' “História Geral das Bandeiras Paulistas, escrita á vista de avultada documentação inédita dos arquivos brasileiros, hespanhois e portugueses”, Tomo I. Afonso d´Escragnolle Taunay (1876-1958) - 01/01/1924 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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“História Geral das Bandeiras Paulistas, escrita á vista de avultada documentação inédita dos arquivos brasileiros, hespanhois e portugueses”, Tomo I. Afonso d´Escragnolle Taunay (1876-1958)
1924. Há 100 anos
Após esses primeiros contatos, a presença do colonizador luso-brasileiro,bem como daqueles arregimentados por eles, no Vale do curso médio do Rio SãoFrancisco passa a ser mais frequente a partir do início do século XVII. O paulistaAndré Leão teria chegado às nascentes do Rio São Francisco em 1601. Com omalogro da expedição de André Leão, em 1602 foi enviada outra bandeira ao Sertãodo território que, no século seguinte, seria a Capitania de Minas Gerais. Desta feita,Nicolau Barreto teria chegado ao Rio das Velhas e depois de cinco meses ao RioParacatu. Tais bandeiras tinham propósitos bem definidos: investigar a existênciade reservas minerais, orientando-se, inclusive, pela lenda da serra de Sabarabuçu(Sabaroason), bem como promover o apresamento de nativos (TAUNAY, 1924). [Novas Possibilidades rumo ao Futuro das Ciências Humanas e suas Tecnologias 2, 2020. Página 148]

A 11 de novembro de 1595 de novo expressamente proibiu Philippe II, por lei mandada passar em Lisboa, que se escravizassem índios no Brasil "salvo aqueles que se cativassen ba guerra". Continuava como se vê a mesma indeterminação.

A 26 de julho de 1596 promulgava o rei Prudente um alvará e regimento sobre a liberdade dos selvagens, interpretativo da carta régia. Visava sobretudo fazer com que o gentio descesse do sertão para as partes vizinhas da povoação dos europeus afim de com eles comunicarem havendo entre uns e outros boa correspondência para viverem em quietação e conformidade.

Do descimento dos nativos foram os jesuítas encarregados, assim como do mister de os domesticar, ensinar e encaminhar, no que lhes convinha nas coisas de sua salvação e vida em comum com os moradores.

Assim por todos os bons meios procurariam ensinar-lhes a conveniência de morarem e comerciar com os moradores. Tentassem convence-los de que eram livres, por ordem d´El Rei; vivendo em povoado tão livres como em sua terra e senhores de sua fazenda.

E nenhum branco fosse ás aldeias sem licença dos religiosos nem tivesse gentios de modo a assustar aos nativos fazendo-lhes crer que todas as promessas de garantia eram falsas. Ninguém pudesse ainda por mais de dois meses servir-se do trabalho dos nativos sendo defeso dar-lhes paga adiantada.

Exigir-se-ia imediata retribuição quando findasse o serviço indo então os nativos "em sua liberdade". Nenhum religioso "desse" gentio a particulares nem se servisse dele por mais tempo que o prazo regimental. Seria nomeado um juiz particular português para conhecer das cousas do gentio com os moradores e vice-versa, com alçada até dez cruzados, e trinta dias de prisão e açoites. Elegessem os religiosos procuradores do gentio, pelo espaço de três anos, podendo ser reconduzidos. Seriam os lugares lavradios apontados pelos governadores. Devia o Ouvidor Geral, uma vez por ano, devassar dos que cativavam gentios contra sua vontade.

A 7 de maio de 1599, quase três anos depois! É que Belchior da Costa registrava o alvará no Registro Geral da Câmara de São Paulo, isto mesmo porque o documento real lhe viera ás mãos trazido pelo Reitor do Colégio.

