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“Affonso de Taunay e as duas versões do mapa de D. Luis de Céspedes Xeria”
2018. Há 6 anos
Autores: Jorge Pimentel Cintra. Professor do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP), atuando principalmente na Curadoria das Coleções Cartográficas. Doutor em Engenharia Civil e Urbanismo pela Universidade de São Paulo; José Rogério Beier. Doutorando em História Econômica, mestre em História Social, bacharel e licenciado em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo; e Lucas Montalvão Rabelo. Doutorando em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), mestre em História Social pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), bacharel e licenciado em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

de 1899 como preparador dos laboratórios de química na Escola Politécnicapaulista.9 Nessa escola Taunay foi lente substituto da cadeira de física experimentale noções de ciências naturais (botânica e zoologia) a partir de 1904, sendoefetivado como lente catedrático das cadeiras da área de física, que incluíam asnoções de ciências naturais, em 1911.Paralelamente, Taunay nutria profundo interesse pela história do Brasil, tendosido discípulo de Capistrano de Abreu no Colégio D. Pedro II, professor e amigocom quem manteve ativa e profícua correspondência por décadas. Sua proximidadecom os beneditinos, que desde cedo haviam notado seu tino para a história, rendeulhe um convite para lecionar a disciplina de história universal no Ginásio de SãoBento, em 1903. Oito anos mais tarde o abade do mosteiro beneditino, D. MiguelKruse, o convidaria para ministrar a mesma disciplina na Faculdade Livre de Filosofiae Letras de São Bento.10 Destarte, pode-se dizer que sua experiência como professor;a atuação nos institutos históricos – com a publicação de seus primeiros e importantestrabalhos na área; e a proximidade das comemorações pelo centenário daIndependência do Brasil foram elementos fundamentais para que Taunay fossenomeado “diretor em comissão” do Museu Paulista em fevereiro de 1917, emsubstituição ao naturalista alemão Hermann von Ihering.11

Em seu primeiro ano como diretor do Museu Paulista, Taunay se empenhou em inaugurar uma nova sala de exposição que fosse exclusivamente dedicada à história do Brasil e ao passado paulista (Sala A-10). Nessa sala, a cartografia era peça importante para a composição de um cenário expositivo que narrasse a história brasileira segundo suas concepções. Nesse sentido, ele buscava adquirir, por permuta ou encomenda de cópias fac-similares, toda uma documentação relacionada ao passado pátrio ou de São Paulo.

Do arquivo sevilhano, de nosso interesse mais imediato, Taunay se empenhou em conseguir uma cópia fac-similar do Mapa de D. Luís de Céspedes Xeria, cuja existência naquela instituição soube pelo Reverendo Padre Pablo Pastells, como ele mesmo declara em artigo publicado na Folha da Manhã:

“Quando em 1917, o eminente Pablo Pastells me assinalou a presença do mapa de Céspedes no Archivo General de Indias, em Sevilha, e mo descreveu, sofregamente o fiz copiar fac-similarmente. Dei-me logo pressa em divulgar esse documentopreciosíssimo”.12 Além disso, cabe lembrar que o primeiro tomo de sua monumental História da Companhia de Jesus13 já havia sido publicada cinco anos antes.

Para se ter uma ideia do trabalho realizado por Taunay, apenas em seu primeiro ano como diretor foram levantadas 46 cartas para a inauguração da sala A-10. Segundo o Correio Paulistano de 24 de dezembro daquele ano, a inauguração da nova sala ocorreu em 25 de dezembro, em que foram expostas 29 cartas quinhentistas, 16 seiscentistas e 9 setecentistas,14 das quais 39 referiam- [Página 4]

se à cartografia sul-americana e brasileira e apenas sete à paulista. Ainda segundoo texto publicado no periódico, a intenção, nesse primeiro momento, era mostrar“a evolução da geografia do nosso continente, desde o mappa de Juan de la Cosa,datado do anno pronto da descoberta do Brasil, até o das “Côrtes”, em 1750,carta oficial da demarcação dos territórios das corôas de Portugal e Hespanha, emvirtude do tratado de Madrid”.15A cópia do mapa de Céspedes Xeria foi acertada por correspondência comSantiago Montero Díaz, um copista já bastante experimentado que trabalhava noArchivo General de Indias.16 Montero Díaz não copiou apenas o mapa, mastambém toda a documentação que dizia respeito a essa peça cartográfica, assimcomo o material textual referente a Céspedes Xeria.

