Por ocasião da independência do Brasil, não recebemos prova alguma de boa vontade por parte dos americanos, e só depois de outros países reconhecerem a emancipação do Brasil é que os Estados Unidos reconheceram a nossa autonomia.
Note-se que a célebre doutrina de Monroe, data de 1823, a mensagem presidencial desse ano que aquele presidente estabeleceu a não-intervenção da Europa nas coisas da América.
Dois anos depois, em 1825, é que a nossa independência foi reconhecida por Portugal, pela intervenção inglesa, representada na pessoa de Sir Charles Stuart, depois Lorde Rothesay.
Mais tarde é que os Estados Unidos celebraram com o Brasil um tratado de amizade, comércio e navegação. O ministro americano no Rio, Raguet, opôs grandes embaraços à nossa nascente nacionalidade, embaraços que foram só em parte removidos pelo seu sucessor, William Tudor.
Condy Raguet, da Pensilvânia, exerceu suas funções até agosto de 1829, uma vez trocados, em Washington, os instrumentos de ratificação do Tratado de Amizade, Navegação e Comércio, que fora negociado e assinado no Rio de Janeiro a 12 de dezembro de 1828. Havia sido precedido, nos Estados Unidos, por um agente consular, Antônio Gonçalves da Cruz, já residente no país quando foi nomeado, a 15 de janeiro de 1823, cônsul-geral do Brasil com jurisdição sobre todo o país.
As funções consulares limitavam-se, entretanto, à esfera comercial. Coube a Silvestre Rebello a tarefa de vencer, num curto lapso de tempo, as resistências e dúvidas do governo de Washington e ver reconhecido o Império como um novo Estado soberano na comunidade internacional.
Para se fazer uma idéia do que foi a missão de Raguet basta percorrer, rapidamente, a sua correspondência. Raguet acusa a nossa esquadra no rio da Prata de covardia; diz que com o povo brasileiro é inútil apelar para a razão e para a justiça; Raguet em termos grosseiros ameaça o ministro dos Estrangeiros de uma guerra com os Estados Unidos:
“Isto não é um povo civilizado”. Tal foi o procedimento de Raguet e tais foram as suas grosserias, que Henry Clay, Secretário de Estado, mandou-lhe um despacho, estranhando as suas maneiras, e dizendo-lhe que era preciso não esquecer que, afinal de contas, o Brasil era um país cristão.
Da correspondência de Raguet vêem-se os contrabandosfeitos na costa do Brasil pela Morning Star de Filadélfia; a insolênciado comandante Biddle da Cyane com a nossa flotilha ao mando doalmirante Pinto Guedes; vê-se a manobra fraudulenta do navio americano President Adams, saindo de Montevidéu com falso manifestopara Boston, e tentando ir abastecer o porto de Buenos Aires que oBrasil bloqueava.1