Gabriel está em Madrid. Notícia do Brasil, também conhecido como Tratado Descritivo do Brasil
1 de março de 1587, domingo. Há 437 anos
Fontes (8)
Francisco de Souza, por alcunha D. Francisco das Manhas, encontrara-se em Madri com Gabriel Soares de Souza, negociante na Bahia, autor do Tratado Descritivo da Terra do Brasil, irmão de Pero Coelho de Souza que procurava prata e outro na lendária Sabarabuçú, tendo falecido na volta cem léguas da capital. De posse to roteiro do irmão, Gabriel conseguira favores de homens e título para governá-los, vindo a naufragar em Pernambuco, em 1591. D. Francisco, tomara posse de Governador nesse mesmo ano e em 1592 auxiliou Gabriel Soares a reconstituir a expedição, na qual Soares também morreu. Todos iam morrendo no sonho da Sabarabuçú, como repete em ritornello Paulo Setúbal. [“Memória Histórica de Sorocaba: Parte I”, 1964. Luís Castanho de Almeida (1904-1981)]
De fato tanto as acusações quanto as réplicas tratam muitas vezes de pormenores como a quantidade de porcos, vacas, galinhas, currais e lançam mão de queixas, desavenças e injúrias tão próprias ao cotidiano que parecem de menor valor. Este diz que me disse, cheio de picuinhas é, no entanto, extremamente comum neste tipo de escrita assim como sua desqualificação historiográfica. Como destacou num artigo recente a historiadora Mary Del Priore (2013:22), mexericar era uma forma de distração tão corriqueira que chegou a obter um item específico no Livro V das Ordenações Filipinas do século XVII:
Por se evitarem os inconvenientes que dos mexericos nascem, mandamos que se alguma pessoa disser à outra que outrem disse mal dele, haja a mesma pena, assim cível como crime que mereceria, se ele mesmo lhe dissesse aquelas palavras que diz que o outro terceiro dele disse, posto que queira provar que o outro o disse (Lara,1999:267).
Os Capítulos que Gabriel Soares de Sousa deu em Madrid ao SR.D. Cristóvam de Moura contra os padres da Companhia de Jesus que residem no Brasil com umas breves respostas destes mesmos padres que deles foram avisados por um seu parente a quem os ele mostrou retratam estes fuxicos de uma vivência próxima e tensa entre os moradores do primeiro século do Brasil colonial. Aproxima-se de uma subliteratura, pelo seu gênero indefinido, seu teor panfletário, polemico e conjuntural.
Por outro lado, testemunha uma história não tão interessante do ponto de vista de um retrato apologético e edificante seja da Igreja, seja da colonização brasileira, ou de ambas simultaneamente. Esta crônica quase jornalística envolvendo os conflitos entre aqueles que a princípio estariam do mesmo lado noprocesso colonizador, colonos portugueses e jesuítas, é por si só interessante, mas permite principalmente uma investigação que se abre como um leque para temáticas referenciais tanto da história colonial e da historiografia brasileira quanto da renovada história da Igreja e das religiosidades.
Os Capítulos secretosApós dezessete anos vivendo na América portuguesa, transitando entre o centroadministrativo, Salvador, onde atuara como camarista e o Recôncavo, onde possuía terras,circulando nas áreas de Jaguaribe, São Gonçalo e Nazaré, o português Gabriel Soares deSousa retornou a corte, então sob o período da União Ibérica.
Seu destino final era a Espanha, como declara em seu testamento lavrado em agosto de 1584, na Bahia (SOUSA, 1974:301). Embarcou numa grande nau carregada de açucares que ancorou no porto de Pernambuco, parada de abastecimento de água e víveres, graças ao conhecimento e orientação do navegador Pedro Sarmiento de Gamboa. Este, vindo numa embarcação carregada com mil quintais de pau brasil do Rio de Janeiro para buscar lenha, víveres e roupas para uma viagem de retorno ao Estreito de Magalhães, teve que lançar mais de trezentos quintais de pau no mar por falta de fundo. Sem outro piloto que se atrevesse, Sarmiento sondou os fundos num batel e acenando com uma bandeira permitiu que a sua nau ancorasse sem perigo. Atrás dela vinha a que se encontrava Gabriel Soares (MENDONZA, 1866:402).
Não se sabe a data exata em que desembarcou na corte nem os caminhos que percorreu no tempo em que esteve pleiteando autorização oficial, garantias, privilégios e recursos humanos e materiais para realizar uma expedição inédita de desbravamento, reconhecimento e procura de metais preciosos nas cabeceiras do rio São Francisco.
Para alcançar seu intento ofereceu a Felipe II um roteiro completo das terras brasileiras, um memorial da principal e mais lucrativa província do Brasil, que juntos formam o conhecido Tratado descritivo do Brasil em 1587, e um pequeno relatório dos conflitos envolvendo desde os pequenos moradores às principais autoridades coloniais com diversos membros da Ordem inaciana.
Apresentou ainda uma Relação do Descobrimento das Esmeraldas, precioso itinerário entregue a ele por seu falecido irmão, o explorador João Coelho de Sousa, até hoje não encontrado.
De acordo com Gabriel Soares, os breves apontamentos contra os padres jesuítas, diferentemente dos seus demais escritos espontaneamente elaborados, fora realizado por solicitação do próprio monarca representando um grande risco para sua difamação na Bahia, caso chegasse ao conhecimento dos mesmos.
Soares não só deixa claro sua preocupação como ainda indica o sigilo necessário, recomendando “o resguardo que convem” (SOUSA, 1942: 347). A proposta era comum, Felipe II se valia de uma série de relatórios requeridos aos seus súditos de diversas procedências para manter seus domínios sob vigilância, já haviaordenado em 1586 até mesmo a um respeitável membro da Companhia de Jesus, o padre italiano Alessandro Valigniano, a elaboração de um documento igualmente secreto sobre as fontes de rendimento dos inacianos na Índia (CARDIM, 2001: 290).
No caso dos Capítulos, operigo não se referia aos arcana imperii, os segredos de Estado, mas ao procedimento tão oumais arriscado de denunciar a atuação da já poderosa Companhia de Jesus especialmente nummomento crítico de recrudescimento da Inquisição na Ibéria cujo alcance chegaria quasesimultaneamente ao próprio retorno de Soares ao Brasil, em 1591.
O texto, formado por quarenta e quatro itens denominados Informações, do punho de Soares, e subsequentes Respostas, dos jesuítas, principia com uma memorialística na qual o explorador reconhece os primeiros anos de ação da Companhia no Brasil como exemplares, de convivência harmoniosa, auxílio mútuo entre moradores e religiosos, chegando os últimos a serem adorados “como a deuses na terra” (1942:348).
