Ela nasceu e cresceu no bairro paulistano da Bela Vista, um conhecido reduto de ítalo-brasileiros. Seus pais eram italianos, e Victória Bonaiutti de Martino era a mais nova de três filhas.
Ela herdou o nome do pai, que morreu sete dias antes de seu nascimento. A viúva, Antonieta não se casou novamente, e criou sozinha as filhas, dando aulas de alfabetização no Instituto de Surdos e Mudos de São Paulo e como costureira.
Devota da Igreja Batista, internou a filha mais nova no Colégio Batista Brasileiro, cujas mensalidades foram dispensadas em troca de serviços prestados ao colégio, como arrumação dos quartos.
Marlene estudou ali dos nove aos quinze anos, destacando-se nas atividades esportivas, assim como no coro juvenil da igreja.
Ao deixar o colégio, foi cursar contabilidade na Faculdade do Comércio, situada na Praça da Sé. Na mesma época, emprega-se como secretária, durante o dia, num escritório comercial.
É quando começa a participar de uma entidade de estudantes, recém formada, a qual passa a dispor de um espaço na Rádio Bandeirantes, a Hora dos estudantes, programa em que seria cantora.
Foi quando seus colegas estudantes, por eleição, escolheram seu nome artístico, em homenagem à atriz alemã Marlene Dietrich.
Vida pessoal
Em 1952, casou-se com seu noivo, o ator Luís Delfino, com quem teve seu único filho, Sérgio Henrique Bonaiutti dos Santos.
Após quinze anos de matrimônio, devido a constantes desavenças conjugais, causou um escândalo social ao pedir o desquite, visto que na época não era bem visto a separação.
Apesar de ter mantido outros relacionamentos, não quis mais casar-se. A cantora teve uma neta, chamada Ágatha Nogueira Bonaiutti.
Carreira artística Victória acabou deixando o curso de contadora em segundo plano, priorizando sua atividade artística.
Então, em 1940, ela estreou como profissional na Rádio Tupi de São Paulo. Tudo isto, contudo, fez escondida da família, que, por razões religiosas e sociais vigorantes na época, não poderia admitir uma incursão no mundo artístico.
O nome artístico esconderia sua verdadeira identidade até ser descoberta faltando aulas por causa de seu expediente na rádio, o que resultou num castigo exemplar da parte de sua mãe. Mas ela já estava decidida a seguir carreira.
Assim, em 1943, cercada pela desaprovação da família, ela partiu para o Rio de Janeiro, onde, após ser aprovada no teste com Vicente Paiva, passou a cantar no Cassino Icaraí, em Niterói.
Ali permaneceu por dois meses até conhecer Carlos Machado, que a convidou para o Cassino da Urca, contratando-a como vocalista de sua orquestra. No Cassino da Urca conheceu seu primeiro marido, Nilton Paz que até então era namorado da cantora Emilinha Borba.
Em 1946, houve a proibição dos jogos de azar e o consequente fechamento dos cassinos por decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra.
Marlene, então, mudou-se com a orquestra de Carlos Machado para a Boate Casablanca. Dois anos depois, tornou-se artista do Copacabana Palace a convite de Caribé da Rocha, que a promoveu de crooner a estrela da casa.
Passou a atuar também na Rádio Mayrink Veiga e, no ano seguinte, na Rádio Globo. Nesse ínterim, já se tinha dado sua estreia no disco, pela Odeon, em meados de 1946, com as gravações dos sambas Suingue no morro (Amado Régis e Felisberto Martins) e Ginga, ginga, moreno (João de Deus e Hélio Nascimento).
Mas foi no carnaval do ano seguinte que Marlene emplacou seu primeiro sucesso, a marchinha Coitadinho do papai (Henrique de Almeida e M. Garcez), em companhia dos Vocalistas Tropicais, campeã do concurso oficial de músicas carnavalescas da Prefeitura do Distrito Federal.
E foi cantando esta música que ela estreou no programa César de Alencar, na Rádio Nacional, com grande sucesso, em 1948. Marlene se tornaria uma das maiores estrelas da emissora, recebendo o slogan Ela que canta e dança diferente.
Ainda nesse ano, foi contratada pela gravadora Continental, estreando com os choros Toca, Pedroca (Pedroca e Mário Morais) e Casadinhos (Luís Bittencourt e Tuiú), este cantado em duo com César de Alencar.
Marlene esperou o fim de seu contrato com o Copacabana Palace para abandonar os espetáculos nas boates, dedicando-se ao rádio, aos discos e, posteriormente, ao cinema e ao teatro.
