Sob esta perspectiva, o trabalho analisa o processo de incorporação e posse daCapitania de São Vicente na nova lógica monárquica implantada em Portugal a partir de1580; [0]Em 4 de agosto de 1578, ocorreu a batalha de Alcácer-Quibir, no campo dos três reis, onde os portugueses sofreram uma derrota às mãos do sultão Abd al-Malik (Mulei Moluco), na qual perderam uma boa parte do seu exército e o rei D. Sebastião, morreu na batalha ou foi morto depois desta terminar.
A derrota na Batalha de Alcácer-Quibir levou à morte de Sebastião em combate e da nata da nobreza, iniciando a crise ao trono de 1580 que levou à perda da independência para a Espanha com a União Ibérica, e ao nascimento da lenda de que numa manhã de nevoeiro D. Sebastião voltaria à pátria.
Conta-se que, ao ser aconselhado a render-se, e a entregar a sua espada aos vencedores, o rei se tenha recusado com altivez, dizendo: "A liberdade real só há de perder-se com a vida.". Foram as suas últimas palavras, e é-nos dito que ao ouvi-las, "os cavaleiros arremeteram contra os infiéis; D. Sebastião seguiu-os e desapareceu aos olhos de todos envolto na multidão, deixando ... a posteridade duvidosa acerca do seu verdadeiro fim.".
Há quem defenda, por outro lado, que o seu corpo terá sido enterrado logo em Ceuta, "com toda a solemnidade". Mas para o povo português de então, o rei havia apenas desaparecido. Este desastre teria as piores consequências para o país, colocando em perigo a sua independência. O resgate dos sobreviventes ainda mais agravou as dificuldades financeiras do país.[0]
Já o nosso Francisco, o neto,acompanhou a armada de Dom Sebastião na malfadada batalha de Alcácer-Quibir naconquista do Marrocos, comandando um dos galeões da armada real, cujo almirante eraseu tio D. Diogo de Souza. [0]
Manuel de Faria e Sousa (Felgueiras, Pombeiro de Ribavizela, 18 de março de 1590 — Madrid, 3 de junho de 1649) foi um fidalgo, humanista, escritor, poeta, critico, historiador, filólogo e moralista português. As suas obras foram quase todas escritas em língua castelhana, pátria que adoptou. Foi Comendador da Ordem de Cristo. [0]Na verdade, já o historiador Faria e Sousa reportara testemunhos, como o de D. Luís de Brito, que afirmavam ter visto no final da batalha o rei à distância sem ser perseguido. Brito encontrou-o posteriormente, em direção ao rio, e segundo o historiador esta foi a última vez que ele foi visto vivo.O documento "Relação da Batalha de Alcácer que mandou um cativo ao Dr. Paulo Afonso",[18] termina informando que o Rei se retirou, e que a batalha terminou sem nenhum lado declarar vitória:Neste tempo vendo El Rei que estava na vanguarda o seu campo desbaratado, se veio recolhendo pela banda do Duque de Aveiro, e o seguiu alguma gente de cavalo e a pé, cuidando que ia fazendo uma ponta para volver sobre os mouros, viu o campo já tão desbaratado que se retirou. Durou a batalha quatro horas sem se declarar a vitória. (Documentos de várias tipologias, relativos à história portuguesa, sobretudo do reinado de D. Sebastião. [S.l.: s.n.] 1501–1650. p. 68-69 do Manuscrito (p. 144-147, do PDF) [0]
1° de 9 fonte(s) [28106] Efemérides Brasileiras, José Maria da Silva Paranhos Jr. (1845-1912) Data: 1938, ver ano (92 registros)
1578 — Batalha de Kasr-el-Kebir (Alcacer-Kibir), na qual é morto o rei dom Sebastião de Portugal. Nessa batalha, muito se distinguiram os dois irmãos Duarte e Jorge de Albuquerque Coelho, nascidos em Olinda. Ficaram ambos feridos e prisioneiros, e resgataram-se dois anos depois, morrendo então o primeiro, que era senhor da capitania de Pernambuco. Jorge de Albuquerque Coelho sucedeu a Duarte, vindo a ser o terceiro donatário dessa capitania. Deixou alguns escritos e foi pai de dois filhos ilustres: Duarte de Albuquerque Coelho, marquês de Basto, primeiro conde e quarto senhor dePernambuco, autor das Memórias diárias de la guerra del Brasil, e Matias de Albuquerque, conde de Alegrete, general na Guerra de Pernambuco contra os holandeses e na da independência de Portugal contra os espanhóis.
