Falecimento de Paulo Eiró no Hospício dos Alienados
27 de junho de 1871, terça-feira. Há 153 anos
Paulo Francisco Emílio de Sales, o poeta Paulo Eiró, era filho de Francisco Antonio das Chagas, professor e primeiro Presidente da Comarca de Santo Amaro, e de Maria Angélica.
Aos 11 anos se apaixonou pela prima Cherubina Angélica de Salles, que foi sua musa por toda a vida. Paulo já lia em francês e aos 12 anos escreveu junto com o pai: Taboas Chronologicas.
Aos 19 anos formou-se pela Escola Normal de São Paulo e foi nomeado professor em Santo Amaro, exercendo o magistério por oito anos, com intervalos.
Nos primeiros anos de magistério a vida de Paulo Eiró foi tomada de uma verdadeira febre pela poesia. Não conseguia disfarçar a paixão que sentia pela prima, mas a esperança de conquistá-la acabou, pois a moça estava de casamento marcado.
Ele começou a ficar absorto nas aulas e, à noite os santamarenses viam-no a caminhar pela Vila, o olhar perdido no chão.
Começaram, então, os passeios pelos lugares próximos nos quais gastava o dia inteiro, sem se alimentar. Apesar da preocupação da mãe, ele sentia o enfadamento de tudo, somente uma esperança o animava: entrar na Faculdade de Direito.
Entrou para a faculdade, licenciando-se na Escola Primária da Vila e transferindo sua residência para São Paulo.
Ficou conhecido como um poeta admirável e até algumas das suas poesias eram faladas nas arcadas acadêmicas da Atual São Francisco. As esquisitices anteriores da época da Vila, que haviam desaparecido no início do período da faculdade, retornavam de uma hora para outra.
Queria sempre ir para casa, se fechava no quarto e não se alimentava. Às vezes seguiam-se dias de entusiasmo e bastante estudo até a próxima crise. A família, preocupada, trouxe-o para Santo Amaro.
Dessa vez a próxima esquisitice foi mística. Inflamou-se no desejo de matricular-se no seminário e não aceitava conselhos para remover tal idéia.
O pai, que já tinha outro filho ordenado padre, até que não achou má idéia, e acompanhou-o ao Seminário Episcopal no Bairro da Luz. Nesse período, Paulo Eiró, já contava com 23 anos e era considerado pelos colegas do seminário como velho.
Contribuía também sua expressão facial triste e o ar de ausência. Com o seu humor novamente em crise, andava pelo quarto ou então espalhava pelo Seminário suas poesias tristes e abolicionistas, motivo pelo qual foi aconselhado a voltar a Santo Amaro e a seu pai foi sugerido que destruísse os cadernos com suas poesias, o que foi feito pelo professor Francisco das Chagas.
Sua próxima esquisitice foi a viagem a Mariana/MG. Novamente os conselhos de nada adiantaram e sua partida aconteceu sob os olhares tristes da mãe e do pai. Da viagem, a família pouco teve notícia, exceto que, pelo caminho, pernoitou na casa de parentes e amigos.
Mas sabe-se que ele não conseguiu chegar a Mariana. Como a viagem foi feita a pé, durante meses não se teve notícia dele. Vamos reencontra-lo, voltando sem a bagagem, tendo no bolso apenas um livro gasto de anotações.
Ao entrar em São Paulo, sente uma movimentação nas proximidades da Praça da Sé, então resolve ir até lá. Com aguda curiosidade resolve entrar na igreja. Era um casamento.
Ao reconhecer a noiva, vê que é sua musa. A mulher que ele tanto amou agora casava-se e estava perdida para sempre. Novamente se põe a pé a caminho para voltar para Santo Amaro, quando compõe a poesia:Fatalidade:
Que vista! O sangue se afervora e escalda! Por que impulso fatal fui hoje à igreja? Quer meu destino que, ao entrar, lá veja Noiva gentil de Cândida grinalda. Nos olhos sem iguais, cor de esmeralda, Lume de estrelas, plácido lampeja: Seu branco seio de ventura arqueja; Louros cabelos rolam-lhe da espalda. Hora de perdição! Sim adorei-a; Não tive horror, não tive sequer medo De cobiçar uma mulher alheia. Unem as mãos; o órgão reboa ledo; Em alvas espirais, o incenso ondeia... E eu só, longe do altar, choro em segredo!
Na volta para a Chácara dedicando-se à poesia, foi convidado pela Comissão dos Festejos pelos 36 anos de S.M.Imperial D. Pedro II, para ceder os originais do drama Sangue Limpo que seria representado em São Paulo.
Paulo Eiró participou da montagem e marcação das cenas, entusiasmado. Nos ensaios em São Paulo, sua alegria era tamanha. Novamente Paulo Eiró estampava no rosto a felicidade e junto ao grupo de artistas renomados da época ele reencontra a lucidez.
O dia 2 de dezembro de 1861 (dia das comemorações) começou com paradas militares, missa na Igreja da Sé e, à noite, no teatro São Paulo, localizado no Pátio do Colégio, foi encenado o espetáculo com a presença dos figurões do Governo, estudantes e quase todos os moradores de São Paulo.
Apesar da emoção presente em Paulo Eiró a crítica dos jornais não foram favoráveis. Ao lê-las com decepção, novamente retornaram suas crises.
Nos próximos dois anos Paulo Eiró, dedica-se, em meio a crises, a dar aulas na escola primária em Santo Amaro, mas as alternâncias de sua demência obrigaram os familiares a pedir seu afastamento. As viagens ficavam cada vez mais freqüentes, ele ia a São Paulo e ao Rio de Janeiro.
Havia períodos em que não se tinha notícias dele. Sem noção do tempo, retornava à Chácara. Sua saúde estava cada vez mais precária e a família criou o hábito de deixar o portão fechado para que ele não fugisse.
Mas um domingo pela manhã, ele encontrou o portão aberto, atravessou a Vila e entrou na Igreja de Santo Amaro. Era hora da missa e todos estavam presentes. Sem que sua família notasse, começou a interferir no que o padre falava.
Todos ficam pasmos ao ver sua ousadia de falar durante a Santa Missa. Seu pai leva-o de volta para casa, mas só toma consciência que era hora de interna-lo quando ele quebra um crucifixo.
Em maio de 1866, Paulo Eiró, aos 31 anos, foi internado no Hospício dos Alienados que se localizava na Várzea do Carmo, na Rua Tabatinguera em São Paulo. Durante 5 anos ele definha, entre crises de demência e lucidez. Mas sua família também foi se acabando
Seu pai morreu, em 1867, e sua escrava Ana, em 1869.Então, no dia 27 de junho de 1871, faleceu Paulo Emílio de Salles, o poeta Paulo Eiró, no Hospício dos Alienados, de meningite, aos 36 anos de idade.