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Batalha de Ituzaingo, também chamada do Passo do Rosário
20 de fevereiro de 1827, terça-feira. Há 197 anos
1827 — Batalha de Ituzaingo, também chamada do Passo doRosário (geralmente aparece aquela palavra escrita Ituzaingó, mas esta EFEMéRIDES BRASILEIRAS159grafia é espanhola). Menos de uma légua (cerca de 6,6 km) a leste doPasso do Rosário, no rio de Santa Maria, o terreno apresenta três linhasde lombadas chamadas coxilhas de Santa Rosa, quase paralelas ao rio.Essas lombadas terminam ao sul, no banhado de Ituzaingo, por ondepassa a estrada de São Gabriel para o Passo do Rosário (Olmedilla, noseu mapa da América do sul, deu erradamente o nome de Ytuzaingó aoIbicuí-mirim de Santana, tributário da margem esquerda do SantaMaria). O exército argentino-oriental, comandado pelo general CarlosMaría de Alvear, ocupava as duas lombadas de oeste, mais próximas doPasso do Rosário; o brasileiro, dirigido pelo tenente-general marquêsde Barbacena, que ia em marcha de São Gabriel para o Passo do Rosário,tomou posição na lombada oriental. O vale, entre essas alturas, eracortado em quase toda a sua extensão por um barranco ou sanja, que sódava fácil passagem em alguns lugares, e seguia a direção norte-sul dascolinas. Foi nesse vale e sobre as duas lombadas paralelas que se deu abatalha. “A distância entre as duas posições [diz a legenda na plantadesenhada pelo capitão, depois coronel, Seweloh] é no alcance docalibre 6, de mais ou menos mil passos” (Seweloh, Erinnerungen anden Feldzug 1827 gegen Buenos Aires, mss. da nossa col.). O exércitobrasileiro compunha-se de 6.338 homens, assim divididos: Estadomaior, 25; infantaria, 2.294; cavalaria, 3.734; artilharia, 285; no entanto,estavam empregados na guarda e na condução do parque, hospital,bagagens e cavalhada, 469 homens (361 de cavalaria, 68 de infantaria e40 de artilharia), doentes que haviam ficado em São Gabriel, 271 (183de cavalaria, 83 de infantaria e cinco de artilharia) e presos, seis (quatrode cavalaria e dois de infantaria). O número de combatentes era,portanto, de 5.638 (Estado-maior, 25; escolta do general, 46 homens decavalaria; infantaria, 2.141; cavalaria, 3.186; artilharia, 240), ou de5.776, contando-se os empregados. A 1a brigada ligeira, do coronelBento Manuel Ribeiro, não incluída nesses algarismos, compunha-seentão de 1.101 homens de cavalaria, depois de reforçada com algumascompanhias de guerrilhas, tiradas da 2a brigada ligeira. Desde o dia 6fora destacado aquele coronel para observar a direção da marcha doinimigo, que quase todos os chefes rio-grandenses acreditavam emplena retirada. Na manhã deste dia 20, estava em frente ao Passo doUmbu, no Ibicuí do monte Grande, entre a margem esquerda deste rio ea direita do Cacique, a seis ou sete léguas (cerca de 39,6 km a 46,2 km) OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO160do campo de batalha, onde poderia ter chegado pelas 11h (mss. do barãode Caçapava), porque um dos seus piquetes avançados deu aviso, às7h30, de que ouvia fogo de artilharia e mosquetaria na direção do Passodo Rosário, a su-sudoeste; no entanto, Bento Manuel, em vez deprocurar reunir-se ao seu general, afastou-se para leste, indo acampar ànoite em frente ao Passo de São Pedro. Na lombada de que anteriormentese fez menção, colocou-se o Exército brasileiro. À direita, ficou adivisão do general Sebastião Barreto, composta da 1a brigada deinfantaria (coronel Leitão Bandeira, 1.496 homens) e das 1a e 2a decavalaria (coronel Egídio Calmon, 431 homens; e coronel AraújoRibeiro, 466); à esquerda, a divisão do general Calado, composta da 2abrigada de infantaria (coronel Leite Pacheco, 645 homens) e das 3a e 4ade cavalaria (coronel Barbosa Pita, 662 homens; e coronel Tomás