A edição 102 da Revista UFO publicou uma entrevista concedida por Cesário Lincoln Furtado, cardiologista, perito judicial e médico do trabalho, que atendeu o policial Marco Eli Chereze quando este foi hospitalizado e dias depois morreu.
Como se sabe, Chereze – que era do serviço de inteligência da Polícia Militar, o tal P-2 – agarrara com as mãos desprotegidas uma das criaturas, na noite de 20 de janeiro de 1996, em Varginha (MG).
Porém, foi operado para a retirada ou punção de um abscesso na região da axila direita, por um tenente médico da corporação. Familiares de Marco Eli Chereze pediram abertura de inquérito policial para apuração da morte.
Transformando-se em processo-crime contra o médico, os autos foram enviados à Justiça Militar, que terminou no mês de abril.
Tentando oferecer ao leitor e aos ufólogos dados que possam contribuir para o esclarecimento da morte do rapaz, que se tornou um dos principais pontos controversos do Caso Varginha, apresentamos a seguir um resumo das declarações do doutor Furtado, bem como o desfecho do processo-crime, na Justiça Militar, que teve como réu o tenente médico que retirou um abscesso da axila do policial Chereze, o que causou forte suspeita sobre a causa da morte.
O policial foi atendido na unidade Prontomed do Hospital Regional pelo cardiologista Armando Martins Pinto, no dia 12 de fevereiro de 1996.
Entrou com dor na região lombar, bastante intensa, foi internado e encaminhado ao Hospital Bom Pastor. Lá foi atendido por um médico residente da cardiologia, que pediu alguns exames.
No dia seguinte, foi avaliado com pedido de alguns exames complementares, já que continuava com dor na região lombar.
Foi pedido exame de urina, raios-X da coluna lombo sacra, e a avaliação de ortopedista, já que a dor era intensa e havia suspeita de hérnia de disco.
O ortopedista disse que não havia nenhuma alteração e que o problema era outro. Continuou a investigação da causa da dor e da febre, que começou a aparecer concomitante à dor.
Os exames de sangue mostraram um hemograma com leucocitose, desvio à esquerda e granulações tóxicas nos neutrófilos.
Isto é sinal de uma infecção importante, com alta capacidade de provocar toxemia, tanto é que tinha granulações tóxicas.
Foram ministrados dois antibióticos, penicilina e gentamicina, porque houve suspeita de pneumonia, devido à localização da dor, ou infecção urinária.
Os antibióticos poderiam cobrir as duas possibilidades. Mais tarde, no dia 13, ele foi reavaliado.
E permaneceu no mesmo estado.Dor, febre e imunodeficiência — Chereze passou o dia seguinte, 14, com dor e febre, mas em estado razoável.
Até que no dia 15 pela manhã acordou com quadro de cansaço, torpor, sinais de cianose, configurando-se uma bacteriemia com possível quadro de septicemia.
Foi imediatamente transferido para a CTI do Hospital Regional, onde foi atendido e medicado. Lá um dos primeiros exames pedidos foi o HIV, porque percebeu-se que ele possuía uma imunodeficiência.
Ora, uma simples infecção urinária, ou pneumonia, ou ambas, não levaria uma pessoa a uma septicemia, tomando dois antibióticos. Isto é quase impossível. Só nesses quadros de imunodeficiência.
A imunodeficiência mais comum hoje em dia, principalmente em rapazes jovens seria a AIDS. O exame veio negativo – ele não tinha AIDS.
Policial morre mesmo com intenso tratamento, no CTI, tomando os antibióticos. Seu quadro séptico foi piorando e ele não teve nenhuma melhora com todo o recurso terapêutico que podia ter sido utilizado no instante.
Esse quadro intrigou todo mundo. O corpo foi levado à autópsia, que demonstrou infecção urinária por enterobacter.
A cultura de urina, pedida no Bom Pastor, que ainda não havia chegado, confirmou a infecção. Também uma infecção pulmonar, por outra, uma pequena pneumonia.
A urinária teria causado a septicemia, pois a pulmonar era tão pequena que seria quase impossível causar o quadro.
A punção de seu abscesso trouxe dúvida sobre a morte. Passados alguns dias, a irmã do policial disse que os familiares estavam proibidos de falar, mas que o rapaz, alguns dias antes, teria sido um dos militares que ajudou a capturar uma criatura desconhecida em Varginha.
Disse que esse trabalho lhe rendeu um machucado em uma das axilas, que gerara um abscesso. A drenagem da ferida foi feita no Hospital Bom Pastor.