2° de 9 fonte(s) [27557] Anais de História de Além-Mar, 2010. José Carlos Vilardaga Data: 2010, ver ano (130 registros)
Já o nosso Francisco, o neto, acompanhou a armada de Dom Sebastião na malfadada batalha de Alcácer-Quibir na conquista do Marrocos, comandando um dos galeões da armada real, cujo almirante era seu tio D. Diogo de Souza.
5° de 9 fonte(s) [k-3608] Batalha de Alcácer-Quibir e o mito do sebastianismo. ensinarhistoria.com.br Data: 25 de julho de 2017, ver ano (146 registros)
A Batalha de Alcácer-Quibir
O confronto começou por volta das 10 horas da manhã do dia 4 de agosto de 1578, na planície de Alcácer-Quibir. O exército português estava esgotado pela fome, cansaço e calor.
As forças marroquinas eram muito mais numerosas reunindo entre 50 mil e 60 mil soldados. Possuíam 26 canhões de grande porte e melhor posicionados.
A artilharia marroquina infligiu pesadas perdas aos portugueses enquanto a cavalaria moura atacou na retaguarda. O ar ficou obscurecido pela poeira dos cavalos e a fumaça dos canhões.
Para agravar a situação, explodiram as reservas de pólvora transportadas pelos carros portugueses. O fogo propagando-se de barril em barril, e de carro em carro, provocou ainda mais desordem e debandada nas hostes de D. Sebastião.
Por volta das 4 horas da tarde, a derrota portuguesa era total em todas as frentes. D. Sebastião reuniu um grupo de sobreviventes para uma derradeira e inútil ofensiva. Mas acabou cercado pelos marroquinos. Recusando a rendição, D. Sebastião foi morto com um golpe de espada na cabeça. Os outros reis também morreram no combate.
O exército português foi esmagado. Dos 15 mil ou 23 mil soldados, estima-se que morreram 8 mil e 16 mil caíram prisioneiros. Menos de uma centena conseguiu fugir para contar a história da derrota. Do lado marroquino foram mortos 3 mil homens.
Muitos dos nobres prisioneiros de Alcácer-Quibir foram resgatados por ouro e prata, o que enfraqueceu o tesouro português. Os que não foram resgatados caíram escravizados ou converteram-se ao islamismo, de forma voluntária ou forçada, integrando-se à sociedade marroquina. Destes, muitos exerceram funções importantes nas obras públicas, no exército e na administração do Estado.
7° de 9 fonte(s) [k-3699] Sebastianismo: O mistério obscuro de Portugal. Por Canal História Ibérica Data: 24 de junho de 2024, ver ano (515 registros)
Segundo os relatos da batalha, Sebastião, lutando valentemente, com armadura formidável, se lançava em meio aos mouros, combatendo os muçulmanos em sua cruzada no norte africano. No entanto, o Rei, após horas de combate, simplesmente desapareceu. Os nobres com que ele combatia o perderam de vista e a formação, com o passar das horas, acabou por ruir.
Após o fim da batalha procuraram pelo cadáver do Rei, sem que, no entanto, ninguém o encontrasse. De fato, com dezenas de milhares corpos nus, após terem sido roubados, mutilados, decepados e dilacerados, era difícil a identificação do Rei, até porque, por mais que D. Sebastião fosse loiro, quase ruivo, em seu exército combatiam também milhares de alemães e belgas.