Imagine-se a má vontade causada entre os sertanistas pela promulgação da vontade d´El Rei Nosso Senhor! Má vontade? Provavelmente não. Mero pouco caso. Ora El Rei mandasse o que quisesse, inócuas seriam as fórmulas da vontade majestatica. Letra morta e letra morta, a demonstrar mais uma vez quanto vinha a ser exato o famoso brocado do "Infra equinoxialem"...

Provavelmente para se prestigiarem aos olhos de uma população hostil á sua ação, e mesmo á sua presença, fizeram os ignacianos solene e contemporaneamente, a 16 de outubro de 1599, averbar no registro geral da câmara piratiningana, a carta régia de D. Sebastião que definia privilégios e regalias dos padres da Companhia nos reinos e senhorios de Portugal, especialmente ao Brasil e escrita em Evora a 5 de março de 1570. [História geral das bandeiras paulistas, 1924. Afonso de E. Taunay. Páginas 76 e 77]

No conselho de guerra, realizado a 10 de junho de 1588 na capela de "São Jorge dos Esquetes" entre os procuradores das câmaras e o capitão mór da Capitania, para se tratar do magno assunto, decidiu-se a efetivação da expedição escravista pelo sertão, contanto que "o gentio ali adquirido por via lícita fosse repartido pelas vilas da capitania equitativamente".

Os nativos, complacentes ou resignados, que se deixassem intimidar e aos brancos acompanhassem seriam "postos com os moradores para eles os doutrinarem e lhes darem bom tratamento como o gentio e de ajudarem deles em seu serviço no que fosse lícito".

Quanto aos que não quisessem vir de paz "no que se assentasse em campanha, se faria", acrescentava num laconismo expressivo, "guardando sempre o serviço do Nosso Senhor e o bem e prol desta terra". Sempre as fórmulas resguardadores da compostura oficial, do respeito ás ordenações de S. Majestade...

Ocorria ás vezes que espontaneamente vissem tribos inteiras procurar o contato dos brancos, quiçá levadas do espírito de curiosidade ou da simples e prodigiosa ingenuidade dos homens primitivos ante falazes promessas e perspectivas enganosas, quiçá convictas da impotência em resistir aos seus perseguidores e deles esperando melhor tratamento com o se sujeitarem dócil e pacificamente.

É o que se deduz do pitoresco incidente relatado pela ata de 20 de setembro de 1587.Narrou o procurador Afonso Dias aos seus colegas que os "nativos tupiães vinham chegando do sertão da capitania pelo caminho da paz e por sua vontade para povoar a terra". Como se soubesse que os outros os acompanhariam, decidiu-se que Antonio de Proença, então meirinho do sertão e ao mesmo tempo juiz ordinário da vila, os devia levar a Itanhaém, onde a mandado do capitão-mór seriam localizados. [História geral das bandeiras paulistas, 1924. Afonso de E. Taunay. Páginas 157 e 158]

O que da geografia primeva de São Paulo, nos relata no seu interessante livro de viagens é, por assim dizer, inidentificável em relação á toponímia, tão estrambóticas as grafias dos nomes dos rios e territórios. Passou por Santo André, que lhe pareceu um covil de bandidos, mas não se avistou com João Ramalho, a quem chama Reinvelle. Contou porém que este patriarca europeu da gente de São Paulo, capaz de levantar cinco mil homens, tinha muito mais prestígio que o rei que não conseguia armar mais de dois mil.

As primeiras expedições de exploração do território paulista foram determinadas pela ânsia de descobrir ouro. Os ribeirões que correm pelas lombadas do Cubatão deram algum metal segundo parece, pois a tal respeito escreveu o primeiro bispo do Brasil, D. Pero Fernandes Sardinha a D. João III, a 12 de julho de 1552 e ainda José de Anchieta na sua quadrimensal de maio a setembro de 1554.

Alvorotou-se a metrópole. Mandou Mem de Sá a Braz Cubas, o fundador de Santos, e então provedor da Capitania de São Vicente, que sindicasse seriamente acerca destes achados, dando-lhe por companheiro, um mineiro prático, Luiz Martins, nomeado por alvará de 7 de setembro de 1559.

