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Ata: em Santos "tupiniquins vem marchando"
13 de abril de 1590, sexta-feira. Há 434 anos
 Fontes (1)
(...) nesta vila do porto de Santos, costa do Brasil, capitania de São Vicente, de que é capitão e governador por el-rei nosso senhor o senhor Lopo de Souza e nesta dita vila e nas pousadas do senhor Jerônimo Leitão, capitão desta dita capitania onde eu escrivão ao diante nomeado fui hy por ele foi mandado e mim escrivão fazer este auto pelo qual manda aos juízes e vereadores da vila de São Paulo do campo que logo tanto que lhe este apresentado for mandem deitar um preguão na dita vila que todos os homiziados e apelados que na dita vila houver ou ai estiverem por qualquer causa que seja resalvado-os quando proibidos na ordenação apareçam e venham a dita vila com suas armas para ajudarem a defender do nosso nativo topinaen digo topiniqui digo topiquanaqui digo topianaquin, porquanto os ditos oficiais e mais povo me mandou aqui um requerimento que os fosse a socorrer com muita brevidade porquanto o nativo estava já junto nas fronteiras e era certeza vir já marchando com grande guerra sobre a dita vila pelo qual ele dito capitão se esta fazendo prestes e tem mandado a todas as vilas deste mar e a Itanhaém e as mais a preceber a gente e nativos que ha de levar a sua companhia pelos quais espera para logo se partir e tem mandado lançar este mesmo preguão nas ditas vilas para resguardo das justiças. [Atas da Câmara da cidade de São Paulo. Páginas 398, 399 e 400]

Guaymbé ou Imbé, Ãninga, Gua~, de que a corruptela fez Agua~, Caraguatá de que procede Gravatá, Naná, que a corruptela transfor-mou em Ananaz (Ananás), Abacaxi, Ubá, lembram outras mais humil-des, ainda que não menos características 177. Na região dos campos de cima da serra do Centro e sul do Brasil, os bosques de araucária, que os tupis denominavam Curi, como chama-vam Curityba às matas formosíssimas dessas plantas sociais, e as Con-gonhas deram o nome a grande número de lugares 178. 109 - No tupi designa-se o animal pela palavra çoô, que também significa a caça, a carne, ou um bicho, no sentido vulgar, não se empre-gando senão para os irracionais. Para designar o homem, a gente, há o vocábulo abá; mas, no senti-do geral, empregando-se para exprimir o ente animado, se encontra ora-dical guáy, ora nos nomes de bichos, como em Guaynumbi, beija-flor, ora em nome de gente ou povo, como em Guayanã, nome da tribo que, outrora, dominou nos matos da serra de Paranapiacaba. Bem estudado o radical Guay, chega-se à conclusão de que ele exprime simplesmente o indivíduo, a pessoa, ou aquele que é. Assim, por exemplo, Guay-n-umby, indivíduo verde, ou aquele que é verde, para designar uma espécie de beija-flor; Guayanã, indivíduo parente, aquele que é parente ou irmão, e talvez fosse esse o tratamento que davam os Tupiniquins do litoral aos Guaianazes, dominadores do campo; Guay-curú, indivíduo sarnento, aquele que tem sarnas; Aymoré, ou, como es-creveu Anchieta, Guaimuré, que se pode interpretar: Guay-mur-ré, indivíduo da nação diferente, aquele que é povo diferente; Guay-yá, de que se fez, por corruptela, Goyaz, indivíduo igual ou semelhante, aquele que é do mesmo povo 179. O vocábulo çoô alterou-se, porém, nos seus compostos, por um processo de assimilação, dizendo-se sua-çú, por çoó-açú, animal grande 177 Oco, em tupi, é ybyia; em guarani ybyê. Montoya registra também e, éb, cujo sentido, a julgar pelos eJtemplos, é antes côncavo. Teodoro Sampaio tupiniza este dltimo por emba - o oco, Bertomi cita ambá -oco, sem indicar a fonte. A etimologia árvore dos ocos é um tanto forçada. 178 Não foram os Tupis, mas os Carijós (os Guaranis) que denominaram kurl, aliás kurly, aos pinhões. Os Tupis, que habitavam regiões mais setentrionais, ado-taram o termo português, transformando-o em plnhi, enquanto os Tupis pro-priamente ditos, de São Vicente, designavam o pinhão, por antonomásia, sim-plesmente pelo genérico ybá-frutá. (Anchieta. Cartas, p. l 2f.) 179 A hipótese aventada em tomo aguai é engenhosa; entretanto, não encontra ne-nhum apoio cm qualquer referência antiga. O sentido de aquele que exigiria a [146]

