Glorioso combate em que quase todos os defensores da nova Colônia do Sacramento, no rio da Prata
7 de agosto de 1680, quarta-feira. Há 344 anos
Um exército espanhol atacaram, ocuparam e destruíram a Colonia de Sacramento. Manuel Lobo foi preso, levado para Buenos Aires e morreu em "masmorras gotejantes" sem nunca ter sido resgatado. [2]
— Glorioso combate em que quase todos os defensores da nova Colônia do Sacramento, no rio da Prata, sucumbem, pelejando um contra 17. Esse estabelecimento fora fundado seis meses antes em um pequeno promontório (ver 22 de janeiro) por dom Manuel Lobo, governador dacapitania do Rio de Janeiro, e era protegido apenas por um quadrilátero de estacadas, tendo do lado de terra dois baluartes e um fosso. Havia no forte18 peças, seis pedreiros e dois meios canhões. A guarnição compunha-sede 200 homens do Rio de Janeiro e de São Paulo, e suportou um assédiode alguns meses, repelindo todas as intimações dos contrários para quese rendesse. Os sitiantes eram 3.560 (260 espanhóis de Buenos Aires,Corrientes e Santa Fé, e 3.300 guaranis das missões jesuíticas), sob ocomando do coronel Antônio de Vera Mojica, nomeado para esta ação pelogovernador de Buenos Aires, José Garro. As privações eram grandes napraça: “Se soube da necessidade de abastecimentos em que estavam, que eramuita”, diz um manuscrito contemporâneo. Na madrugada de 7 de agosto,os sitiantes marcham ao assalto, indo à frente os guaranis, divididos em trêscolunas, comandadas pelo sargento-mor Inácio Amandaú e pelos mestres decampo Christoval Capí e Francisco Curitu. Repelidos no primeiro assalto,voltaram à carga e, tendo penetrado na praça, foram lançados fora, depoisde viva peleja. Na terceira investida, entraram de novo, e a multidão acaboupor esmagar os poucos defensores que restavam e que ainda resistiram até aúltima extremidade. O combate durou duas horas. Dos nossos foram mortos112, entre eles todos os capitães e subalternos, menos dom Francisco N.de Lancastre, que ficou ferido e prisioneiro. Quase todos os soldados queo inimigo aprisionou estavam feridos. O governador dom Manuel Lobo,gravemente enfermo, foi capturado em sua cama e conduzido, com ospoucos prisioneiros, para Buenos Aires, onde faleceu (em Buenos Aires,e não em Lima, afirma Mirales). O inimigo teve 36 mortos e 96 feridos.Manuscritos contemporâneos salvaram do olvido os nomes de alguns dosnossos heróis: os capitães Manuel Galvão, Manuel de Aguiar e SimãoFarto (este último de São Paulo, o primeiro do Rio de Janeiro) o capitãoengenheiro Antônio Correia Pinto, o tenente Bartolomeu Sanches e donaJoana Galvão. “O capitão Manuel Galvão era valentíssimo português”, diza Relación de lo sucedido (manuscrito da Biblioteca Nacional). “Ainda quese visse Galvão tão caído, e os nossos lhe prometiam quartel, pelejava tãodesesperado, que não aceitou outro conselho, senão morrer.” Xarque referese à morte heroica da mulher de Galvão: “Imitou-o em seus altos espíritos OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO448sua mulher, que manejava o aço tão ligeira que parecia um raio: e vendomorto o marido, os castelhanos prometiam conservar sua vida, porque seuânimo varonil merecia coroar-se com séculos prolongados, mas a matronaintrépida achou que seria descrédito de sua lealdade ao rei e de amor a seumarido sair viva da batalha, em que este havia entregue a alma, pelo quenão cessou de pelejar, até que imitou, com morte gloriosa, a seu consorte.”Charlevoix, ao escrever sobre informações dos jesuítas das Missões, disse:“Seu general era digno de comandar gente tão brava... Um de seus capitães,chamado Manuel Galvão, corria em todas as fileiras, animava com sua voz ecom seu exemplo os soldados a se lembrarem de que eram portugueses, umnome tão formidável para os espanhóis, que mesmo seus inimigos, vendo-ocair morto com muitas feridas, não puderam impedir-se de se lamentareme de chorarem. Esse bravo homem tinha uma heroína por mulher que, coma espada na mão, combateu a seu lado enquanto viveu. Desde que morreu,os espanhóis, cheios de admiração por sua virtude, gritaram-lhe que serendesse, mas unicamente ocupada do desejo de vingar seu marido, jogouse no meio da refrega e ali encontrou a morte que parecia buscar.” Em1828, um pequeno corsário brasileiro, armado na Colônia, recebeu o nomede D. Joana Galvão. Foi a única e passageira homenagem prestadas pornós a essa heroína. A Colônia do Sacramento voltou ao domínio portuguêsem 1683, em virtude do Tratado de 7 de maio de 1681. [1]