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A “prosa capaz de derrotar instituições”
4 de dezembro de 1893, segunda-feira. Há 131 anos
Ver São Paulo/SP em 1893
4 registros
No dia 4 de dezembro de 1893 foi posto o livro "A Ilusão Americana" à venda nas livrarias de São Paulo. Vendidos todos os exemplares prontos nesse dia, foi às livrarias o chefe de polícia e proibiu a venda.

Na manhã seguinte a tipografi a em que foi impresso o livro amanheceu cercada por uma força de cavalaria, e compareceram à porta da oficina um delegado de polícia acompanhado de um burro que puxava uma carroça.

O delegado entrou pela oficina e mandou juntar todos os exemplares do livro, mandando-os amontoar na carroça. O burro e o delegado levaram o livro para a repartição da polícia. No mesmo dia a Platéa publicava o seguinte:

Uma entreviusta com o Dr. Eduardo Prado. – Como sabem os nossos leitores, apareceu à venda o novo livro do Dr. Eduardo Prado, A Ilusão Americana, de cuja aparição nos ocupamos no último número desta folha. Todos os exemplares postos à venda no sábado foram vendidos.

Soubemos nesse dia que a polícia proibiu a venda do livro. O nosso colega Gomes Cardim, por ir lendo num bonde a obra proibida, foi levado à polícia. O mesmo aconteceu com um cavalheiro, de cujas mãos, na Paulicéia, foi arrancado um exemplar por um polícia secreta.

Um redator desta folha foi procurar o autor para ouvir da sua boca as suas impressões relativas ao sucesso do seu livro e o seu parecer sobre a proibição. O Dr. Eduardo Prado recebeu muito graciosamente o nosso companheiro, e não pareceu dar muita importância nem ao livro nem à sua proibição.

Eis, mais ou menos, o que ele nos disse:

– Na minha infância, havia na rua de São Bento um sapateiro que tinha uma tabuleta onde vinha pintado um leão que, raivoso, metia o dente numa bota.

Por baixo lia-se: Rasgar pode – descoser não. Dê-me licença para plagiar o sapateiro e para dizer: Proibir podem, responder não. Quanto ao honrado chefe de polícia, penso que S. Exa lisonjeou-me por extremo julgando a minha prosa capaz de derrotar instituições tão fortes e consolidadas como são as instituições republicanas no Brasil.

Demais, S. Exa pode dizer-se que, só por palpite, proibiu o livro. Saiu o volume às quatro horas e, às cinco, foi proibido antes da autoridade ter tempo de o ler. Confesso que a publicação foi um ato de ingenuidade da minha parte. Não quero dizer que confi ei, e por isso digo antes que estribei-me no art. 1º do Decreto nº 1.565, de 13 de outubro passado, regulando o estado de sítio.

O vice-presidente da República e o senhor seu ministro do Interior disseram nesseartigo:

“Art. 1º É livre a manifestação do pensamento pela imprensa, sendo garantida a propaganda de qualquer doutrina política.” E com suas assinaturas empenharam a sua palavra nessa garantia.

Escrevo um livro sustentando a doutrina política de que o Brasil deve ser livre e autônomo perante o estrangeiro, e adoto o aforismo de Montesquieu, de que as repúblicas devem ter como fundamento a virtude.

O governo é contrário a essas opiniões, e está no seu direito. Manda, porém, proibir o livro! Onde está a palavra do governo, dada solenemente num decreto, em que diz garantir a propaganda de qualquer doutrina política?

A sabedoria popular diz: Palavra de rei não volta atrás. – O povo terá de inventar outroprovérbio para a palavra do vice-presidente da República.

Link do PDF:

https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/1095/000661687_Ilusao_americana.pdf


dos outros países americanos; separado deles pela diversidade da origeme da língua; nem o Brasil físico, nem o Brasil moral formam um sistemacom aquelas nações. Dizem os geólogos que o Prata e que o Amazonasforam em tempo dois longos mares interiores que se comunicavam. OBrasil, ilha imensa, era por si só um continente. As aluviões, os levantamentos do fundo daquele antigo Mediterrâneo soldaram o Brasil àsvertentes orientais dos Andes. Esta junção é, porém, superficial; sãopropriamente suas e independentes as raízes profundas e as bases eternas do maciço brasileiro. Por isso não vem até as praias brasileiras asconvulsões vulcânicas do outro sistema.

Quando muito, chegam as vibrações longínquas, tênues e sutis que os instrumentos registram, mas que os sentidos não percebem. Conta o missionário jesuíta Samuel Fritz que, em 1698, uma terrível erupção andina transmudou o Solimões, o rio brasileiro, num “rio de lama”, e que, apavorados, os índios viam naquilo a cólera dos deuses. Parece que, na ordem política, tais têm sido as erupções espanholas revolucionárias que, afinal, conturbaram as águas brasileiras. A torrente, porém, não é só de lama, porque é de lama e é de sangue.