Em 1560 partia Braz Cubas levando Martins consigo e grande séquito, tudo a sua custa. Caminharam 300 léguas, voltando com amostra de minerais. Como tornasse "muito doente do campo" não pôde acompanhar Luiz Martins que, a 30 léguas de Santos, achou ouro excelente, tão bom como o da osta Mina. Entende Basílio de Magalhães que a viagem deve ter ocorrido de fins de 1561 a princípios de 1562. Julga Calogeras que esta expedição tomou o rumo do sul, demandando terras provavelmente do vale da Ribeira pois se refere a Cahatyba que um documento de 1606 dizia estar a 25 léguas do Araçoyaba.

Que percurso terá feito Braz Cubas? Entendem os autores que se internou em terras hoje mineiras observando Calogeras que, se tal foi o seu rumo, quando muito chegou ao curso médio do rio das Velhas, contrariando pois uma hipótese de Francisco Lobo L. Pereira. Assim também pensa que as amostras minerais enviadas ao Rei tirou-as da região de Apiahy.

Segundo ele próprio declara enviou ao soberano "pedras verdes parecendo esmeraldas". Continua ser o roteiro de Braz Cubas até agora o mais hipotético. [Páginas 169 e 170]

A viagem durou ao todo nove meses; em fins de abril de 1602 estava André de Leão de novo em São Paulo. "E embora fossem nulos os resultados dessa entrada de 1601, quanto ás riquezas metálicas a que visara, observa Basílio de Magalhães, é o caminho por ele trilhado que vai, 73 anos mais tarde, perlustrar Fernão Dias em busca da mesma miragem".

Entende Calogéras, porém, que coube influxo poderoso, na orientação das explorações posteriores á expedição de Glimmer. O seu insucesso prático serviu de exemplo para afastar os sertanistas do rumo de Minas Gerais.

Malograra-se a leva de André de Leão quanto a resultados reais. Não tardou porém que outras bandeiras, não se origem oficial, mas de organização espontânea se realizassem não com o fito de descobrir riquezas minerais mas com o de conquistar gentio.

Roque Barreto pela terceira vez capitão mór da capitania de São Vicente entregou o comando desta leva a seu irmão Nicolau Barreto. Compunham-na 300 homens brancos fora os auxiliares índios ou mestiços e partiu de São Paulo, pouco depois de 3 de setembro de 1602 "tendo estado no sertão pelo espaço de dois anos, com muitos gastos e morte". Graças a documentos revelados por Washington Luis, publicados e estudados por Derby e a carta escrita pela Câmara de São Paulo ao donatário da Capitania transcrita por Azevedo Marques, "jorra luz suficiente sobre esta nova penetração do hinterland brasileiro, em montaria aos selvícolas" (Basílio de Magalhães).

Entende Derby, estudando as peças documentais, a esta jornada relativas, que a bandeira atingiu ás margens do rio das Velhas ao cabo de cinco meses, e passados mais cinco, chegou ao sertão de Paracatú calculando o sábio geólogo americano em cerca de três mil o número de índios apresados, termininós e tapias (talvez tapuias).

Partida
3 de setembro de 1602, terça-feira (Há 422 anos)
 Fontes (4)



"Convém notar que em uma das peças históricas o intuito da leva é mascarado com a designação do descobrimento de minas de ouro e prata". (Basílio de Magalhães)

"Com Barreto, diz Alfredo Ellis Junior, foram ao sertão todos os futuros vultos do bandeirismo seiscentista, na sua primeira metade. Enorme a quantidade de índios mandos de arco, 300 mamelucos e europeus acompanharam o chefe citado, conforme se vê em "Actas vol. II, i26", dentre os quais conseguimos organizar a nominata abaixo, que é algo, mais completa que a mencionada por Derby, por ter o saudoso seiscentista deixado de examinar o inventário de Marim Rodrigues Tenório do qual consta o testamento dos mesmos, feitos no sertão, quando em companhia de Nicolau Barreto, onde assinaram como testemunhas muitos nomes escapos á lista de Derby.