Até que, um dos guias portugueses encaminha o provável cadáver de D. Sebastião. Um cadáver irreconhecível. Os portugueses demoraram dois dias para conseguir localizar o corpo e após tanto tempo, o cadáver fedia e estava inchado a ponto de desfigurar completamente a pessoa quando (...) Além disso, o reconhecimento foi feito a noite, á luz de velas e após reconhecerem o rei, os nobres o colocaram numa esteira de madeira e o puseram do lado de fora da tenda, nu, da mesma forma como veio. Após isso, o corpo foi trasladado para Ceuta e depois para Lisboa, onde foi finalmente sepultado.
Existem muitas teorias de qual forma faleceu D. Sebastião, numa delas, o Rei teria se entregado, mas dado que os marroquinos queriam espoliar o ouro de sua armadura, acabaram por despir o Rei, e sendo o Rei extremamente casto e beato, não permitiria que ninguém o despisse e acabou resistindo e foi acidentalmente morto pelos marroquinos.
Em outra teoria o Rei teria se rendido e com grupos mouros disputando quem o tinha prendido, acabaram o matando. Mas o fato é que ninguém ao certo viu como o Rei morreu. Segundo José Hermano Saraiva, isso dava em decorrência de que, dizer que viu o Rei morrer, sem fazer nada e sem morrer com ele, era uma desonra, assim os nobres preferiam dizer que não o teriam visto morrer.
Mas, haviam 3 testemunhas que afirmavam também que o viram partir do campo de batalha: Luiz de Brito, Jorge de Albuquerque e Sebastião Figueira.
Luiz de Brito afirmou que no final da batalha viu o Rei saindo do campo de batalha sozinho, sem ninguém o seguindo, dirigindo-se na direção do rio, uma direção bem diferente do lugar onde depois foi encontrado o cadáver. E está terá sido a última vez que o viu. Essa também foi a versão de Jorge de Albuquerque. Já Sebastião Figueira disse que acompanhou o Rei quando saiu do campo de batalha, mas o deixou de ver, o Rei tinha desaparecido. Assim o Rei não teria morrido em Alcácer-Quibir.
8° de 9 fonte(s) [k-3572] Maomé Mutavaquil, consulta em Wikipedia Data: 2 de novembro de 2024, ver ano (515 registros)
Abu Abedalá Maomé Almotauaquil (Abu Abd Allah Mohammed al-Mutawwakil; Alcácer-Quibir, 4 de agosto de 1548), melhor conhecido como Maomé Mutavaquil,[1] Mutauaquil,[2] ou Almotauaquil[3] e ainda alcunhado de o Esfolado depois da sua morte,[4] foi o quarto sultão do Sultanato Saadiano do Magrebe, onde reinou de 1574 a 1576. Era o filho de Abedalá Algalibe (r. 1557–1574), a quem sucedeu, mas seu breve reinado foi interrompido por sua deposição por seu sobrinho Mulei Maluco (r. 1576–1578), vindo de Istambul, a capital do Império Otomano. Mutavaquil esteve presente na Batalha de Alcácer-Quibir de 4 de agosto de 1548 ao lado das tropas do rei Sebastião I de Portugal (r. 1557–1578) contra Mulei Maluco. Se afogou nas águas do rio Mocazim durante a batalha e o seu corpo foi recuperado por Mulei Maluco, que ordenou que fosse esfolado, razão pela qual foi alcunhado, e suas partes fossem expostas em Marraquexe.[5]
9° de 9 fonte(s) [k-3601] A ESTRADA PARA ALCÁCER QUIBIR. Universidade Nova de Lisboa. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Mestrado em História do Império Português (data da consulta) Data: 4 de novembro de 2024, ver ano (515 registros)
Juntemos a isso o nome local do sítio que na época conheceu a batalha: Tamda100, que é, ainda que autêntico, raramente utilizado. As causas para esta dualidade de análise encontramo-las em diferentesfactores:
A – A influência dos escritos e circunstâncias que acompanharam e seguiram a batalha até aos nossos dias: os marroquinos (os antigos cronistas e os historiadores tradicionais) consideraram a batalha como um milagre, uma grande vitória santa contra o inimigo infiel. Eles deram-lhe um cariz religioso, e o Estado Saadida soube aproveitar para consolidar a sua posição contra os seus inimigos a nível local e internacional101.