daSilva, 477). Em frente da nossa esquerda, tiroteavam com a direita doinimigo um corpo de voluntários de cavalaria, comandado pelo generalbarão de Cerro Largo (550 homens) e a 2a brigada ligeira (coronel BentoGonçalves, 352 homens). A artilharia (11 peças de calibre 6 e um obuscilíndrico de seis polegadas) tinha por comandante-geral o coronelTomé Madeira, e foi repartida em baterias, assim dispostas da direitapara a esquerda: quatro baterias de duas bocas de fogo cada uma (do 1ocorpo de artilharia montada do Rio de Janeiro), comandadas pelosegundo-tenente Mallet, primeiro-tenente português Pereira e capitãesCorreia Caldas e Lopo Botelho, com a 1a divisão; quatro peças do 4ocorpo de artilharia de posição (Santa Catarina), dirigidas pelo majorSamuel da Paz, com a 2a divisão; uma destas peças foi destacada para afrente, ficando às ordens do barão de Cerro Largo. Cada brigadacompunha-se de dois ou três corpos, mas sobretudo os de cavalariaestavam tão incompletos, que nenhum deles daria a força de doisesquadrões europeus (efetivo de um regimento de cavalaria na França,tempo de paz, 866 homens, em cinco esquadrões). Foram estes oscorpos que tomaram parte na batalha: 1a divisão (brigadeiro SebastiãoBarreto): 1a brigada de infantaria (coronel Leitão Bandeira): 3º (Rio deJaneiro, major J. Crisóstomo da Silva), 4º (Rio de Janeiro, tenentecoronel Freire de Andrade) e 27º (alemães, major L. M. de Jesus)batalhões de caçadores; 1a brigada de cavalaria (coronel Egídio Calmon):1o regimento de cavalaria (Rio de Janeiro, tenente-coronel Sousa daSilveira) e 24o de milícias (guaranis de Missões, major Severino de EFEMéRIDES BRASILEIRAS161Abreu); 2a brigada de cavalaria (coronel Araújo Barreto): 4o regimentode cavalaria (Rio Grande do Sul, tenente-coronel M. Barreto PereiraPinto), esquadrão de lanceiros imperiais (alemães, capitão von Quast) e40o regimento de milícias de Santana do Livramento, chamadoregimento de Lunarejo, tenente-coronel José Rodrigues Barbosa); 2adivisão (brigadeiro Calado): 2a brigada de infantaria (coronel LeitePacheco); 13º (Bahia, tenente-coronel Morais Cid) e 18º (Pernambuco,coronel Lamenha Lins) batalhões de caçadores; 3a brigada de cavalaria(coronel Barbosa Pita); 6o regimento de cavalaria (Rio Grande do Sul,major Bernardo Joaquim Correia), esquadrão da Bahia (major PintoGarcez) e 20o regimento de milícias (Porto Alegre, coronel J. J. daSilva); 4a brigada de cavalaria (coronel Tomás da Silva); 3o (São Paulo,tenente-coronel Xavier de Sousa) e 5o regimento de cavalaria (RioGrande do Sul, tenente-coronel Filipe Néri de Oliveira); 2a brigadaligeira (coronel Bento Gonçalves); 21o (vila do Rio Grande, major M.Soares da Silva) e 39o (vila de Cerro Largo, tenente-coronel IsasCalderón) regimento de milícias. O corpo comandado pelo marechal decampo barão de Cerro Largo compunha-se de voluntários, em grandeparte desertores indultados. A força que guardava as bagagens,comissariado e hospital, sob o comando do coronel Jerônimo GomesJardim, constava de 127 lanceiros do Uruguai (guaranis de Missões) ede destacamentos de vários corpos. Era chefe de Estado-maior omarechal de campo Gustavo Brown, ajudante general o brigadeiroSoares de Andréia (depois barão de Caçapava) e quartel-mestre generalo tenente-coronel Antônio Elisiário de Miranda e Brito. O Exército daRepública das Províncias Unidas do Rio da Prata (hoje RepúblicaArgentina) compunha-se de 7.644 homens de cavalaria, de 1.674 deinfantaria e de 485 de artilharia, com 18 peças. Total de 9.803 homens.Tinha, portanto, força quase dupla do brasileiro e era-lhe muito superiorem cavalaria (nesta arma, a sua força era três vezes superior à nossa).Além dessa vantagem, tinha a de estar descansado no campo de batalhaque escolhera, ao passo que o nosso