Liderada pelo “mameluco” Belchior Dias Carneiro, bandeira de Nicolau ...
8 de setembro de 1602, domingo (Há 422 anos)
 Fontes (5)



Eis a nominata:

- Aleixo Leme (1564-1629, 11 registros)
- Antonio Luis Grou (n.1560)
- Antonio Bicudo (deve ser o velho)
- Antônio Pedroso de Alvarenga (f.1643)
- Antonio de Andrade
- Antonio Rodrigues Velho (Aras)
- André de Escudeiro
- Ascenso Ribeiro (23 registros)
- Brás Gonçalves, o velho (1550-1606, 43 registros)
- Brás Gonçalves, o moço (1544-1603, 15 registros)
- Balthazar Gonçalves
- Balthazar de Godoy
- Bento Fernandes
- Domingos Barbosa
- Domingos Dias, o moço
- Domingos Fernandes (1581-1652, 60 registros)
- Domingos Fernandes
- Domingos Gonçalves
- Domingos Pereda
- Duarte Machado
- Estevão Ribeiro Bayão, o Moço (6 registros)
- Francisco de Alvarenga (1580-1675, 3 registros)
- Geraldo Correa (7 registros)
- Henrique da Cunha, velho (1560-1624, 17 registros)
- João Bernal
- João Dias
- João Gago da Cunha (o velho)
- João Morzelho
- João Jorge
- Jorge Rodrigues
- José Gaspar Sanches
- Lourenço da Costa
- Lourenço Nunes
- Luiz Eanes
- Manuel Affonso
- Manuel Chaves
- Manuel Mendes Allemão
- Manuel de Soveral
- Matheus Gomes
- Matheus Neto
- Nicolau Barreto
- Manuel Paes
- Manuel Preto (1559-1630, 46 registros)
- Manuel Rodrigues
- Nicolau Machado
- Paschoal Leite da Silva Furtado (n.1570, 4 registros)
- Paulo Guimarães
- Pero Leme (o velho, genro de João do Prado)
- Pero Martins
- Pero Nunes
- Rafael de Proença (2 registros)
- Salvador Pires de Medeiros (1580-1654, 13 registros)
- Simão Leitão
- Simão Borges Cerqueira (1554-1632, 54 registros)
- Sebastião Pires Caleiro
- Antonio Gonçalves Davide
- Diogo de Oliveira Gago
- Francisco de Siqueira
- Francisco Ferreira
- Francisco Alvarez Correa (6 registros)
- Francisco Nunes Cubas
- Manuel Machado
- Miguel Gonçalves
- Martim Rodrigues Tenório de Aguilar (1560-1612, 91 registros).

Levados pelo aparecimento da palavra Paracátú, nos documentos escassos, até agora conhecidos, ficaram certos diversos autores de que Nicolau Barreto percorreu os sertões do vale daquele grande afluente do São Francisco. Nós mesmos, no nosso "Ensaio de Carta Geral das Bandeiras Paulistas", localizamos a entrada de Nicolau Barreto naquela região.

Documentos recentemente publicados levam-nos a pensar com Ellis que retificou completamente o roteiro da grande bandeira.

"Partiu a bandeira de São Paulo, poucos dias antes de 8 de setembro de 1602, [Páginas 184 e 185]

A 1 de dezembro de 1607, verberava-se em Câmara a atitude de Belchior Rodrigues, ferreiro instalado em Ibirapuera, com forja. Anunciava querer estabelecer-se na piassava das canoas, onde desembarcavam os carijós vindo a São Paulo em busca de terra, porquanto poderiam levar ferro. (História Geral das Bandeiras Paulistas, 1924. Afonso Taunay. Página 255)