XVII, de São Paulo para o sertão de Minas, refere ter encontrado, bem no interior, uma estrada larga e bastante trilhada. A dispersão dos Tupiniquins, que eram, ao mesmo tempo, assinala-dos em São Vicente, no vale do São Francisco e em Porto Seguro, de-monstra cabalmente que, pelo interior, esses índios se comunicavam; e está averiguado, por um estudo bastante consciencioso e sério do nosso ilustre consócio, o Dr. Orville Derby, que as primeiras bandeiras, que devassaram os sertões o fizeram, trilhando as veredas dos gentiosY, guia-dos pelo selvagem reduzido e amigo. 114 - Quando os caminhos desciam até o mar ou grandes rios na-vegáveis, ao extremo desses caminhos, ordinariamente um porto, davam os Tupis o nome apéaçaba, que quer dizer salda ou travessia do cami-nho, e de que, por corruptela, se fez peaçaba, mbeaçaba, ou imbiassa-pe, como se lê em Hans Staden, e ainda peaçá, sob a forma contrata e mais comum na composição dos nomes de algumas localidades. Assim, os nomes Peaçá-goéra, porto velho ou extinto, com que se designa uma localidade vizinha do Cubatão; Peaçáboçú ou Peassabus-sú, porto grande, designando uma vila alagoana, à margem do rio São Francisco, são compostos com o tema apeaçaba, sob a forma contrata. O nome peaçaba ou apeaçaba, que o vulgo alterou para piaçaba ou apiaçaba, já não designa, entre nós, senão a fibra da Ataléia; o pri-mitivo e verdadeiro significado se perdeu para a língua hoje falada no Brasi1203. . 1 O nome igara-paba ou igaro-paba, que, literalmente, significa termo ou fim da canoa, também designava o porto, mas já na acepção de assento, descanso ou lugar onde se encalhava a embarcação, deixando-a a seco204. y Orville Derby. Os primeiros descobridores de ouro em Minas Gerais. 203 Peaçaba é propriamente o escoadouro. Peaçàgílera e peaçab-uç6 são, final-mente, dois termos verdadeiramente tupis. Entretanto, se o autor pensa que a piaçabeira tem relação com peaçaba, está redondamente enganado. Piaçaba vem de oyaçaba - tecer, por causa do tecido fibroso, o espelho, que, napiaça-beira contém a fibra: a piaçaba, ou piaçava, como a chamamos na Balúa. Teo-doro Sampaio insinua mais a sinonfma de peaçaba - escoadouro, embarca-douro e ymbiaçaba - ba"ª· e nisso errou novamente a pista. 204 Não quer dizer tal. A grafia viciada do nheengatu, como em tantos outros exemplos, não lhe deixou ver o sentido. Porto, em tupi, é ygar-upaba, que significa o pouso, o ancoradouro das ca-noas. Upaba vem do verbo tuba (uba) - jazer, estar ancorado; estar encalha-do, neste caso. Fim de canoa, se tal concepção existisse, seria ygá-paba. 15 [155]

