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Combate do Passo de Bela Vista
11 de maio de 1867, sábado. Há 157 anos
1867 — Combate do Passo de Bela Vista. O coronel Camisão repeleum ataque dos paraguaios, dirigidos por Martín Urbieta e Blás Montiel.O inimigo deixou no campo mais de 80 mortos. A coluna brasileira teve19 mortos e 32 feridos.A Marcha e Combates das Forças em Retirada da Invernada da Laguna, Paraguai. Combate de 11 de maio de 1867 ou NhandipáO maior combate físico entre Brasileiros e Paraguaio em terras do Brasil Império, Nhandipá, ou 11 de maio de 18671- Em Retirada, a emboscada paraguaia em solo brasileiro e a resistência brasileira, dispersão do gadoa- Ataque surpresaDe súbito, do fundo da escarpa que a estrada contornava, saiu um corpo de infantaria paraguaia que lançou-se sobre a nossa linha de atiradores, atravessou-a, e dirigiu-se para o Batalhão Nº. 17º a uns cem passos de distância.

Enquanto este dispunha-se a receber o ataque, os nossos atiradores, tornando a si da surpresa que abrira passagem ao inimigo, tinham-se voltado e já o carregavam pelas costas, quando grupos numerosos de cavalaria surgem a galope, derrubando e cortando à espada quanto encontram.Foi uma pugna terrível, em que por toda a parte combatia homem contra homem e tal que o nosso Batalhão de Voluntários de Minas hesitou a princípio fazer fogo, porque a descarga devia alcançar a um tempo amigos e inimigos, apesar disso efetuou-se e juncou o chão de mortos e feridos, mas pelo menos obrigou os paraguaios a recuarem e a fugirem; cousa que também só fizeram para irem de novo formar-se alguma distância daí.Não podíamos deixar de esperar um ataque geral.

b- A reação das Forças brasileira

Todos os corpos formaram quadrados e os canhões colocados nos ângulos começaram um fogo vivo e bem nutrido, cujos projetis alcançavam a grota em que o grosso do inimigo estava alojado.

c- Dispersão do pouco gado existente

Novo pânico do nosso gado, desta vez mais grave nos seus resultados que da primeira, veio então comprometer a nossa situação quer momentaneamente, quer para todo o resto da retirada. A boiada, aterrada com o estrondo do canhoneio, qual se não ouvira até ai, foi presa de vertiginoso terror e os animais abrindo passagem por entre os seus guardas e os soldados, precipitaram-se sobre as fileiras, principalmente na retaguarda, mais próxima do ponto em que estavam e nelas produziram a princípio uma confusão que foi notada pelo comandante inimigo e que devemos supor, sugeriu-lhe a ideia da evolução que operou-se imediatamente.

