um morador do Planalto. Ora é a casa de Pero Leme, em S. Vicente, saqueada e queimada pelo pirata ingles. 9 Ora é o pirata frances queamea9a o litoral em companhia do tamoio. Ora sao presos em Santoscinco piratas ingleses num navío espanhol.6. MACHADO DE OLIVEIRA. Quadro Histórico, p. l.7. FREI GASPAR, Memórias, p. 190.8. TAUNAY, História Geral das Bandeiras Paulistas, t. I, p. 110.Luis de Góts escrevta a- el-ret (1548) dtzendo que tudo esta.va contaminado defranceses e pedtndo pledade para multas almas cristA.s que extsttam na Ca.pitanlaentre homens, mulheres e meninos (Docs. lnts., vol. XLVIII, p. 11).9. Descoberto o ouro, John Wlthall (um inglés que morava em Santos) cpmuntcou o fato aos seus amigos de Londres e pronto : dai decorrera.m, segundo observa. FREI VICENTE DO SALVADOR, vá.Tias arremetidas de piratas e corsá.rioscontra o litoral paulista; a de 1583, por Edward Felton, as de 1588, 1591 e 1592,por Cavendtsh (TAUNAY, t. I, p. 172) . -Quando da guerra ao gentio carijó, os moradores de Santos 1azem ver que niodevem abandonar a vila marítima por "áclaren corsaTios e lnglezes pelo mar"(Atas, t. I, p. 493). O próprio Afonso Sardinha, Já pront o para comandar a guerra hesita em ata.car o gentio quando as noticias do m ar dizem ha.ver na costa inl~ migos a.os qua.is devia primeiro combater (p. 477) .Bem expresstva a ata de 1.0 de junho de 1596: "e hu auto da Camara da Vllade Santos e dos adjuntos por causa dos 1n1m1gos fra.ncezes e lnglezes que andAopela costa e por indios andarem cansados e faltos de máotlmentos" (Atas, vol. II,p. 16).Fernil.o Pais de Barros é assa-ltado pelo pirata holandés quando vinha trazendono navio e patacho de Antonio Casado Velho a sua fazenda e a do seu trmAo1alecldo "para dar clareza das con tas que tinha. com o defunto". Francisco DlasVelho é outra vitima do pirata, em cujas garras perde a vida. [p. 82]

~as o brabo da .luta .esta va em vencer os 300 mil inimigos, 10sertao adentro. Entrmche1rados pelas cercanias, deram o que fazer.A princípio, a a9ao do grupo fixado no Planalto foi mais defensivado que ofensiva. Construíram-se muros de fortifica9oes por voltado núcleo nascente. Joao Ramalho é eleito capitao da gente deguerra. 11 Realizam-se as primeiras entradas: a de Anchieta, visando os índios do Anhembi (1561) e a de Joao Ramalho, visando osínd.ios do Pan~;1~ª (~,562). A linguagem da governan9a era típica:senam necessanas algumas entradas ao sertao a descer gentíopagao que há muitas na96es que vivem a lei e modo de brutos ani~mais ... e principalmente o gentío carijó".12Em combater carijós, padres e bandeirantes estavam de acordo. ·Quando aqueles pleitearam a mudan9a de Santo André pra Piratininga a razao foi essa: por estar vizinha do mato, a cidadela deRamalho ficava muito exposta as invasoes repentinas dos bárbaros..13 A luta contra os "b~rbaros" f oi longa e áspera.14 A trucida9ao da gente de Pero LOoo demonstrara a Martim Afonso quenao se tratava de urna brincadeira. Carijó era bicho mais inteligente do que guaianá; sabia arte de guerra e de trai9ao.Outro exemplo disso está no trucidamento da bandeira de Antonio Arenso no J aguari. Aí morreu quase todo o grupo, inclusiveum filho do próprio Martim Afonso. Cunhaqueba arrasou os intrusos, gabando-se de ter comido alguns e trazer a barriga recheadapelo truculento regabofe que tanto abalou os animos da gente branca.15 Dizer que carijó era "vegetal na agressao" (num momentoem que a única superioridade era a arma de f ogo, sen do que asarmas do branco nao passavam de espingardas rudimentares e h3:-via tamanha escassez de pólvora) seria f on;ar um pouco a realidad e das coisas. [16. Atas, vol. I, p. 25: Aos 30 de abril de 1563 os o11cials da. Cámara mandaram chamar o Cap. JoAo Ra.malho a 1lm de que 10sse "requerido desse polvorapara a Vila e asslm provese no q . mais era necesario".