A tradução do nome Niterói é, {Xlis, seio de água abrígadq; em· outros termos, baía segura. Entretanto, mais correta que Nheteroy seria, no tupi, a grafia Y -nhéterô, que, literalmente, se traduziria água abri-gada em seio e estaria mais conforme às grafias de Staden e de Simão de Vasconcellos, fazendo, além disso, desaparecer o ditongo final, difícil de explicar-se com a vogal gutural259. Não menos interessante para a história nacional é a interpretação do nome Cananéia, que se tomou clássico nas investigações deste gê-nero. O senador Candido Mendes fez dessa palavra um estudo conscien-cioso e erudito, como quase todas as suas investigações atinentes à nossa história; não logrou, todavia, explicá-la completamente, mas fez avançar a questão até o ponto de poder-se admitir que o nome Cananéia não procede do calendário, nem relação alguma tem com a figura bíblica da mulher de Sareptaff. De fato, recorrendo-se aos mais antigos viajantes e historiadores, verifica-se que o nome Cananéia não é senão uma palavra tupi lusítani-zada {Xlr simples homofonia. Na narrativa de Hans Staden, da primeira metade do século XVI, encontra-se essa palavra com a grafia Caníneegg e, na História do Brasil de frei Vicente do Salvador (1627), Canené, palavras que se equivalem e se identificam com o nome Canindé, de uma espécie de arara, provavel-mente abundante na localidade, em cujas vizinhanças outro povoado e canal, com o nome de Ararapira, lembra ainda a freqüência dessa ave nos sítios que foram, outrora, considerados como limites entre Carijós e Tupinikins. A corrupção da palavra tupi fez-se, {Xlrém, tão breve e tão pro-fundamente que de Canindé ou Canin~ se alterou para Cananéia e, ain-da, para Cananor, como se lê na carta de Ruych, de 1508, e no mapa da América, da edição de Ptolomeu, de 1513. 133 - Não terminaremos este capítulo sem dizer algumas palavras a respeito das dificuldades da interpretação, provenientes da homografia ou da homofonia. Uma palavra tupi, como sói acontecer em todas as línguas no pe-ríodo da aglutinação, é, quase sempre, um vocábulo com{Xlsto. 259 O vocabulário tupi dos jesuítas dá "Rio de Janeiro - Mheteroia", que, em vista do fonema inicial nh, talvez se deva ler Mheterõia. ff Candido Mendes. Notas para a História Pátria. Revista do Ins. Hist. e Geogr. Xl:206. gg O volume da obra de Hans Staden, que consultamos, é um exemplar raríssimo da 1 ! edição, propriedade do Dr. Eduardo Prado. [Página 183]

TUPINAES corr. Tupi-nã, parentes ou consangüíneos dos tupis. Alterada à prosódia para tupiná, o plural, na língua dos colonos, deu tupinaes ou tupinás. Pode ser corrupção de tupin-aê, o amigo dos tupis ou seus afeiçoados; pode ainda proceder de tupin-aen e significar os tios supostos ou falsos. V. Tupí.

TUPININQUIM ant. Tupinãkí, como escreveu Anchieta, e. tupinã-ki, o galho do parente dos Tupis, os colaterais dos Tupis. 109.[Theodoro Sampaio (1855-1937). P. 335]

Atas da Câmara da cidade de São Paulo
Data: 13/04/1590 1590
página 398, 399 e 400

1° de fonte(s) [26287]
Revista do Arquivo Municipal, CLXXX. Edição comemorativa do 25o. aniversário da morte de Mário de Andrade, 1970
Data: 1970, ver ano (83 registros)

O ano de 1590 seria depois frequentemente lembrado. Era o do assalto à vila. A ata do dia 13 de abril contém o apelo lancinante de socorro a todos os povoados. "Com muita brevidade porquanto o gentio estava já junto nas fronteiras e era certeza vir marchando com grande guerra sobre a vila". O socorro vem de "todas as vilas deste mar e a Itanhaém". [Revista do Arquivo Municipal, CLXXX. Edição comemorativa do 25o. aniversário da morte de Mário de Andrade, 1970. Página 603 do pdf]


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