“fizemo-nos de vela para São Lucas, com vento contrario”
21 de abril de 1549, quinta-feira. Há 475 anos
No anno de 1549, no quarto dia depois da paschoa, fizemo-nos de vela para São Lucas, com vento contrario, peloque aportámos a Lissebona; quando o vento melhorou tomosaté as ilhas Cannarias e deitámos ancora numa ilha chamadaPallama (Palma), onde embarcámos algum vinho para a viagem. Os pilotos dos navios resolveram, caso ficassem separados no mar, encontrarem-se em qualquer terra que fosse, nográo 28 ao sul da linha equinoccial. De Pallama, fomos até Cape-virde (Cabo-Verde), isto e, acabeça verde, situada na terra dos mouros pretos. Alli quasinaufragámos; mas continuámos a nossa derrota, porém o vento era-nos contrario e levou-nos algumas vezes até a terra deGene (Guiné), onde também habitam mouros pretos. Depois,chegámos a uma ilha denominada S. Thomé, que pertence aEl-Rei de Portugal. É uma ilha rica em assucar, mas muitoinsalubre. Ahi habitam portuguezes que tem muitos mourospretos, que lhes pertencem. Tomámos água fresca na ilha econtinuámos a viagem, perdemos ahi de vista dous dos navioscompanheiros, que, por causa de uma tempestade, se afastaram, de modo que ficámos sós. Os ventos eram-nos contrários, porque naquelles mares tem elles a particularidade desoprarem do sul, quando o sol está ao norte da linha equinoccial, e quando o sol está ao sul desta linha vêm ellesdo norte e costumam então permanecer na mesma direcção durante cinco mezes, e por isso não podemos seguir onosso rumo durante quatro mezes.