Longe de ser excêntrica e isolada, a possibilidade da controversa aclamação eraperfeitamente ajustável ao contexto, como mostravam os diversos pontos de rebeldiaespalhados por ambos os impérios. A narrativa detalhada do suposto incidente nãodeveria mesmo interessar à burocracia portuguesa, pois efetivamente a vila havia juradoo novo rei; ademais, divulgar os rebuliços no planalto não interessava nem à Metrópolenem a Salvador Correia de Sá. Por outro lado, a fama de sediciosos e rebeldes,principalmente na questão da expulsão dos padres, teria sim repercussão nadocumentação coeva Em 1650, o Conselho Ultramarino analisou uma proposta de enviar 30 casais de irlandeses católicos para São Paulo. A proposta foi recusada, dentre outras razões, porque São Paulo era de “natureza fortíssima e inespugnável é qconfina com a província de Quito sogeita a el Rey de castella (...) também há minas de ouro e de lavagem (...)e q ospoucos moradores q ali há derão e dão ainda cuidados nos procedimentos q tiverão com os religiosos da companhia(...) será muito maior o dano, entregandoa a estrangeiros em numero q a posão povoar e fortificar mais, e levantarsecom a terra de VMde.” [1]
Mesmo muito antes de Pombal ofantasma de uma dominação inglesa nas colônias ultramarinas sempre preocupara a Coroaportuguesa. Arthur Cezar Ferreira Reis (1960:19) relata que, no começo da conquista, umgrande contingente de irlandeses peticionara a D. João IV (1604-56) solicitando instalar-sena Amazônia. “D. João IV não lhes dera autorização. Embora católicos, esses irlandeses 96podiam ser uma espécie de cabeça de ponte dos ingleses, interessados em converter aAmazônia num de seus distritos coloniais” [2]