d- Organização das Forças paraguaias

Toda a sua cavalaria foi dividida em duas colunas cerradas que correram toda a brida, e, vindo passar rente com as faces laterais dos nossos quadrados, convergiam sobre a nossa retaguarda para esmagá-la, no estado de perturbação em que se achava. Esta manobra teria com efeito podido acarretar a nossa perda; mas burlou-se, graças principalmente a nossa infantaria que, postada como estava, teve o inimigo durante alguns minutos sob os seus fogos cruzados e fez-lhes cair muita gente.Esses claros nas suas massas quebraram-lhes o ímpeto, além de verem-se embaraçados com os feridos e mortos.e- A violência A arma branca não os poupou mais que as balas e a metralha. Viram-se cavaleiros espetarem-se nas nossas baionetas e perecerem a golpes de espada. O Nº. 20º Batalhão distinguiu-se nessa luta encarniçada, que deu tempo a nossa retaguarda de consolidar-se contra o embate que a ameaçava.A violência não foi tamanha como se esperava; pois os paraguaios, supondo encontrar-nos meio abalados e conhecendo pelo contrário a nossa coesão pelo vigor da resistência, foram levados a desistir do ataque e limitaram-se afinal a cercar os animais espantados que ainda corriam pelo campo. Reuni-los, dominá-los, tocá-los adiante foi para esses campeiros, os primeiros do mundo, obra de um momento; e tudo desapareceu, a planície estava livre, o combate cessara.Os primeiros instantes foram consagrados ao prazer da vitória e as aclamações que ergueram-se espontâneas em toda a nossa linha, dominavam o clangor[1] das cornetas e os toques jubilosos. Mas a essa cena de entusiasmo e de alegria sucedeu outra de desolação.____________Notas de Referências[1] NE – Som forte; estridente.2- No campo de batalha: Mortos, feridos, mutilaçõesO terreno estava coberto de inimigos moribundos e feridos, muitos dos nossos, embriagados com a pólvora e com o fogo, ocupavam-se em acabar com eles. Os nossos oficiais, tomados de horror, embalde esforçavam-se por arrancar-lhes das mãos as vítimas, lançando lhes em rosto a indignidade de semelhante carnificina. Ainda por felicidade os índios permaneciam sob a impressão das ameaças do coronel por causa da mutilação dos cadáveres e abstiveram-se de tocar em qualquer forma humana, animada ou inanimada, mas por isso mesmo foram mais cruéis para com os cavalos, dos quais não pouparam um só, quer estendidos no chão dando alguns últimos sinais de vida, quer feridos levemente e os que ainda ajaezados[2] tinham-se posto a pastar.____________Notas de Referências[2] NE – Cavalos ainda arreados, selas. ____________a- Apropriação dos espóliosVia-se demais a mais, como digno acompanhamento dessas deploráveis cenas, o saque desenfreado a que se entregavam os mercadores de retalho que seguiam o exército. As mulheres também apanhavam o seu quinhão. Os corpos eram revistados, despidos e os despojos sanguinolentos passavam de mão em mão como mercadorias, muita vez disputados com violência.Os cadáveres paraguaios, alvo das primeiras espoliações, ficaram assim nus, estendidos ao sol. Notamos um, o de um moço de formas atléticas, cuja cabeça fora atravessada por uma bala de uma a outra têmpora, os olhos estavam tumefatos[3] nas orbitas; e depois de todo o sangue que correra em abundância, caiam-lhe ainda de sob a fronte grossas bagas que pareciam lágrimas, emblema pungente da passagem exterminadora da guerra sobre a valorosa nação sacrificada por ímpio chefe!Que lúgubres[4] ideias não desperta um campo de batalha e principalmente nessas imensas solidões para onde o próprio gênio do mal parece ter chamado e reunido penosamente alguns mil homens afim de mutuamente se matarem, como se lhes faltasse terra para viverem em paz do seu trabalho!____________Notas de Referências[3] NE – Aumento do volume do órgão; inchado. [4] NE - Fúnebres; funestas.____________b- A contabilidade do número dos mortosOs inimigos deixavam no campo mais de uma centena de mortos[5], no número dos quais encontrou-se um capitão e outro oficial cujo posto, por falta de divisas não pode ser reconhecido. É raro ver tamanho número de cadáveres paraguaios em um campo de batalha. Os que sobrevivem carregam com os que podem e até alguns dentre eles tomam a precaução de atarem-se pelo meio do corpo a uma das pontas do laço que trazem sempre consigo e de prenderem solidamente a outra ponta ao arção[6] da sela, afim de que se caírem mortos ou gravemente feridos, o cavalo acompanhando os outros na volta, leve-os aos lares, ainda que em pedaços; precaução