Os cronistas marroquinos atribuíram milagres “karamats102” a esta batalha103 que eles comparam à grande batalha de “Ghazouat Badr” da época do profeta104. O espírito religioso dominava, portanto, os escritos pois os marroquinos consideravam esta batalha como uma continuidade das guerras que opunham muçulmanos a cristãos durante séculos.
A batalha, por conseguinte, pôs fim a este perigo que ameaçava, não só a sua existência, mas sobretudo a sua religião. Encontramos os ecos deste pensar mesmo em escritos contemporâneos e recentes. Os investigadores portugueses negligenciaram este espírito que animava os marroquinos à época desta batalha.
Abdelmaleque não conseguiu acabar com Almoutawakil depois de mais de 24 batalhas. Entretanto, desde que este pedira ajuda aos cristãos, e depois da vinda do rei de Portugal, em pessoa, a Marrocos, com um exército enorme, ele pode reunir a seu lado todos os marroquinos.
Estes últimos sentiram que não se tratava apenas de um conflito entre pretendentes ao trono, mas do destino de toda uma nação. Aliás, a noção de nação e nacionalismo era frequentemente ligada à pertença ao país do Islão e à religião muçulmana, e dirigida contra os cristãos, que eram os ocupantes (espanhois, portugueses, franceses). Recordemos que Marrocos nunca conheceu ocupação turca. Sidi Moussa, um marroquino que vivia em Portugal no séc. XVI, bem tinha aconselhado o rei Sebastião para não vir em pessoa a Marrocos.
Isso daria a impressão de uma vinda para ocupar o país e influenciaria as gentes para se porem ao lado de Abdelmalkeque. Segundo ele, bastaria enviar um comandante português com quatro ou cinco mil soldados para vencer a campanha. Sabendo que Marrocos é muito vasto e sub-povoado, e para o ocupar nem duas torrentes de homens e de dinheiro não chegariam…105.
Mas este espírito e esta forma de ver a batalha dominavam também os estudos e escritos contemporâneos, sobretudo durante o protectorado francês e mesmo depois da independência. Isto traduziu-se no facto de que ela fora dominada por uma atmosfera de patriotismo contra o ocupante que necessitava do recurso ao passado para recolher os trunfos positivos que ajudavam a encorajar a resitência em proveito do movimento nacionalista marroquino. O efeito deste sentimento nacional-religioso ficou bem depois da independência 106.
A influência deste aspecto nacional-religioso, impede certos investigadores de estudar os factos históricos com uma visão neutra e científica. Assim que Almoutawakil pede o apoio de uma potência vizinha “estrangeira” ele cometeu um acto que podemos classificar como político. No entanto as circunstâncias então existentes traduziram este acto como sendo uma grande traição. Aliás, ainda é assim considerado. No entanto nós sabemos que a história conheceu vários casos deste género107.
A atmosfera religiosa que reinava e que acompanhou os preparativos contra a campanha portuguesa é um factor muito importante. No entanto a maioria dos historiadores portugueses ignoraram-no. Os movimentos sufis, os Ulemas, animaram os espirítos. Os estudos portugueses não falam, por exemplo, da carta dirigida a Almoutawakil. Esta era uma resposta à sua carta, que justificou o recurso à ajuda portuguesa.
