' No tempo dos bandeirantes. Benedito Carneiro Bastos Barreto, "Belmonte" (1896-1947) - 01/01/1939 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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No tempo dos bandeirantes. Benedito Carneiro Bastos Barreto, "Belmonte" (1896-1947)
1939. Há 85 anos
As minas de ouro só serão exploradas mais tarde, na segunda metade do século, embora o Jaraguá, ainda em 1606, haja entremostrado os seus tesouros a Clemente Álvares que, muito alvoroçado, corre á Câmara para registrar sua descoberta: ". . appareceu clemente álveres morador nesta villa por ele foi dito aos ditos ofisiais e declarado de como vinha manifestar sertas minas que tinha descoberto de betas de hüa manta de ouro a saber oslugares primeiramente a de manta em Jaraguá ao sopê da primeira serra" etc. Ou, então, a Afonso Sardinha que, já em 1589 explora minas de ouro, não só no Jaraguá, mas ainda no sítio Lagoas Velhas, no Votoruna e em Biraçoiaba. [No tempo dos bandeirantes, 1939. Benedito Carneiro Bastos Barreto, "Belmonte" (1896-1947). Página 105]

Ás vezes, encontram-se na terra objetos que chocam pela raridade, como a bengala de Henrique da Cunha, os chapéus de sol de Francisco de Proença, Antônio Bicudo de Brito e Antônio Leite Falcão, as luvas enfeitadas de Antônio Leite, o óculo de alcance de Cornélio de Arzão — um oceulo de Flandres de olhar ao longo que se não avaliou por se não saber o que vale — os relógios de agulhão de marfim de Francisco Velho e Cristovam de AguiarGirão, o lampeão de Jerónimo Bueno...[No tempo dos bandeirantes, 1939. Benedito Carneiro Bastos Barreto, "Belmonte" (1896-1947). Páginas 109 e 110]

Vê-se claramente que as perseguições da Inquisição no Brasil são, ao mesmo tempo,mais intensas do que se supõe. Na vila de São Paulo, contudo, tais acontecimentos não repercutem e o seu isolamento no planalto parece amortecer a vibração das paixões desencadeadas alhures e imunizá-la contra os perigos dessa ordem. Tanto que, a única vez que se tem notícia de uma ação do Santo Ofício em São Paulo, não é contra nenhum um judeu, mas contra um flamengo: Cornélio de Arzão.

À meia-noite de 28 de abril de 1628, um grupo de homens bate à porta da casa de um grande sítio em Pirituba, enquanto um deles, com voz clara, brada: Abram, em nome da Santa Inquisição!.

Uma mulher, pouco depois, escancara as portas, sem surpresa nem susto, pois já espera a incômoda visita. É ela dona Elvira Rodrigues, e sabe que esses homens sinistros a procurariam, pois seu marido, Cornélio de Arzão, acha-se preso em Lisboa, por ordem do Santo Ofício.

Cornélio de Arzão, flamengo que viera a São Paulo como perito em mineração, contratado por D. Francisco de Sousa, é homem de muita consideração na vila, onde se casa com a filha de Martim Rodrigues Tenório de Aguilar, grande sertanista espanhol, mas por motivos que se ignoram, cai em desgraça com a Inquisição, que o prende na aldeia de Setúbal e o remete para Lisboa, após excomungá-lo.

Cornélio não é judeu. Além disso é católico, e tão bom católico que trabalha na conclusão da igreja matriz, alguns anos antes, e ficam a dever-lhe não pouco dinheiro dessa empreitada. O certo é que, por esta ou aquela razão, Miguel Ribeiro, meirinho do Santo Ofício, e o juiz Francisco de Paiva exigem que dona Elvira entregue todas as chaves da casa e declare todos os bens que alí dentro se acham, após fazerem-na jurar, com a mão sobre a cruz que o meirinho trás ao peito. [Página 221]

No dia seguinte, pela manhã, iniciava-se o inventário dos bens, - ferramentas de lavoura, pratos, louças, tenda de marceneiro, tecidos, roupas, jóias, objetos de toda espécie além de dois negros da Guiné.

Mas não pára aí a fúria confiscadora do Santo Ofício. No dia 2 de abril, o mesmo juiz, seguido pelo mesmo funcionário da Inquisição, vai ao sítio de engenho de ferro, e sequestra o que lá se encontra - casa de três laços com um laço assobradado, no alto de um outeiro, roça de milho, serras, um catre, um bufete e um moinho de moer trigo moente e corrente.

Não é tudo, porém. No dia 3, é sequestrado um lanço de casas que está junto das casas de Domingos de Góis no arrebalde da vila, além de uma caixa contendo tigelas, pregos de cadeira, uma cadeira, um espelho e um tostão de prata. E, pouco depois, mais umas casas que estão defronte das casas do reverendo padre vigário e mais as casas que estão defronte das casas de Manuel João Branco. Quando ao engenho de ferro, do qual metade pertence a Cornélio de Arzão, não se avaliou por não haver pessoa que o entenda. [Página 222]

No tempo dos bandeirantes
Data: 01/01/1980 1980
Créditos / Fonte: Belmonte
Página 17

No tempo dos bandeirantes
Data: 01/01/1980 1980
Créditos / Fonte: Belmonte
Página 30

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