Apesar do “exército de intérpretes” de que fala Jaime Cortesão, a amplitude dospropósitos missionários fazia-os esbarrar sempre na limitação imposta pela falta demediadores lingüísticos. É o próprio Anchieta quem relata numa carta escrita a 12 de junhode 1561 (1988:179): “De maneira que quase todo o dia se gasta em confissões, e se maisintérpretes houvera, muito mais se confessavam, e não é pequena desconsolação vê-losestar todo o dia esperando na Igreja”. Em outra oportunidade, estando em Itanhaém, aquantidade de índios “desejando ser batizados e ensinados”, em contraste com a “falta deintérprete”, tornou inexeqüível os ofícios religiosos (1988:199). Na Bahia, o problematornou-se grave, como escreve Nóbrega de São Vicente em setembro-outubro de 1553: “NaBahia não se entende agora com o gentio por falta de línguas que não temos”. Escrevendotambém de São Vicente, a 15 de junho de 1553, Nóbrega lamenta não dispor de maispregadores-línguas: “E muito mais se faria se já houvesse muitos obreiros; mas como sóPero Correia é o pregador não pode fazer mais”. A escassez de intérpretes na Bahia explicao destaque que Schwartz (1979:148) dá a Luís de Aguiar, “morador do Brasil por vinte esete anos, piloto e capitão da guarda costeira, fluente na língua geral e um secretário legalcapaz”, o que, entretanto, não o salvou de ser condenado pela Relação a dez anos de galésno início do século XVII.