10. 300 mil, no dizer dos documentos relativos a época (Registro Geral, vol.VII, p. 109). "Duzentos mil homens em arco", em 1606, segundo BAStt.IO DEMAGALHAES (Expansao Geográfica, págs. 106-108).11. Em 28 de malo de 1562, Jo6o Cola<;o, "capitáo de toda esta Capttania de s.Vicente pelo sr. Martlm Afonso de Souza cap1táo e governador dela por El-Rey Nosso Senhor, nomeou Joáo Ramalho capitáo de guerra., a quem deu todo opoder".D1z o documento: "e mAo do q. na dita guerra se a ouver lhe obede<;A.o emtudo que o necesario for a guerra somente porque em tudo mats se guardará ho que tenho mAodado em minha.s provisóis sob pena de qualquer pessoa. queao dtto Joio Ra.malho nA.o quizer obedecer na dita guerra será prezo e da cadelapagará vinte cruzados e hú ano de degredo para a Bertioga." (Atas, t. I, p . 14).12. Registro Geral, vol. VII, p . 109.13. FREI GASPAR, Memórías, p. 222.14. PEDRO TAQUES, Hist. da Capitania de s. Vicente, p. 67.15. Atas, vol. I, p. 389. •16. Atas, vol. I, p. 25: Aos 30 de abril de 1563 os o11cials da. Cámara mandaram chamar o Cap. JoAo Ra.malho a 1lm de que 10sse "requerido desse polvorapara a Vila e asslm provese no q . mais era necesario".ni [p. 83]

em "franceses" fazendo grandes sucessos de gente branca e escravos".17 A questão chegara a tal ponto que por um triz o grupo humano do Planalto não abandonou as suas habitações e por outro triz não embarafustou "em caminho das vilas do mar".18

Estava a vila a doze léguas da costa, muito longe do oceano. Fazia anos que esperavam seus moradores por providências que seriam dadas no sentido de fortificá-la contra os carijós. A capita- nia (diziam ainda) estava "être duas gerações de gente de varias quolidades e forsas q. ha e toda ha costa do brasil como são os tamoios e tupinaquis". Há quinze anos vinham tais índios matando "homes brãquos" cujos nomes constam da representação. Não sa- tisfeitos com isso, "e não lhes fazendo a gente desta capitania mal nenhum, quebraram as pazes que conosco tinham e se ergueram e vieram sôbre esta vila, em repetidos assaltos, destroindo hos mão- timentos e matãodo e levãodo alguns branquos e escravos e assim muito gado" com grandes perdas para a gente do Planalto.Enfim, em quarenta anos os carijós tinham trucidado mais de cento e cinqüenta europeus, além de 80 de Pêro Lôbo. 19

Quando se deu a invasão da Bahia pelos holandeses, não tinham os moradores de S. Paulo senão 5 arrobas de pólvora e foi preciso "saber quem tinha chumbo e pólvora, bem como determinar que os capitães não deixassem sair gente para o sertão".O gentio não teme senão arma de fogo. Já o estrangeiro aprendera isso, e dizia que espingarda de dois canos dava ótimo resultado porque vendo sair dois tiros sem carregar de novo, o selvagem pensa que se pode atirar sempre sem carregar, o que lhe causa grande mêdo (FREYRESS, in Rev. do Inst. Hist. e Geog. de S. Paulo, vol. XI, p. 165).44

17. Atas, t. I, p. 46.

18. "protestamos por todas as perdas e danos q. esta vila vieram por razão do dito quapitão não fazer a gera como lhe requeremos e de lhe enquanpar esta dita vila e fazenda de nos irmos todos em sua companhia QUAMINHO DAS VILAS DO MAR e despovoarmos esta vila e ser ele hobrigado a dar conta de tudo a Deus e a El-Rey nosso Senhor, principalmente por deixar aqui ho mosteiro de S. Paulo q. he uma couza das merses fazer a gera nos estamos prestes a o judarmos com pesoas e fazendas e tudo o q. for necesario" (Atas, t. I, p. 48).