A situação muda, segundo o colono, ao se encerrar o governo do Pe. Provincial Luis da Grã e ter início a sua sucessão por Ignácio Tholosa.1 Ao chegar com novos religiosos e encontrarem a Companhia bem servida de fazendas, mantimentos, cinco aldeamentos e fábrica própria, entre outras formas de rendimento, “entenderam que não tinham necessidade de ninguém” e passaram a agir de acordo com “os seus proveitos”, demarcando terras, fazendo “casas de prazer para sua recreação” e solicitando provisões do rei com grandes isenções (1942:350). O relato a partir daí aumenta progressivamente o nível das críticas, citando brigas e contendas que envolvem desde a gente pobre e simples até os mais importantes da terra. Entre os grandes estão o [Mexericos de um peito azedo: os capítulos de Gabriel Soares de Sousa, 07.2013. Gabriela Azevedo. Páginas 1, 2 e 3]
"Jupará" ou antes "Jurupará" pode significar noite. "Jurú" significa "boca", e noite ou escuro traduz-se "pytuna". (Página 361)
Do rio de São Francisco ao dos Dragos são cinco léguas, pelo qual entram caravelões, e tem na boca três ilhéus. Do rio dos Dragos à baía das Seis Ilhas são cinco léguas; e dessa baía ao rio Itapucuru são quatro léguas, o qual está em vinte e oito graus escassos; e corre-se a costa do Itapucuru até o rio de São Francisco norte-sul. Este rio acima dito, a queoutros chamam Jumirim, tem a boca grande e ao mar dele três ilhetas, pela qual entram caravelões; e corre-se por êle acima leste-oeste, pelo qual entra a maré muito, onde há boas pescarias e muito marisco. A terra deste rio é alta e fragosa, e tem mais arvoredos que a terra atrás, especialmente águas vertentes ao mar. A terra do sertão é de campinas,como a da Espanha, e uma e outra é muito fértil e abastada de caça e muito acomodada para se poder povoar, porque se navega muito espaço por ela acima. (“Tratado Descritivo do Brasil”, 1587. Gabriel Soares de Souza. Página 117)
"Obrigado de minha curiosidade, fiz, por espaço de 17 anos queresidi no Estado do Brasil, muitas lembranças por escrito do que mepareceu digno de notar, as quais tirei a limpo nesta corte em estecaderno, enquanto a dilação de meus requerimentos me deu para issolugar; ao que me dispus entendendo convir ao serviço de El-Rei NossoSenhor, e compadecendo-me da pouca notícia que nestes reinos se temdas grandezas e estranhezas desta província, no que anteparei algumasvezes, movido do conhecimento de mim mesmo, e entendendo que asobras que se escrevem têm mais valor que o da reputação dos autoresdelas."Como minha tenção não foi escrever história que deleitasse comestilo e boa linguagem, não espero tirar louvor desta escritura e breverelação (em que se contém o que pude alcançar da cosmografia edescrição deste Estado), que a V. S. ofereço; e me fará mercê aceitá-la,como está merecendo a vontade com que a ofereço; passando pelosdesconcertos dela, pois a confiança disso me fez suave o trabalho etempo que em a escrever gastei; de cuja substância se podem fazermuitas lembranças à S. M. para que folgue de as ter deste seu Estado, aque V. S. faça dar a valia que lhe é devida; para que os moradores deleroguem a Nosso Senhor guarde a mui ilustre pessoa de V. S. e lhe acrescente a vida por muitos anos. Em Madri o 1.° de março de 1587, GabrielSoares de Sousa."Para melhor inteligência das doutrinas do livro acompanho estacópia dos comentos que vão no fim. Preferi este sistema ao das notasmarginais inferiores, que talvez seriam para o leitor de maiscomodidade, porque não quis interromper com a minha mesquinhaprosa essas páginas venerandas de um escritor quinhentista. Abstive-metambém da tarefa, aliás enfadonha, para o leitor, de acompanhar o textocom variantes que tenho por não-legítimas.Esta obra, doze anos depois, já existia em Portugal ou por cópia ouem original; e em 1599 a cita e copia Pedro de Mariz na segunda ediçãode seus Diálogos. Mais tarde, copiou dela Fr. Vicente de Salvador, e,por conseguinte, o seu confrade Fr. Antônio Jaboatão. Simão deVasconcelos aproveitou do capítulo 40 da l.aparte as suas Notícias 51 a55, e do capítulo 70 a Notícia 66.
Gabriel Soares de Sousa é o primeiro cronista civil da terra. Alguns episódios da história só são conhecidos através de suas páginas. Capistrano de Abreu chamou a esta obra a enciclopédia viva do século XVI.E chegou ao Brasil em 1569. Era extremamente observador e devia ser homem de boas leituras porque seu livro não é somente uma das mais valiosas fontes de informação sobre o Brasil de seu tempo, mas ainda um dos mais bem escritos, contendo algumas expressões que o leitor jamais esquecerá.Um irmão seu que, parece, o precedera, havia feito explorações no sertão do rio São Francisco, onde presumira haver descoberto minas preciosas. Falecido ele, quis Gabriel Soares prosseguir as suas explorações e descobrimentos.[3]Notícia do Brasil, também conhecido como Tratado Descritivo do Brasil e Descrição verdadeira de todo o Estado pertencente à Coroa de Portugal, da fertilidade dessa província, de todas as aves, animais, peixes, bichos, plantas, que nelas há, e dos costumes dos seus naturais, é uma das obras capitais do século XVI sobre o Brasil. Foi escrito por Gabriel Soares de Sousa e publicado em 1587.[1]
A primeira notícia que se tem do manuscrito foi dada por Diogo Barbosa Machado no v. 2 de sua Bibliotheca Lusitana. Da obra, oferecida a D. Cristóvão de Moura, em 1 de março de 1587, foram extraídas, ao longo de mais de dois séculos, cópias mais ou menos fiéis das quais acabaram sendo suprimidas o nome do autor e tendo seu título sofrido um certo número de variações. O primeiro a tentar dar publicidade ao texto, foi Frei Mariano da Conceição Velloso, com a malograda impressão da versão intitulada Descripção geographica da America portugueza. Em 1825, a Academia Real das Sciencias de Lisboa publicou a dita obra, cumulada de erros, no v. III, pt. 1, da Collecção de Notícias ... das Nações Ultramarinas, dando-lhe o título de Noticia do Brasil, descripção verdadeira da costa daquelle Estado ... . Finalmente, o Visconde de Porto Seguro, com base no confronto de mais de 20 versões, conseguiu reestabelecer a integridade do texto e o mandou publicar no tomo XIV da Revista do IHGB, e em exemplares à parte, que sairam em 1851, pela Laemmert. A edição de 1879 é, no entanto, "a mais apreciada de todas as anteriores" no parecer de Rubens Borba de Moraes (p. 361). Quanto ao texto, é considerado notável, um dos mais valiosos documentos do Brasil quinhentista, com informações sobre geografia, etnografia, agricultura e desenvolvimento, principalmente da Bahia, e de incontestável apreço para o estudo das Ciências Naturais do Brasil, visto que, como observador atento, o autor descreveu ainda, de forma precisa e meticulosa, a fauna e flora brasileiras.[2]CAPITULO XVIII.Em que se declara a costa do cabo e rio do Ipojuca até o Rioae S. Francisco.Já fica dito como se mette o rio de Ipojuca com o do Cabo ao entrar no salgado, agora digamos como dele ao porto das Gallinhas são duas léguas. A terra que ha entre este porto e o rio de Ipojuca étodaalagadiça. Neste porto e rio das Gallinhas entram barcos da costa.Do rio das Gallinhas á ilha de Santo Aleixo é uma légua, em a qualha surgidouro e abrigo para as náos, e está afastada da terra firmauma légua; da ilha de Santo Aleixo ao rio de Maracaipe são seis léguas ; onde entram caravelões, o qual tem uns ilhéos na bocca. DeMaracaipe ao Rio Formoso são duas léguas, o qual tem um arrecifeao mar defronte de si, que tem um boqueirão por onde entram navios da costa, o qual eslá em nove gráos, cuja terra é escalvada mas bem provida de caça. Do Rio Formoso ao de Una são três léguas, o qual tem na bocca uma ilha de mangues da banda do norte, a qual se alaga com a maré, e mais adiante chegadas á terra tem sete ilhetas de mato.
Deste rio Una ao porto das Pedras são quatro léguas, o qual está em nove gráos e meio. Entre este e o rio Una se faz uma enseada muilo grande, onde podem surgir ebalraventar náos que nadem em fundo de cinco até sete braças, porque tanto tem de fundo.
Em que se explica a terra do Rio Una até Tinharé, e da ilhade Taparica com outras ilhas.