Na correspondência trocada entre Taunay e Montero Díaz, vê-se a especial atenção que Taunay solicitava em relação à fidelidade da cópia a ser realizada. A este respeito, Montero Díaz informava a Taunay, em carta datada de 13 de agosto de 1917, que a cópia já estava em andamento conforme seu pedido, e que:

En conformidad de lo que el señor me dice de que desea una copia exacta del mapa dedon Luis de Cespedes Xeria con su tamaño y colores naturales, reproducción exacta de undelineante cartográfico, le comunico que queda haciéndose y que cuando esté terminadose lo enviaré.17

Em resposta a esta carta, Taunay voltava a insistir na questão da exatidão e fidelidade da cópia a ser feita, como se pode observar na carta enviada por ele em 13 de setembro de 1917:

Já desanimara de receber resposta sua quando hoje tive o prazer de ler sua carta. Como já tive a occasião de lhe escrever, desisti de mandar fazer photographia do mappa de D. Luiz Cespedes; o que desejo é uma reprodução exacta, fiel, dessa carta.18

Ao concluir a cópia, Montero Díaz enviou nova correspondência a Taunay, datada de 1º de outubro de 1917, informando-lhe que havia concluído o trabalho e remetido o mapa ao Brasil, dando conta ainda do valor que cobrara pelosserviços realizados. Con esta fecha le remito por correo certificado y en paquete separado la copia del mapade don Luis de Cespedes Xeria que me pidió en su carta de 19 de junio del presente año. [Página 5]

Por outro lado, todo mapa possui uma posição preferencial para o leitor,que advém, dentre outros motivos, dadireção em que a legenda e outrasinformações estão escritas. Assim, o mapa em questão está no formato queatualmente chamamos de paisagem, sendo que o rio Paraná corre paralelamenteà maior dimensão, chamada horizontal por convenção. Toda a legenda estáparalela a ela e a grande maioria dos textos é legível com o mapa nessa posição,frente ao leitor. As exceções são Xerez (ou Gerez ou Jerez) nos dois mapas e SãoPaulo no mapa 17, posição que foi modificada ou corrigida no mapa 17bis. Asedificações aparecem paralelas aos rios mais próximos e com a frente voltada paraeles, salvo as de São Paulo no mapa 17bis.Com relação à distribuição de massas, a legenda ocupa o quadrantesuperior direito; o Tietê, os quadrantes da esquerda; o Paraná, os inferiores; e asaldeias e outras povoações, o quadrante inferior direito.A legenda está dividida em três colunas, separada por margens duplas,desenhadas antes da escrita, começando na margem superior e terminandoimprecisamente na região do desenho dos afluentes da margem esquerda doParaná. Ela inclusive transmite a impressão de que o desenhista receava que oespaço não fosse suficiente para conter o texto e, por isso, avança na primeiracoluna sobre o rio Paranapanema, sem entretanto se sobrepor à missão de SantoInácio. Na cópia 17bis há uma linha a menos nessa coluna, talvez por se perceberque o texto poderia ser deslocado para a próxima coluna e deixar espaço paradesenhar o torreão e a haste no topo dos ícones.Taunay denomina essa legenda por Dizeres que o acompanham. O próprioautor, depois de um parágrafo inicial, pula uma linha e centraliza na coluna o queseria o título, “Declaración del Rio”, que talvez pudesse preceder qualquer outraexplicação.A legenda, como em muitos outros mapas, utiliza letras de A a Y paraestabelecer uma ligação entre o acidente geográfico do mapa, identificando-oe situando sua explicação na legenda com o mesmo caractere. A letra A indicauma cachoeira, junto com uma explicação geral. Após o título também há umaexplicação geral, seguida das demais letras, de B a Y, de montante a jusante,com uma interpolação tardia após a letra D para explicar o rio Sarapuí, queele havia saltado por desatenção. Após a letra Y há mais algumas explicaçõesgerais e uma tabela com o título “La interpretación de los dichos Rios”, em queexplica o significado dos nomes tupis-guaranis dos diversos cursos d’água deseu mapa, com exceção dos três afluentes do Paraná a montante da foz doTietê. [Página 15]

