' Lançada a obra Pero de Magalhães Gândavo, “Tratado da Terra do Brasil” - 01/01/1576 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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Lançada a obra Pero de Magalhães Gândavo, “Tratado da Terra do Brasil”
1576. Há 448 anos
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nestas partes, a que com verdade se nam pode negar muito louvor. E porque ellas samtaes que por si se apregoam pela terra, nam me quiz entremeter a trata-las aqui maispor extenso: basta sabermos quam aprovadas sam em toda parte suas obras por santase bôas, e que sua tençam nam he outra senam dedica-las a nosso Senhor, de quemsomente esperam a gratificaçam e premio de suas virtudes.CAPÍTULO XIVDAS GRANDES RIQUEZAS QUE SE ESPE RAM DA TE R RA DO SE RTÃOEsta Provincia Santa Cruz alem de ser tam fertil como digo, e abastada de todos osmantimentos necessarios pera a vida do homem, he certo ser tambem mui rica, e havernella muito ouro e pedraria, de que se tem grandes esperanças. E a maneira como istose veio a denunciar e ter por causa averiguada foi por via dos Indios da terra. Os quaescomo nam tenham fazendas que os detenham em suas patrias, e seu intento nam sejamoutro senam buscar sempre terras novas, afim de lhes parecer que acharão nellasimmortalidade e descanço perpetuo, aconteceu levantarem-se huns poucos de suasterras, e meterem-se pelo sertão dentro: onde depois de terem entrado algumasjornadas, foram dar com outros Indios seus contrarios, e ali tiveram com elles grandeguerra. E porserem muitos, e lhes darem nas costas, nam se puderam tornar outra veza suas terras: por onde lhes foi forçado entrar pela terra dentro muitas legoas. E pelotrabalho e má vida que neste caminho passaram, morreram muitos delles, e os queescaparam foram dar em huma terra, onde havia algumas povoações mui grandes, e demuitos vizinhos, os quaes possuiam tanta riqueza que afirmaram haver ruas muicompridas entre elles, nas quaes se nam fazia outra cousa senam lavar peças douro epedrarias.Aqui se detiveram alguns dias com estes moradores: os quaes vendo-lhes algumasferramentas que elles levavam consigo perguntaram-lhes de quem as haviam, ouporque meios lhes vinham ter ás mãos. Responderam-lhe que huma certa gentehabitava ao longo da costa da banda do Oriente, que tinha barba e outro parecerdifferente, de que as alcançavam, que sam os Portuguezes. Os mesmos signaes lhesderam estoutros dos Castelhanos do Perú, dizendo-lhes que tambem da outra bandatinham noticia haver gente semelhante, então lhes deram certas rodellas todaschapadas douro, e esmaltadas de esmeraldas, e lhes pediram que as levassem, pera quese acaso fossem ter com elles a suas terras lhes dixessem que se a troco daquellaspeças e outras semelhantes lhes queriam levar ferramentas, e ter comunicação comelles, o fizessem que estavam prestes pera os receber com muito bôa vontade. Depoisdisto partiram-se dahi e foram dar em o Rio das Amazonas, onde se embarcaram emalgumas canoas que fizeram e a cabo de terem navegado por elle acima dous annos,chegaram á Provincia do Quito, terra do Perú, povoada de Castelhanos. Os quaesvendo esta nova gente espantaram-se muito, e nam sabiam determinar donde eram,nem a que vinham. Mas logo foram conhecidos por gentio da Provincia Santa Cruz dealguns Portuguezes que então na mesma terra se acharam. E perguntando por elles acausa de sua vinda contaram-lhes o caso meudamente fazendo-os sabedores de tudo oque lhes havia succedido. E isto veio-nos á noticia, e assi por via dos Castelhanos doPerú, onde estas rodellas foram vendidas por grande preço, como pela dos mesmosPortuguezes que lá estavam quando isto aconteceu, com os quaes falaram algunshomens deste Reino, pessôas de autoridade e dignas de credito, que testeficamouvirem-lhes afirmar tudo isto por extenso da maneira que digo. E sabe-se de certoque está toda esta riqueza nas terras da Conquista de ElRei de Portugal, e mais pertosem comparaçam das povoações dos Portuguezes, que dos Castelhanos. Isto se mostra claramente no pouco tempo que puzeram estes Indios em chegar a ella, e no muito que despenderam em passarem dahi ao Perú, que foram dous annos, como já disse. Alem da certeza que por esta via temos ha outros muitos Indios na terra que tambem afirmam haver no sertão muito ouro, os quaes posto que sam gente de pouca fé e verdade, dá-se-lhes credito nesta parte, porque àcerca disto os mais delles sam contestes, e falam em diversas partes per huma boca. Principalmente he publica fama entre elles que ha huma lagoa mui grande no interior da terra donde procede o Rio de Sam Francisco, de que já tratei, dentro da qual dizem haver algumas ilhas e nellas edificadas muitas povoações, e outras orredor della mui grandes onde tambem ha muito ouro e mais quantidade, segundo se afirma, que em nenhuma outra parte desta Provincia. Tambem pela terra dentro nam muito longe do Rio da Prata descobriram osCastelhanos huma mina de metal da qual se tem levado ouro ao Perú e de cada quintal delle dizem que se tirou quinhentos e setenta cruzados e de outro trezentos e tantos: o de mais que della se tira he cobre infinito.

