' Entre a memória coletiva e a história “cola e tesoura”: as intrigas e os malogros nos relatos sobre a fábrica de ferro de São João de Ipanema. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em História. Área de Concentração: História Social Orientadora: Profa. Dra. Nanci Leonzo - 01/01/2012 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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Entre a memória coletiva e a história “cola e tesoura”: as intrigas e os malogros nos relatos sobre a fábrica de ferro de São João de Ipanema. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em História. Área de Concentração: História Social Orientadora: Profa. Dra. Nanci Leonzo
2012. Há 12 anos
soube aproveitar disputas internas entre essas facções e conseguiu controlar a região, rica emprata. Com o intuito de frear as intenções de conquistadores se autoproclamarem reisdesvinculados de Castela, realizou-se o controle jurídico da região por meio da criação doConselho das Índias em 1524. Com a ajuda de caciques locais, estabeleceu-se a exploração dotrabalho indígena nas minas de Potosí.95 Dada a importância que se dava a metais preciosos à época, pode-se inferir que haviaesperança e interesse na descoberta de metais preciosos na região da Capitania de São Vicente,pelo que ocorreu na América Espanhola. Porém, era necessário ter pessoas portadoras deconhecimentos mineralógicos. Considerando o número de habitantes na Capitania no século XVI,é relevante a quantidade de pessoas hábeis nesses ofícios, a começar pelos próprios jesuítas.Quando estes iniciaram suas atividades evangelizadoras, o ensino de atividades de ferreiro - naépoca inserida na categoria de ofícios mecânicos – foi uma das formas pelas quais se atraía aatenção dos indígenas. Taunay,96 a partir da documentação da São Paulo quinhentista, registrouque o irmão Diogo Jacome, e, em especial, o irmão Mateus Nogueira, transmitiram essas técnicasaos indígenas, que se encantaram com os objetos produzidos. No entanto, ordenou-se a proibiçãoimediata da transmissão desse conhecimento, porque poderiam abandonar suas armas simples,substituindo-as por armas de ferro, o que não era interessante em termos de defesa da vila.

Em 19 de junho de 1578 intimou-se o único ferreiro da vila de São Paulo, para que, sob pena de dez cruzados, abstivesse de ensinar o seu ofício de ferreiro aos indígenas, “porque seria grande prejuízo da terra”. Em 1583 ainda persistia essa preocupação. O procurador Gonçalo Madeira apresentou denúncia na sessão de 14 de setembro de 1583 de que Manuel Fernandes,homem branco, antigo morador de São Paulo, estava no sertão com uma forja com os gentios, devendo ser castigado. Porém, a denúncia era infundada, porque o martelo e a bigorna estavam na casas dele e os foles estavam com seu cunhado, Gaspar Fernandes.97 No mesmo sentido, em 16 de agosto de 1586 o procurador Francisco Sanches soube que Domingos Fernandes forjava no sertão. Os demais vereadores o teriam tranquilizado, alegando que “os Fernandes” eram os primeiros ferreiros de São Paulo e que este havia partido para a selva em companhia do governador Jerônimo Leitão, razão pela qual nada se poderia fazer. [Página 40]

Afonso Sardinha foi personagem central desse primeiro estágio de mineração. Na opiniãode Taunay,101 ele teria sido o homem mais rico de sua época. A partir da análise de seutestamento elaborado em 1592, ele importava lãs de Buenos Aires, por meio de seucorrespondente Antonio Rodrigues de Barros. Vendia índios para o Rio da Prata e, por meio de seu sobrinho Gregório Francisco, trazia escravos da Costa da Mina. Importava do Rio da Prata rendas, papel, medicamentos e facas fabricadas na Alemanha. Também emprestava dinheiro a pessoas de São Paulo, Santos, São Vicente e Rio de Janeiro e alugava imóveis em São Paulo.

