“Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas”: confiscada e destruída a edição
8 de novembro de 1711, domingo. Há 313 anos
O editor ao público
O defunto Conselheiro Diogo de Toledo Lara e Ordonhes possuía um livro, que estimava tanto, que não o tinha entre os outros na sua estante, mas sim na gaveta pequena de uma comoda. Pediu-lhe muitas vezes, que o desse á biblioteca, hoje publica, ao que nunca se pode resolver mesmo dando outros, era tanto a estimação em que o tinha. Procurou-se o livro pois desde o começo do ao de trinta, algum tempo depois da morte do mesmo conselheiro, e não se descobrindo no Rio de Janeiro recorreu-se a seu irmão, e herdeiro, o General Arronches em São Paulo, o qual contestou que não lhe havia sido remetido. [Página 11 do pdf]
Há três anos pois que, segundo ordens, se fizeram pesquisas em Lisboa, aonde em fins do ano passado se encontrou um exemplar, declarando possuidor, que não venderia por cem mil cruzados, tal é a estimação, em que o tem! Mas como homem generoso permitiu que se copiasse.
No mesmo tempo destas pesquisas em Lisboa, escreveu ao Porto ao celebrado sábio antiquário português João Pedro Ribeiro, o qual depois de várias contestações asseverando o mal resultado das suas indagações, por fim escreveu, e a sua carta chegou com o manuscrito, declarando o nome de quatro pessoas, que possuíam exemplares, e entre eles o nome de um major, há pouco chegado ali do Rio de Janeiro; quem sabe se não é o do defunto conselheiro! Acrescentando que por sete mil e duzentos réis talvez se obteria um exemplar, e que o livro fora proibido no tempo de El-Rei D. João V pelo governo português.
Este livro é pois a Cultura e Riqueza do Brasil, etc. etc. etc., no ano de 1711. Do título inferirão os leitores quanto ele é útil a todos os estudiosos de economia política, e em geral a todos os Brasileiros, que ali acharão a certeza de que o seu abençoado país já então era a mais rica parte da América em quanto a procutos rurais.
É este raríssimo e interessante livro que se reimprime, contentando-se o editor com a glória, que lhe toca, de quase ressuscitar uma jóia tão preciosa. Rio de Janeiro, 1 de agosto de 1837. [Páginas 12 e 13 do pdf]
Na vila de São Paulo há muita pedra usual, para fazer paredes e cercas; a qual, com a cor, com o peso, e com as veias que tem em si, mostra manifestamente, que não desmerece o nome, que lhe deram de pedra ferro; e que donde ela se tira, o há. O que também confirma a tradição, de que já se tirou quantidade dele, e se achou ser muito bom para as obras ordinárias, que se encomendam aos ferreiros. E ultimamente na serra Ibirasojaba, distante oito dias da vila de Sorocaba, e dize da Vila de São Paulo, a jornadas moderadas, o capitão Luiz Lopes de Carvalho, indo lá por mandado do governador Artur de Sá, com um fundidor estrangeiro, tirou ferro e trouxe barras, das quais se fizeram obras excelentes.
Que haja também minas de prata, não se duvida: porque na serra das colunas, quarenta léguas além da villa d´Outú, que é uma das de São Paulo ao leste direito, há certamente muita prata, e fina. Na de Seboraboçú também a há. Da serra de Guarume defronte do Ceará tiraram os Holandeses quantidade dela no tempo, em que estavam de pose de Pernambuco. E na serra de Itabajana, há tradição que achou prata o avô do capitão Belchior da Fonseca Doria. E em busca d´outra foi além do rio de São Francisco Lopo de Albuquerque, que faleceu nesta sua malograda empresa.