exército, avançando a marchasforçadas, caminhava desde 1h, quando às 6h o encontrou, e assim tevede entrar em ação. A direita do exército inimigo, comandada pelogeneral Lavalleja, compunha-se de 4.545 homens de cavalaria, sendo3.255 orientais (9o regimento, dragões orientais, dragões libertadores,milícias de Maldonado, Paissandu, Pando, Colônia e Mercedes e OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO162esquadrão de São José) e 1.290 argentinos (8o e 16o regimentos, ambosde lanceiros e esquadrões de couraceiros). Essas forças eram comandadassegundo a ordem em que vão aqui mencionadas: as orientais peloscoronéis Manuel Oribe e Servando Gómez, pelo tenente-coronel InácioOribe, pelo coronel Leonardo Oliveira, pelos tenentes-coronéis Raña eBurgueño, pelo coronel Arenas e pelo tenente-coronel Adriano Medina;as argentinas, pelos coronéis Juan Zufriátegui e J. Olavarria e pelotenente-coronel Anacleto Medina. No centro, comandado pelo generalSoler, estavam 3.949 homens das três armas: 1º (Buenos Aires, coronelM. Correia), 3º (Entre Rios, coronel E. Garzón), 2º (orientais, coronelAlegre) e 5º (Salta e Jujui, coronel Felix Olazabal) batalhões decaçadores (força dos quatro batalhões, 1.674 homens), o regimento deartilharia ligeira (Buenos Aires, 485 homens, coronel T. Iriarte), e, emsegunda linha, a reserva de cavalaria (1.790 homens), composta dos 1º(províncias de Suyo e Córdoba, general Frederico Brandzen), 2º(coronel J. M. Paz) e 3º (Buenos Aires, coronel Ángel Pacheco)regimentos. A esquerda, comandada pelo general Julián Laguna, eraformada apenas pela brigada de cavalaria do coronel Lavalle (1.309homens), composta do seu regimento, que era o 4º (Buenos Aires,couraceiros), do de Colorados de Conchas (província de Buenos Aires,coronel Vilela) e do esquadrão alemão (coronel barão Heine). NoExército argentino, as divisões eram chamadas corpos de exército e asbrigadas tinham o nome de divisões. Era chefe do Estado-maior ogeneral Lucio Mancilla, e do corpo de engenheiros o coronel Trolle,francês. Na sua Exposición (Buenos Aires, 1827) defendendo-se dascensuras contidas na mensagem do governo, Alvear diz que só tinhanesta campanha 6.200 homens, mas é porque não inclui naquelealgarismo os orientais do general Lavalleja. Ao passo que assim diminuias suas forças, exagera as nossas, elevando-as a 10 mil homens(Lavalleja calculou-os em oito mil, carta de 22 de fevereiro, guardadana Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro). Os mapas oficiais brasileiros,remetidos ao Ministério da Guerra antes e depois da batalha, e os mapasargentinos que caíram em nosso poder (um deles assinado por Ger.Espejo) dão algarismos muito diferentes dos que apresentou Alvear emsua defesa. Às 7h30 começou o fogo de artilharia. Pouco depois, por teros cavalos cansados, segundo disse, o coronel Bento Gonçalves deixoua posição, que ocupava no vale, ao lado do barão de Cerro Largo, e foi EFEMéRIDES BRASILEIRAS163postar-se na extrema direita da nossa linha. O marquês de Barbacena,de acordo com o general Brown, resolveu tomar à ofensiva, e este levouao ataque do centro inimigo a 1a divisão. Começaram então as cargas decavalaria. A pequena brigada do coronel Miguel Pereira de AraújoBarreto repeliu e perseguiu na direita os Colorados de Conchas,distinguindo-se muito nesta carga o 40o de milícias, do tenente-coronelJosé Rodrigues Barbosa; na esquerda, os voluntários do barão de CerroLargo, apoiados pelas brigada Barbosa Pita, destroçaram uma coluna decavalaria de que fazia parte o 9º regimento, de Manuel Oribe, o qual,indignado contra os seus soldados, “arrancou bruscamente suasdragonas de coronel, exclamando: ‘Quem comanda soldados quefogem, não é digno de portar essas insígnias!’” (Berro, Bosquejohistórico de la República Oriental, 