feroz que tem tal ou qual grandeza.Tivemos pela nossa parte dezenove homens mortos, todos do Batalhão da vanguarda ou dos atiradores que o precediam. O tenente Palestrina[7] que os comandava tivera o peito atravessado por uma lançada de que morreu alguns dias depois.O tenente Raymundo Monteiro foi apanhado durante a ação banhado em sangue; carregaram-no em uma padiola[8] e ao passar por diante da sua companhia, bradou-lhe que vingasse a sua morte. Recebera oito lançadas, a primeira das quais derribara-o e teve ainda de sofrer mais do que ferimentos, com o pisar dos cavalos. Sarou não obstante e tivemos o prazer de ver mui prontamente restabelecido esse esforçado filho da Província de Minas. Vinte nove feridos brasileiros tinham sido trazidos de vários pontos e foram colocados na ambulância provisória onde os nossos médicos os puseram em carros de bois, apertados é verdade e acumulados, mas recebendo todos os socorros que as circunstâncias ainda comportavam.____________Notas de Referências[5] NE – Sobre o número de mortos - Na edição de 1874 traduzida para o Portugues registra mais de oitenta. Este registro foi do autor naquele contexto. Na edição em francês de 1891 “Les ennemis laissaient sur le terrain plus d`une centaine de morts” fala em mais de uma centena de mortos. Ainda em nota de rodapé, Capítulo 12 “Il y eut plus de deux cent trente hommes tués. L`affaire avait été engagée entre deux colonnes, dont le total montait tout au plus à trois mille hommes”, Havia mais de duzentos e trinta homens mortos. O caso havia sido iniciado entre duas colunas, o total foi de mais de três mil homens.Em algumas Edições modernas em nota de rodapé “Perderam os paraguaios 184 homens, número inscrito numa grande cruz que, por ordem do Major Urbieta, ali se fincou. (A Retirada da Laguna, Visconde de Taunay, episódio da Guerra do Paraguai. São Paulo: Ediouro. (Prestígio) Entretanto este numero de mortos ainda é divergente:O próprio autor, Alfredo Taunay, no Livro Dias de Guerra e Sertão, Edição publicada em 1927 (republicada por Afonso Taunay) trás as seguintes notas: “As 11 horas, o mortífero encontro e a carga de cavalaria que poderiam ter sido o último dia de todos nós. Dão-lhe os paraguaios o nome de combate de “Nhandipá” e pela quantidade de vitimas naquele simples quarto de hora – que tanto durou – calcule-se a intensidade do ataque. Do nosso lado tivemos 19 homens mortos e 29 feridos. Quanto ao inimigo, uma Cruz alterosa e de madeira de lei, com pomposa inscrição, conforme me narrou o coronel Isidoro, que em 1870, percorreu esses lugares todos, dando execução ao plano de cerco, por aquele lado a Solano Lopez fugitivo, esta Cruz atesta que ali morreram em “Acción de guerra 180 bravos”! Ainda em nota de rodapé “Houve, de parte a parte, mais de 230 homens mortos”O Engenheiro Dr. Armando Arruda Pereira, em visita ao local onde houve o combate em 1924, publicado no Livro Heroes Abandonados, publicado em 1925, registrou:“Nhandípá - A esquerda da estrada, na entrada de Bela Vista, existe uma cruz tosca, de aroeira, no meio do campo, no local onde estão enterrados os soldados paraguaios mortos nesse grande e memorável combate.Nos braços dessa cruz, vê-se uma legenda em castelhano, voltada para o lado que defronta o Paraguai.Reza o seguinte:"LA GARNICION DE BELLA VISTA A LOS (?... 97 HEROES MUERTOS EN ESTE SITIO EL 11 MAYO 1867 EN DEFENZA DE LA PATRIA".Está o número da centena apagado, mas, de acordo com os documentos e as narrações da época sobre o combate, não há dúvida de que é o número um que ali existiu”. Assim seria 197 o número de mortos do exército paraguaio.[6] NE - Peça arqueada de madeira que faz parte da armação de uma sela. Parte dianteira ou traseira da sela à marialva, e, por extensão, da sela ordinária. "arção", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa http://www.priberam.pt [consultado em 24-10-2016].[7] NE - As versões modernas tratam por “Tenente Palestino”. A Versão Francesa de 1891, trata por “Palestrina”, le lieutenant Palestrina. Por tratar-se de nome próprio, sigo o original.[8] NE – Maca. Espécie de cama de couro de bovino, modernamente lona, portátil em que se transportam doentes ou feridos.____________3- A enfermeira, Negra Anna A mulher de um soldado, a negra Anna[9], prevenira os cuidados da administração militar nessa obra caridosa. Colocada durante a ação no meio do quadrado do 17°, mostrara-se zelosa para com todos os feridos que traziam, tirando ou rasgando das próprias roupas o que era preciso para os pensar e ligar; proceder tanto mais notável e digno de admiração quanto o da mor parte das suas companheiras foi miserável. Haviam-se quase todas escondido debaixo das carretas onde disputavam lugar com horrível tumulto.