Um exemplo da imprecisão de Céspedes se nota nessa tabela, com relação ao mês que teria ficado no porto fluvial e que não pode ter sido tanto, confrontando com a data de partida de São Paulo, duração da viagem e data de chegada à foz do Paranapanema. Outra se refere aos dados de seu casamento, informados na carta a sua majestade. Por um lado, indica58 que aos oito dias de sua chegada casou-se com D. Vitória de Sá, o que é muito pouco tempo, e pouco abaixo59 afirma que só esteve com sua mulher vinte dias antes de partir, dados que não se compatibilizam com sua estadia de mais de quatro meses no Rio de Janeiro.

Taunay descreve essa viagem fluvial seguindo de perto as informações do mapa e as descrições do próprio Céspedes, procurando deduzir os tempos gastos nos percursos através das cruzes colocadas ao longo do trajeto. Estas indicam realmente os locais de pouso, mas é enganoso pensar que entre uma e outra cruz foi gasto um único dia: há 19 pousos (no mapa 17bis) e o percurso foi vencido em 32 dias, o que dá uma média de quase dois dias entre um pouso e outro.

Certamente se gastou mais tempo na transposição das grandes cachoeiras, com a varação das canoas, e também em algumas outras corredeiras. Além disso, as afirmações de Céspedes dão margem a dúvidas; por exemplo, a expressão “un Rio que le pasamos diez y ocho vezes”, colocada antes de descrever o ponto de partida, levou Taunay a afirmar que o rio Tietê foi cruzado 18 vezes nesse curto trajeto feito a pé, algo que não faz sentido e parece-nos que se deve interpretar como ter cruzado esse rio ao longo de todo o percurso até a foz do Paranapanema. [Affonso de Taunay e as duas versões do mapa de D. Luis de Céspedes Xeria, 2018. Página 19]

Com efeito, analisando as cruzes, vê-se que há 18 alternâncias de margem, namontagem dos acampamentos, durante o percurso.Céspedes também induz a erro quando diz que navegou por oito dias peloParaná e que entrou pelo Paranapanema onde existem as reduções de Loreto eSanto Inácio. Isso induz a pensar que, nesse momento, o governador visitou asaldeias que constam no mapa – Taunay interpreta assim –, mas, de fato, ele sóvisitou essas aldeias mais tarde, depois de ter feito o mapa, como esclarecem seusrelatos. Céspedes também não informa quanto tempo gastou para subir e descero Paranapanema (talvez dois dias) e poderia parecer que esse tempo está incluídonos oito que gastou no Paraná e nesse afluente.Depois de nos ocuparmos da cronologia da viagem e de ter anteriormenteapontado as semelhanças entre os mapas, cabe agora olhar para as diferenças.AS DIFERENÇAS ENTRE OS DOIS MAPAS DUPLICADOS (17 E 17BIS)Da comparação, elemento a elemento, dos dois duplicados de 1628,surgem algumas diferenças. Em primeiro lugar, as cruzes que indicam locais deacampamento: no mapa 17 não estão desenhadas cinco cruzes que constam domapa 17bis, e por outro lado, esse mapa inclui uma cruz omitida neste últimos, namargem esquerda, junto à foz do Tietê. Isso fortalece a hipótese de que havia umoriginal a partir do qual foram feitos esses dois duplicados: na operação de cópianão é difícil esquecer algo, sendo menos provável a inclusão de uma cruz em novolocal.Outras diferenças são: no mapa 17 o nome do rio Anhembi está colocadoem sua margem, enquanto no 17bis está sobre o rio; isso também ocorre com oParanapanema e o Mineí. A alternância no sentido inverso ocorre com os riosCururaí, Itaiguiri e Piqueri.A canoa nas proximidades do ponto de partida contém quatro traçostransversais (talvez indicando remos), no mapa 17bis, que faltam no outro. A letraB está desenhada como um D, por engano, no mapa 17, enquanto no segundofoi colocado um D, mas foi corrigido por cima para B. A letra G está borrada nomapa 17bis.As inúmeras ilhas se correspondem nos dois mapas, mas no 17bis umadelas foi transformada em pedra (ponto preto), assim como há uma transformaçãono sentido inverso, como se pode conferir no trecho entre as letras D e E. O [Página 20]