“E quanta coisa mais fantasiosa neste mapa de Vicenzo Coronelli! No centro do Estado do Paraná coloca um grande lago de onde sae o rio Laribagiha (...)” (“História Geral das Bandeiras Paulistas”, 1924. Afonso Taunay. Página 241)

Espalhando-se a notícia da publicação das provisões do Governador Geral houve pela vila formidável alvoroço, como era de se esperar. A 16 de dezembro de 1623 estavam S. Mcês. os vereadores reunidos em câmara "pondo em prática as coisas do bem comum do povo". Imensa a curiosidade, a ansiedade pela confirmação da nova. Constava que Manuel João Branco possuía um traslado da provisão de Diogo de Mendonça Furtado. Mandou a Câmara chama-lo e exigiu que exibisse o papel cujos caracteres desvairavam as imaginações. Fôra Manuel João Branco nomeado administrador dos nativos e dai o fato de se ver o alvo de toda esta ansiedade.

Registrada em Santos a 4 de dezembro a sua patente e os documentos do Governo Geral, logo transpirara o fato, dai a celeuma. Respondeu o interpelado negando que possuísse tais papéis "quando fosse tempo para a fazenda del rei, e bem do povo", apresentaria a provisão. Agora não era tempo para o caso por estar tudo embaraçado e a gente no sertão". Indignado com a recusa requereu o procurador aos colegas que forçassem o teimoso administrador a entregar a provisão, "por ser para o bem comum".

Estava-se no fim do ano e em vésperas de renovação do conselho municipal. Podia ser eleito algum homem dos que tivessem ido ao sertão, tornando-se inelegível, portanto, em virtude de antigas leis. O pretexto era inteligente, mas peremptório, declarou Manuel João que "não queria entregar a provisão por ser contra a fazenda de sua majestade; de sua conduta daria contas ao Governador Geral do Estado e até a Sua Majestade se preciso fosse".

E assim tiveram oficiais e povo de conter o seu prurido de curiosidade ante tão cabeçudo zelador das prerrogativas do cargo... Ou, simplesmente, caprichoso a comprazer-se ante a ideia de assanhar, até á exasperação, os desejos alvissareiros de uma população inteira.

A 13 de janeiro de 1624 comparecia novamente em Câmara Manuel João Branco a regularizar sua situação de superintendente dos nativos das aldeias da capitania, conforme constava da provisão passada pelo Governador Geral e já registrada pela Câmara.

Não sabia como tornar eficientes tais faculdades. Não tinha si quer oficial para as suas diligências; pedira-o á Câmara e esta fizera ouvidor de mercador; não faziam os nativos o menor caso de sua autoridade; alguns até dela riam; assim pedia a S. Mcês., que chamassem á sua presença o nativo Braz, da Aldeia de São Miguel, para o repreender e ensinar-lhe que quem mandava era ele Manuel João.

Dos moradores, de quem requisitara a enrega de metade da gente forra para o serviço das minas, não se fazia também obedecido e no entanto estava S. Majestade, á espera de seus quintos! Enfim, tal a má vontade da parte dos poderes municipais, que havendo ele, Manuel João, angariado um escrivão, querendo servir de graça, certo Manuel da Cunha, tinham-no repelido S. Mcês. os vereadores do ano transacto.

Declararam os de 1624, estar prestes a "dar ajuda e favor" ao queixoso, embora afirmando que na sua opinião fôra cabalmente cumprida, pela Câmara passada, a provisão do queixoso. [História Geral das Bandeiras Paulistas, 1924. Afonso d´Escragnolle Taunay (1876-1958). Páginas 293 e 294]

Depois desta demonstração de solidariedade disseram ainda que repreenderiam o nativo Braz. Como provisão do Governador não désse direito a um escrivão separado para as diligências, ficariam "prestes os tabalhães, escrivães, da vila e mais oficiais de justiça". Em todo o caso jamais á Câmara que os munícipes pretendessem desobedecer ás ordens da primeira autoridade do Estado. Esta reclamação do renitente Manuel João provocou logo em seguida uma cena violenta na sessão de 20 de janeiro.