Da boca do Rio Una a uma legua se mette no mar oulro rio, que se diz Tairirí; pelo qual entra a maré duas ou três leguas, ondeFernão Rodrigues de Souza fez uma populosa fazenda com um engenho mui bem acabado e aperfeiçoado, com as officinas acostumadas"e uma igreja de Nossa Senhora do Rosário muito bem concertada, onde tem muitos homens de soldo para se defenderem da praga dos Aimorés, que lhe fizeram já muito damno. E tornando á boca deste rio, que está mui visinho da ilha de Tinharé, de onde vai correndo fato o morro, fazendo uma enseada de obra de três leguas até a ponta do morro, onde se acaba o que se entende a Bahia de Todos os Santos.Esta ilha faz abrigada a esta terra atéá ponta do curral, porasua terraser alta, a qua! ó fraca para canaveaes, onde vivem alguns moradores,que nela estão assentados da mão de Domingos Saraiva, quê ésenhor desta ilha, o qual vivia nella e tem aqui sua fazenda comg-aiules criações e uma hermida onde lhe dizem missa. Da BocadVto rio deTairirí a esta ilha pôde ser um tiro de falcão. No tíiàrque lia entre esla ilha e a terra firme , ha grandes pescarias e muitomarisco, onde por muitas vezes no inverno lança o mar fora nestailha o nas praias de defronte até o Juquirijape âmbar gris1 muilo bôm.Tornando á ilha de Taparica, de que atraz se faz menção , pelabanda de Tinharé não tem porto aonde se possa desembarcar porser cercada de baixos de pedra , aonde o mar quebra ordinariamente,a-qual peba banJa da doutro da bahia tem muitos portos, onde os Do rio de Itapucurú ató o rio dos Patos são quatro legoas, o qualestá em vinte e oito gráos. Esto rio é muito grande , cuja boca seserra com a ilha de Santa Catharina, por onde entram os navios dacosta, ea maré muito espaço, por onde se navega. Mcttem-se neste rio muitas ribeiras, que vem do sertão; o qual é muito acommodadopara se poder povoar, por a torra ser muilo fcrlil para tudo o quolhe plantarem, a qual tem muita caça de veados, de porcos e de muitasaves , e o rio é mui provido de marisco , e tem grandes pescariasaté onde possuem a terra os Carijós, c daqui por diante é a vivendados Tapuias, e eslá por marro enlre uns o oulros este rio dos Patos.A boca deste rio está siluada a ilha do Santa Catharina , quo vaifazendo abrigo á. terra até junto de Itapucurú, que fica a maneira deenseada. Tem esla ilha de comprido oilo léguas, e corre-se nortesul, a qual da banda do mar náo tom nenhum surgidouro salvo umilheo , que está na ponta do sul, c outro que tem na ponta do norte,a qual ilha é coberta de grande arvoredo, c tem muitas ribeirasd "água dentro, e tem grande commodidade para se poder povoar, porser a terra grossa muito boa e ter grandes portos, cm que podemestar seguras de todo o tempo muitas náos. Mostra esla ilha umabahia grande, que vai por detraz , entre cllae a terra firmo, ondeha grande surgidouro e abrigada para náos de todo porte; nestaenseada que se faz da ilha para a terra firmo estão muitas ilhotas:está esta boca e ponta da ilha da banda do norte em vinte oito gráosde altura.
A palmeira de cujas barbas diz Soares que se faziam amarras era a conhecida Piassaba, nome que em Portugal se adoptou pronunciando-o piaçá
Pois os poleames se fazem do uma arvore que chamara genipapo ,que é muito bom do lavrar, c nunca feuAe tomo esta secco, de que sefarto de toda a sorte. Ensarcea para as embarcações tem a Bahia emmuita abaslança, porque se faz «Ia mesma em ira cora que calafetam,antes de se amassar, aberta em febres á mão, a qual se fia táo bemcomo o linho, e é mais durável e mais rija quo a de esparlo, o láoboa como a do Cairo; e desta mesma enviia se fazem amarras muitofortes e grossas e de muita dura ; e ha na terra envira cm abastançapara se poder fazer muita quantidade de ensarcea eamarras: o paraamarras tem a terra outro remédio das barbas de umas palmeirasbrabas que lhes nascem ao pé, de comprimento do quinze e vintepalmos, de que se fazem amarras muito fortes e que nunca apodrecem, de que ha muita quantidade pelos matos para se fazeremmuitas quando cumprir. Pelo que nSo falta mais agora para estasarmadas que as velas, para o que ha facilissimo remédio, quando as nãohouver de lonas e panuo de treu; pois era todos os annos se fazemgrandes carregações «fo algodão, de que so dá muito na terra; doqual podem fazer grandes teaes de panno grosso, que é muito bompara velas, de uiuiia dura e muito leves, de que andam velejados osnavios e barcos da tosta; e dentro na Bahia trazem muitos barcos asvelas de panno de algodão que se fia na terra, pira o que ha muitostecedeiras, que se oecupam em tecer teaes de algodão, quo se gastamem vestidos dos indios, escravos de Guiné, o outra muita gente brancade trabalho.CAPITULO CXBem sei que mo estão já perguntando pela pregadura para estas armadas, ao quo respondo quona terra ha muilo ferro de veas para se poder lavrar, mas que cmquanto se não lavra será necessário ir de outra parte ; mas se anecessidade for muita , ha tantas ferramentas na terra de trabalho ,tantos ferragens dos engenhos que so poderão juntar mais de com milquintaes do ferro ; e por que tardo já em lhe dar ferreiro, digo queem cada engenho ha ura ferreiro com sua tenda, e com os mais quetem tenda na cidade e em outras partes se pode juntar cincoentatendas de ferreiros, com seus mestres obreiros. Porto Seguro está em descssois grãos e dous terços, e quem vem demar em fora vá com boa vigia por amor dos baixos. E para conhecerbem a torra, olhe para ao pá da villa, que está em ura alto, e veraumas barreiras vermelhas, que é bom alvo, ou balliza, para porelle a conhecer. Entra-se este rio leste oeste com a proa nestasbarreiras vermelhas até entrardenlro do arrecife, e como estiver dentrová com a proa ao sul, e ficará dentro do rio. Da outra banda dosbaixos e contra o sul está outra barra, por onde entram navios domesmo porte: quem entrar por esta barra, como estiver dentro della,descobrirá um riacho, que se diz de S. Francisco; e como o descobrirvi andando para dentro ale chegar ao porto. De Porto Seguro á villade Santo Amaro é uma légua, onde eslá um pico mui alto em queestá uma hermida de Nossa Senhora dAjuda, que faz muitosmilagres. De Santo Amaro ao Rio de Tororam é uma légua, ondeestá um engenho, que foi de Manuel Rodrigues Magalhães, e junto aeste engenho uma povoação, que se diz de S. Tiago do Alto, em oqual rio entram caravelões. Deste Rio de Tororam ao de Maniapesão duas léguas, e antes de chegarem a elle estão as barreiras vermelhas, que parecem, a quem vem do mar, rochas de pedra. DoRio de Maniape ao de Urubuguape é uma légua, onde está o engenhode GoDçalo Pires. Do Rio de Urubuguape ao Rio do Frade ó umalégua, onde entram barcos: e chama-se do Frade por so nelle afogarum nos tempos atraz. Do Rio do Frade ao de Juhuaccma são duasléguas, onde esteve uma villa, que se desjiovoou o anno de 1564pela grande guerra, que tinham os moradores dclla com os Aimorés.N este lugar esteve em engenho, onde chamam a ponta de Cururumbabo. Tem esta cidade grandes desembarcadouros com três fontes napraia ao pé delia, cm as quaes os marcantes fazem sua aguada bemá borda do mar, das quaes