1ª ed. p. 131). O 8º regimentoargentino (lanceiros, coronel Zufriátegui), encarregado por Lavalleja deum ataque de flanco sobre os voluntários do barão de Cerro Largo, “emlugar dessa evolução, fez a de dar as costas” (carta de Lavalleja,anteriormente citada). A brigada da infantaria do coronel LeitãoBandeira avançava (“de um modo formidável”, diz boletim argentino)sobre o centro inimigo. Alvear enviou contra esses três batalhões ogeneral Brandzen, francês de nascimento, veterano das Guerras deNapoleão e da independência (era coronel no exército argentino egeneral peruano). Brandzen, com o 1o regimento (680 homens), lançouse contra o quadrado do 4o de caçadores; os coronéis Paz (2o regimento,540 homens) e Pacheco (3o regimento, 564 homens) contra os dos 3o e27o. Essa carga foi repelida com grande perda do inimigo, caindomortos, junto aos nossos quadrados, o general Brandzen e o tenentecoronel Bezares (do 2o regimento). A brigada de Araújo Barreto, levandoà sua frente o general Sebastião Barreto, perseguiu os fugitivos. O 1oregimento argentino teve 14 oficiais e 200 soldados fora de combate(Wright, Biogr. de Brandzen). Isto se passava às 11h. Pouco depois, nanossa esquerda, os dragões orientais (coronel Servando Gómez) e oesquadrão de couraceiros (tenente-coronel Anacleto Medina) atacavamde flanco e destroçavam o corpo de voluntários do barão de CerroLargo, que, envolvido com o inimigo, correu sobre os 13º e 18º batalhõesde caçadores. O general Calado formou com estes um só quadrado eviu-se forçado a fazer fogo sobre amigos e inimigos. Aí caiu mortalmenteo barão de Cerro Largo. As brigadas de cavalaria Barbosa Pita e Tomás OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO164da Silva perseguiram o inimigo em sua retirada. Os voluntários dispersosforam levar a notícia do seu revés à guarda da bagagem. Já entãonumerosos esquadrões inimigos apareciam nos dois flancos do nossoexército, dirigindo-se para a retaguarda. “Os fugitivos do barão deCerro Largo, os lanceiros do Uruguai (guaranis) e o inimigo, todos àmistura, caíram sobre a bagagem e o parque e tudo roubaram, levandodepois o inimigo as carretas de bagagem e o parque para dentro de umbanhado” (barão de Caçapava, Batalha do Rosário, mss.). As duasbrigadas de infantaria continuavam a repelir as cargas de cavalariainimiga. Quatro peças que havíamos perdido (uma delas na derrota docorpo de voluntários, três na carga dos lanceiros do coronel Olavarria)foram logo retomadas pelo 5o regimento (tenente-coronel Filipe Néri) epelo 20o de milícias (coronel J. J. da Silva). Às 12h30, o coronel Lavalle,à frente do 4º regimento (couraceiros), dos Colorados de Conchas e doesquadrão alemão (1.300 homens), caiu sobre a brigada Egídio Calmon,composta do 1o regimento de 1a linha (297 homens) e do 24o de milícias(134 homens, quase todos guaranis). Este último, morto o comandante,foi lançado fora do campo de batalha; no entanto, o primeiro bateu-se àespada, até ser socorrido, merecendo neste combate os elogios de todosos seus chefes o major Cabral, depois barão de Itapagipe. “Maravilhoume [disse o maior herói desse dia] a resignação, a bravura e o brio dosque compunham o galhardo 1o regimento de cavalaria da corte; poucosvoltaram do combate, porém um só não voltou a cara ao inimigo.” (Omarechal Leitão Bandeira a seus caros filhos, Niterói, 1854, p. 5). Ogeneral Sebastião Barreto, com a 2a brigada de cavalaria e o 21o demilícias, a cuja frente ia o coronel Bento Gonçalves, acudiu aos restosdo 1o regimento e perseguiu o inimigo até o alto de suas posições. O 39ode milícias (tenente-coronel Calderón), que fazia parte da brigada deBento Gonçalves, já tinha abandonado o campo de batalha: segundoalguns, porque fora cortado; segundo o barão de Caçapava e