Estudem-se, um por um, todos os países ibéricos americanos.O traço característico de todos eles, além da contínua tragicomédia daditadura, das constituintes e das sedições, que é a vida desses países, é aruína das finanças.E na ruína das finanças o ponto principal é o calote sistemático,o roubo descarado feito à boa-fé dos seus credores europeus. Os ministros da Fazenda das repúblicas espanholas, por meio de empréstimosque não são pagos, têm extorquido mais dinheiro das algibeiras européiasdo que jamais a Europa tirou das minas de ouro e prata da América.Tomemos os fantásticos orçamentos destes países; e, no meio dos deficitspavorosos e das mais indecentes falsificações, na irregular contabilidadepública que conservam estes países, onde os dinheiros do estado sãogastos e apropriados pelos presidentes com uma sem-cerimônia de queé incapaz o Czar da Rússia, o que é que vemos? Lá está o celebérrimoorçamento da guerra a tudo devorar. Lá estão as dezenas de generais, ascentenas de coronéis e os milhares de oficiais.É a prova de que não existe fraternidade americana [Página 13]

temor da destruição da sua obra política, enquanto que os EstadosUnidos não podem ter esse temor.”9Em 1786, um jovem brasileiro, Maia, estudante de Montpelier, disfarçando-se com o pseudônimo de Wandek e rodeando-sede mil mistérios, tentou aproximar-se de Jefferson, então embaixador dos Estados Unidos em Versalhes. Aproveitando-se de uma viagem de Jefferson pelo sul da França, encontrou-se com ele em Nimes, e aí falou-lhe da independência do Brasil, com que sonhava, epediu-lhe o auxílio dos Estados Unidos. Jefferson desanimou-o,como se evidencia das cartas que o embaixador escreveu a Jay, Secretário de Estado, dando-lhe conta da entrevista que tivera com ojovem brasileiro. Em 1817, um emissário pernambucano foi aosEstados Unidos pedir auxílio; foi ludibriado, e o governo de Washingtonapressou-se em dar conta de tudo ao ministro português Correia daSerra. Por ocasião da independência do Brasil, não recebemos provaalguma de boa vontade por parte dos americanos, e só depois deoutros países reconhecerem a emancipação do Brasil é que os Estados Unidos reconheceram a nossa autonomia. Note-se que a célebre doutrina de Monroe data de 1823; foi na mensagem presidencialdesse ano que aquele presidente estabeleceu a não-intervenção daEuropa nas coisas da América. Ora, dois anos depois, em 1825, éque a nossa independência foi reconhecida por Portugal, pela intervenção inglesa, representada na pessoa de Sir Charles Stuart, depois Lorde Rothesay. Mais tarde é que os Estados Unidos celebraram com oBrasil um tratado de amizade, comércio e navegação. O ministro americano no Rio, Raguet, opôs grandes embaraços à nossa nascente nacionalidade, embaraços que foram só em parte removidos pelo seu sucessor, William Tudor.Para se fazer uma idéia do que foi a missão de Raguet bastapercorrer, rapidamente, a sua correspondência.10 Raguet acusa a nossa esquadra no rio da Prata de covardia (pág. 20); diz que com o povobrasileiro é inútil apelar para a razão e para a justiça (pág. 32); Raguetem termos grosseiros ameaça o ministro dos Estrangeiros de uma [Página 20]

espanholas do Centro-América. Na cláusula primeira deste tratado, os doisgovernos concordavam que nem um nem outro poderia ocupar, fortificar,colonizar, assumir ou exercer qualquer domínio sobre, Nicarágua, CostaRica, Costa dos Mosquitos ou qualquer parte da América Central.Em 29 de junho de 1850 o ministro inglês em Washington SirHenry Lytton Bulwer declarava que o governo inglês excluía daquelacláusula os estabelecimentos ingleses de Honduras, e a 4 de julho osecretário de Estado anuía numa nota admitindo que ficavam fora dotratado os estabelecimentos ingleses em Honduras.30Só em 1855 o ministro americano em Londres, Buchanan,solicitou que a Inglaterra abandonasse a ilha de Ruatan e outras de que aInglaterra se tinha apoderado na costa de Honduras, assim como o território entre os rios Sibun e Sarstoon, e que a possessão inglesa de Belise se limitasse à parte dos tratados anglo-espanhóis de 1783 e 1786, eque a Inglaterra abandonasse a Costa dos Mosquitos. Lorde Clarendon,ministro dos negócios entrangeiros da Inglaterra, respondeu com umaredonda negativa. E Monroe?31Quando se formou na Europa, com sede em França, a malograda companhia do canal interoceânico, que obteve uma concessão doCongresso colombiano, o governo de Washington saiu-se logo com adoutrina de Monroe, fazendo um terrivel escarcéu. O velho Lesseps, [Página 43]

“A Ilusão Amercana”
Data: 04/12/1893 1893
Créditos / Fonte: Reprodução / Mercado Livre

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