Uma carta que discute o problema da sucessão ao trono Saadida e que prova que todos os componentes do Estado e da sociedade marroquina tomaram o partido de Abdelmalek. Sobretudo depois que Almoutawakil pediu a ajuda dos portugueses “cristãos” contra os muçulmanos. A carta fala também dos preparativos materiais e morais: as bandeiras postas no centro da grande mesquita Al Quaraouiyne, os recitadores do Corão que recitaram o Corão 100 vezes e o livro de “Boukhari” que contém as Haddiths do profeta, e “tahlil e takbir”: as orações e as invocações, etc.108
Alguns investigadores marroquinos consideraram esta atmosfera de animação religiosa como um factor importante para explicar a tenacidade da resitência marroquina à época. No entanto, esta mesma atmosfera influenciou outros investigadores menos profissionais a insistir na glória, no heroísmo, no sentimento nacionalista e religioso…Então por vezes inflacciionam os feitos e o número de soldados portugueses e minimisam o número de soldados marroquinos.
B – Do lado português, certos historiadores consideraram esta batalha como uma catástrofe que demoliu um sonho gigantesco: o império português e as suas glórias. Ela foi igualmente considerada como um acidente que surpreendeu todo o mundo, sem excepção. Assim, a maioria dos estudos sobre esta batalha foram caracterizados pela lógica da justificação e pela procura de pretextos. Também a batalha é o fruto da aventura de um jovem rei inepto, a quem falta experiência…Podemos citar como exemplo a página web “O portal da história” onde encontramos as seguintes frases sobre D. Sebastião:
“… Nunca ouviu conselhos de ninguém, e entregue ao sonho anacrónico de sujeitar a si toda a Berbéria a trazer à sua soberania a venerada Palestina, nunca se interessou pelo povo, nunca reuniu cortes nem visitou o país, só pensando em recrutar um exército e arma-lo, pedindo auxílio a estados estrangeiros, contraindo empréstimos e arruinando os cofres do reino, tendo o único fito de ir a África combater os mouros. Chefe de um numeroso exército, na sua maioria aventureiros e miseráveis, parte para África em Junho de 1578; chega perto de Alcácer-Quibir a 3 de Agosto e a 4 o exército português esfomeado e estafado pela marcha e pelo calor e dirigido por um rei incapaz, foi completamente destroçado, figurando o rei entre os mortos…” 109.
Estas amostras de frases provam que são atribuídos a D. Sebastião muitos defeitos e toda a responsabilidade pela derrota e pela decadência do império português. Contudo, existem outras razões que explicam o declínio do império. É preciso rebuscar para trás, aos anos de 1521 e 1522 e rever alguns feitos, julgamentos e preconceitos:
- O império português conhecera dificuldades económicas e políticas, e sinais de fragilidade que remontam a 1521, ao tempo de D. João III. A população portuguesa tinha igualmente passado por um abaixamento demográfico considerável devido aos portugueses que emigraram para o Brasil e Índia em busca de riquezas, e que não regressavam. De facto, regressava uma em cada dez pessoas. Portanto, Portugal perdera, durante o Séc. XVI, 50% dos seus habitantes o que causou danos consideráveis à agricultura e obrigou o país a importar escravos da África negra111. É preciso ainda adicionar a isto a grande peste que atingiu Portugal em 1569 112… Por consequência não seria por si só a responsável pelo declínio do império.