____________Notas de Referências[9] NE – Posterior será publicado um conteúdo especial não só sobre a Anna, mas sobre as mulheres que se encontravam agregadas as Forças em Operação no Sul da Província de Mato Grosso.____________4- Interrogando um paraguaio, prisioneiroO único ferido inimigo que se achou vivo, tinha uma perna fraturada. O coronel quis vê-lo, e para interrogá-lo mandou vir o filho de Lopes que falava o espanhol paraguaio. Parecia sentir agudas dores, pediu água e bebeu avidamente; mas a sombra com que o cobrimos rodeando-o, pareceu causar-lhe ainda mais prazer. Respondeu algumas perguntas que lhe foram dirigidas:__ Que o comandante da força paraguaia com que viéramos às mãos, chamava-se Martin Urbieta[10], o mesmo de que já se falou, que o corpo de cavalaria que tinham mandado contra nós era de oitocentos homens e que proximamente devia chegar outro. Quanto as informações que se lhe pediram acerca da artilharia, disse nada ter que responder, nada saber, mas deu-nos espontaneamente notícias da guerra do sul. Tendo-lhe o filho do guia perguntado se Curupaity[11] fora tomado, respondeu com uma só palavra:__ No! “Não”!— “E Humaitá”? — “Nunca”! — “Então a guerra não está para acabar”? Depois de uma pausa durante a qual a mesma pergunta foi repetida, o moço respondeu, como saindo de um sonho e com o tom enfático que é próprio da língua daquela região:__ "¡La terrible guerra está durmiendo!" “A terrível guerra está dormindo!”Não falou mais, vimos que estava delirando! Levaram-no para uma das carretas da ambulância.O que seguiu-se a este incidente, triste sucesso que não quisemos verificar foi, segundo o boato que correu, que o desgraçado, metido em um carro já muito cheio e onde foi argumentar o incômodo dos outros feridos ou moribundos que só alimentavam ódio e vingança, acabou estrangulado. É certo que durante a marcha, poucas horas depois, foi atirado morto à estrada.Os cadáveres dos nossos compatriotas foram todos enterrados em covas que os índios tiveram ordem de cavar. Quanto aos paraguaios, deixou-se dessa vez a tarefa aos seus patrícios que sabíamos não deverem tardar a voltar ao campo depois da nossa retirada. O coronel com os seus sentimentos de homem profundamente religioso teve disso sincero pesar. Entretanto, o número dos cadáveres era grande e o calor tornava-se acabrunhador.Recomeçamos a marcha!____________Notas de Referências[10] NE – Na ocasião da invasão das regiões Sul da Província de Mato Grosso. A expedição Paraguaia terrestre, fora comandada pelo Coronel de Cavalaria Ysidoro Resquín e pelo subchefe da mesma arma Major Martín Urbieta. Esta Coluna Militar contava com um efetivo de aproximadamente 2500 cavalarianos e um Batalhão de Infantaria.A Divisão Norte, nome da Coluna que atacou por terra, partiu de Concepción em dezembro de 1864.Resquín penetrou em Mato Grosso, vindo direto do Forte de Bella Vista (Paraguai), em seguida atravessa o atual Rio Apa.Urbieta deslocou-se por Cerro Corá, Chiriguelo, indo a Colônia Militar do Dourados onde era comandada pelo Tenente Antônio João Ribeiro.Após a ocupação do Sul da Provincia de Mato Grosso, o Coronel Resquin fora chamado por Solano Lopes para auxiliar nos combates pelo Sul da República do Paraguai. O Major Urbieta permaneceu comandando a região Norte da República. [11] NE – O Forte de Corupaity, localizava-se na margem esquerda do rio Paraguai, aproximadamente cinco quilômetros ao Sul da Fortaleza de Humaitá, na República do Paraguai.No contexto da Guerra da Tríplice Aliança, (1864-1870), da mesma forma que o Forte de Curuzú, constituía-se numa defesa avançada da Fortaleza de Humaitá. Só foi ocupada pelas tropas da Tríplice Aliança em 23 de março de 1868. Da mesma forma a Fortaleza de Humaitá localizava-se à margem esquerda do rio Paraguai, em torno de 430 quilômetros ao sul Assunção.No contexto da Guerra, esta fortificação controlava o acesso por via fluvial à capital, e constituía-se no mais poderoso complexo defensivo paraguaio.Só foi abandonado pelas forças paraguaias, após ocupado pelas tropas brasileiras em 25 de Julho de 1868 e utilizada como base de operações militares.____________

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Data: 01/01/1925 1925

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