19. PEDRO TAQUES, Hist. da Capitania de S. Vicente, p. 67.A zona litorânea, hoje paranaense, foi varrida por Jerônimo Leitão contra os carijós. Em 1586, êsse cabo-de-guera estava em Paranaguá (Hist. Geral das Band. Paul., TAUNAY, t. I, p. 171). A ata de 1585, sôbre a decisão de se fazer a guerra, contém várias informações preciosas:

"O Cap. Jerônimo Leitão, de posse do requerimento de que extraímos o trecho abaixo, resolveu convocar reunião no ´Engenho San Jorge dos Esquetes´, à qual compareceram os vereadores e o Vigário Sebastião de Paiva. Juntos e lido novamente o ´instrumento que os oficiais lhe haviam mandado sobre a guerra do gentio Carijó e do outro gentio Tupiãe e depois de lido e praticado sobre o dito´, ficou decidido se fizesse a guerra ´con tal condisão que todo o GENTIO QUE SE ADQUERIR PER QUAL- QUER VIA LICITA Q. SEJA PERA SE TRAZER PERA ESTA CAPITANIA Q. ELE DITO CAP. OS REPARTIRIA PELAS DITAS VILAS CONFORME A CADA HUA DELAS´." (Atas, t. I, p. 276). [p. 84]

Contra os tamoios, constroem-se as fortalezas de S. Filipe e S.Tiago, na Bertioga. Contra os carijós foi construída urna cerca. "naambua~ava de taipa de pilao" pra proteger o povoado, mas a Cámara achou que essa cerca (isso em 1591) era a "perdisao destatera, pois tomando hos enemigos posse dela", se se metessem dentro dela, "por ser grade e de tres taipas em alto", estaria tudo perdido. Remédio pro caso: mandou-se "larguar esta serqua per fórade maneira que baja espaso para que fique a gente agasalhaqa ebaja espaso para pelejarem sendo necesario".Os trabalhos da Camara ficam interrompidos por muito tempo.20 ·Providencia-se a intensifica~ao da criá~ao de porcos e de bois pracarne aos combatentes.21 Pede-se a ajuda de todas as cámaras dacapitania,´22 clama-se pela necessidade da guerra campal.2ª Os índiosprometem aprisionar Jerónimo Leitao ·e os padres, pra entregá-losaos ingleses, após o extermínio dos brancos.24

Dizem os historiadores que Jerônimo, com os seus mamelucos, arrasou as aldeias do Anhembi, que eram 300, com 30.000 almas.25 O certo, porém, é que a luta continua encarniçada. Afonso Sardinha é eleito capitão-de-guerra "por ser homem para isso". 26

Corre que os brancos haviam sido desbaratados; dois índios cristãos trazem a notícia.27 A gente de Domingos Luís Grou é assaltada pelos "contrários", ocorrendo muitas mortes, entre as quais a de um francês, (?) Guilherme Navarro. O inimigo promete fazer caminhos novos para o ataque à vila. 28 Vão 20 homens brancos sondar as coisas até Pirapitingüi. 29 Resolve-se que a guerra seja feita sem mais delongas, embora sem o concurso do Rio de Janeiro;30 "podia-se escusar outra gente de fora31 e mesmo a ajuda do ca- pitão-mor."

Se assim resolvem os moradores, Afonso Sardinha e o filho me- lhor o realizam, indo muito além do necessário. Afonso Sardinha sai com tôda a gente de S. Paulo a encontrar o inimigo. Pra essa "importantíssima conduta leva todos os podêres, inclusive o de20. Atas, t. 5, p. 408.21. Idem, p. 401. 22. Idem, p. 417. 23. Idem, p. 427. 24. Idem, p. 404.25. BASILIO DE MAGALHÃES, op. cit., p. 106.

26. Atas, t. I, p. 439. Jorge Correia delega podêres de capitão-de-guerra a Afonso Sardinha. Desfeito um mal-entendido que ofendera "a susceptibilidade democrática de numerosos paulistanos", todos reconhecem que êle é homem para isso.