– Las rayas que le atraviesan son todas grandíssimas [grandícimas] /7corrientes que pasé con las canoas con grandes riesgos. /8– Los puntos negros son riscos y peñascos que están /9 en mitad de el río,donde peligramos muchas /10 vezes. Las [La (sic)] Oes grandes de color amarillason las /11 yslas por donde pasamos, que en todas las más tenía- /12 mos grandescorrientes; y estas solas son las parti- /13 culares que no ubiera donde pintar, tantascomo /14 ay. Adviertase que en todo el río ay81 raya ni punto /15 supérfluo, sinola verdad. Donde se hallare cruz [cruzes] /16 es el alojamiento de cadal (sic) diay la raya bermeja [vermeja] /17 que va [ba] por medio del río es [por]82 dondecamináuamos [caminábamos] /18 con las canoas procurando saluar los peligros./19B. Donde esta la b es el puerto que le puse por nombre /20 Nuestra Señorade Atocha donde estuve [estube] un mes con /21 cinqüenta yndios y mis criadoshaziendo tres ca- /22 noas para salir de allí. La primera que se hizo fue /23 de unpalo que derriuamos, que tenia de ruedo /24 ocho brasas; labrámosle y vino aquedar una /25 canoa que tenia setenta y cinco palmos de largo y /26 seis devoca, en que veníamos [beníamos] por este río cinqüenta /27 yndios y mi personay criados. Las otras dos, tenia /28 una sesenta y seis palmos y quatro de voca, yla outra /29 cinqüenta y cinco palmos, y tres y medio [media (sic)] de voca. /30Traían estas dos la ropa y matalotaje [matalotaxe] de todos. /31C. En la C tuvimos [tubimos] una peligrosíssima [peligrosísima] corriente;/32 segundo día de nuestra biaje [biaxe] que nos obligó a salir /33 [a] todos portierra arresgando toda la ropa y comi- /34 da, por no poder hazer otra cossa. /35D. En la d es un peligroso salto que haze allá [allí] el agua, /36 dondesacamos la ropa en tierra, y las /37 canoas las echamos por él, a riesgo de ha- /38zerse mill pedaços entre aquellas peñas. /39x - En el río Sapoy está una hacienda de San Pablo /40 por donde bajan[baxan] canoas a este río./ 41 [Página 44]

camajiboca - Camajibas rachadas kamaîyba (s.) – nome de uma planta, uma cana comnódulos (VLB, I, 65) + bok rachar, romper-se, fender-se, arregoar (p.ex., o figo); arrebentar (VLB, I, 42):

paranapané Rio azarado, rio imprestávelparaná – rio (na língua geral paulista) + panem –azarado; que não tem peixes; ruim para a navegaçãopor ter muitos meandros etc. + suf. -a [Página 50]

Affonso de Taunay e as duas versões do mapa de D. Luis de Céspedes Xeria (1628)
Data: 01/01/2018 2018
Página 18

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