Teria sido proprietário de uma fazenda chamada Ubatatã [Butantã], a qual corresponde atualmente ao Instituto Butantã, da USP. Foi vereador em São Paulo em 1572 e juiz ordinário em 1590. Em 1592, assumiu o comando das forças da vila ante o ataque dos indígenas, ocasião em que celebrou testamento antes de partir para a guerra. No ano seguinte, na companhia de seu sócio João do Prado, partiu em entrada na procura de ouro e planejou a escravização de índios junto com mais de cem índios cristianizados.102 Muito provavelmente seu filho homônimo, mameluco, realizou pesquisas mineralógicas em direção a oeste em companhia do ferreiro Clemente Álvares, que, em 1597, que, inclusive mandou buscar em São Paulo a sua tenda de ferreiro. Por esse trabalho, encontraram ouro no Pico do Jaraguá e diversos metais na região de Parnaíba [Santana de Parnaíba], onde se localiza a então chamada Voturuna103. Prosseguindo em direção oeste, encontraram o morro Biraçoiaba, onde hoje é o município de Araçoiaba da Serra, próximo a Sorocaba. Entre o Pico do Jaraguá e o morro Biraçoiaba pode-se imaginar uma linha reta, cujos pontos passam pelos municípios de Santana de Parnaíba e Araçariguama e pelo bairrode Pirapetingui.104

A documentação da Câmara de São Paulo registra também a fabricação de ferro na regiãosul da atual cidade de São Paulo. No entanto, os relatos divergem sobre o número de fábricasinstaladas: uma ou duas. Consta que em 1600 foi construído um engenho de ferro na região doIbirapuera, o qual teve como sócios D. Francisco de Sousa e Afonso Sardinha, cuja escritura desociedade foi lavrada pelo tabelião Simão Borges de Cerqueira. O segundo engenho estariasupostamente instalado às margens do Rio Jurubatuba (atual Rio Pinheiros), nas proximidades doatual bairro de Santo Amaro. Essa dúvida é pertinente porque em 15 de agosto de 1606 a Câmarade São Paulo sabia que Diogo de Quadros resolveu abandonar os dois engenhos que construiupara capturar índios.

Eschwege, ao iniciar o capítulo sobre a história antiga do ferro no Brasil,colocou a existência de:

“(...) uma pequena fábrica de ferro, com forno de refino, situada na freguesia de Santo Amaro, à beira de umpequeno ribeirão, afluente do Rio Pinheiros, que é navegável, a uma distância de 2 léguas SE de São Paulo. Nasruínas dessa pequena fábrica ainda se podem ver a vala da roda, o lugar da oficina, os restos de um açude, assimcomo um monte de pesada escória de ferro”.105

Calógeras, por sua vez, ao comentar essa passagem, disse que Eschwege havia dado um infundado parecer.106 Enquanto não há qualquer vestígio dos engenhos do Ibirapuera, até mesmo pela sua localização, cujo terreno sofreu fortes transformações urbanas, somado ao fato de que esses engenhos tiveram pequena duração.

Já ao lado do morro Biraçoiaba, onde se encontrou ferro, também se instalou umapequena fábrica de ferro ao final do século XVI, sobre cuja data divergem todos os autores.Nesse local, que até pouco tempo atrás era local isolado e de difícil acesso, Afonso Sardinha –tanto o pai como o filho - teriam construído dois fornos, cuja localização se desconhecia. Por issoque Mario Neme chegou a levantar a tese de que as ruínas de Afonso Sardinha seriam umagrande ilusão, uma lenda. Como já mencionado na introdução deste trabalho, na década de 1980,a professora Margarida Davina Andreatta encontrou os dois fornos construídos à época.Anicleide Zequini, com base nos estudos arqueológicos realizados por Margarida Davina105 ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Pluto Brasiliensis. v.. 2; trad de Domício de Figueiredo Murta. BeloHorizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1979, p. 201.106 CALÓGERAS, João Pandiá. As minas do Brasil e sua legislação. v. 2. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1905,p. 8. [Página 43]

Andreatta, concluiu que eram fornos biscainhos.107 Esses fornos tornaram-se famosos, porque sãoconsiderados como os verdadeiros precursores da siderurgia brasileira, ou ainda, a primeirafábrica de ferro do Brasil, por terem sido construídos em 1599 e a documentação da Câmara deSão Paulo registrar a escritura de compra e venda dos fornos do Ibirapuera como ocorrida em1600, isto é, após os fornos de Biraçoiaba. Dom Francisco de Sousa foi duas vezes Governador-Geral do Brasil. Enquanto esteve nacorte de D. Felipe II, teve contato com Gabriel Soares de Sousa, que foi senhor de engenho naBahia e que acreditava na lenda do Sol e da Terra, mencionada pelos tupiniquins junto ao RioSão Francisco. Conseguiu autorização para voltar ao Brasil e realizar expedições pelo sertão.