Esse abscesso, na época da internação, já estava praticamente curado, não havia mais secreção e não estava mais aberto.
A bactéria encontrada na axila, na época da drenagem, não foi a mesma da no rim, causando a infecção urinária, nem no pulmão.
Foram outras bactérias totalmente diferentes. A encontrada no braço foi estafilococo, que é uma bactéria comum na pele, que qualquer cabelo inflamado, pequena infecção de pele ou espinha, pode causar.
A drenagem foi feita normalmente, sem nenhuma intercorrência.
Dias antes, o rapaz demonstrava uma saúde muito boa, nunca tendo histórico de difícil tratamento que pudesse justificar uma imunodeficiência há mais tempo. Poderia ser uma imunodeficiência congênita, mas ele não tinha.
Senão, não teria chegado a 22 anos, saudável. A chance dele ter morrido quando ainda menino seria muito maior.
Qualquer doença pode matar alguém com imunodeficiência, não sendo possível uma pessoa viver 22 anos sem contato com nenhuma infecção, sem nada, com um quadro assim.
Todos nós podemos ter infecção, ou não, depende da nossa resistência. O imunodeficiente não tem muita resistência.
Então, com certeza, ele não tinha, ou não estava com imunodeficiência no dia em que morreu. Por este motivo, e com 22 anos, o problema certamente foi adquirido.
Mas sobre a causa de como adquiriu, ninguém tem comprovação ainda. Não foi a pneumonia, não foi a infecção urinária, não foi o abscesso. Foi imunodeficiência com certeza.
Um laudo do Laboratório de Análises Clínicas acusou no hemograma “presença de vacúolos citoplasmáticos. Presença de granulações tóxicas finas em 8% nos neutrófilos. Discreta poiquilocitose”.
Essas granulações aparecem nos neutrófilos de uma pessoa que está sendo atacada por uma bactéria com alta virulência.
Isto poderia chegar a 50 ou 60%, e no laudo mostra 8%, porque foi o primeiro exame de sangue. O resultado já mostra a presença de infecção e foi o que fez com que fossem ministrados os dois antibióticos.
Essas granulações não estão sempre presentes em casos de contaminação, mas falam a favor de uma infecção importante e grave.
Não denotam nada de desconhecido ou inexplicável, porque são freqüentes nas infecções graves.Bactéria fatal — Prevalecia uma infecção de fundo renal, em virtude da presença da enterobacter.
É importante observar que em menos de 20 dias três bactérias atacaram o policial, coisa muito rara. Uma infecção urinária, de garganta ou de pele em um jovem de 22 anos é normal.
Mas três bactérias, não. Três, porque havia uma no braço uns dias antes, que desapareceu em seguida. Depois, a infecção urinária com esse enterobacter, que veio a matá-lo – e havia também uma no pulmão.
A microrganismo presente na pústula da axila, ou do braço, estava mesmo debelado e havia desaparecido. Na época da internação já não havia mais nada, só a cicatriz.
Não há qualquer possibilidade desta bactéria tê-lo matado, porque a encontrada na axila foi uma e, a da infecção urinária, foi outra.
A primeira foi encontrada só na pele, que é seu ambiente normal. Não é comum que a enterobacter seja adquirida pela epiderme numa lesão qualquer.
Essas são bactérias que vivem no aparelho digestivo, no aparelho urinário, até na garganta ou faringe. Estão em equilíbrio, em situação de não causarem infecção.
Mas é só cair a defesa do organismo que elas se multiplicam e atuam. A bactéria que pode ser adquirida pela pele pode chegar a matar, se alguém tiver uma pneumonia ou mesmo uma infecção urinária com estafilococo.
Se a pessoa estiver imunodeprimida, qualquer bactéria pode matá-la.Foi certamente uma infecção surpreendente.
A causa mortis imediata de Chereze foi precisa, aquilo que causou a morte no instante desta. O que levou a tal situação é que não foi esclarecido. Com certeza, uma imunodeficiência.
Mas é de se supor o grau de estranheza de haver o ataque de três bactérias naquele espaço de tempo, em locais do organismo diferentes.
Analisando-se bem a maneira como as coisas aconteceram, não temos uma explicação clara para a morte do rapaz.
Será que ele teria adquirido a infecção no contato com o ser, através de um corte na pele? Ou que acabou com sua resistência de forma rápida?
Porque foi uma coisa bem rápida. Um abscesso pode até dar septicemia, mas não mata ninguém. E qualquer antibiótico cura.
