' Geada negra: a queda do café e a chegada dos paranaenses a Sorocaba - 18/07/1975 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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Geada negra: a queda do café e a chegada dos paranaenses a Sorocaba
18 de julho de 1975, sexta-feira. Há 49 anos
Há45 anos, para ser mais exato no dia 18 de julho de 1975, foi registrada a geada negra que dizimou as plantações de café em várias cidades do norte do Paraná. Se você é de Sorocaba, provavelmente tem origem paranaense ou conhece alguém que tenha vindo dessa região. Fato é que o momento de avanço industrial que Sorocaba vivia na década de 70 tornou a cidade um refúgio para os paranaenses que viram a monocultura cafeeira se perder com a camada congelante que tomou conta das fazendas.Não são poucas as histórias contadas por imigrantes “pé vermelho” — como são chamadas as pessoas que nasceram nessa região do Paraná. “Tentar a sorte” em outro local foi a única saída, principalmente no ano seguinte, já que no dia da geada de 75 a colheita de café já tinha sido feita e as sacas, em sua maioria, já estavam vendidas. “O estrago mesmo veio em 1976, porque os pés de café não produziram nada e o solo estava ruim”, conta Benedito Valter de Carvalho, 64, que nasceu em Alvorada do Sul e no época da geada trabalhava em uma grande fazenda de café em Apucarana.O agrônomo Luis Monossora Takada, hoje com 69 anos, era recém-formado no dia do registro da geada negra. Ele atuava como pesquisador de café em várias instituições agrícolas na região norte do Paraná. “Eu prestava serviço em alguns sindicatos e associações e lembro que aquele dia foi tão triste, vi gente chorando, lamentando, temendo pelo futuro diante de tantas perdas”, relata. Atualmente o pesquisador, já aposentado, vive em Londrina.Takada relembra que em 18 de julho de 1975, logo cedo, ao saber das notícias da geada, pegou o carro do pai e foi em algumas propriedades que cultivavam exclusivamente café e muitos agricultores perguntavam se havia uma solução. “Recomendei que quem ainda não tivesse vendido as sacas, vendesse no pé mesmo, para não perder ainda mais. O ano seguinte seria um desafio e seria preciso pensar em outras culturas”, explicou. O agrônomo conta que o café é uma das plantas mais sensíveis ao fenômeno que provoca uma camada fina de gelo e o resfriamento rompe o tecido celular podendo danificá-la em algumas partes ou totalmente.As manchetes dos jornais no dia seguintes noticiavam que não havia restado um pé de café sequer e os termômetros chegaram a marcar -3,5 Cº. Fotos dos cafezais cobertos de gelo e de agricultores lamentando estamparam as capas dos jornais e tomaram os noticiários. Entre os que amargaram as perdas, estava também o então governador paranaense, Jaime Canet, que foi fotografado ao lado do cafezal queimado. Com o fim da era cafeeira, a soja passou a ganhar espaço, mas ainda assim a população rural teve, ao longo dos anos, uma redução de 60%, segundo dados do Governo do Estado do Paraná.Mudança na históriaEm 1976 começou um movimento migratório grandioso, o que fez, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), que o Estado do Paraná perdesse 13% de sua população. Além de São Paulo, Mato Grosso e Rondônia estão entre os destinos mais comuns no êxodo de aproximadamente 2,6 milhões de pessoas entre as décadas de 70 e 80.Enquanto a região norte do Paraná amargava anos difíceis diante da queda da monocultura cafeeira, Sorocaba se destacava com a formação de sua zona industrial, tornando-se sede de várias multinacionais. A metalurgia era o setor forte no município, que já não era mais a Manchester Paulista.Depois que a irmã casou e veio para Sorocaba relatando uma vida mais próspera, Benedito, recém casado com Irene Pessoa de Carvalho, 63, deixou Apucarana e toda a família para trás, embarcando em um trem e trazendo somente uma mala e a vontade de formar uma família. “Lá a gente não tinha perspectiva de uma vida mais confortável e nem tínhamos nada a perder. Moramos alguns meses com a minha irmã e meu cunhado, arrumei trabalho em serviços gerais em uma indústria e então fomos morar em uma casinha de aluguel”, relembra.Com o passar dos anos encontrou uma nova