Mas deixando as minas de ferro e de prata, como inferiores, passemos ás de ouro, tantas em número, e tão rendosas aos que delas o tiram. E primeiramente é certo, que de um outeiro alto, distante três léguas da vila de São Paulo, a quem chamam Jaraguá, se tirou quantidade de ouro, que passou de oitavas a libras. Em Parnahiba, também junto da mesma vila no serro Ibituruna, se achou ouro, e tirou-se por oitavas. Muito mais, e por muitos anos se continuou a tirar em Parnaguá, e Coritiba, primeiro por oitavas, depois por libras, que chegaram a alguma arroba, posto que com muito trabalho para ajuntar, sendo o rendimento no catas limitado [Páginas 141 e 142]
Além das Minas Gerais dos Cataguás, descobriram-se outras por outros Paulistas o rio que chamam das Velhas; e ficam, como dizem, na altura de Porto Seguro e de Santa Cruz. E estas são a do ribeiro do Campo, descoberta pelo sargento-mor Domingos Rodrigues da Fonseca; a do ribeiro da roça dos Penteados; a de Nossa Senhora do Cabo, da qual foi descobridor o mesmo sargento-mor Domingos Rodrigues, a de Nossa Senhora de Monserrate; a do ribeiro do Ajudante; e a principal do rio das Velhas é a do serro de Sabarabuçu, descoberta pelo tenente Manuel Borba Gato, paulista, que foi o primeiro que se apoderou dela e do seu território. [Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, 1711. André João Antonil. Páginas 145]
Luiz Lopes de Carvalho fez a petição a V. A. por este Concelho em que representava que ele está de caminho para o Rio de Janeiro, para dai fazer viagem as minas de prata de Çorocaba, de que V. A. foi servido faze-lo administrador, e levar em sua companhia ao Padre Frey Pedro de Sousa a sua custa para fazer as experiências necessárias nas ditas minas, e se saber se são de rendimento, capaz de se beneficiarem; e que perto será está a serra de Birassuyaba, em a qual ele suplicante descobriu uma mina de ferro e dela trouxe uma pedra que mandou fundir por Antonio Castanho, morador no lugar do Cabaço, de que tirou ferro, do qual mandou obrar um cutelo que apresentou ao Concelho; e porque quer levantar fábrica para fundição dele em dita serra, termo da vila de Çorocaba, o que será conveniência das rendas reais de V. A. em razão dos quintos que há de pagar.
Parece a V. A. lhe faça mercê conceder licença para que possa levantar a dita fábrica, e que os primeiros cinco anos não pague os quintos que é obrigado a pagar; pelos muitos gastos que há de fazer com os mestres e obras da oficina, e que passado o dito tempo, pagará os quintos como é estilo. [Página 353]
Mas eu não vou contar mais essa história, só vou dizer que o livro do Antonil (que na verdade chamava Andreoni, né) foi censurado 11 dias depois de ter sido publicado, em 1711, porque eles davam o mapa da mina! Porque eles contavam tudo e deixavam claro a riqueza das minas, né, e como era só se abaixar e CATAR aquele ouro, de tanto ouro que havia nas Gerais, ouro branco, ouro preto, ouro de 23 QUILATES de qualidade! Era um ouro excelente, excelente!
Eu ia, já tô aqui em 20 minutos e não vou mais falar, do livro do Antonil, né, sóque ele não chama Antonil, né.Um jesuíta italiano que veio pro Brasil cujo nome era Antonio Andreoni, escreveu um livros obre o pseudônimo de André Antonil.
Esse livro maravilhoso chamado "Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas".O Brasil tem muita droga, né, ele falava das drogas do Brasil... as drogas são os21:01produtos naturais da terra, não são as drogas que tu tá pensando com essa tua mente sórdida...21:05
E suas minas. E ele é o cara que melhor descreve as minas, embora nunca tenha visitado.21:16Mas ele coletou os depoimentos de todas as pessoas letradas, com algum discernimento,21:23que tivessem estado lá.21:24
E ele disse o seguinte, que eram minas de aluvião que não requeriam "mente amestrada".21:30Hahaha!21:31Ele quis dizer o seguinte: qualquer burro cata.21:37É só catar, porque é ouro de aluvião.21:41Não requer uma "mente adestrada".21:43
Mas é o seguinte, isso indica também o quão mal essas minas foram exploradas, de que jeito21:50que elas foram malbaratadas, desbaratadas, entendeu, a exploração foi feita dum jeito21:55totalmente equivocado, só um século depois quando os ingleses...22:00Não bem um século, mas em 1845 que elas passam pras mãos da iniciativa privada, basicamente22:07de ingleses e de[O Brasil em busca do vil metal, 12.08.2020. Eduardo Bueno youtube.com/watch?v=OMpEqEaWNcE]
Que haja também minas de prata, não se dúvida: porque na serra das colunas, quarenta léguas além da vila d´Outú, que é uma das de São Paulo ao leste direito, há certamente muita prata, e fina. Na serra de Seboraboçú também a ha. [Boletim Geográfico, 10.1962. Página 483]
Mas deixando as minas de ferro e de prata, como inferiores, passemos às do ouro, tantas em número, e tão rendosas aos que delas o tirão. E primeiramente é certo, que de um outeiro alto, distante três léguas da vila de São Paulo, a quem chamam de Jaraguá, se tirou quantidade de ouro, que passou de oitavas a libras.