se serve lambem muita parle da cidade,por serem estas fontes de muito boa água. No principal desembarcadouro está uma fraca hermida de Nossa Senhora da Conceição, quefoi a primeira casa de oração e obra em que se Thomé de Souzaoecupou. A vista desta cidade é mui aprazível ao longe, por estarem as caçascom os quintaes cheios de arvores, a saber: de palmeiras que apparecem por cima dos telhados, e de laranjeiras que todo Ó,ànno estãocarregadas de laranjas, cuja vista de longe é mui alegre, especialmente do mar, por a cidade se estender muito ao longo delle, nestealto. Não tem a cidade nenhum padrasto, donde a possam offender,se a cercarem como ella merece, o que se pode fazer com lhe ficardentro uma ribeira de água, que nasce junto della, que a vai cercando toda, a qual se não bebe agora, por estar o nascimento (Teliapizadõ dos bois, que vão beber, e porcos; mas limpa é muito boa água;da qual se não aproveitam os moradores por haver outras muitasfontes de que bebe cada um, segundo a afferção, que lhe tomam, e daque lhe fica mais perto se ajuda por serem todas de boa água.A terra que esta cidade tem, uma e duas léguas á roda, está quasitoda occupada com roças, que são como os casaes de Portugal, onde selavram muitos mantimentos, fructas e hortaliças, dondeseremedeatoda a gente da cidade que o não tem de sua lavra, a cuja praça sevai vender, do que está sempre mui provida , e o mais do tempo oestá do pão que se faz das farinhas que levam do reino a venderordinariamente á Bahia , onde também levam mmitos vinhos da ilhada Madeira , e das Canárias, onde são mais brandos, e de melhorcheiro e còr e suave sabor, que nas mesmas ilhas donde os levam;os quaes se vendem em lojas abertas, e outros mantimentos de Hespanha, e todas as drogas, sedas p pa.nnos de toda a sorte, e as maismercadorias acostumadas.Por este rio de Pirajá abaixo, e da boca delle para fora ao longo domar da Bahia, por ella acima, vai tudo povoado de formosas fazendas etão alegres da vista domar, que não cansam os olhos de olhar para ellas.E no principio está uma de Antônio de Oliveira de Carvalhal, quefoi alcaide mór de Villa Velha, com uma hermida de S. Braz; e vaicorrendo esta ribeira do mar da Bahia com esta formosura até NossaSenhora da Escada , que é uma formosa igreja dos padres da Companhia, que a tem muito bem concertada; onde ás vezes vão convalesceralguns padres de suas enfermidades, por ser o logar para isso; aqual igreja está uma legua do Rio de Pirajá e duas da cidade. DeNossa Senhora da Escada para cima se recolhe a terra para dentro atéo porto de Paripe, que é dahi uma legua, cujo espaço se chama a PraiaGrande, pelo ella ser e muito formosa, ao longo da qual está tudopovoado de mui alegres fazendas, e de um engenho de assucar que móecom bois, e está muito bem acabado, cujo senhorio se chama Francisco de Aguilar, homem principal, castelhano de nação. Desteporto de Paripe obra de quinhentas braças pela torra dentro ,esiá outroengenho de bois que foi de Vasco Rodrigues Lobato, todo cercado decanaveaes de assucar, de que se faz muitos arrobas.Do porto do Pa ripo se vai a terra afeiçoando á maneira de pontolançada ao mar, e corro assim obra de uma legua, onde está nmahermida de S. Thomé oro um alto, ao pá do qual ao longo do marestão uma pegadas assignaladas cm uma lagea, que diz o gentio, quediziam seus antepassados que andara por ali havia muito tempo umsanto, que fizera aquelles signaes com os pés. Toda a torra por aqui émui fresca, povoada de canaveaes e pomares de arvores de espinho, eoutras frutos de Hespanha e da terra; donde se ella torna a recolherpara dentro, fazendo outra praia mui formosa e povoada de muifrescas fazendas, por cima das quaes apparece a igreja do NossaSenhora do O, freguezia da povoação de Paripe, que está junto della,arruada e povoada de moradores, que ca mais antiga povoação e julgado da Bahia.Desla praia se torna a terra a aíeiçoar á maneira de ponta parao mar, e na mais sabida a elle se chama a ponta do Toquetoque,donde a torra torna a recuar para traz até á boca do rio de Matoim,tudo povoado de alegres fazendas. Do porto de Panpe ao rio deMatoim sâo duas leguas, e de Matoim á cidade são cinco leguas.Em que te declara o tamanho do rio de Matoim e os engenhosque tem.Entra a maré pelo rio de MatofaD^g0na quatro legues, o qual temda boca, de terra a terra, umtiro.de fcereo uma da outra, e entrando porelle acima mais de uma legua twpovoado de muitas e mui frescasfazendas, fazendo algumas voltas, esteirose enseadas, e no cabo destalegua se alarga o rio muito de torra a torra; e á mão direita por um 134 GABRIEL SOARES DE SOUZA.braço acima está o famoso engenho de Paripe , que foi de Affonso deTorres e agora é de Balthazar Pereira, mercador. A este engenhopagam foro todas as fazendas que ha no porto de Paripe, a que tambémchamam do Tubarão, até a boca de Matoim, e pelo rio acima duasleguas.E virando deste engenho para cima sobre a mão direita, vaitudo povoado de fazendas, e em uma de Francisco Barbuda, está umahermida de S. Bento, e mais adiante, em outra fazenda de Christovarnde Aguiar, está outra hermida de Nossa Senhora: e assim vai correndoesta terra até o cabo do salgado , mui povoada de nobres fazendas,mui ornadas de aposentos: e no cabo deste está um engenho de bois deduas moendas de Gaspar Dias Barboza, peça de muito preço , o qualtem nelle uma igreja de Santa Catharina. Junto deste engenho estáuma ribeira em que se pode fazer um engenho dagua mui bom, oqual se não faz por haver demanda sobre esta água, entre partes que apretendem.Da outra banda deste engenho está assentado outro, que sediz de Sebastião da Ponte, que móe com uma ribeira que chamamCotigipe, o qual engenho está muito adornado de edifícios mui aperfeiçoados ; e tornando por este rio abaixo, sobre a mão direita obra demeia legua, está urna ilha de Jorge de Magalhães, mui formosa porestar toda lavrada de canaveaes, e no meio della em um alto temumas nobres casas cercadas de larangeiras arruadas, e outras arvores,cousa muito para ver; e descendo uma legua abaixo do engenho deCotigipe está uma ribeira que se chama de Aratú, em a qualSebastião de Faria tem feito um soberbo engenho de água, comgrandes edifícios de casas de purgar e de vivenda, e uma igreja deS. Jeronymo, tudo de pedra e cal, no que gastou mais de doze milcruzados.Meia legua deste eugenho pelo rio abaixo está uma ribeiraa que chamam de Carnaibuçú, onde não está engenho feito por haverletigio sobre esta água. Na boca desla ribeira está uma ilha muitofresca, que é de Nuno Fernandes; a uma legua está um engenho debois, de que é senhorio Jorge Antunes, o qual está mui petrechado ROTK1R0 DO BR1ZIL. 155de edifícios de casas, e tom uma igreja de Nossa Senhora do Rozario.Deste engenho até a boca do rio será uma legua pouco mais oumenos, oqual está povoada dn mui grandes fazendas. cujos edilicios ocanaveaes estão á visto desto rio, que é mui formoso o largo do alioató abaixo.Defronte da boca desto rio de Matoim eslá a ilha de Maré, quecomeça a correr delle para cima , no comprimento della, da qualfica dito atraz o que se podia dizer.