Dissentindo do modo de pensar de seus colegar alteraram-se o procurador Leonel Furtado e o vereador Antonio Furtado de Vasconcelos, retirando-se da vereação. Mandaram-nos chamar os seus quatro colegas e Leonel Furtado voltou, explicando a causa do seu procedimento brusco. Não queria a Câmara cumprir as últimas leis de Sua Majestade! Estava Baruery repleto de nativos recém-descidos do sertão e ilegalmente os conservara o Conselho, na ignorância de que eram livres.

Não havia o mínimo inventário de nativos de Baruery, novos e velhos, e muitos bugres se despejavam dali sem que Fernão Dias de coisa alguma desse conta. Era preciso que este, capitão da aldeia, nela morasse, e entretanto, o não fazia! Se se alheava ao dever então abandonasse o cargo!

Compareceu Fernão Dias perante o plenário municipal a defender-se das increpações. Exibiu a provisão cumulativa de capitão e procurador dos nativos que Manuel João lhe impugnara, querendo que optasse por um dos cargos. Declarou que a ambos servia havia muitos anos, em todo o caso sujeitar-se-ia ao que mandasse o ouvidor Lazaro Fernandes em correição na vila. Mas tanto insistiu Manuel João que a Câmara o intimou a proceder á tal escolha.

Se opinasse pelo de capitão, fosse imediatamente viver com família entre os nativos, fizesse o rol exato dos bugres dos dois sexos, grandes e pequenos, dos descidos do sertão e dos moradores da aldeia, para que os novamente chegados da selva "jamais pudessem ser alheados e gozassem de sua liberdade". Tudo isto sob pena dos eternos seis mil réis de multa. [Página 295]

A 10 de fevereiro de 1624 comparecia á sessão da Câmara o Capitão-Mór governador-ouvidor da Capitania, João de Moura Fogaça, a apresentar, afinal, a famosa provisão do Governador Geral que provavelmente leu entre as mais vivas demonstrações de prazer por parte dos vereadores. Estava aberto o caminho do sertão! e permitindo o tráfico! [Página 296]

A região limítrofe das colonias portuguesas vicentinas era então chamada Guayrá, do nome de um famoso cacique, e correspondia a este vasto território ocidental do nosso Estado do Paraná, a que servem de limites o Paranapanema, o Paraná e o Iguassú. Quando em 1589 sairam de Assunção os Padres Salone, Ortega e Filds, seguiram o vale do Iguatemy dirigindo-se a uma povoação de espanhóis situada á esquerda do Rio Paraná já com trinta anos de existência a que por vezes temos referido. Era ela Ciudad Real ou Ciudad de Guayrá, fundada em 1557 por R. Diaz Melgarejo.

Para leste, a 60 léguas sobre o Ivahy, existia a segunda Vila Rica del Spiritu Santo também fundação de Ruy Dias Melgarego, em 1557, com o fim de conter os nativos. A 24 de junho de 1589, chegaram a Ciudad Real de onde partiram para Vila Rica onde numerosos tinham pingues "encomiendas".

Densa era então a população nativa do Paraguay, afirmam os autores jesuíticos. Mais de 200.000 nativos, metade dos quais talves habitava ás margens do Tibagy. Entre eles só havia 15.000 cristianizados.

A 8 de setembro de 1590, estavam de novo em Ciudad Real. O cabildo de Vila Rica pediu que até ali chegassem. Angariaram milhares e milhares de neófitos, pregavam entre os ferozes ibirayaras e afinal atingiram Vila Rica onde a pedido do cabildo, edificaram a igreja paroquial.

