SEGUNDA PARTE - MEMORIAL E DECLARAÇÃO DAS GRANDEZAS DA BAHIATÍTULO 3 — Da enseada da Bahia, suas ilhas, recôncavos, ribeiros e engenhosCapítulo XXIIIEm que se declara a feição da terra da boca de Matoim até o esteiro de Mataripe e os engenhos que tem em si.Saindo pela boca de Matoim fora, virando sobre a mão direita, vai a terra fabricada com fazendas e canaviais dali a meia légua, onde está outro engenho de Sebastião de Faria, de duas moendas que lavram com bois, o qual tem grandes edifícios, assim do engenho como de casas de purgar, de vivenda e de outras oficinas, e tem uma formosa igreja de Nossa Senhora da Piedade, que é freguesia deste limite, a qual fazenda mostra tanto aparato da vista do mar que parece uma vila.E indo correndo a ribeira do Salgado deste engenho a meia légua, está tudo povoado de fazendas, e no cabo está uma que foi do deão da Sé, com uma ermida de Nossa Senhora muito concertada, a qual está numa ponta da terra. Defronte dessa ponta, bem chegada à terra firme, está uma ilha, que se diz de Pedro Fernandes, onde ele vivia com sua família e tem sua granjearia de canaviais e roças com água dentro.Da fazenda do deão se começa de ir armando a enseada que dizem de Jacarecanga, no meio da qual está um formoso engenho de bois de Cristóvão de Barros até onde está tudo povoado de fazendas e lavrado de canaviais; este engenho tem mui grandes edifícios e uma igreja de Santo Antônio.Esta enseada está em feição de meia lua e terá, segundo a feição da terra, duas léguas, na qual está uma ribeira de água em que se pode fazer um engenho, o qual se deixa de fundar por se não averiguar o litígio que sobre ela há; e toda esta enseada à roda, sobre a vista da água, está povoada de fazendas e formosos canaviais.E saindo dessa enseada, virando sobre a ponta da mão direita, vai correndo a terra fazendo um canto em espaço de meia légua, na qual estão dois engenhos de bois, um de Tristão Rodrigo junto da ponta da enseada, defronte da qual à Ilha de Maré está um ilhéu que se chama de Pacé, de onde tomou o nome a terra firme deste limite. Este engenho de Tristão Rodrigo tem uma fresca ermida de Santa Ana. O outro engenho está no cabo desta terra que é de Luís Gonçalves Varejão, no qual tem outra igreja de Nossa Senhora do Rosário, que é freguesia desse limite.Deste engenho se torna a afeiçoar a terra fazendo ponta para o mar, que terá comprimento de meia légua, e no cabo dela se chama a Ponta de Tomás Alegre, até onde está tudo povoado de fazendas e canaviais, em que entra uma casa de meles de Marcos da Costa.Defronte desta ponta está o fim da Ilha de Maré, daqui torna a fugir a terra para dentro, fazendo um modo de enseada em espaço de uma légua, que toda está povoada de nobres fazendas e grandes canaviais, no cabo da qual está um formoso engenho de água de Tomás Alegre, que tem uma ermida de Santo Antônio mui bem concertada.Deste engenho a uma légua é o cabo de um esteiro, que se diz a Petinga, até onde está tudo povoado e plantado de canaviais mui formosos. Esta Petinga é uma ribeira assim chamada, onde se pode fazer um formoso engenho de água, o que se não faz por haver contenda sobre a dita ribeira.Por aqui se serve o engenho de Miguel Batista, que está pela terra dentro meia légua, o qual tem mui ornados edifícios e uma ermida de Nossa Senhora mui concertada.E tornando atrás ao esteiro e porto de Petinga, torna a terra a correr para o mar obra de meia légua, onde faz uma ponta em redondo, onde está uma formosa fazenda de André Monteiro, da qual torna a terra a recuar para trás meia légua por um esteiro acima, que se diz de Mataripe, onde está uma casa de meles de João Adrião, mercador; por este esteiro se serve a igreja, e julgado do lugar de Tayaçupina (?), que está meia légua pela terra dentro em um alto à vista do mar, povoação em que vivem muitos moradores que lavram neste sertão algodões e mantimentos e a igreja é da invocação de Nossa Senhora do Ó.[1]
Escrevendo dos Tupinambá, informa Gabriel Soares que os machos é que "costumam a roçar os mattos, e os queimam e limpam a terra delles"; que "vão buscar lenha com que se aquentam e se servem porque não dormem sem fogo ao longo das redes, que é a suacama"; que "costumam ir lavar as redes aos rios quando estão sujas". Isto sem inisistirmos nas responsabilidades principais do homem de abastecer a taba de carne e de peixe e de defendê-la de inimigos e de animais bravios. diz Gabriel Soares: "e ainda digo que amandioca é mais sadia e proveitosa que o bom trigo, por ser demelhor digestão. E por se averiguar por tal, os governadores Thoméde Sousa, D. Duarte e Mem de Sã não comiam no Brasil pão de trigopor se não acharem bem com elle, e assim o fazem outras muitaspessoas". 1 0 2