Tambem descobriram outras minas de humas certas pedras brancas e verdes, e de outras cores diversas, as quaes sam todas de cinco, seis quinas cada huma, á maneira de diamantes, e tambem lavradas da natureza, como se per industria humana o foram. Estas pedras nascem em hum vaso como Coquo, o qual he todo oco com mais dequatrocentas pedras orredor, todas enxeridas na pedreira com as pontas pera fora. Alguns destes pedernaes se acham ainda imperfeitos, porque dizem que quando sam de vez, que por si arrebentam com tanto estrondo, como se disparasse hum exercito de arcabuzes: e assi acharam muitas, que com a furia, segundo dizem, se metem pelaterra hum e dous estadios.

Do preço dellas nam trato aqui, porque ao presente o nam pude saber, mas sei que assidestas como doutras ha nesta Provincia muitas e mui finas, e muitos metaes, donde sepode conseguir infinita riqueza. A qual permitirá Deos que ainda em nossos dias sedescubra toda, pera com ella se augmente muito a Coroa destes Reinos: aos quaesdesta maneira esperamos, mediante o favor divino, ver muito cedo postos em feliz eprospero estado, que mais se nam possa desejar. [Páginas 47 e 48]

Oh, as minas desse confusoRio da Prata, tão longínquo e extraordinário! "Pela terra a dentro, não muito longe do Rio da Prata, narra-o Gandavo — “descobriram os Castelhanos uma mina de metal; e de cada quintal dele dizem que se tirou quinhentos e setenta cruzados de prata...” Contava-se até que um mareante, depois de abicar ai por muita, praia — "levara consigo hum morador deste pais, o qual qusz com muito empenho ver o Rei de Portugal e dizer-lhe que se lhe oferecia a trazer tanta prata que mal a poderãocarregar"

SABARÁ ANT. TABARÁ, DE QUE SE FEZ TABARABOÇU, COMO SE VÊ EM VELHOS DOCUMENTOS. TABARÁ É A FORMA CONTRATA DE ITABARABA, ITABERABA QUE É ITÁ-BERABA, A PEDRA RELUZENTE, O CRISTAL.

“Sabarabuçu” de “Tabará-boçú”, corruptela de “Itaberaba-uçú”, que significa “pedra reluzente grande” ou “cristal grande”, que também se entende como “serra resplandecente”, lugar lendário entgre os colonos do primeiros século da conquista.

Eis o que, a respeito, nos diz o historiador Pero Magalhães Gândavo em 1576:

“A esta capitania chegaram certos nativos sdo sertão a dar novas de umas pedras verdes, que haviam numa serra muitas léguas pela terra dentro e traziam algumas delas por amostras, as quais eram esmeraldas (...) os mesmos natviso diziam que daquelas havia muitas e que e que esta serra era muito formosa e resplandecente (...)”

Essa serra resplandecente que os nativos em sua língua chamavam Itaberabuçu, tranformada por corrupção em Taberabuçu e mais geralmente em Sabarabuçu, vai ser por todo o século seguinte, o alvo das mais arrojadas expedições sertanejas.

"A ESTA CAPITANIA DE PORTO SEGURO CHEGARAM CERTOS ÍNDIOS DO SERTÃO A DAR NOVAS DE UMAS PEDRAS VERDES, QUE HAVIA NUMA SERRA MUITAS LÉGUAS PELA TERRA DENTRO E TRAZIAM ALGUMAS DELAS POR AMOSTRAS, AS QUAIS ERAM ESMERALDAS, MAS NÃO DE MUITO PREÇO; E OS MESMOS ÍNDIOS DIZIAM QUE DAQUELAS HAVIA MUITAS E QUE ESTA SERRA ERA MUI FORMOSA E RESPLANDECENTE..." ESTA SERRA RESPLANDECENTE QUE O GENTIO EM SUA LÍNGUA CHAMAVA ITABERABUÇÚ, TRANSFORMADA POR CORRUPÇÃO EM TABERABUÇÚ E MAIS GERALMENTE EM SABARABUÇÚ, VAI SER, POR TODO O SÉCULO SEGUINTE, O ALVO DAS MAIS ARROJADAS EXPEDIÇÕES SERTANEJAS. SABAÚNA CORR. TAMBÁ-UNA, O CONCHA PRETA; UMA ESPÉCIE DE MOLUSCO DE ÁGUA-DOCE. SÃO PAULO.

1° de 1 fonte(s) [28674]
A língua do Brasil. Por Claudio Angelo, em Revista Super Interessante
Data: 31 de outubro de 2016, ver ano (148 registros)

Quando Cabral desembarcou na Bahia, a língua se estendia por cerca de 4 000 quilômetros de costa, do norte do Ceará a Iguape, ao sul de São Paulo. Só variavam os dialetos. O que predominava era o tupinambá, o jeito de falar do maior entre os cinco grandes grupos tupis (tupinambás, tupiniquins, caetés, potiguaras e tamoios). Daí ter sido usado como sinônimo de tupi. As brechas nesse imenso território idiomático eram os chamados tapuias (escravo, em tupi), pertencentes a outros troncos lingüísticos, que guerreavam o tempo todo com os tupis. Ambos costumavam aprisionar os inimigos para devorá-los em rituais antropofágicos. A guerra era uma atividade social constante de todas as tribos indígenas com os vizinhos, até com os da mesma unidade lingüística.

Um dos viajantes que escreveram sobre o Brasil, Pero Magalhães Gândavo, atribuiu, delirantemente, a belicosidade dos tupinambás à língua. “Não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, pois assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei e, desta maneira, vivem sem justiça e desordenadamente”, escreveu em 1570. Para os portugueses, portanto, era preciso converter os selvagens à fé católica, o que só aconteceu quando os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil, em 1553. Esses missionários se esmeraram no estudo do tupi e a eles se deve quase tudo o que hoje é conhecido sobre o idioma.


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