O fenômeno da psicografia ainda é um mistério a ser explicado, e quando passa a ser fonte de provas nos tribunais, deixa de ser apenas uma discussão de convicções pessoais, que envolvem questões filosóficas e religiosas, para se tornar algo que pode interferir no destino de decisões no Judiciário.
Um dos casos mais famosos aconteceu há 75 anos: o escritor Humberto de Campos, desencarnado em 1934, iniciou em 1937, através da mediunidade de Chico Xavier, a emissão de diversas crônicas e reportagens, editadas e publicadas pela Federação Espírita Brasileira - FEB, sendo o livro "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", publicado em 1938, um dos mais notáveis.
Ainda sobre D. Ana de Campos Veras, há interessante passagem, quando rompeu o silêncio e ofertou ao médium de Pedro Leopoldo a fotografia do seu próprio filho, com expressiva dedicatória:
"Ao Prezado Sr. Francisco Xavier, dedicado intérprete espiritual do meu saudoso Humberto, ofereço com muito afeto esta fotografia, como prova de amizade e gratidão."
Clímax
Na noite de 15 de julho de 1944, quando o processo atingia o clímax, o espírito de Humberto de Campos mais uma vez se manifesta pelo lápis de Chico Xavier que, em estilo inconfundível, dita uma emocionante mensagem, que pode ser apreciada no livro "A Psicografia ante os Tribunais", sobre a incompreensão humana.
Deste dia em diante, o espírito de Humberto de Campos passou a assinar como "Irmão X", versão evangelizada do Conselheiro XX, como era conhecido nos meios literários.
Contra provas psicografadas
Em 2007, visando desconsiderar como documento probatório os textos psicografados no âmbito do processo penal, o deputado Robson Lemos Rodovalho (DEM-DF) propôs o PL 1705que visa a alteração do art. 232 do Código de Processo Penal, no qual são considerados documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares. A alteração popunha que seja incluído no texto a exceção de documentos resultantes da psicografia.
Na justificação do projeto, o deputado questionava a veracidade de algo ditado por alguém após a morte, afirmando que isso que trata de questões de fé e que não deveria fazer parte de questões jurídicas.
O projeto, no entanto, apesar de ter sido aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça, foi arquivado em 2011.
TIMPONI, Miguel. A psicografia ante os Tribunais: O caso Humberto de Campos. 7. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010.