- Terá sido a batalha uma aventura mal estudada? De facto, aqueles que afirmaram isso apresentaram um julgamento posterior com base no resultado da batalha e que quadra perfeitamente com o número insuficiente de soldados e do efectivo do exército português. [Páginas 115, 116, 117 e 118]
II – Não está tudo dito e ainda há muito por fazer
Vistos os comentários precedentes, constatamos que malgrado a quantidade e qualidade dos estudos efectuados, sobretudo da parte de historiadores portugueses, muitos dos detalhes e factos continuam discutíveis ou incorrectos, ou seja, incompletos. Estes factos merecem de uma parte e outra mais atenção e pesquisa. Cito, de forma abreviada, alguns exemplos:
- a morte de Sebastião: as fontes marroquinas falam de uma delegação portuguesa que veio pedir o corpo ao Sultão Al Mansour118. Este tinha-lhes entregue o corpo sem contrapartidas, como demonstração de amizade. Sabemos que a busca do corpo levou mais de 3 dias por 3 equipas de 10 pessoas cada119.No entanto há fontes que contam o sepultar do corpo em Portugal em 1582120, enquanto outros duvidam veementemente do destino do corpo. Deve assinalar-se que igual dúvida se coloca para AlMoutawakil assumindo que não se sabe exactamente o que aconteceu ao seu corpo depois de um percurso por várias povoações marroquinas. E também para Abdelmalek, existe hoje um pequeno tumulo no sítio da batalha mas fontes escritas contam que o corpo foi transportado para Fez. Os detalhes sobre o significado de “sebastianismo” são comparáveis ao mahdismo em Marrocos?
- As estatísticas e o número de soldados e participantes nos dois lados: são números que aumentam ou diminuem de acordo com os campos, não mencionando que ninguém fez um esforço para, ao menos, rejeitar os números exorbitantes. Há vezes em que se fala de 14.000 participantes e 18.000 mortos! Sem um estudo do terreno para definir o sítio exacto e as posições. Nem mesmo a superfície para saber se ela seria capaz de suportar as presumíveis quantidades de homens, tendas, carroças, cavalos e canhões, etc. Quantos foram mortos, feridos, prisioneiros, fugidos… A ponte que os marroquinos demoliram, o rio de Oued El Makhazen, a sua profundidade nesse tempo e agora.
- A relação entre esta batalha com a glória e prosperidade do estado marroquino: os cronistas marroquinos atribuem o apogeu da dinastia saadida à vitória em El Ksar El Kebir. Materialmente não se consegue ver a relação porque Marrocos viveu momentos penosos por causa dos acontecimentos que precederam a batalha: uma série de guerras, mais de vinte batalhas, guerras que exauriram os recursos financeiros e humanos, com perdas consideráveis. As fontes marroquinas afirmam que o sultão Ahmed El Mansour começou o seu reinado com uma tesouraria vazia, sem ouro nem prata. O negócio dos cativos e dos despojos trazia, sem dúvida, recursos importantes mas insuficientes emface da atrocidade das guerras e do volume enorme das pestes. As consequências negativas para a economia do país e a sua estabilidade eram sem dúvida importantes e foi preciso mais que uma decénio para se sentir o fruto de todos os esforços, sobretudo após a conquista do Sudão. Além disso o país passou por anos de escassez e por epidemias que sobrecarregaram os aspectos negativos desta situação. 121
- Os preparativos de ambos os lados, o número de participantes do lado marroquino e o do português e de fora dos dois países, o papel dos turcos, dos espanhóis e da igreja no conflito, e o volume da ajuda que eles deram.
- Os pormenores respeitantes aos movimentos de cada um dos exércitos: os planos e estratégias seguidos por cada um deles, a presumível troca de correspondência entre eles. As cartas trocadas, sobretudo, por Abdelmaleque e Sebastião e o rei de Espanha. O local exacto da batalha, o desenrolar, as causas reais para a derrota (estritamente técnicas), quanto tempo durou…
Um grande obstáculo impede os investigadores de completar o seu dever que é a ausência de estudos comparados. Nós temos uma história comum, mas duas histórias escritas. Por causa da servidão linguística atrás citada, os portugueses não puderam ler o que está escrito em árabe sobre a batalha e sobre as relações bilaterais. Os marroquinos tampouco conseguiram ler tudo quanto está escrito em português do lado dos seus homólogos. Isto explica a falta de estudos comparativos que são necessários para completar os esforços desenvolvidos pelos investigadores dos dois países. Semesquecer o que foi escrito por historiadores de outros países como a Espanha, França, Inglaterra e países árabes. [p. 121, 122 e 123]