ElisiárioBrito, porque aquele coronel ordenara a Calderón que seguisse para oJaguarão. Bento Gonçalves e Bento Manuel já eram por esse tempocaudilhos influentes no Rio Grande do Sul, e o governo e os generaisfechavam os olhos aos seus atos de indisciplina. A última carga dacavalaria argentina contra a da nossa 1a divisão foi comandada pelocoronel Paz, que nela sofreu grandes perdas e foi repelido (o boletimargentino diz o contrário, mas o general La Madrid confirma as EFEMéRIDES BRASILEIRAS165descrições brasileiras, em suas Observaciones sobre las MemoriasPóstumas del general Paz, p. 256: “A carga comandada pelo generalPaz nesta batalha foi rechaçada e ele se viu obrigado a retirar-se a umalonga distância.”). Com o destroço do corpo de voluntários e do 24o demilícias, a retirada do 39o e as grandes perdas sofridas pelo 1o regimento,estando perdidos os carros de munições e tendo a cavalaria inimigaincendiado o campo em nossa retaguarda, o marquês de Barbacenaordenou, às 13h, que a 1a divisão voltasse do vale, onde se achava, paraa posição que ocupava primitivamente. O fogo continuou frouxo,conservando-se o inimigo em suas posições, porque a sua cavalariamuito sofrera nas cargas sucessivas. O comandante geral da nossaartilharia, segundo o testemunho do general em chefe e do Estadomaior, perdera no fim da batalha toda a presença de espírito. O mesmosucedeu ao comandante da artilharia argentina, que, “[...] quando viu adispersão dos orientais e que, perseguidos pela cavalaria imperial,caíam sobre a bateria, montou a cavalo e se colocou a salvo até o fim daação” (ver El Liberal, de Buenos Aires, nos 46 e 51, de 25 de abril e de13 de maio de 1828). Feridos dois comandantes de baterias na nossadireita, coube a um jovem oficial, o segundo-tenente Emílio Mallet(depois general e barão de Itapevi), a honra de comandar desse lado anossa artilharia. Às 14h, não havia mais que 8 ou 12 cartuchos porpatrona ou cofre de artilharia, e os dois exércitos continuavam imóveis,cada um na posição que ocupava ao começar a batalha. O marquês deBarbacena fez soar então o toque de retirada. “O inimigo, apesar de terquase o dobro das nossas forças, não nos levou fora do campo debatalha, senão porque nos faltaram as munições...” (informações de 29de outubro de 1874, do general E. L. Mallet ao visconde do Rio Branco,mss.). “Marchou então o exército com a direita em frente, já reduzido acerca de 4.700 praças, segundo a minha lembrança, repelindo atiradorese cargas de cavalaria, com verdadeira disciplina, sangue frio não vulgare valor, poupando as munições, não dando tiro sem emprego; e, porqueos cavalos e parelhas, e mesmo a tropa carecia de algum repouso, fezalto; puseram-se as competentes linhas de atiradores onde convinha,tiraram-se os freios aos cavalos e muares para pastarem sobre oscabrestos, e, passadas mais de duas horas, continuou a marcha, deixandoo inimigo, mal que anoiteceu, de acompanhar o Exército imperial”(general Elisiário Brito, A batalha do campo do Rosário, mss.). “Esta OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO166retirada foi executada à custa de muitos esforços, na maior ordem,mostrando os soldados grande serenidade e sangue frio, como eu nuncaesperava ver no Brasil; e, se o exército de Buenos Aires era muitosuperior em patriotismo, tática, organização e força numérica, nós nãonos mostramos inferiores na brilhante disposição da nossa retirada, parao que muito concorreu a calma e inexcedível coragem do general emchefe”(Seweloh, Erinnerungen, p. 3 do fol. 16). “O inimigo incendiouo campo por onde tínhamos de marchar. Uma forte coluna de cavalariaveio corta-nos o passo, e uma voz forte e sonora, a sua frente, gritou:‘Viva a Pátria!’ Este brado foi logo respondido com o grito geral de‘Viva o imperador!’, e com um marche-marche tão cheio de furor, queo inimigo deu costas e foi buscar longe o abrigo de outras forças (barãode Caçapava, mss. cit.). O Exército brasileiro acampou, à meia-noite,no Passo do Cacequi, conduzindo toda a sua artilharia, menos umapeça, que foi abandonada durante a marcha, por ter as rodas quebradas;no dia seguinte (21), prosseguiu a retirada para o Passo de São Lourenço,no Jacuí, onde chegou a 2 de março, ficando em São Sepé parte dacavalaria, com o general Barreto. O Exército argentino não incomodouessa retirada e na mesma tarde de 20 contramarchou, indo acampar noPasso do Rosário, onde deixava suas bagagens; apenas o generalLavalleja, com dois mil homens de cavalaria, acompanhou de longe onosso exército, até as 18h30, sem disparar um tiro. O boletim no 5, deAlvear, diz que “uma grande parte da cavalaria continuou na perseguiçãodo inimigo até meia-noite” e que “o resto do exército acampou sobreumas elevações (isletas) próximas a Cacequi”. O general Luís Manuelde Lima e Silva (Campanhas de 1825 a 1828, mss.), por informaçõesde moradores do Passo do Rosário, desmente essas inexatidões doboletim; porém, há testemunho mais insuspeito ainda, o do generalargentino Paz, que, em carta de 26 de maio de 1828, escreveu o seguinte:“Enchi-me de profundo pesar, quando, na tarde da batalha, marchamosde volta ao Passo do Rosário e permanecemos na maior parte de 21...No dia 22, à meia-noite, chegamos a Cacequi” (Papeles vários sobreBuenos Aires, vols. de 1811-1835, no 78, na Biblioteca Nacional do Riode Janeiro). O Exército argentino entrou em São Gabriel no dia 26 e aídescansou três dias. No 1o de março começou a sua retirada paraCorrales, território da atual República do Uruguai. A nossa perda nabatalha, segundo a relação oficial, foi de 172 mortos (general barão do EFEMéRIDES BRASILEIRAS167Cerro Largo; majores Severino de Abreu, comandante do 24o decavalaria, e Bento José Galamba, fiscal do 4o de caçadores; quatrocapitães, três tenentes, um ajudante, três alferes, um cirurgião e 157inferiores e soldados), 91 feridos, que acompanharam o exército em suaretirada (general Gustavo Brown, levemente; tenentes-coronéisLamenha Lins, comandante do 18o de caçadores, Freire de Andrade, do4o, e Albano de Oliveira Bueno, de milícias; três capitães, três tenentes,um ajudante, três alferes e 77 inferiores e soldados) e 74 prisioneiros,quase todos feridos (dois cirurgiões-mores, um capitão de artilharia, umprimeiro-tenente de artilharia, um alferes de cavalaria e 69 inferiores esoldados). Total de 347 homens. No entanto, como nesses algarismosnão se compreende a perda que tiveram o corpo de voluntários, o 24o eo 39o de milícias e a guarda da bagagem, pode-se calcular que houveuns 200 mortos, 150 prisioneiros ou feridos deixados no campo, 91feridos que acompanharam o exército, e 800 dispersos ou extraviados,entre os quais os doentes que estavam no hospital. Com os extraviados,tivemos fora de combate 1.300 homens, pois o exército se retirou com4.700 combatentes. O Exército argentino propriamente dito teve 147mortos (general Brandzen, tenente-coronel Bezares, 16 capitães esubalternos) e 231 feridos (23 oficiais, entre os quais o coronel Olavarriae outro chefe); a cavalaria oriental teve 64 mortos (nove oficiais, sendoum deles o major Berro) e cem feridos (10 oficiais, entrando nessenúmero o coronel Leonardo Oliveira e o tenente-coronel AdrianoMedina). Total de 211 mortos (um general, dois chefes e 24 outrosoficiais) e 331 feridos (quatro chefes e 29 capitães e subalternos), ou seja,542 homens fora de combate. Tanto o ofício dirigido por Alvear aoministro da Guerra quanto o boletim no 5, assinado pelo seu chefe doEstado-maior, dizem que foram tomadas aos brasileiros duas bandeiras e10 peças de artilharia. Durante