27. Idem, p. 474. 28. Idem, p. 476. 29. Idem, p. 489. 30. Idem, p. 493. 31.Idem, p. 479.marcha ·p/ oeste 85\obrigar os moradores todos sem exce9ao de pessoa alguma" ;32 ofilho transforma mesmo sua guerra aos carijós em "ca9a ao ouroe outros metais", provocando protestos reiterados da governan9a.O hornero ia além do "encomendado".33 Nem era caso mais deresgate aos carijós, pois as pazes com estes tinham sido propostaspelo capitao-mor,34 que enviara ao sertao um dos seus homensbrancos. O enviado ainda nao tinha voltado; mas, "sem ordem dopovo" Sardinha estava exorbitando e chegara a ponto de recolhera sua casa alguns desses índios que traziam propostas de paz, semdar conta disso a Camara. Pois sob pena de multa trouxesse eleimediatamente os carijós de Paranapanema35 a presen9a dos edislocais e prestasse conta de sua inqualificável fa9anha.No Nordeste a mesma coisa: requerida urna parte de terra, vinhao donatário comboiando seu gado tomar conta dela mas essa penetra9ao nao se fez pacificamente. 36 Lutas terríveis contra os índiosassinalam a posse da terra. Os cariris pintam o sete, os paiacus naoquerem ver branco, os tabajaras vem aos magotes pra enfrentar ovaqueiro, que "dormía de bacamrurte a mao". Os aimorés eram detal forma bárbaros que assim f oram considerados em seu própriomeio. Se se der crédito, diz Charles Expilly, 37 a um velho autorportugues, houve prisioneiros aimorés que pref eriram morrer defome em Porto Seguro a reconhecer a lei do vencedor. Por espa90de 25 anos, esses índios massacraram mais de trezentos colonos etres mil escravos, em Porto Seguro e llhéus. Mas, do mesmo modoque o tupi do Sul passou a ser bandeirante, o tapuia do Nordestepassou a ser vaqueiro ou boiadeiro nos focos intensos de cria9aoque foram as caatingas. De inimigo passou a ser comparsa do colonizador entrando para a míscigena9ao nordestina em larga escala.Mais tarde, dada a sua irradia9áo cada vez maior, entra a bandeira em contacto com os cataguás, no centro meridional; com osminuanos e charruas,3 8 ao sul; comos paiaguás e guaicurus a oeste.~sses gentíos (os paiaguás) eram os "muros fechando as minas deCuiabá", no dizer de Bartolomeu País de Abreu, 89 quando escreviaao rei mostrando a necessidade de urna estrada para as minas emlugar da mon9ao, dado o perigo das navega96es livres nos rios32. AZEVEDO MARQUES, Apontamentos, vol. l. p. 3.33. Atas, vol. Il, p. 47. 34. Idem, p . 150. 35. Idem, p. 151.36. DJACIR MENESES, o Outro Nardeste, p. 68.Uma ordem régia de 20 de abril de 1708 determina.va guerra a tOdas as na~6esde indio de corso, tanto n& Bahia como em Pemambuco, Ceará e Rio Grande,para que "nA.o possam escapar uns sem cairem nas mios de outros".37. P. 203.38. AZEVEDO MARQUES, Apontamentos, vol. I, p. 116.39. Documentos Interessantes, vol. 34, p. 182.86 c. r.•infestados pelos paiaguás. Bugres terríveis esses, pois "quant [p. 85]obrigar os moradores todos sem exce9ao de pessoa alguma" ;32 ofilho transforma mesmo sua guerra aos carijós em "ca9a ao ouroe outros metais", provocando protestos reiterados da governan9a.O hornero ia além do "encomendado".33 Nem era caso mais deresgate aos carijós, pois as pazes com estes tinham sido propostaspelo capitao-mor,34 que enviara ao sertao um dos seus homensbrancos. O enviado ainda nao tinha voltado; mas, "sem ordem dopovo" Sardinha estava exorbitando e chegara a ponto de recolhera sua casa alguns desses índios que traziam propostas de paz, semdar conta disso a Camara. Pois sob pena de multa trouxesse eleimediatamente os carijós de Paranapanema35 a presen9a dos edislocais e prestasse conta de sua inqualificável fa9anha [p. 86]

em comum demonstra bem os costumes singelos de solidariedadesocial. Numa sociedade em que o apego a propriedade imobiliária(latifúndio) nao chega a existir ainda, existe o apego a propriedademobiliária bem vivo. Contra o comunismo do negro e do índio saoinúmeras as cautelas: negro nao podia vender couro de gado semdizer a procedencia, ou sem que o respectivo comprador verificassea marca de identifica¡;ao. Esta µiarca já seria a defesa da propriedade do gado contra qualquer confusao comunista. Afonso Sardinhae Brás Cubas sao os primeiros a marcar seus bois.35 Indio nao deviaconduzir m·ercadorias pelo caminho do mar; nenhuma pessoa, dequalquer qualidade ou condi¡;ao que f os se, poderia levar índio consigo, "co cargua ne descaregado". 36 Qualquer escravoª7 que furtasse canoa pagaría mil-réis de multa. Quando se proíbem entradas,há urna exce¡;ao: salvo pra punir crimes de furto.ª 8 Mesmo quantoa propriedade imóvel o que se nota mais a miúdo é sua nenhumavaloriza<;ao: "o chao valia tao pouco que nao figura, a princípio,no rol dos bens inventariados; um lan<;o de casas na rua centraldo povoado valía tanto como um colchao de la com o seu enxergaoe travesseiro." Eram casas de tres lan<;os de taipa de pilao,. comrepartimentos de taipa de mao com o seu quintal; ou casas da ro¡;a,de taipa de mao cobertas de telhas, com as suas portas e chavemourisca, ou portas com as suas dobradi<;as. [p. 132]

