A certificação do Barranco de São Benedito como o segundo quilombo urbano do Brasil completou três anos em 2017, mas a história de luta e resistência dos moradores – descendentes de escravos do Maranhão –, que vivem na comunidade localizada na Praça 14 de Janeiro, Zona Sul de Manaus, já é centenária. Moradores dizem ter “muito orgulho” de viver no local. Estudioso aponta a importância da contribuição negra na formação étnica da capital amazonense, que completa 348 anos em outubro.Segundo moradores, a comunidade ganhou visibilidade após o reconhecimento como quilombo urbano.Jamily também é uma das organizadoras dos festejos religiosos do quilombo. "Devido às nossas tradições, como os festejos de São Benedito e a nossa culinária, fomos certificados em 2014 como um quilombo pela Fundação Cultural Palmares. Desde lá, várias mudanças ocorreram na comunidade e hoje nós somos bem mais visíveis”, contou Jamily.Outro marco na história da comunidade do Quilombo de São Benedito foi o reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Amazonas, título recebido em 2015, pela Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam).Orgulho e superaçãoPara a moradora Hildamira Adjiman Silva, de 76 anos, o título é motivo de orgulho para a comunidade.“É um reconhecimento da sociedade. Foi algo muito gratificante para todos nós, que somos afrodescendentes. Tenho muito orgulho de fazer parte dessa comunidade, tanto que eu brinquei com o meu irmão e falei que agora mesmo que eu não me mudo daqui, porque agora é Patrimônio Cultural”, contou dona Mira, como é conhecida na comunidade.Uma das moradoras mais antigas do quilombo, Deusdeth Fonseca Lima, de 88 anos, conta que apesar das dificuldades da vida, o orgulho por ser negra prevalece, por ter uma história de superação.“A coisa boa é lembrar da minha infância, que embora pobre, fui muito feliz de ouvir meus pais contarem como se conheceram e chegaram aqui em Manaus, ambos são do Maranhão e filhos de escravos”, contou ao G1 a moradora.Deusdeth é conhecida por toda a comunidade. Ela é, carinhosamente, chamada de Tia Deca. “A Praça 14 é minha casa. Foi aqui que eu nasci, passei minha infância e adolescência e hoje passo minha terceira idade. Ser negra é um orgulho principalmente devido à história de geração em geração, que foi uma superação”, afirmou.Importância socialDe acordo com o filósofo Vinícius Alves, de 36 anos, que atualmente desenvolve uma pesquisa de mestrado sobre o quilombo, é preciso destacar a importância cultural que a comunidade possui para a história do Amazonas.“Na comunidade da Praça 14 de Janeiro em Manaus, residem descendentes de negros do Estado do Maranhão, que se encontram estabelecidos num território cuja forma de vida cabe ser abordada, seja na resistência da manutenção de suas terras, ou no processo de luta pelo reconhecimento social”, explicou o filósofo.Para ele, a história do quilombo existente em Manaus deve ser evidenciada.“No caso específico da Amazônia, convém desconstruir a teoria da invisibilidade dos negros na região. É urgente preencher uma lacuna histórica no Estado do Amazonas, evidenciando a existência das comunidades remanescentes de quilombo, como a do Barranco de São Benedito, em Manaus”, afirmou Alves.