No dia 7 de agosto de 2017 a "descoberta" de um marco de Sorocaba, oculto aos olhos da população há muitos anos, foi revelada pelos pesquisadores Carlos Carvalho Cavalheiro, um dos melhores historiadores de Sorocaba, e Ricardo Conrado Schadt.
Eles realizaram, de maneira independente, um documentário mostando como o crescimento vertiginoso da cidade teria modificado ou interferido na memória coletiva de seus habitantes.
Para isso, o documentário teve como fio condutor a jornada de seus próprios realizadores que descobriram que uma pedra de mais 200 quilos localizada no canteiro da avenida Roberto Simonsen, no bairro Santa Rosália, permaneceu por mais de três décadas com a face voltada para a terra, ocultando a existência de uma placa de bronze.
Na chapa, estava gravada a informação sobre o plantio de uma "Árvore da Amizade", um exemplar de pau-brasil que, ao que tudo indica, não existe mais. Conforme registros do jornal Cruzeiro do Sul da época, o marco fazia alusão a um plantio de mudas promovido pelo Rotary Norte em parceria com alunos da escola Julica Bierrenbach.
O percurso até a descoberta do marco começou havia começado alguns meses antes, quando Cavalheiro, em conversa com Schadt, revelou que se lembrava de passar no local e ver uma placa situada no canteiro da avenida, próximo à 14ª Circunscrição de Serviço Militar (CMS).
"Tinha essa memória guardada, mas não tinha certeza se era real ou imaginária. A partir desse momento tivemos a ideia de pesquisar sobre o assunto e documentar a epopeia em vídeo", conta Cavalheiro, que em parceria com Schadt, dirigiu o documentário Em busca do Unhudo, premiado no Mapa Cultural Paulista de 2013/2014.
Munidos de alavancas e macacos mecânicos e com a ajuda de um trabalhador da redondeza, os pesquisadores levantaram a pedra e constataram a placa, cuja gravação indica o plantio: "Árvore da Amizade / 21-09-1970 / Rotary Clube de Sorocaba Norte / Caesalpinia echinata / Ibirapitanga ou pau brasil".
Cavalheiro acreditava que a confirmação da existência da pedra, que até então era apenas uma curiosidade pessoal, servirá de "ponte de partida para que outras memórias ressurjam".
Segundo ele, a próxima etapa do filme seria colher depoimentos de moradores e estudantes que se recordavam ou participaram do plantio. Realizado de maneira totalmente independente, o documentário teria aproximadamente 15 minutos de duração e a proposta dos realizadores é inscrever em festivais de curta-metragem e, em seguida, disponibilizar gratuitamente na internet.
Lugares de memória
A placa oculta dialoga diretamente com a dissertação de mestrado defendida por Cavalheiro no mesmo ano, na UFSCar. Intitulado "Tá vendo aquele edifício, moço? - Lugares de memória, produção da invisibilidade e processos educativos na cidade de Sorocaba", o pesquisador analisa espaços de memória de Sorocaba, categorizando-os como "invisíveis", "ocultos" e "explícitos e decifráveis".
"Desenvolvi essa categorização porque não daria para estudar todos [os lugares de memória do Centro] usando a mesma régua", comenta.Os "invisíveis", explica o professor, são aqueles que não guardam mais resquícios de seu passado como, por exemplo, a antiga Igreja de Santo Antônio, ao lado do Mercado Municipal, que deu lugar a um prédio comercial na década de 1950.
Os "explícitos e decifráveis", aponta ele, são aqueles que estão visíveis, são notórios e permanecem assim por uma questão de interesse ideológico. Já os "ocultos" são aqueles que ainda existem, mas que estão escondidos por algum motivo.
"Acredito que existam mais espaços de memória ocultos em Sorocaba. Muitas pessoas estão nos dando dicas. Inclusive a gente pretende fazer uma série [de vídeos], contando detalhes dessas memória que se perderam na paisagem de Sorocaba", antecipa.