Alí também construíram igreja própria e colégio obtendo valiosas dádivas de patrimônio, dos principais colonos, comodo General Ruy Diaz de Gusman, do Mestre de Campo, D. Antonio de Añasco, da nativa principal D. Maria Boypitan, filha do maior cacique do rio Ivahy, etc. Em dois anos acabaram o colégio e uma igreja de três naves. Em Vila Rica mantiveram alguns anos esta residência com grande aplauso dos governadores, entre eles, Hernandarias de Saavedra.

Eram porém escassíssimas as forças da missão que operava no Paraguay e Tucuman, mau grado os extraordinários esforços dos missionários. Saloni, Ortega e Filds, dentro em breve, eram senhores da língua Guarany dedicando-se ainda Ortega ao estudo do ibirayara "idioma de una nacion muy numerosa y valiente", dizia o Padre Barzana ao seu Provincial, em carta de 8 de setembro de 1594.

O Cônego João Pedro Gay autor de uma "História da República jesuítica do Paraguay" prolixa serzidura das obras de diversos autores ignacinos e em que diz também aproveitado um velho manuscrito guarany, datado de São Borja, e de 1737 assinado por Jayme Bonenti, Gay dizíamos, que compendiou Charlevoix, Techo, Montoya, Lozano, traz muitos pormenores sobre esses primeiros tempos do Guayrá (p. 245 et pass de sua obra).

Assim nos conta que Guayrá, o tal cacique mór tinha tuxauas amigos que governavam doze grandes povos ao longo do Paranapanema e do Paraná, cujos nomes cita. A parte oriental do Guayrá ele a dá como populosíssima especialmente no Hubay ou Ivahy onde aponta sete grande povos. Refere-se aos habitantes da província de Tayaoba, guerreiros e indomáveis, vizinhos dos Cabelludos, também belicosa gente do vale do Iguassú. Ao sul estavam os ibirayáras. [ Páginas 323, 324 e 325]

Antonio Ruiz de Montoya relata em sua Conquista Espiritual uma série de cenas de superstição idolatra e de casos em que vê a mais flagrante intervenção diabólica, outros em que historia cenas comuns da catequese, no primeiro contato dos padres com os selvagens. Narra o martírio de neófitos, explica as razões que o levaram a afirmar a presença de Santo Thomé Apóstolo no Guayrá, e a luta que tiveram os loyolistas com os pagés, a quem sempre chama feiticeiros.

Já possuíam os jesuítas cinco reduções quando Montoya se aventurou a penetrar nas terras de Tayaoba, poderoso e prestigiosíssimo cacique, inimigo mortal dos espanhóis. Estes o haviam atraído a Vila Rica, posto a ferros e a mais três companheiros, declarando que só lhes restituiriam a liberdade se viessem muitos nativos de sua tribo entregar-se como escravizados. Preferiram os quatro nativos deixar-se morrer no cárcere onde sofreram pavorosos tratos. Três vieram a acabar de fome enquanto Tayaoba conseguia fugir. Tomado do mais justo rancor, convertera-se num inimigo furibundo dos espanhóis, distinguindo-se contra eles em diversas ações de guerra, a ponto de lhe valerem estas façanhas o apelido de Guassú, entre os nativos do Guayrá.

Atreveu-se Montoya a procura-lo e, da primeira vez, foi recebido a flechadas que lhe mataram sete nativos do séquito, tendo de fugir a toda a pressa. Tayaoba, que contudo, tinha mentalidade superior ao comum dos nativos, não tardou a impressionar-se com o que ouvia dos trabalhos dos jesuítas, e ordenou que dois dos filhos visitarem a redução de São Francisco Xavier, afim de o informarem do que lá realmente faziam os padres. Soube da cura de São Francisco Xavier, o célebre Padre Francisco Dias Tanho, de sua presença e tratou-os com o maior carinho. Contaram-lhe os dois irmãos a que vinham e declararam-se sobremodo bem impressionados com o que haviam visto.