Em Parnahiba, também junto da mesma vila no serro Ibituruna, se achou ouro, tirou-se por oitavas. Muito mais, e por muitos anos se continuou a tirar em Parnaguá e Coritiba, primeiro por oitavas, depois por libras, que chegarão a alguma arroba, posto que com muito trabalho para ajuntar, sendo o rendimento no catar limitado; até que se largarão, depois de serem descobertas pelos Paulistas as minas gerais dos Cataguás, e as que chamam do Caeté: e as mais modernas no rio das Velhas, e em outras partes, que descobriram outros paulistas: e de todas estas iremos agora distintamente falando. [Boletim Geográfico, 10.1962. Página 484]
curitiba, paranangua [.12655.12656.]
Antonil, na Cultura e Opulência do Brasil , impressa primeiramente em 1711 (mas logo em seguida confiscada e destruída a edição), oferece uma versão só aparentemente discrepante dessas a respeito do primeiro ouro descoberto nos sertões de Minas Gerais.
Segundo ela, o verdadeiro descobridor desse ouro foi “um mulato que tinha estado nas minas de Paranaguá e Curitiba”. Este, acrescenta, tendo ido àqueles sítios à procura de índios e chegando, nessa demanda ao serro de Tripuí, desceu abaixo com uma gamela para tirar água do ribeiro que depois se chamaria de Ouro Preto. Ao meter a gamela na ribanceira, com esse intuito, roçou-a pela beirada do rio e viu que havia nele granetes cor de aço. Em Taubaté, para onde foram levados, venderam-se desses granetes a meia pataca a oitava e, feito o exame deles no Rio de Janeiro, apurou-se que se tratava de ouro, e finíssimo.
Na narrativa do jesuíta luquense não aparece a data precisa do achado. Diz-se apenas que ocorreu quando Artur de Sá e Meneses governava o Rio de Janeiro, e isso quer dizer que se teria dado depois de junho de 1697, mês e ano em que o dito capitão-general assumiu seu cargo. Antes disso registraram-se pelo menos duas bandeiras de que há notícia e resultaram no descobrimento de ouro; em 1693 a de Arzão, à Casa da Casca, e a de Bartolomeu Bueno de Siqueira e outros, em 1694, a Itaverava. Pertencem todas, de fato, à série de expedições que durante o último decê- nio do século XVII prepararam a grande fase das explorações auríferas nas Minas Gerais. E tendo-se em conta o já lembrado relato do Mestre- de-Campo Rebelo Perdigão, não fica de todo excluída a possibilidade de descobrimentos mais diretamente vinculados à grande jornada de Fernão Dias Pais, anteriores, por conseguinte, àquele decênio. Nessas circunstan- cias não parece de desprezar inteiramente a tradição que associa a algu- mas das primeiras explorações de ouro em Minas Gerais o nome de Manuel da Borba Gato, genro do Governador das Esmeraldas e seu com- panheiro na jornada de Sabarabuçu.ha pouco chegado alli,do Riode Jan~iro; quem sabe se não he o do d.~funtoco.nselheiro! acrescentando que por sete mil eduzentos réis talvez se obteria hurJ?- exemplar,e que o livro fôra prohibido no tempo de EIRei D. João V pelo govern.o portuguez.Este livro he pC5is a cuftura e riqveza doBrazil,. etc. etc. etc., no anno de 1711.Do titulo inferinlõ os leitores quanto elle he util atodos os estudiosos de economia politica, e emgera.l a todos os Brazileiros, que alli acha,.ráõ a
Serra Ibirasojaba, distante a oito dias da vila de Sorocaba e 12 de são paulo. Muita prata na serra de Seboraboçu (...) 40 léguas da vila de OutúUm pouco de história...André João Antonil (1649-1716) em "Cultura e Opulência do Brasil" de 1710, quando o sertão paulista já estava trilhado e as comunicações eram mais fáceis, dizia “que eram precisos doze dias de viagem para transpor a distancia que separava essa localidade da villa de S. Paulo.” [Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas (1711) p.141;142 - p.145] [1]
