Jornal O Malho, do Rio de Janeiro, publica reportagem sobre João de Camargo
5 de julho de 1934, quinta-feira. Há 90 anos
sidero aqui duas acepções básicas do sincretismo. 4 Emuma reportagem feita em 1934 para a revista O Malho, do Rio deJaneiro, Plinio Cavalcanti dá um exemplo do primeiro, tomandocomo similprecisamente a arquitetura de Camargo:Formando um conjunto irregulardecasaà margem da estrada, os arraiais denhonhe3 Camargo não tiveram um plano de desenvolvimento uniforme eparece reflectir no seu arcabouço geral a confusão dos dogmas do velhobeato cuja classificação no índice religioso constitue verdadeiro problemapor isso que, o famoso macumbeiro, ora se apresenta como médium espiritafazedor de milagres, ora como apóstolo de uma. crença nova, ora comoilluminaclo creador de um culto especial, ora envolto na penumbra do mysteriocomo esse da praia de Santos, onde uma voz desconhecida lhe ordenoudedicar sua egreja ao padroeiro N. S. Bom Jesus de Bomfim da Agua Vermelha Malho, 28, VI, 1934:26), (grifo dos editores, para identificar palavras que hoje tem outra gr-afiana lingua portuguesa).4 Seráconstante no resto deste artigo a referência aum textoseminal de Pierre Sanchis: Astramas sincréticas da história, RBCA, n. 28, p.23-138, que propOe uma "transposigao denível" e um adequado resgate do termo "sincretismo". 146 —Joao de Camargo: sincretismo e identidadesEm outros momentos do artigo de CAVALCANTI - que impressionou aos seguidores de Camargo, ao mesmo tempo pelo destaque conseguido junto A. midia e pelo retrato, entre ambíguo e insultante feito dolider - o templo é denominado "pandemônio", a doutrina nele seguida."mixórdia" ou ainda "bruxaria ou qualquer name que mereça sua seita" . O fundador de um e de outra recebe, também, uma patuleia dequalificações que indicam a cultura amplamente sincréfica do repOrter: macumbeiro, ogan, chefe apocalíptico, Dom Quixote African°, popular curandeiro, Papa Negro, Hie do Terreiro, charl a tZ singular eremita, Pae João humilde, soba, missiondrio, dentre tantas outras.A voz de um psiquiatra, no caso o Dr. Cezar, alienista do Hospital de Juqueri, é chamada pelo jornalista para explicar esta confusão:Os negros que atualmente existem no Brasil, impregnados pelo meio socialcatólico romano, perderam em grande parte o verdadeiro culto animista deseus antepassados africanos. Contudo existe ainda na mentalidade dessagente, um pouco de essênciade seus costumes primitivos, que se revelamem nosso meio, ora pelaprática da feitiçaria, pelacrença nas `mandingas;ora pelo emprego dosfeitiços (CAVALCANTI, 05/07/34,p.27).