O que explica a amizade entre D. Pedro II e o escritor Victor Hugo, personagens tão opostos politicamente?
Essa história é interessante. Dom Pedro II vai a Paris e pede para Victor Hugo, de quem era fã, visitá-lo no hotel.
Mas Hugo, que era a face mais importante do movimento republicano, não queria nada com o imperador do Brasil e manda dizer que não visita ninguém.
Então D. Pedro vai até a casa do escritor e bate na porta dele, que fica constrangido de mandá-lo embora. Eles passam horas conversando e se tornam amigos até o fim da vida. É uma amizade que transcende as fronteiras ideológicas e acontece no campo puramente intelectual.
Obras indubitáveis como "Os Miseráveis", "Os Trabalhadores do Mar", "O Corcunda de Notre Dame" e "O Último dia de um Condenado" são apenas uma parte de sua vasta vida literária, que também compreende peças teatrais e poemas de Victor Hugo
.Sendo um dos grandes ativistas dos direitos humanos na França e opositor das políticas de Napoleão III, Victor Hugo viveu exilado por quase 10 anos - inclusive durante a publicação de "Os Miseráveis".
Foi uma figura que manifestou um grande interesse em favor do movimento de abolição da escravidão no Brasil, fazendo intervenções junto ao próprio imperador Dom Pedro II.
O primeiro encontro entre ambos se deu em uma das viagens de Dom Pedro II pela Europa, em 22 de maio de 1877:
"Foi na segunda viagem de D. Pedro II. Estava em Paris, e foi fazer, ao rei dos poetas, uma visita de que falaram todos os jornais parisienses.
O grande crítico dos reis e dos povos, autor de "Les Misérables" e de "L’Année Terrible", o implacável flagelador de todas as injustiças e tiranias cantor divino do patriotismo, da filantropia, do progresso e da liberdade, depois de uma longa entrevista com o ilustre príncipe, exclamou:
– Majestade, sois o neto de Marco Aurélio! D. Pedro, homem de espírito e coração, prestou, por sua vez, justa homenagem ao gênio do grande poeta.
A pequena Jeanne, chamada pelo avô, abraçou o imperador.
– Sabes, perguntou-lhe o poeta, que acaba de abraçar uma majestade?
– Aqui só há uma majestade; ei-lá, – disse D. Pedro, apontando o poeta.
Acompanho-o até a porta, disse Victor Hugo ao imperador que se despedia:
– Acompanho Vossa Majestade até os limites do meu Império!
– O império de Victor Hugo é o Universo!
Replicou espirituosamente D. Pedro II, um dos mais fervorosos admiradores das obras do genial poeta.".
Mais tarde, em 1883, José do Patrocínio, uma das figuras mais importantes do movimento abolicionista no país, embarca para Europa com o objetivo de obter documentos em apoio à causa e travar conhecimento com outros abolicionistas europeus.
Em Paris, participa de um banquete promovido pelo Senador Victor Schoelcher em comemoração a abolição da escravatura na província do Ceará, neste mesmo banquete é apresentado a Victor Hugo que, em um discurso, louva José e lhe dá integral apoio, intercedendo diretamente em favor da causa junto ao Imperador.
REF. MOSSÉ, Benjamin. Dom Pedro II, Imperador do Brasil: o Imperador visto pelo barão do Rio Branco / Benjamin Mossé. – Brasília : FUNAG, 2015.