Hernando Arias estimula a ida de soldados de Villa Rica pelo mesmo caminho de São Paulo para estabelecer contatos
22 de novembro de 1603, sábado. Há 421 anos
Fontes (4)
O bando de Hernando Arias de Saavedra, lugar-tenente nessa altura, expressavauma indisposição deste poderoso criollo com a planta. Ao longo de seus sucessivosgovernos, emitiu bandos para proibir o beneficiamento e a comercialização da erva,porque, segundo alguns autores, além de considerar um mau costume, implicavam umaexploração demasiada dos indígenas [VELAZQUEZ, Rafael Eládio. “Navegacion paraguaya de los siglos XVII y XVIII”. Estudios Paraguayos. Revista de la Universidad Católica “Nuestra Senora de la Asuncion” Vol.I, n.1, 1973.]
Curioso notar, contudo, que, ao mesmo tempo em que portugueses eramexpulsos de Buenos Aires e Pedro Acosta processado e condenado em Assunção, tudosob a governança de Hernando Arias, o próprio tenha estimulado a ida de soldados deVilla Rica pelo mesmo caminho de São Paulo para estabelecer contatos.766 Nas ataspaulistas de 22 de novembro de 1603, ou seja, um mês depois da condenação de Acosta,lê-se que:Soldados espanhóis que vieram da Villa Rica do Espírito Santo Província doParaguai, a saber João Benites de La Cruz, procurador e Pero Minho, PeroGonsales, Sebastião Peralta despachados pelo major dom Antonio de Andrasque atratar que sendo-lhes necessário socorro como cristãos e vassalos de suamajestade lhe dessem desta...mas que não se meteriam fazendas de uma parte paraoutra até sua majestade ser avisado.767
1° de fonte(s) [24775] “Ulrico Schmidl no Brasil quinhentista”. Sociedade Hans Staden Data: 1942, ver ano (89 registros)
A caravana de Nicolau Barreto, como temos notícia, fora organização de d. Francisco de Souza, o encantado do ouro e da prata e que, muito embora não mais fosse governador-geral do Brasil, conservava-se no entanto, como simples particular, na vila bandeirante, aguardando a volta daquele sertanista enviado em demanda da prata dos serranos.
Decorrente desses fatos foi a presença em São Paulo dos emissários do Paraguai, no ano seguinte de 1603, vindos de Vila Rica do Espirito Santo, a mandado de d. Antonio de Añasco e que tiveram entendimentos com d. Francisco de Sousa.
A todos então "pareceu bem pelo proveito que se esperava deste caminho se abrir e termos comércio e amizade por sermos todos cristãos e de um rei comum".
Acreditamos que aqui se tratava da via do Tietê, pois o antigo caminho aberto para o Guairá, aquele que buscava as cabeceiras do rio Paranapanema e depois o curso dos rios Tibagí, Ivaí ou Piquirí, esse da ha muito tinha relativa segurança e não carecia das precauções mandadas tomar por d. Francisco de Sousa e executadas pelos camaristas de Piratininga. Ao demais é sabido que esse fidalgo governador, tendo para isso se cercado de engenheiros e práticos topógrafos, desenhou outras vias para atingir de São Paulo mais rapidamente outros pontos onde era fama existirem metais preciosos e haja vista nesse sentido de ter se servido do vale do rio Paraíba para atingir o platô acidentado das Minas Gerais. (Atas, II, 136-138)
2° de fonte(s) [24646] “Peabiru” de Hernâni Donato (1922-2012) do IHGSP* Data: 1 de outubro de 1971, ver ano (75 registros)
Do outro lado, do rio Paraná não houve proibição e sim desejo de retomar contato, chegar por terra ao Atlântico sem as dificuldades e as latitudes do Prata. Em novembro de 1603, quatro soldados de Vila Rica do Espírito Santo romperam em São Paulo. Viagem tranquila, calçada nos antigos roteiros e um século atrás. Causaram assombro. Tal como vieram os quatro, poderiam vir quatrocentos, caravanas de mercadores ou magotes de assaltantes. Mas também os de São Paulo poderiam surpreender os de lá. Havia lembranças e crônicas do caminho das selvas - da "estrada nacional dos nativos".
São Paulo festejou os quatro exploradores. Promessas foram feitas. Pensar-se-ia no reatamento de relações, iriam os daqui e receberiam bem os que aparecessem. No fim da visita, o pretexto de cordialidade e despedidas, doze (outros documentos dizem quinze) paulistanos acompanharam os visitantes. Teriam levado a missão secreta de "conhecer e levantar novamente o roteiro do Peabiru".
A partir daí, o caminho retomou por algum tempo a sua importância. Em muitos pontos, o longo traçado já não seria mais que referências, sinais, memórias. Tinham-se acabado a imponência e os cuidados viários que lhe haviam imprimido seus construtores.
3° de fonte(s) [24461] “São Paulo na órbita do Império dos Felipes: Conexões Castelhanas de uma vila da américa portuguesa durante a União Ibérica (1580-1640)” de José Carlos Vilardaga Data: 2010, ver ano (130 registros)
O tal caminho encontrava-se formalmente fechado desde o governo de Tomé de Souza, na década de 1550, tendo sido novamente vedado com Duarte de Souza, na década de 1560. Estes fechamentos iniciais foram iniciativas da coroa portuguesa. Por outro lado, já durante a União das Coroas, parece que a coisa se inverteu e o temor passou a ser mais da Coroa espanhola, que buscava, de todas as formas, impedir os contrabandos e o afluxo de estrangeiros (incluindo, paradoxalmente, os portugueses) ou mesmo de castelhanos sem licença rumo a Potosí.