Só interrompeu esse governo própprio a intervenção de Portugal de D. João V. Tal intervenção, despojando de seus cargos as autoridades até então eleitas, alterou o sistema de governo ensaiado pelos bandeirantes.

Só então São Paulo foi deixando de ser república para reconhecer as ordens da Coroa. Mesmo assim - ainda em 1722 - Rodrigo César reconhece que "era impossível reduzir pela violência aqueles homens de ferro; com tal casta de gente mais valia a indústria que a força". [p. 202]

Entretanto, mesmo quando se tratasse de um "cursado" em sertão como o 2.o Anhanguera, bandeirante desde menino, a recomendação da Coroa, pelo seu representante D. Rodrigo César (isto já em 1722), era esta:

"Não fará o dito Bartolomeu Bueno da Silva descobrimento algum em terras que pertençam à Coroa de Castela, nem consentirá que pessoa alguma entre nos domínios da dita Coroa, e todo o que fizer contrário incorrerá na pena de pagar por toda a vida para a Ilha de São Tomé, e dito Bartolomeu responderá por qualquer pessoa que incorra nessa culpa." [p. 236]

Só com as bandeiras mato-grossenses é que se torna sistemática a utilização dos rios até que se abrissem as primeiras estradas para as minas situadas a Oeste.

Mesmo pelos rios, a marcha da bandeira é uma página de incomparável afoiteza. Engana-se alguém quando pensa que a bandeira fluvial é menos perigosa do que a terrestre. A fim de ficar mais fácil a todos o irem e virem com cavalos e cargas, evitando-se os riscos e correntezas dos rios, o governo publica um bando prometendo premiar que abrisse uma estrada para Cuiabá.

Principalmente por causa do transporte de gado bovino e cavalar que ituanos e sorocabanos conduziam para as minas e que era dificílimo levar em canoas. [p. 246]

Nem sempre a água favoreceu o bandeirante, nem sempre o rio lhe foi aquela avenida móvel pra que ele pudesse vencer capoeiras, passando triunfalmente entre elas. O paiaguá, o vagabundo da água - a respeito do qual já se falou no capítulo "O Índio na Sociedade Bandeirante" - fez com que a água se tornasse sua inimiga, na conquista de Cuiabá.

Lembre-se apenas que a expedição de Lanhas Peixoto (por ex.) composta de 24 canoas, foi destroçada pelos índios canoeiros; e que estes índios canoeiros - sabe-se agora - "nada mais eram do que descendentes dos carijós do séquito de Anhanguera."

Caracterizam essa conquista os grandes destroços, perdições de canoas por falta de pilotos práticos.

Na linguagem dos antigos bandeirantes, esclarece muito bem Eduardo Prado, chamava-se passo perigoso de um rio acidentado o lugar por onde era possível passar, embora com perigo, o que não acontece no Itapura nem no Avanhandava. Os antigos roteiros distinguem bem as três classes de cachoeira:
1 - aquelas em que era preciso desembarcar toda a carga e varar ou arrastar as canoas por terra;
2 - aquelas em que as canoas podiam passar descarregadas, sendo a carga levada por terra;
3 - e finalmente aquelas em que as canoas podiam passar mas só com meia carga.

Para Cuiabá o percurso era de quinhentas e trinta léguas, pelo Tietê, Paraná, Coxim, Taquari. Esclarece o Brigadeiro Sá e Faria, no seu Diário de Viagem, que o Tietê era o que se pode dizer sem encarecimento uma contínua cachoeira: "onde não as tem, supõe as itaipavas, os baixios de pedrarias e alguns perigosos." [p. 247]

25 dias (a primeira etapa) que a conduta do homem, ou de um grupo humano irá modificar-se substancialmente, nos seus padrões culturais. Luís de Céspedes Xeria gastou, nessa primeira etapa (de Araritaguaba ao Rio Paraná), 19 dias apenas. [p. 250]


  1ª fonte  
  Data: 1892

Revista do Instituto Histórico vol. IV (data estimada)



  


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