a batalha, apenas os cinco batalhões decaçadores levaram suas bandeiras, e nenhuma delas se perdeu: osquadrados da nossa infantaria repeliram todas as cargas do inimigo. Oscorpos de cavalaria, porém, entraram em combate sem os seus estandartes,depositados em São Gabriel na bagagem, e foi em alguma das carretas daretaguarda que o inimigo encontrou as duas insígnias, a que se referem oscitados documentos. Quanto à artilharia, a declaração dos dois generaisfoi uma inqualificável invenção. Todos os ofícios escritos pelos generaise chefes brasileiros logo depois da batalha, todas as descrições escritas OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO168mais tarde por brasileiros (generais L. M. de Lima e Silva, barão deCaçapava, Elisiário Brito e Emílio Mallet, in mss. da nossa col.) e poroficiais estrangeiros ao nosso serviço são acordes em declarar que apenasabandonamos na retirada uma peça, que não podia ser conduzida. Comoo testemunho dos oficiais estrangeiros que estiveram na batalha seráconsiderado mais imparcial e verídico, transcreveremos aqui o que elesdizem sobre esta questão da artilharia. O capitão Seweloh (depois coronel)afirma que apenas uma peça foi abandonada: “Encravamos e abandonamosuma peça, cujas rodas se quebraram.” E, tratando da marcha do dia 21,acrescenta: “Os 11 canhões eram puxados pelos restos do 24o de cavalaria,por meio de laços, para ajudar as mulas” (Erinnerungen, mss. já cit., p. 3do fol. 16 e 1a do fol. 21; deste mss., foi publicada uma tradução no t.XXXVII da Revista do Instituto, mas sem as numerosas plantas dooriginal que possuímos). O autor anônimo dos Beitrage zur Geschichtedes Krieges Zwischen Brasilien und Buenos Ayres in den Iahren 1825-1828 von einem Augenzeugen (atribui-se este trabalho ao capitão barãoCarl de Leenhof), analisa a parte oficial do general argentino: “Alveardiz, na sua participação muito lacônica de 21 de fevereiro: ‘o exercitorepublicano encontrou-se com o imperial no campo de Ituzaingo; esteúltimo teria 8.500 homens e combateu por seis horas; deixou, no campode batalha, 1.200 cadáveres e 10 canhões; a nossa perda não chega a400 homens.’” É possível que 1.200 mortos e feridos tenham ficado nocampo de batalha, mas não 1.200 mortos somente, e naquele número demortos e feridos devem estar compreendidas as perdas dos doisexércitos... Quanto aos 10 canhões tomados, este algarismo resulta dealgum engano de copista, ou de um desses erros intencionais dos que,redigindo boletins, não consideram caso de consciência um zero demais ou de menos, pois na verdade apenas uma peça não pode seguir aretirada, pelo mau estado do seu reparo: não foi, portanto, tomada peloinimigo, mas caiu em seu poder (p. 234, in fine). O tenente Carl Seidler(Zehn Jahre in Brasilien, p. 154, v. I) diz: “Os soldados, ainda quemortos de cansaço, puxavam 11 canhões... Apenas um canhão, cujasrodas se quebraram, caiu em poder do inimigo. Este foi o seu únicotroféu da jornada...” Porém, há documento ainda mais importante edecisivo. É uma carta autógrafa do general Lavalleja, datada de 26 demarço, na qual se lê o trecho seguinte: “Disse, na minha anterior, quecinco peças de artilharia haviam sido tomadas ao inimigo, mas essa EFEMéRIDES BRASILEIRAS169notícia foi pela relação que me fez o general no dia seguinte à ação (nomesmo dia 21, anunciava a seu governo a tomada de 10 peças, e aLavalleja a tomada de cinco). É verdade que em várias cargas deixamosà nossa retaguarda peças de artilharia, mas provavelmente os inimigosdevem ter voltado a tomá-las, porque não aparece mais que uma”(Memória da expedição do general Lavalleja, autógrafos da col.Angelis, guardada na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro).

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