profissão, a de soldador, e ao longo de 13 anos poupou dinheiro para construir uma casa própria, feita aos finais de semana, na folga do trabalho. “Aqui na zona norte a gente acaba encontrando muita gente de origem parecida e por coincidência no bairro tem um time de futebol batizado Esporte Clube Paranazinho”, conta o já aposentado, que reside no Jardim Maria Antonia Prado.A trajetória de Benedito é parecida com a de milhares de paranaenses que aqui fincaram raízes. Todas as férias em família possíveis, o destino é o mesmo: Apucarana e Alvorada do Sul. Benedito é meu pai e sempre se orgulhou de sua origem, mas pouco falava sobre o que, de fato, o trouxe até Sorocaba. Somente as pesquisas para elaboração desta reportagem e uma oportuna falta de energia elétrica em toda a zona norte da cidade propiciaram o relato sobre o dia da “inesquecível geada negra”.Para Irene a maior lembrança era o frio que fazia no dia 18 de julho de 1975. Ela dividia a casa com outros cinco irmãos e os pais, ambos agricultores. Outras três irmãs moravam nos empregos, longe do campo. “A gente quase não tinha roupa de frio, então o meu pai fez uma fogueira na sala, já que nem tinha como sair para trabalhar”, recorda ela, que depois de dois anos casou-se com Benedito.História semelhante é a de Neuza Alcântara da Cunha Pereira, 57. Ela, porém, é a única paranaense da família, entre 12 irmãos. “Todos são mineiros e meus pais foram para o Paraná para trabalhar e uma fazenda e eu, que sou a mais nova, nasci lá”, conta. Ela nasceu em Califórnia, mas ainda criança a família toda foi para Faxinal, próximo de Londrina. “A vida era bem difícil, mas a gente era muito feliz.”Em 1977 Neuza conta que a situação financeira ficava cada vez pior para a família e um dos irmãos teve notícias de amigos que estavam residindo em Sorocaba. “Vieram trabalhar em firmas e falaram que tinha bastante trabalho. Então meu irmão veio e logo depois a família toda deixou o Paraná”, relata ela, que inicialmente morou no bairro Vossoroca, em Votorantim. “Era tudo bem perto, as cidades não eram do tamanho que são hoje. Depois de alguns anos mudamos para o bairro Bela Vista e por último, onde moro até hoje, no Itanguá”, contou ela sobre a atual residência, na zona oeste sorocabana.O já aposentado João Pena Leme, 67, embora seja muito grato por tudo que conseguiu em Sorocaba, depois de 40 anos na cidade paulista, retornou para Arapongas, sua cidade natal. “A minha família trabalhava em uma fazenda cafeeira e eu lembro perfeitamente daquele dia e nunca vou me esquecer do meu pai chorando, triste e sem saber o que faria no ano seguinte”, relata. Ele já era casado com Odila Silva Leme, 66, e morava na mesma propriedade, arrendada.Ainda sem filhos, o casal se despediu da enorme família e seguiu para Sorocaba. “Um cunhado morava aqui e trabalhava na Fepasa, então eu vim e consegui emprego lá. Fiquei por alguns anos e depois trabalhei em metalúrgicas.” João e Odila tiveram três filhos sorocabanos e sempre fizeram questão de contar sobre a vida no Paraná. Depois de se aposentar, há pouco mais de cinco anos, ele voltou para onde nunca deixou de ser seu lar. “Devo muito a Sorocaba, fiz muitos amigos na Vila Formosa, mas o meu sonho sempre foi poder retornar e aproveitar a aposentadoria por aqui”, contou durante uma entrevista por telefone.Recanto paranaenseVila Formosa e Laranjeiras, ambos na zona norte de Sorocaba, somam dezenas de paranaenses entre seus moradores. O agente comunitário Josué Lima, que idealizou a Biblioteca Comunitária Milton Expedito, no bairro Laranjeiras, encabeçou uma ampla pesquisa sobre os imigrantes que vivem na região. “Começou quando as pessoas doavam livros e entre as páginas a gente encontrava cartões postais do Paraná, fotografias antigas e então veio a ideia de fazer um resgate da história das pessoas que fazem parte do bairro”, disse.As conversas com os moradores mais antigos do bairro mostraram que a origem paranaense era predominante. “A minha família veio do nordeste e há também gaúchos, mas a predominância é de paranaenses da região norte e a geada negra foi a principal motivação da mudança”, contou o pesquisador.

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