Sahindo pela boca de Matoim fora, virando sobro a mão direita ,vai a terra fabricada com fazendas e canaveaes dali a meia legua ,onde está outro engenho de Sebastião de Faria, de duas moendas quelavram com bois , o qual tem grandes edifícios assim do engenho, comode casasde purgar, de vivenda ede outras officinas, e tem uma formosaigrejade Nossa Senhora da Piedade, que é fregueziad este limite; a qualfazenda mostra tanto apparato da vista do mar, que parece uma villa.E indo correndo a ribeira do salgado, deste engenho a meia legua,está tudo povoado de fazendas, e no cabo está uma que foi do Dcão da Sé,com uma hermida de Nossa Senhora muito concertada, a qual está cmuma ponta da terra. Defronte dVsla ponta bem chegada á (erra firmoestá uma ilha, que se diz de Pedro Fernandes, onde elle vive com suafamilia, e tem sua grangearia de canaveaes c roças com água dentro.Da fazenda do Deão se começa de ir armando a enseada quedizem de Jacarecanga, no meio da qual está um formoso engenho doboisdeChristovam de Barros, ató onde eslá tudo povoado do fazendasc lavrado[de canaveaes: este engenho tem mui grandes edifícios o umaigreja de Santo Antônio. Esta enseada está cm feição de meia lua , oterá segundo a feição da terra duas leguas, em a qual está uma ribeira 1 3 6 GABRIEL SOARES DE SOUZA.de água, em que se pôde fazer um engenho, o qual se deixa de fundar por se não averiguar o letigioque sobre ella ha; e toda esta enseadaa roda, sobre a vista da água, está povoada de fazendas e formosos canaveaes.
E sahindo desta enseada, virando sobre a ponta da mão direita, vai correndo a terra fazendo um canto em espaço de meia legua, em a qual estão dous engenhos de bois, um de Tristão Rodrigo junto da ponta da enseada, defronte da qual à ilha de Maré está um Ilheo que se chama de Pacé, donde tomou o nome a terra firme deste limite.
Este engenho de Tristão Rodrigo tem uma fresca hermida de Santa Anna. O outro engenho está no cabo desta terra, que é de Luiz Gonçalves Varejão, em o qual tem outra igreja de Nossa Senhora do Rosário, que é freguezia desse limite.
Deste engenho se torna a afeiçoar a terra fazendo ponta para o mar, que terá comprimento de meia legua, e no cabo della se chama a ponta deThomaz Alegre, até onde está tudo povoado de fazendas e canaveaes, em que entra uma casa de meles de Marcos da Costa. Defronte desta ponta está o fim da ilha de Maré, e daqui torna a fugir a terra paradentro, fazendo um modo de enseada em espaço de uma legua, que todaestá povoada do nobres fazendas e grandes canaveaes, no cabo da qualeslá um formoso engenho de água deThomaz Alegre, que tem umahermide de Santo Antônio mui bem concertada. Deste engenho a umalegua é o cabo de um esteiro , que se diz a Petinga , até onde estátudo povoado e plantado de canaveaes mui formosos. Esta Petinga éuma ribeira assim chamada, onde se pôde fazer um formoso engenhode água, o que se não faz por haver contenda sobre a dita ribeira.Por aqui se serve o engenho de Miguel Baptista, que está pela terradentro meia legua, o qual tem mui ornados edifícios, e umahermida de Nossa Senhora mui concertada. E tornando atraz aoesteiro e porto de Petinga, torna a terra a correr para o mar obra demeia legua, onde faz uma ponta em redondo , onde está uma formosafazenda de André Monteiro, da qual torna.a terra recuar para trazoutra meia legua por um esteiro acima, que se dizdeMataripe, ondeestá uma casa de meles de João Adrião mercador; por este esteiro ROTEIRO DO RBAZ1L. 1 3 7se serve a igreja, e julgado do logardeTayaçupina (?), que eslá meialegua pela terra dentro cm um alio á vista do mar, povoação em quevivem muitos moradores que lavram nesto sertão algodões e nuihiimcnlos, e a igreja é da invocação de Nossa Senhora do O.
A freqüência e familiaridade com que Soares se serve já em seu tempo da palavra mameluco faz-nos crer que ella foi adoptada no Brazil com analogia ao que se passava na Europa. — Sem nos occuparmos da etymologia dessa palavra (que é árabe, lingua que não conhecemos), nem das accepções differentes em que foi tomada, sabemos que no século XV e XVI chamavam vulgarmente na Hespanha, e talvez também em Portugal, mamelucos os filhos de christão e moura ou de mouro e christã. O nome brasilico para mestiço era Caribóca, que hoje se emprega em outra accepção. Conforme publicado no livro "Notícias do Brasil", pelo colono português Gabriel Soares de Sousa (1587) em visita a região, descreve ele que o Rio S. Vicente, "o qual tem a boca grande e muito aberta, onde se diz a Barra de Estevão da Costa. E quem vem do mar em fora, para conhecer a Barra, verá sobre ela uma ilha com um monte, da feição de moela de galinha, com três mamilões. Por esta Barra entram naus de todo porte, as quais ficam dentro do rio mui seguras de todo tempo; pelo qual entra a maré cercando a terra de maneira que fica em Ilha muito chegada à terra firme, e faz este braço do rio muitas voltas."Continua Gabriel Soares de Sousa em seu relato:"(...)e entrando por este rio acima está a terra toda povoada de uma banda e da outra de fazendas mui frescas, e antes que cheguem à vila estão os engenhos dos Esquertes (Schertz) de Flanders e o de José Adorno..." - Referências essas à margem esquerda da Ilha de Santo Amaro."(...)e tornando à ponta de de Estevão da Costa que está na boca da Barra, dela a três léguas ao longo da costa, está a Vila de Santo Amaro, junto da qual está o Engenho de Francisco de Barros.
Como fica dito, o rio Grande está em dois graus da parte do sul, oqual vem de muito longe e traz muita água, por se meterem nele muitosrios; e, segundo a informação do gentio, nasce de uma lagoa em que seafirma acharem-se muitas pérolas. Per-dendo-se, haverá dezesseis anos,um navio nos baixos do Mara-nhão, da gente que escapou dele que veiopor terra, afirmou um Nicolau de Rezende, desta companhia, que a terratoda ao longo do mar até este rio Grande era escalvada a maior partedela, e outra cheia de palmares bravos, e que achara uma lagoa muitogrande, que seria de 20 léguas pouco mais ou menos; e que ao longodela era a terra fresca e coberta de arvoredo; e que mais adiante acharaoutra muito maior a que não vira o fim, mas que a terra que vizinhavacom ela era fresca e escalvada, e que em uma e em outra havia grandes pescarias, de que se aproveitavam ostapuias que viviam por esta costa até este rio Grande, dos quais disse querecebera com os mais companheiros bom tratamento. Por este rio Grandeentram navios da costa e têm nele boa colheita, o qual se navega combarcos algumas léguas. Deste rio Grande ao dos Negros são sete léguas,o qual está em altura de dois graus e um quarto; e do rio dos Negros àsBarreiras Vermelhas são seis léguas, que estão na mesma altura; e numaparte e noutra têm os navios da costa surgidouro e abrigada. DasBarreiras Vermelhas à ponta dos Fumos são quatro léguas, a qual estáem dois graus e 1/3. Desta ponta do rio da Cruz são sete léguas e está emdois graus e meio em que também têm colheita os navios da costa.Afirma o gentio que nasce este rio de uma lagoa, ou junto dela, ondetambém se criam pérolas, e chama-se este rio da Cruz, porque se metemnele perto do mar dois riachos, em direito um do outro, com que fica aágua em cruz. Deste rio ao do Parcel são oito léguas, o qual está em doisgraus e meio; e faz-se na boca deste rio uma baía toda esparcelada. Dorio do Parcel à enseada do Macorive são onze léguas, e está na mesmaaltura, a qual enseada é muito grande e ao longo dela navegam navios dacosta; mas dentro, em toda, têm bom surgidouro e abrigo; e no rio dasOstras, que fica entre esta enseada e a do Parcel o têm também. Daenseada do Macorive ao monte de Li são quinze léguas e está em alturade dois graus e dois terços, onde há porto e abrigada para os navios dacosta; e entre este porto e a enseada de Macorive têm os mesmos naviossurgidouro e abrigada no porto que se diz dos parcéis. Do monte de Li aorio Jagoarive são dez léguas, o qual está em dois graus e 3/4, e junto dabarra deste rio se mete outro nele, que se chama o rio Grande, que éextremo entre os tapuias e os potiguares. Neste rio entram navios dehonesto porte até onde se corre a costa leste-oeste; a terra daqui até oMaranhão é quase toda escalvada; e quem quiser navegar por ela e entrarem qualquer porto dos nomeados há de entrar neste