Relato do Conde d’Eu sobre a morte da Princesa Isabel
19 de novembro de 1921, sábado. Há 103 anos
Carta do Conde d’Eu a D. Maria Amanda Paranaguá Dória (1849-1931), Baronesa de Loreto.
D. Amanda era natural da Bahia, filha do Marquês de Paranaguá e esposa do Dr. Franklin Américo de Meneses Dória, Barão de Loreto.
Foi educada junto com a Princesa Isabel e, enquanto eram meninas, num acidente, a Princesa feriu involuntariamente a amiguinhas.
Estavam ambas brincando de plantar uma horta, no jardim do Palácio de São Cristóvão, e a Princesa, num gesto desastrado, vazou com uma ferramenta o olho da companheira.
A Baronesa de Loreto usou por toda a vida um olho de vidro, confeccionado com tal perfeição que ninguém se dava conta disso. Até à morte foram amigas inseparáveis.
A Baronesa de Loreto acompanhou a Família Imperial na viagem de exílio e deixou um relato comovedor da travessia do Atlântico a bordo do vapor Alagoas.
O Conde d’Eu sempre a tratou cerimoniosamente, como “Senhora Dona Amanda”, mas percebe-se, pelo tom das cartas, que ela era realmente muito familiar e chegada à Família Imperial.
Segue a carta em que o Conde d’Eu comunica à sua correspondente a morte da Princesa.
Estas são as primeiras linhas que escrevo para o Brasil depois do terrível golpe; e nem estou em estado de dar-lhe, como desejaria, pormenores.
Não quero, porém, deixar de enviar-lhe já as inclusas fotografias que ela lhe destinava, e à Marianinha Suruí, assinando-as ainda na manhã do mesmo dia em que se declarou a febre que o médico logo atribuiu a embaraço pulmonar, e nem mesmo talvez três horas antes!
O mal, embora com altos e baixos, não cessou mais durante os três dias seguintes (nos quais se confessou longamente e recebeu a Sagrada Comunhão) até que no 5º dia, dia 14, pelas 9h ½ da manhã perdeu repentinamente os sentidos e não durou nem meia hora, chegando, contudo, o Pároco a tempo de lhe aplicar a Extrema-Unção, todos nós de joelhos em roda, à exceção das crianças, que só mais tarde foram chamadas para dar o beijo de despedida à querida Vovó!
Calcule a desolação em que ficamos e amerceie-se da desgraça deste amigo velho de todos os seus.
Gastão d’Orleans”
A Marianinha Suruí citada na carta é D. Mariana Cândida de Lima e Silva, filha de Manuel Francisco de Lima e Silva, Barão de Suruí (1793-1869), e de sua sobrinha e esposa D. Carlota Guilhermina de Lima e Silva (1817-1894).
Esta, por sua vez, era filha do Regente do Império Francisco de Lima e Silva (irmão de seu marido) e era irmã do Duque de Caxias e do Conde de Tocantins.
Foi ela, juntamente com a Baronesa de Loreto, a feliz destinatária de uma das últimas fotografias assinadas pela Redentora.
Artigo escrito pelo Professor Armando Alexandre dos Santos, historiador, jornalista e escritor, além de membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e monarquista de longa data, e publicado no jornal “A Tribuna Piracicabana” (edição de 29/11/2014).
Publicação da Causa Imperial sobre o falecimento da Princesa Dona Isabel