Ouro em N.S. de Monserrate, Serro de Seborabuçú, descoberta por Manoel Borba Gato [2][134] Capitulo IV. Do rendimento dos ribeiros & de diversas qualidades de ouro que delles se tirap. 360-365TEXTE NOTESTEXTE INTÉGRAL1 Je n’ai pu trouver de référence au rendement de ce gisement.2 En 1705, c’est-à-dire quatre ans après avoir été loti, le ribeirão de Nossa Senhora do Campo était (...)3 C’est-à-dire environ 80 kgs d’or dans un terrain d’un peu plus de 8 m.4 Antonil, ou plutôt son informateur, décrira plus loin (infra, pp. 450-451) les dispositions particu (...)1Das Minas Geraes dos Cataguâs, as melhores & de mayor rendimento forão até agora a do ribeiro do Ouro preto1, a do ribeirão de Nossa Senhora do Carmo2, & a do ribeiro de Bento Rodriguez, do qual em pouco mais de cinco braças de terra se tirarão cinco arrobas de ouro3. Tambem o rio das Velhas he muito abundante de ouro, assim pelas margens como pelas ilhas que tem & pela madre ou veyo da agua; e delle se tem tirado & se tira ainda em quantidade abundante4.5 C’est-à-dire 7,648 g.6 Cf. supra, note 4.2Chamão os Paulistas ribeiro de bom rendimento o que dá em cada bateada duas oitavas de ouro. Porém, assim como ha bateadas de meya oitava & de meya pataca, assim ha tambem bateadas de tres, quatro, cinco, oito, dez, quinze, vinte & trinta oitavas & mais5. E isto não poucas vezes succedeo na do ribeirão, na do Ouro preto, na de Bento Rodriguez & na do rio das Velhas6.7 Antonil se réfère soit à D. Francisco Naper de Alencastre, qui fut gouverneur de la Nova Colonia do (...)3Os grãos de mayor pezo que se tiràrão, forão hum de noventa & cinco oitavas, outro de tres livras que repartirão entre si tres pessoas com hum machado, outro que passou de cento & cincoenta oitavas, em forma de huma lingua de boy, que se mandou ao Governador da Nova Colonia7, & outra mayor de seis livras.8 Je n’ai pu trouver de références particulières à la qualité de l’or de ce gisement et des gisements (...)9 Cf. supra, p. 355, note 17.4Quanto às qualidades diversas do ouro, sabe-se que o ouro a quem chamão preto por ter na superficie huma cor|| 135 semelhante à do aço, antes de ir ao fogo, provando-se com o dente, logo apparece amarello, vivo, geniado, & he o mais fino porque chega quasi a vinte & tres quilates. E quando se lhe poem o cunho na fundição, faz gretas na barreta como se arrebentasse de todas as partes, & por dentro dá taes reflexos que parecem rayos do sol8. O do Ribeirão he mais miudo & mais polme, & compete na bondade com o ouro preto porque chega a vinte & dous quilates. O ouro do ribeiro de Bento Rodriguez, posto que seja mais grosso & palpavel & bem amarello, comtudo não tem a perfeição do ouro preto & do ouro do Ribeirão, mas quando muito chega a vinte quilates. O ouro do ribeiro do Campo e o ouro do ribeiro de N.S. do Monserrate é grosso, e muito amarelo, e tem vinte e um quilates e meio. O ouro do rio das Velhas he finíssimo & chega a vinte & dous quilates. O ouro finalmente do ribeiro de Itatiaya he de cor branca, como a prata, por não estar ainda bem formado, como dissemos acima, & deste se faz pouco caso, posto que alguns digão que indo ao fogo às vezes por mais formado foy mostrando a cor amarella9.
Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas
O defunto Conselheiro Diogo de Toledo Lara e Ordonhes possuía um livro, que estimava tanto, que não o tinha entre os outros na sua estante, mas sim na gaveta pequena de uma comoda. Pediu-lhe muitas vezes, que o desse á biblioteca, hoje publica, ao que nunca se pode resolver mesmo dando outros, era tanto a estimação em que o tinha. Procurou-se o livro pois desde o começo do ao de trinta, algum tempo depois da morte do mesmo conselheiro, e não se descobrindo no Rio de Janeiro recorreu-se a seu irmão, e herdeiro, o General Arronches em São Paulo, o qual contestou que não lhe havia sido remetido. [Página 11 do pdf]
Há três anos pois que, segundo ordens, se fizeram pesquisas em Lisboa, aonde em fins do ano passado se encontrou um exemplar, declarando possuidor, que não venderia por cem mil cruzados, tal é a estimação, em que o tem! Mas como homem generoso permitiu que se copiasse.