rio de Jagoarive porentre os baixos e a terra porque tudo até o Maranhão defronte da costasão baixos, e pode navegar sempre por entre eles e a terra, por fundo detrês braças e duas e meia, achando tudo limpo, e quanto se chegar mais àterra se achará mais fundo. Nesta boca do Jagoarive está uma enseadaonde navios de todo o porte podem ancorar e estar seguros.Do rio Grande ao porto dos Búzios são dez léguas, e está em alturade cinco graus e 2/3; entre este porto e o rio estão uns lençóis de areiacomo os de Itapuã, junto da baía de Todos os Santos. Neste rio Grandeachou Diogo Pais de Pernambuco, língua do gentio, um castelhano entreos potiguares, com os beiços furados como eles, entre os quais andavahavia muito tempo, o qual se embarcou em uma nau para a Françaporque servia de língua dos franceses entre os gentios nos seus resgates.Neste porto dos Búzios entram caravelões da costa num riacho que nestelugar se vem meter no mar.Deste porto para baixo, pouco mais ou menos, se estende acapitania de João de Barros, feitor que foi da casa da Índia, a quem el-reiD. João III de Portugal fez merce de cinquenta léguas de costa partindocom a capitania de Pero Lopes de Sousa, de Itamaracá.Jagoaripe, são duas léguas, em o qual entram barcos. Do rio deJagoaripe ao da Aramama são duas léguas, o qual está em altura de setegraus, onde entram caravelões dos que navegam entre a terra e o arrecife.Deste rio ao da Abionabiajá são duas léguas, cuja terra é alagadiça quasetoda, e entre um rio e outro ancoravam nos tempos passados nausfrancesas, e daqui entravam para dentro. Deste rio ao da Capivarimirimsão seis léguas, o qual está em altura de seis graus e meio, cuja terra étoda chã. De Capivarimirim a Itamaracá são seis léguas, e está em setegraus e 1/3. Itamaracá é uma ilha de duas léguas onde está a cabeçadessa capitania e a vila de Nossa Senhora da Conceição. Do redor destailha entram no salgado cinco ribeiras, em três das quais estão trêsengenhos; onde se fizeram mais, se não foram os potiguares, que vêmcorrendo a terra por cima e assolando tudo. Até aqui, como já fica dito,tem o rio de Itamaracá umas barreiras vermelhas na ponta da barra; equem houver de entrarpor ela adentro ponha-se nordeste-sudoeste com as barreiras, e entrará abarra à vontade, e daí para dentro o rio ensinará por onde hão de ir. Poresta barra entram navios de cem tonéis, e mais, a qual fica da banda dosul da ilha, e a outra barra da banda do norte se entra ao sueste, pela qualse servem os carave-lões da costa. De Itamaracá ao rio de Igaruçu sãoduas léguas, onde se extrema esta capitania da de Pernambuco; dessacapitania fez el-rei D. João III de Portugal mercê de Pero Lopes deSousa, que foi um fidalgo muito honrado, o qual, sendo mancebo, andoupor esta costa com armada à sua custa, em pessoa foi povoar estacapitania com moradores que para isso levou do porto de Lisboa de ondepartiu; no que gastou alguns anos e muitos mil cruzados com muitostrabalhos e perigos, em que se viu, assim no mar pelejando com algumasnaus francesas que encontrava (do que os franceses nunca saíram bem),como em terra em brigas que com eles teve de mistura com ospotiguares, de quem foi por vezes cercado e ofendido, até que os fezafastar desta ilha de Itamaracá e vizinhança dela. E esta capitania nãotem de costa mais de vinte e cinco ou trinta léguas, por Pero Lopes deSousa não tomar as cincoenta léguas de costa que lhe fez mercê SuaAlteza todas juntas, mas tomou aqui a metade e a outra demasia junto àcapitania de São Vicente, onde chamam Santo Amaro.Já fica dito como se mete o rio de Ipojuca como o do Cabo aoentrar no salgado, agora digamos como dele ao porto das Galinhas sãoduas léguas. A terra que há entre este porto e o riode Ipojuca é toda alagadiça. Neste porto e rio das Galinhas entrambarcos da costa. Do rio das Galinhas à ilha de Santo Aleixo é uma légua,em a qual há surgidouro e abrigo para as naus, e está afastada da terrafirme uma légua; da ilha de Santo Aleixo ao rio de Maracaípe são seisléguas, onde entram cara-velões, o qual tem uns ilhéus na boca. DeMaracaípe ao rio Formoso são duas léguas, o qual tem um arrecife aomar defronte de si, que tem um boqueirão por onde entram navios dacosta, o qual está em nove graus, cuja terra é escalvada mas bem providade caça. Do rio Formoso ao de Una são três léguas, o qual tem na bocauma ilha de mangues da banda do norte, a qual se alaga com a maré, emais adiante, chegadas à terra, tem sete ilhetas de mato. Neste rio Unaao porto das Pedras são quatro léguas, o qual está em nove graus e meio.Entre este e o rio Una se faz uma enseada muito grande, onde podemsurgir e barlaventear naus que nadem em fundo de cinco até sete braças,porque tanto tem de fundo.Está o rio de São Francisco em altura de dez graus e um quarto, oqual tem na boca da barra duas léguas de largo, por onde entra a marécom o salgado para cima duas léguas somente, e daqui para cima é águadoce, que a maré faz recuar outras duas léguas, não havendo água domonte. A este rio chama o gentio o Pará, o qual é mui nomeado entretodas as nações, das quais foi sempre muito povoado, e tiveram uns comoutras sobre os sítios grandes guerras, por ser a terra muito fértil pelassuas ribeiras, e por acharem nele grandes pescarias.Ao longo deste rio vivem agora alguns caetés, de uma banda, e daoutra vivem tupinambás; mais acima vivem os tapuias de diferentescastas, tupinaés, amoipiras, ubirajaras e amazonas; e além delas viveoutro gentio (não tratando dos que comunicam com os portugueses), quese atavia com jóias de ouro, de que há certas informações. Este gentio seafirma viver à vista da Alagoa Grande, tão afamada e desejada dedescobrir, da qual este rio nasce. E é tão requestado este rio de todo ogentio, por ser muito farto de pescado e caça, e por a terra dele ser muitofértil como já fica dito; onde se dão mui bem toda a sorte demantimentos naturais da terra.Quem navega por esta costa conhece este rio quatro e cinco léguasao mar pelas aguagens que dele saem furiosas e barrentas. Navega-seeste rio com caravelões até a cachoeira, que estará da barra vinte léguas,pouco mais ou menos, até onde tem muitas ilhas, que o fazem espraiarmuito mais que na barra, por onde entram navios de cinquenta tonéispelo canal do sudoeste, que é mais fundo que o do nordeste. Da barradeste rio até a primeira cachoeira há mais de 300 ilhas; no inverno nãotraz este rio água do monte, como os outros, nem corre muito; e noverão cresce de dez até quinze palmos. E começa a vir esta água domonte, de outubro por diante até janeiro, que é a força do verão nestaspartes; e neste tempo se alagam a maior parte destas ilhas, pelo que nãocriam nenhum arvoredo, nem mais que canas-bravas de que se fazemflechas.Por cima desta cachoeira, que é de pedra viva, também se podenavegar este rio em barcos, se se lá fizerem, até o sumidouro, que podeestar da cachoeira oitenta ou noventa léguas, por onde também temmuitas ilhas. Este sumidouro se entende no lugar onde este rio sai dedebaixo da terra, por onde vem escondido, dez ou doze léguas, no cabodas quais arrebenta até onde se pode navegar, e faz seu caminho até omar. Por cima deste sumidouro está a terra cheia de mato, sem se sentirque vai o rio por baixo, e deste sumidouro para cima se pode tambémnavegar em barcos, se os fizerem lá; os Índios se servem por êle emcanoas, que para isso fazem. Está capaz este rio para se perto da barradele fazer uma povoação valente de uma banda, e da outra parasegurança dos navios da costa, e dos que o tempo ali faz chegar, onde seperdem muitas vezes, e podem os moradores que nele vivem fazergrandes fazendas e engenhos até a cachoeira, em derredor da qual hámuito pau-brasil, que com pouco trabalho se pode carregar.Depois que este Estado se descobriu por ordem dos reis passados,se trabalhou muito por se acabar de descobrir este rio porDo rio Real ao de Itapicuru são quatro léguas, sem de um rio a outrohaver na costa por onde entre um barquinho, por tudo serem arrecifes aolongo da costa, cuja terra ao longo dela é muito fraca, que não servesenão para criações de gado. A boca deste rio é muito suja de pedras,mas podem-se quebrar umas pontas de baixamar de águas vivas, comque lhe fique canal aberto, para poderem por êle entrar caravelões dacosta de meia água cheia