Cheios de gentilezas e presentes voltam á presença do pai e logo depois ia Montoya visitar Tayaoba, instalando sobre o rio Guarbay, em suas terras, a missão dos Sete Archanjos (1627). Fez o cacique batizar vinte e oito filhos e preparou-se para receber os Sacramentos. Pouco depois contra Tayaoba se levantaram várias tribos vizinhas, revolta de que saiu vencedor. A mais de sessenta morubixadas trouxeram estes acontecimentos a adesão aos missionários. [História Geral das Bandeiras Paulistas Tomo I, 1924. Afonso d´Escragnolle Taunay (1876-1958). Páginas 329 e 330]

Também se ocupa com as felizes missões de Montoya e Diaz Tanho entre os Gualachos também chamada "Guanianes", povo existente entre o Uruguay e o Iguassú e depois conta a campanha dos missionários em busca da conversão do cacique Guiravera, chefe dos comedores de gente e de todos os feiticeiros de todo o Guayrá e homem que se comunicava com o demônio. [Página 334]

Em 1623 refere ainda Charlevoix, estavam os missionários mais tranquilos esperando que a observância das cartas régias, promulgadas em nome do Rei pelo Visitador D. Francisco de Alfaro, protegesse os seus neófitos contra os que cobiçavam te-los encomendados, o Padre Cataldino conseguiu neste ano domesticar os broncos habitantes da vasta floresta de Itirambara entre eles fundando a redução de São Francisco Xavier. A história da conversão de Tayaoba ele a conta, com muitos pormenores, segundo a versão de Montoya, que já demos. [Página 335]

Em 1628 voltaram Montoya e Dias Tanho as vistas para novo campo de evangelização: os Gualachos, "outros nativos que alguns confundem com os Guanoas", estando estes mais para o sul do que aqueles que, fronteiriços das terras de Tayaoba, se avizinhavam também do Brasil a leste. Não eram muito numerosos estes Gualachos que viviam assolados pela guerra civil, fruto do pendor á bebedice. Habitavam aldeiolas pouco distantes umas das outras e tinham fama de bons guerreiros e terríveis aos europeus. Foram eles próprios quem, após a conversão de Tayaoba, mandaram pedir missionários a Montoya. Este, seguido de Tanho fundou então em 1628 a aldeia de Concepcion.

(...)

Mais se espantaram porém ao saber que Montoya estava em negociações para a conversão de "Guiravera", poderoso cacique do Guayrá, inimicíssimo do cristianismo, antropófago inveterado e tão temido dos espanhóis que estes lhes chamavam "o Exterminador". [Página 336]

"Taunay escreveu muito para jornais e depois refundia os textos em livros sem citar nenhuma fonte de documentação e das publicações anteriores", contextualiza o historiador. "Mas esse mito foi sendo construído ao longo de décadas e as caracterizações sofrem variações de autor para autor."

Entre 1924 e 1950, Taunay publicou "História Geral das Bandeiras Paulistas", obra em 11 tomos. Como diretor do Museu do Ipiranga — cargo ocupado de 1917 e 1953 —, o historiador também contribuiu para a consolidação desse imaginário. "Ele encomendou toda a representação iconográfica e a estatutária do bandeirismo que decora os salões do museu", diz Martinez.

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 40

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 76

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 77

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1930 1930
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay (1876-1958)
Página 94

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1930 1930
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay (1876-1958)
Página 95

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 103

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 158

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Páina 172

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 184

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 185

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 186

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1928 1928
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay (1876-1958)
Página 263

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 295

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 296

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 297

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 301

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 302

História geral das bandeiras paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay
Página 303

Historia Geral das Bandeiras Paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay (1876-1958)
Página 41

Corso del fiume dell Amazoni
Data: 01/01/1691 1691
Créditos / Fonte: Vincenzo Coronelli (1650-1718)
(mapa

Historia Geral das Bandeiras Paulistas
Data: 01/01/1924 1924
Créditos / Fonte: Afonso de E. Taunay (1876-1958)
Página 255. Escripta á vista de avultada documentação inedita dos archivos

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