Em dois de junho de 1579, um dos navios da esquadra de Francis Drake, o Elizabeth, comandado por John Winter, volta à Inglaterra levando informações sobre o Brasil* - 02/06/1579 de ( registros)
Em dois de junho de 1579, um dos navios da esquadra de Francis Drake, o Elizabeth, comandado por John Winter, volta à Inglaterra levando informações sobre o Brasil
junho de 1579. Há 445 anos
Fontes (1)
Em dois de junho de 1579, um dos navios da esquadra de Francis Drake, o Elizabeth,comandado por John Winter, volta à Inglaterra levando informações sobre o Brasil. Após desgarrasse, durante a turbulenta travessia do estreito de Magalhães, dos demais navios da expedição, que seguiram na viagem de circunavegação e rapina pelos territórios das colônias espanholas, o Elizabeth errou durante quatro meses pelo litoral do Brasil, em busca de um porto onde pudesse reestabelecer seus homens e reparar os estragos sofridos na tempestade.
Em São Vicente, encontraram boa acolhida e puderam fazer uma longa parada, de forma a proceder à reconstrução da nau, além de abastecer o navio de água e alimentos frescos para prosseguir na volta. Na vila, Winter travou contato com um inglês residente na terra, John Whithall, casado com a filha do rico senhor de engenho genovês José Adorno. Whithall, conhecido pelos portugueses como João Leitão, veio a ser o principal informante de Winter sobre o território e, com seu relatório sobre as características e potencialidades daquele trecho do litoral, levou a acender a curiosidade dos comerciantes ingleses por uma provável nova rota de comércio no Novo Mundo que envolvia as vilas de São Vicente e Santos. Segundo Winter, a partir das informações de John Whithall ele pôde “compreender o estado da terra e a disposição de seus habitantes” (ANDREWS, 1984, p. 55).
O estado e as condições daquele trecho da capitania de São Vicente diziam respeito à grande produção de açúcar, que alcançava um alto preço na Europa, e às informações sobre o recente descobrimento de minas de metais preciosos nas proximidades. Segundo as noções geográficas de então, a região de São Vicente localizava-se nas vizinhanças das ricas terras do Peru e das minas de Potosi, e os sertões ainda inexplorados, uma terra incógnita situada entre o rio Paraná e a costa, já visitados por ingleses em 1526, 1 seriam abundantes em minas ainda não descobertas.
O imaginário elisabetano sobre a região sudeste do Brasil e São Vicente foi ilustradotambém por relatos impressos, que tiveram grande difusão, como a tradução inglesa de Singularitez de la France Antarctique (Paris, 1557), de André Thevet, publicada em Londres em 1568 com o título The new found worlde, or Antarctike (ANDREWS, 1981, p. 5), em que o frade franciscano se alonga sobre as qualidades da província de “Morpion” (São Vicente) - descreve o desenvolvimento agrícola da terra, a produção açucareira e confirma a descoberta de riquezas minerais:
“No início da colonização plantou-se aí muita cana de açúcar, mas este cultivo não prosperou depois que os habitantes preferiram a mais rendosa exploração das jazidas de prata descoberta nos seus arredores” (THEVET, 1978, p. 176).2
Quanto à disposição da gente que ali habitava, colonos e portugueses, o contato do navegador John Winter com o bem relacionado e estabelecido John Whithall, familiar dos‘principais’ da região, proprietários de terras, plantações e engenhos, mostrou uma francadisposição e abertura para negócios com os estrangeiros.Os homens de Winter, na sua volta à Inglaterra, quando ainda não se sabia quando e como voltaria a frota de Francis Drake, foram entrevistados por uma das figuras-chave da proto-história do império britânico, Richard Hakluyt, que mais tarde publicaria uma copiosa coletânea de relatos de viagem, as Principall Navigations, editadas em volume único em 1589 e reeditadas, com ampliações, em três grandes volumes em 1600, que lançariam as bases ideológicas para a legitimação do direito inglês à exploração e colonização das rotas marítimas e dos territórios então sob o monopólio comercial e político das coroas espanhola e portuguesa, livros que atuaram como propaganda da expansão marítima e do projeto colonial inglês (ARMITAGE, 2000). [“Esta viagem é tão boa quanto qualquer viagem ao Peru”. O Minion of London no Brasil (1581), 2013. Sheila Moura Hue. Páginas 31 e 32]
após a viagem de cincunavegação deFrancis Drake, voltaram sua atenção para o litoral da capitania de São Vicente antes de se concentrarem no projeto de colononização da América do Norte, e o quanto, do ponto de vista comercial, foram acolhidos pelos homens de negócios da região, funcionários régios, como eram o governador da capitania de São Vicente, Jerônimo Leitão, e o provedor da fazenda Brás Cubas, a quem John Whithall e D. Bernardino se referem quando citam, sem nomeá-los, as principais autoridades da administração colonial de Santos na época em que o Minion foi recebido.A necessidade de escoar a alta produção de açúcar da capitania e a demanda por mercadorias manufaturadas eram premências mais fortes do que o decreto em vigor, de 1571, de D. Sebastião, que proibia o comércio com naus estrangeiras.O apoio filipino para importantes entradas de prospecção mineral, como as expedições organizadas por Gabriel Soares de Sousa e pelo governador-geral D. Francisco de Sousa, e a preocupação de guardar defensivamente o litoral, medidas contempladas no regimento de 1588, repercutem de certa forma o interesse inglês pelas ainda não descobertas minas e pela proximidade com o Peru, atestado pelos relatos de John Winter, John Whithall, Thomas Grigges e Richard Hakluyt. Como observa Arno Wheling sobre as motivações estratégicas da ação da filipina no Brasil:No continente americano, com o conhecimento geográfico já então disponível, era evidente que a posse do Brasil, [...], representava importante proteção para Potosi e as demais regiões do vice-reino do Peru. Chegou a ser formulada a hipótese, na historiografia brasileira, da concepção do Brasil também como “estado tampão”, com o fim de proteger a retaguarda da mineração espanhola na América do sul. [...] em materia de interesse pelo Brasil, não deve ser esquecida a possibilidade deencontrar-se ouro e prata numa região frequentemente vista, à época, como continuidade geográfica do Peru (WEHLING, 2205, p. 12).Tinha razão o assistente comercial inglês John Whithall - o João Leitão da elite colonial santista - ao definir para o mercador Richard Staper o que significaria uma viagem à desconhecida capitania de São Vicente em 1578:“Esta viagem é tão boa quanto qualquer viagem ao Peru. [...] Se tiver coragem para tal, em nome de Deus, procure arrumar uma boa embarcação de setenta ou oitenta toneladas e mande-a para cá com um piloto português, até o porto de São Vicente no Brasil, na fronteira com o Peru”.[“Esta viagem é tão boa quanto qualquer viagem ao Peru”. O Minion of London no Brasil (1581), 2013. Sheila Moura Hue. Página 49]
1° de fonte(s) [26994]
“Esta viagem é tão boa quanto qualquer viagem ao Peru”. O Minion ...