por diante. Da boca deste rio para dentro faz-seuma maneira de baía, onde de baixamar podem nadar naus de duzentostonéis; entra a maré por este rio acima cinco léguas ou seis, as quais sepodem navegar com barcos; e onde se mistura o salgado com água docepara cima dez ou doze léguas se podem também navegar com barquinhospequenos; e por aqui acima é a terra muito boa para se poder povoar,porque dá muito bem todos os mantimentos que lhe plantam e, darámuito bons canaviais de açúcar, porque quando Luís de Brito foi darguerra ao gentio do rio Real, se acharam pelas roças destes índios, queviviam ao longo deste rio, mui grossas e mui formosas canas-de-açúcar,pelo que, povoando-se este rio, se podem fazer nele muitos engenhos deaçúcar, porque tem ribeiras que se nêle metem muito acomodadas paraisto; neste mesmo tempo se achou este rio e o Real cinquenta ou sessentaléguas pelo sertão, uma lagoa de quinhentas braças de comprido e cemde largo, pouco mais ou menos, cuja água é mais salgada que a do mar, aqual alagoa estava cercada de um campo todo cheio de perrexil muitomais viçoso que o que nasce ao longo do mar, e tocado por fora nosbeiços era tão salgado como se lhe dera o rocio do mar; neste mesmocampo afastado desta alagoa quinhentas ou seiscentas braças estava outraalagoa, ambas em um andar, cuja água era muito doce, e o peixe queambas tinham era da mesma sorte, e em ambas havia muitos porcos d´agua, dos quais o gentio matou muita quantidade dêles. Este rio pertodo mar é muito farto de pescado e marisco, e para cima de peixe de águadoce, e pela terra ao longo dêle tem muita caça de toda a sorte, o qual noverão traz mais água que o Mondego, e está em doze graus; cujonascimento é para a banda do loeste mais de cem léguas do mar, e estápovoado do gentio tupinambá.
Sebastião Fernandes Tourinho, morador em Porto Seguro, comcertos companheiros entrou pelo sertão, onde andou alguns meses àventura, sem saber por onde caminhava, e meteu-se tanto pela terraadentro, que se achou em direito do Rio de Janeiro, o que souberam pelaaltura do sol, que este Sebastião Fernandes sabia muito bem tomar, e porconhecerem a serra dos Órgãos, que cai sobre o Rio de Janeiro; echegando ao campo grande acharam alagoas e riachos que se metiamneste Rio Grande; e indo com rosto ao noroeste, deram em algumasserras de pedras, por onde caminharam obra de trinta léguas, e tornandoa leste alguns dias deram em uma aldeia de tupiniquins. junto de um rio,que se chama Raso-Aguípe; e foram por ele abaixo com o rosto ao nortevinte e oito dias em canoas, nas quais andaram oitenta léguas. Este riotem grande correnteza, e entram nele dois rios, um da banda do leste, eoutro da banda do loeste, com os quais se vem meter este rio RasoAguípe no rio Grande. E depois que entraram nele navegaram nas suascanoas por ele abaixo vinte e quatro dias, nos quais chegaram ao mar,vindo sempre com a proa ao loeste. E fazendo esta gente sua viagem,achou no sertão deste rio no mais largo dele, que será em meio caminhodo mar, vinte ilhas afastadas umas das outras uma légua, duas e três emais; e acharam quarenta léguas de barra, pouco mais ou menos umsumidouro, que vai por baixo da terra mais de uma légua, quando é noverão, que no inverno traz tanta água que alaga tudo. Do sumidouro paracima tem este rio grande fundo, e a partes tem poços, que têm seis e setebraças, por onde se pode navegar em grandes embarcações; quase toda aterra de longo dele é muito boa.Porto Seguro está em dezesseis graus e dois terços, e quem vem demar em fora vá com boa vigia, por amor dos baixos. E para conhecerbem a terra, olhe para ao pé da vila, que está num alto, e verá umasbarreiras vermelhas, que é bom alvo, ou baliza, para por ele a conhecer.Entra-se esse rio leste-oeste com a proa nestas barreiras vermelhas atéentrar dentro do arrecife; e como estiver dentro vá com a proa ao sul, eficará dentro do rio. Da outra banda dos baixos e contra o sul está outrabarra, por onde entram navios do mesmo porte; quem entrar por estabarra, como estiver dentro dela, descobrirá um riacho, que se diz de SãoFrancisco; e como o descobrir, vá andando para dentro, até chegar aoporto. De Porto Seguro à vila de Santo Amaro é uma légua, onde estáum pico mui alto em que está a ermida de Nossa Senhora da Ajuda, quefaz muitos milagres. De Santo Amaro ao rio de Tororam é uma légua,onde está um engenho, que foi de Manuel Rodrigues Magalhães, e juntoa este engenho uma povoação, que se diz de São Tiago do Alto, no qualrio entram caravelões. Desse rio de Tororam ao de Maniape são duasléguas, e antes de chegarem a ele estão as barreiras vermelhas, queparecem, a quem vem do mar, rochas de pedras. Do rio de Maniape aode Urubuguape é uma légua, onde está o engenho de Gonçalo Pires. Dorio de Urubuguape ao rio do Frade é uma légua, onde entram braços, echama-se do Frade por se nele afogar um, nos tempos atrás. Do rio do Frade ao de Juuacema são duas léguas,onde esteve uma vila que se despovoou o ano de 1564, pela grandeguerra que tinham os moradores dela com os aimorés. Neste lugar esteveum engenho, onde chamam a ponta do Curu-rumbabo.Na cidade do Salvador e seu termo há muitos moradores ricos defazendas de raiz, peças de prata e ouro, jaezes de cavalos e alfaias decasa, entanto que há muitos homens que têm dois e três mil cruzados emjóias de ouro e prata lavrada. Há na Bahia mais de cem moradores quetêm cada ano de mil cruzados até cinco mil de renda, e outros que têmmais, cujas fazendas valem vinte mil até cincoenta e sessenta milcruzados, e davan-tagens, os quais tratam suas pessoas muihonradamente, com muitos cavalos, criados e escravos, e com vestidosdemasiados, especialmente as mulheres, porque não vestem senão sedas,por a terra não ser fria, no que fazem grandes despesas, mormente entrea gente de menor condição; porque qualquer peão anda com calções egibão de cetim ou damasco, e trazem as mulheres com vasquinhas egibões do mesmo, os quais, como têm qualquer possibilidade, têm suascasas mui bem concertadas e na suamesa serviço de prata, e trazem suas mulheres mui bem ataviadas dejóias de ouro.Tem esta cidade catorze peças de artilharia grossa, e quarenta,pouco mais ou menos, de artilharia miúda; a artilharia grossa estáassentada nas estâncias atrás declaradas, e em outra que está na ponta doPadrão para defender a entrada da barra aos navios dos corsários, se acometerem, donde não lhe podem fazer mais dano que afastá-los dacarreira, para que não possam tomar o porto do primeiro bordo, porque éa barra muito grande e podem afastar as naus que quiserem, sem lhes aartilharia fazer nojo. [0]Botou-se Gabriel Soares a caminho de Madri a suplicar a proteção do Rei.Levava para Espanha (o Brasil a esse tempo estava sob dominação dos Felipes), afim de ler a Cristóvão de Moura, estadista com grande Voto no governo, unscadernos vermelhos, muito toscos, que escrevera de sua mão. "Lembranças,esclarecia modestamente o próprio Soares, lembranças por escripto do que mepareceu digno de notar; as quaes tirei a limpo nesta Corte enquanto a dilação dosmeus requerimentos me deu para isso lugar..."Bem haja o sonho da prata! Aqueles cadernos vermelhos que, durantedezessete anos de morada no Brasil, Gabriel Soares enchera para contar "asgrandezas e estranhezas desta Província"; aqueles cadernos vermelhos que elesingelamente apelida de lembranças, e que, em Madri, lançou providencialmente emletra de forma a fim de alcançar (como de fato alcançou) os favores de que careciapara a descoberta da prata; aqueles cadernos formam hoje, por consenso unânime,um dos mais vastos, e dos mais ricos, e dos mais pitorescos, e dos mais valiososmananciais de informes que há no Brasil sobre a gente e a terra do século XVI. Tãoagudas são as observações de Gabriel Soares, tão abundantes e variadas, queproduziram elas esse livro interessantíssimo, verdadeiramente precioso, o maior quese escreveu na época sobre a colônia: Tratado Descritivo do Brasil.É ummonumento.Varnhagen, ao reeditar-se no Brasil o trabalho conspícuo, hojeimprescindível para o estudo da história-pátria, disse, com a sua autoridade, numanobre página de crítica, os altos e consagrantes louvores que merece a obra ilustre6 [4]
1° de 8 fonte(s) [k-2867]
Reflexões criticas sobre o escripto do século XVI impresso com o ...