Não foi o caso. Não foi a bactéria que entrou pelo braço que provocou a infecção. A não ser que fosse uma bactéria totalmente desconhecida, o que é pouco provável.
Agora, se por ali entrou alguma outra coisa, desconhecida também, que tirou a imunidade dele, é pergunta também sem resposta.
Sobre o tipo de coisa que poderia ocasionar tal situação pode-se ir desde um veneno a algo injetado em seu corpo.
Poderia ser tétano, mas este se conhece e se cura. Foi certamente algo que em seu organismo e lhe tirou a resistência.
Foi uma morte estranha, sem explicação clara. Em minha vida profissional, já vi duas pessoas em torno de 25 anos morrerem de infecção assim.
Mas todas tinham imunodeficiência, e tiveram o baço extraído (esplenectomia) por acidente no passado. Isto causa imunodeficiência e leva a pessoa a morrer rapidamente se, nesta situação, se contrai um quadro de septipneumonia. Mas não foi o caso de Chereze.
Ou seja, o local encontrava-se totalmente cicatrizado, simplesmente não mais havendo qualquer sinal da inflamação.
Informou também que recebeu várias ligações e e-mails após a publicação de sua entrevista na revista. Para ele, em geral, a correspondência ratificava suas declarações e por vezes complementava com comentários relevantes o que ele havia declarado.
Foi para o doutor Furtado surpreendente notar o grande número de profissionais da área médica que se interessam pelo Fenômeno UFO.
“Muito mais gente do que eu imaginava me procurou, pois de uma forma ou de outra tiveram acesso à minha entrevista na UFO”, disse.
Através do hipnólogo Mário Rangel, de São Paulo, o médico francês Jacques Costagliola, estudioso dos casos de alegada violência a seres humanos em ocorrências ufológicas, enviou algumas indagações principalmente dirigidas ao doutor Furtado.
Ele perguntara em que dia, entre 21 de janeiro e 12 de fevereiro de 1996, teria aparecido o abscesso na axila de Chereze.
Pelos depoimentos colhidos de familiares, principalmente de sua esposa Valéria, bem como pelo que consta do relatório no delegado de polícia que enviou o inquérito para a Justiça, a primeira notícia do abscesso data de 06 de fevereiro de 1996.
Supõe-se que em tal data o incômodo da inflamação forçou o policial a procurar o tenente médico da polícia.
Do auto de necropsia consta a presença de uma ferida incisa de meio centímetro de diâmetro, na região axilar direita.
Costagliola também desejou saber quantos dias após o contato com o estranho ser o policial começou a sofrer do incômodo na axila.
Não temos esses dados. Valéria informou que o marido começou a reclamar do abscesso um ou dois dias antes de 06 de fevereiro, mas não tem certeza.
Como se sabe, o tumor sofreu a pequena intervenção cirúrgica no dia seguinte, 07 de fevereiro. A bactéria isolada ao nível do foco pulmonar foi a enterobacter aerógenes.
O médico Cesário Lincoln Furtado informa ainda que a mesma bactéria do pulmão foi isolada no sangue, apesar de ter sido isolada também a enterobacter sp.
O policial teve bacteriemia, que se transformou em septicemia.Penicilina e gentamicina — “Foi praticado um antibiograma de cada uma das bactérias isoladas”, responde Furtado ao francês Costagliola.
As bactérias não eram resistentes à penicilina e à gentamicina, mas eram sensíveis.
Assegura ainda Furtado que, desde o início do tratamento em Chereze, foram ministradas no policial penicilina e gentamicina, até mesmo antes do resultado do antibiograma – que confirmou que as bactérias estavam sensíveis.
Mesmo assim, o policial não melhorou. Furtado volta a destacar com ênfase: “Ora, esse é o problema. As bactérias estavam sensíveis a ambos os antibióticos. É aí que falta a explicação”.
Ressalta novamente que, no processo que causou a morte do policial, não havia o estafilococo – a bactéria foi isolada, mas não estava presente no processo da bacteriemia ou septicemia.
Só havia no local do abscesso, este que, aliás, nem mais existia.O francês desejou saber, finalmente, se a axila era do mesmo lado da mão que tocou na criatura sem luva.
Disso a Ufologia não está informada. Sabe-se tão somente que Chereze agarrou o ser com as mãos desprovidas de luva.
Mas não se a teria tocado com apenas uma das mãos, muito menos se apenas com a direita, sendo que o abscesso encontrava-se na região desta axila.