No mesmo tempo destas pesquisas em Lisboa, escreveu ao Porto ao celebrado sábio antiquário português João Pedro Ribeiro, o qual depois de várias contestações asseverando o mal resultado das suas indagações, por fim escreveu, e a sua carta chegou com o manuscrito, declarando o nome de quatro pessoas, que possuíam exemplares, e entre eles o nome de um major, há pouco chegado ali do Rio de Janeiro; quem sabe se não é o do defunto conselheiro! Acrescentando que por sete mil e duzentos réis talvez se obteria um exemplar, e que o livro fora proibido no tempo de El-Rei D. João V pelo governo português.
Este livro é pois a Cultura e Riqueza do Brasil, etc. etc. etc., no ano de 1711. Do título inferirão os leitores quanto ele é útil a todos os estudiosos de economia política, e em geral a todos os Brasileiros, que ali acharão a certeza de que o seu abençoado país já então era a mais rica parte da América em quanto a procutos rurais.
É este raríssimo e interessante livro que se reimprime, contentando-se o editor com a glória, que lhe toca, de quase ressuscitar uma joia tão preciosa. Rio de Janeiro, 1 de agosto de 1837.
E possível que a forma Sabaravaassú seja lapso de pena de quem escreveu a provisão de 3 de janeiro, mas isto parece pouco provável visto que em outros documentos de Arthur de Sá a serra lendária vem designada com o seu nome proposto de Sabarábussú. O nome Itaverava - serra resplandescente - estava muito em moda entre os exploradores paulistas deste tempo, que empregavam correntemente a Língua Geral e a nenhuma feição topográfica pode ser aplicado com mais propriedade do que ao grande massivo de minério de ferro que domina todo o horizonte desta parte do vale do rio das Velhas e que é atualmente conhecido pelo nome de "Serra da Piedade". O mais provável é que o nome fosse dado na forma de Itaverava-assú e sem referência á serra da legenda e que depois por uma natural associação de idéias passasse para Sabarábussú.
Até aí não temos nenhuma referência ao nome de Sabará como designação do arraial ou do distrito, que parece ter sido introduzido depois. A obra de Antonil, intitulada "Cultura e Opulência do Brasil", publicada em Lisboa em 1711, faz diversas referências as minas do rio das Velhas e ao "arraial do Borba", mas uma só á serra de Sabarábussú, na seguinte nota sobre as referidas minas:
"Além das minas gerais de cataguás, descobriram-se outras por outros paulistas no rio que chama das Velhas; e ficam, como dizem, na altura de Porto Seguro e de Santa Cruz. E estas são as do Ribeiro do Campo, descoberta pelo sargento-mór Domingos Rodrigues da Fonseca; e a do Ribeirão da Roça dos Penteados; a de N. S. do Cabo, da qual foi descobridor o mesmo sargento mór Domingos Rodrigues da Fonseca; a de N. S. de Monte-Serrate; a do ribeirão do Ajudante; e a principal do rio das Velhas e a do serro de Seborabuçú, descoberta pelo tenente Manuel Borba Gato, paulista, que foi o primeiro que se apoderou dela e do seu território".
Os nomes mencionados nesta nota e na carta de sesmaria só podem ser identificados por quem tem conhecimentos mais minuciosos da geografia da região do que os que se obtém pelo estudo dos mapas existentes. É certo, porém, que poucos anos depois da volta de Borba Gato para a região, o nome de Sabarábussú tinha sido introduzido, mas que tão pouca significação se ligava e ele que logo ficou abreviado em "Sabará", que assim mesmo só se conservou para o rio em cuja foz foi situado o arraial.
No termo de 17 de julho de 1711, elevando o arraial a vila com o nome oficial de Vila Real de N. S. da Conceição, o sítio é descrito como sendo "neste Arraial a Barra de Sabará". Por seu lado a serra ficou, em data que não se pode o momento determinar, recrismada com o de "Piedade", que ainda conserva. Numa descrição de um mapa da Capitania de Minas, que apresentei há tempos a este Instituto e que saiu publicada no segundo volume de sua Revista e que parece ter sido escrito entre 1717 e 1721, o nome Sabará só aparece com aplicação ao rio, sendo, porém, mencionado um Riacho da Prata, que talvez recorde a suposta descoberta de Borba Gato com a sua prata dourada.