quanto de sacrifício lhe custara o obedecer ordens e ir assumir o governatorado deAssunção”. “Terá exagerado, por isso, nos detalhes?” – indaga o pesquisador, ponderandoque aceitar o relato como inteiramente verídico “é reconhecer a existência de um eixoTietê-Paraná conhecido, desbravado e praticado em 1628.”Certo é que, antes da presença do homem branco, a região de Sorocaba eraatravessada pelo Peabiru, via indígena de comunicação pré-colonial que, partindo de SãoVicente, chegava até o Paraguai e, dali, se estendia ao Peru (Donato, 1985:28-31).Habitavam-na, por essa época, índios tupiniquins, como atestam as igaçabas e oselementos líticos encontrados em diferentes sítios arqueológicos, descobertosocasionalmente, dentro de sua área urbana e em municípios vizinhos (Frioli, 1993:3).Ostentando altitudes que chegam a 1000 m, o Morro do Araçoiaba, situado noatual município de Iperó, a 23º15’34"S e 47º35’43"O (Menon, 1992:8) é o principalacidente geográfico da região, caracterizada por um relevo monótono (Ranzani, 1965:2),no qual se encontram rochas eruptivas, originárias de derramamentos basálticos.Sua posição incomum, dentro do relevo regional, sempre intrigou os geólogos.Viktor Leinz, em Petrologia das jazidas de apatita de Ipanema, Estado de São Paulo,obra publicada em 1940, no Rio de Janeiro, pelo Departamento Nacional de ProduçãoMineral e citada por Elina Santos, afirma que “esta serrinha se originou da intrusão domagma que causou o levantamento cuneiforme do embasamento cristalino e das camadassubjacentes dos sedimentos glaciais”. Segundo ela, “o fato de o morro do Araçoiaba tersido mineralizado durante a fase de injeção do magma alcalino, (...) favoreceu a vidaindustrial, baseada na exploração mineral, tendo nascido aí a indústria siderúrgica brasileira(Santos, 1999:35).Instrumentos de ferro eram peças valiosas nos primeiros tempos do povoamentodo Brasil pelos portugueses, quer para seu uso próprio, quer para a facilitação dos seuscontatos com o gentio. Em São Paulo, “onde foi excepcionalmente assíduo aquele trato,as forjas de ferro instalaram-se desde cedo na vila (...)” (Holanda, 1957:185).“Não só o tráfico com o sertão como a necessidade de se abastecerem os brancos emamelucos de objetos indispensáveis aos misteres agrários, em terra de tão escassacomunicação com a metrópole européia, explicaria o desenvolvimento considerável que,na vila de São Paulo, desde seus inícios, pudera alcançar o ofício de ferreiro. As mesmasrazões explicam as tentativas empreendidas, já em fins do século XVI, para oaproveitamento, em mais ampla escala, das jazidas locais” (Holanda, 1957:185-186).É este o pano de fundo contra o qual os dois Afonso Sardinha, auxiliados pelosdemais integrantes de sua expedição, irão desenvolver, no Araçoiaba, a partir de 1597,atividades mineradoras e siderúrgicas (Amaral, 1969; Barros, 1970).Em relação à atividade de Afonso Sardinha, no morro de Araçoiaba, foramlevantadas duas dúvidas. Questionou-se a data em que ali teria chegado, pois hádivergências entre os autores que se ocuparam do assunto. Hoje tal incerteza não subsiste.