Rainha do Rádio
Nessa época, a maior estrela da Rádio Nacional era Emilinha Borba, mas as irmãs Linda e Dircinha Batista eram também muito populares, e as vencedoras, por anos consecutivos, do concurso para Rainha do Rádio.
Este torneio era coordenado pela Associação Brasileira de Rádio, sendo que os votos eram vendidos e a renda era destinada para a construção de um hospital para artistas.
Então, em 1949, Marlene venceu o concurso de forma espetacular. Para tal, recebeu o apoio da Companhia Antarctica Paulista.
A empresa de bebidas estava prestes a lançar no mercado um novo produto, o Guaraná Caçula, e, atenta à popularidade do concurso, pretendiam usar a imagem de Marlene, Rainha do Rádio, como base de propaganda de seu novo produto, dando-lhe, em troca, um cheque em branco, para que ela pudesse comprar quantos votos fossem necessários para sua vitória.
Assim, Marlene foi eleita com 529.982 votos.
Ademilde Fonseca ficou em segundo lugar, e Emilinha Borba, dada como vencedora desde o início do concurso, ficou em terceiro.
Marlene, era então namorada do apresentador Manoel Barcelos que era ao mesmo tempo presidente da ABR, que promovia o concurso, o que gerou insatisfação do público que acusava a vencedora de favorecimento.
Desse modo, originou-se a famosa rivalidade entre os fãs de Marlene e Emilinha, uma rivalidade que, de fato, devia muito ao marketing e que contribuiu expressivamente para a popularidade espantosa de ambas as cantoras pelo país.
Prova disso foram as gravações que elas fizeram em dueto naquele ano, com o samba Já vi tudo (Amadeu Veloso e Peter Pan) e a marchinha Casca de arroz (Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti).
Foram sucessos no Carnaval de 1950, e no começo desse ano, com a marchinha A bandinha do Irajá (Murilo Caldas), também sucesso no Carnaval.
A eleição para Rainha do Rádio ainda lhe rendeu um programa exclusivo na Rádio Nacional, intitulado Duas majestades, e um novo horário no programa Manuel Barcelos, em que permaneceu como estrela até o fechamento do auditório da Rádio Nacional.
A estrela Marlene ajudou vários colegas seus, inclusive usando seu prestígio e influência junto à direção da Rádio Nacional, trouxe para a emissora, as vozes de Jorge Goulart e Nora Ney, que ali permaneceram por décadas, só saindo por causa de problemas com o governo da época da ditadura militar no país.
Também foi Marlene a madrinha de um de seus frenéticos fãs, o jovem Luís Machado, que veio a ser locutor comercial dos programas, de Manuel Barcelos.
Participou também de outros programas, como o de César de Alencar, o de Paulo Gracindo, bem como Gente que brilha, Trem da alegria, Show dos bairros e o de José Messias, porém o jovem locutor Luís Machado deixou a rádio, também com problemas com o governo da ditadura militar, saindo junto com Cesar de Alencar e vários outros artistas, que não se enquadravam àquele regime governamental.
Marlene manteve o título ainda pelo ano seguinte. Ela então passou a ser cantora exclusiva do programa Manuel Barcelos, enquanto que Emilinha tornou-se exclusiva do de César de Alencar.
Ainda naquele ano, gravou dois de seus maiores sucessos, acompanhada d`Os Cariocas, Severino Araújo e Orquestra Tabajara: os baiões Macapá e Que nem jiló (Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga). Participou da revista Deixa que eu chuto, no Teatro João Caetano, no Rio.
Atuou intensamente no teatro musicado, excursionando pelo exterior e por todo o Brasil em inúmeros espetáculos.
Participou também do filme Tudo Azul, ao lado do futuro marido Luís Delfino, produzido por Rubens Berardo e dirigido por Moacyr Fenelon.
Marlene também teve um programa exclusivo que ia ao ar aos sábados às 20 horas Intitulado Marlene Meu Bem, juntamente com seu marido da época, Luís Delfino.
Em 1972, tornou-se a primeira mulher a ser intérprete oficial de um samba-enredo, ao ser contratada pelo Império Serrano. Naquele ano, a escola de samba foi campeã do Carnaval.
Morte Marlene foi internada no Hospital Casa de Portugal em 7 de junho, devido a uma pneumonia severa, sua morte ocorreu em 13 de junho de 2014, 6 dias depois da internação.