2° de 8 fonte(s) [24776] História do Paraná, 1899. Romário Martins Data: 1899, ver ano (54 registros)
Guaianás - Após a derrota que os franceses de Villegaignon, seus aliados, sofreram em Guanabara (Rio de Janeiro) e da que lhes foi infligida na vila de São Paulo no combate de 10 de julho de 1562 conjuntamente com os Tupis, Caribocas e Tamoios.
Os Tupinakis, ou Goiá-na, preferindo deslocarem-se a submeterem-se aos portugueses de Piratininga, tomaram a direção sudoeste e estabeleceram-se na Serra Apucarana, além do Rio Tibagi, onde em 1661 Fernão Dias Paes Leme os encontrou divididos em três reinos (Pedro Taques Paes Leme, Nobliarchia Paulistana, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro., vol. 25, parte primeira, p. 106 a 109).
Em 1610, por ocasião das fundações jesuíticas no Guaíra, foram encontradas tribos Guaianás nas margens do rio Paraná, acima e abaixo dos Saltos das Sete Quedas; na mesma época, segundo o cônego J. P. Gay (História da República Jesuítica do Paraguay) existiam numerosas malocas de Guaianás às margens do rio Iguaçu e do Santo Antônio, bem assim, em 1775 ao sul do rio Pirituba (Rio Chopim) segundo o Mapa Geográfico da América Meridional, de Olmidilla.
Mapas coloniais assinalam a região do baixo Tibagi, em ambas as margens, com a indicação: "Sertão do Gentio Guanhanás" e a que demora entre os rios Iguaçu e Santo Antônio com a indicação: Guanhanás, very little known (muito pouco conhecidos); os jesuítas de Guaíra aldearam Guaianás na Redução de São Tomé, em Guaíra, situada a leste do rio Corumbataí; Ambrossetti, em 1903 visitou aldeias de Guaianás no curso inferior do Iguaçu e no alto Paraná. Vem de longe a discussão sobre se os Guaianás eram Tupis ou Tapuias. O cônego Gay, situando Guaianás no baixo e alto Iguaçu e Uruguai, respectivamente, acrescenta: - "(...) e sua língua pouco difere da dos Guaranis", mas também diz que "o nome Guaianás dá-se a todas as tribos que não tem outra denominação e que não são Guaranis". Teodoro Sampaio, A Nação Guaianá da Capitania de São Vicente, filia os Guaianás no grupo Guarani; Carlos Teschauer, S. J., Os Caingang ou Coroados no Rio Grande do Sul, entende que os Guaianás, como também os Camés e os Xocrêns, eram Caingangs.
Também H. von Hering, Revista do Museu Paulista, vol. 6, p. 23 e 44, conclui que os Guaianás descritos por Gabriel Soares, "são os atuais Caingangs". Telêmaco Borba, Atualidade Indígena, p. 128 e seguintes diverge, e entende que eram Tupis-Guaranis, pois esses nativos se entendiam perfeitamente com os Carijós.
O fato de serem aldeados em Guaíra conjuntamente com os Guaranis, fortalece esta opinião do saudoso indianista paranaense.
Guarapiabas - Região de campo ao norte de Guarapuava, entre os rios do Peixe (Piquiri) e Tibagi, onde o Mapa da Costa de Iguape à Laguna e Sertão Inculto até a Fronteira Espanhola os assinala com esta larga inscrição: Campos do Gentio Guarapiaba. Milliet de Saint´Adolphe, diz que Castro teve origem em acampamento de nativos Guarapuabas (Rocha Pombo, O Paraná no Centenário, 123). [Páginas 32, 33 e 34]
3° de 8 fonte(s) [26128] Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Vol. IX Data: 1904, ver ano (35 registros)
Nas capitanias setentrionais a natureza geológica do terreno condenava as tentativas de ai fundar-se a siderurgia. Gabriel Soares de Souza fala de minas de ferro e aço, trinta léguas adentro pelo sertão da Bahia, sem indicação de lugar entretanto, elas nunca foram exploradas. [Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Vol. IX, 1904. Página 37]
4° de 8 fonte(s) [9049] “Memória Histórica de Sorocaba: Parte I”. Luís Castanho de Almeida (1904-1981) Data: 21 de dezembro de 1964, ver ano (90 registros)
Francisco de Souza, por alcunha D. Francisco das Manhas, encontrara-se em Madri com Gabriel Soares de Souza, negociante na Bahia, autor do Tratado Descritivo da Terra do Brasil, irmão de Pero Coelho de Souza que procurava prata e outro na lendária Sabarabuçú, tendo falecido na volta cem léguas da capital. De posse to roteiro do irmão, Gabriel conseguira favores de homens e título para governá-los, vindo a naufragar em Pernambuco, em 1591. D. Francisco, tomara posse de Governador nesse mesmo ano e em 1592 auxiliou Gabriel Soares a reconstituir a expedição, na qual Soares também morreu. Todos iam morrendo no sonho da Sabarabuçú, como repete em ritornello Paulo Setúbal.
7° de 8 fonte(s) [27074] Belchior Dias Moréia. Consulta e Wikipedia Data: 1 de setembro de 2022, ver ano (261 registros)
Antigamente, o rio Orinoco era o ponto preciso e real onde estaria o Eldorado, na cabeça das gentes. A partir de Gabriel Soares de Sousa a perspectiva se transferirá para as cabeceiras do rio São Francisco. Mesmo Domingos Fernandes Calabar (1600-1635), que os portugueses tiveram como traidor, foi guia de uma expedição holandesa a Itabaiana em procura do ouro e da prata.