Enquanto isso, enviara Diogo Gonçalves Laço para ser Administrador das Minas e Capitão daVila de São Paulo. Com D. Francisco de Sousa vieram os mineiros Gaspar Gomes Moalho eMiguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues. Estes foram enviados a São Paulocom ordens para receber todo o dinheiro necessário do almoxarifado de Santos para a atividade mineira. Em 1599, D. Francisco de Sousa teria vindo a São Paulo, indo diretamente às minas de ferro de Biraçoiaba. Também ordenou que uma expedição fosse em direção ao Peru atrás de ouro, mas nada teria sido encontrado. Retornou à metrópole, mas voltou ao Brasil como Marquês das Minas. Todavia, nada se encontrou por aqui, a não ser a mina de Biraçoiaba.108 Afonso Sardinha,com a vinda de D. Francisco de Sousa, teria doado um dos engenhos construídos ao rei, para queeste último o administrasse em seu nome. Também nessa mesma época ergueu-se pelourinho naregião, o qual, posteriormente, deu origem à vila de Sorocaba.109

Ademais, Geraldo Beting chegou a São Paulo em 1609, trazido do reino por D. Franciscode Sousa para a construção de engenhos de ferro na Capitania. Cornélio de Arzão nasceu emFlandres e veio em 1609 com D. Francisco de Sousa para a construção de engenhos de ferro naCapitania. Ele teria introduzido em 1613 o plantio de trigo em São Paulo com um moinho noAnhangabaú e em 1610 teria erguido a matriz de São Paulo. Em 1628, foi perseguido pelaInquisição, por ser protestante, permanecendo preso por dois anos e seus bens confiscados.107 ZEQUINI, Anicleide. Arqueologia de uma fábrica de ferro: morro de Araçoiaba, séculos XVI-XVIII. 2006.Tese (Doutorado em Arqueologia). Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. São Paulo.108 FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil. Século XVI,XVII, XVIII. Belo Horizonte: Itaiaia; São Paulo: Editora da USP, 1989. p. 44-71-399-402.109 BACELAR, Carlos de Almeida Prado. Viver e Sobreviver em uma Vila Colonial. Sorocaba, Séculos XVIII eXIX. São Paulo: Annablume, FAPESP, 2001, p.21. [Página 44]

Taques, ficou na guarda de José Arouche de Toledo Rendon. Com o falecimento deste, sua filhaentregou os manuscritos ao Visconde de São Leopoldo, que os publicou pelo IHGB.498 Outro texto importante elaborado por Pedro Taques – ao lado da História da Capitania deSão Vicente desde a sua fundação por Martim Afonso de Souza em 1531 e a Expulsão dosJesuítas do Collegio de São Paulo - foi a “Informações das minas de São Paulo e dos sertões dasua capitania desde o ano de 1597 até o presente de 1772, com relação cronológica dosadministradores delas”, cuja primeira publicação ocorreu em 1902 pelo IHGB, também editadapela Editora Melhoramentos. Essas duas edições apresentam no início uma carta de AntonioJansen do Paço, chefe da seção de manuscritos da Biblioteca Nacional, endereçada ao BarãoHomem de Mello, em que se explicou a existência, à época, de dois documentos. O primeirodeles estava no IHGB e o segundo, na Biblioteca Nacional. Informou-se que, após análise deambos os textos, o manuscrito da Biblioteca Nacional seria o original limpo ou definitivo,enquanto o do IHGB seria cópia passada a limpo, porém assinada por Pedro Taques em 13 deoutubro de 1772, a qual foi oferecida ao Morgado de Mateus. Ao texto publicado na Revista doIHGB, Taunay já alertou para problemas de transcrição do original por acreditar que a revisãodeste foi bem descuidada. Por isso, a terceira edição foi feita por Taunay em 1953 pela LivrariaMartins499 e republicada em 1980 pela Editora Itatiaia em parceria com a Editora da USP, foielaborada a partir de um terceiro manuscrito pertencente à Brasiliana, de Felix Pacheco, cujaredação seria mais confiável do que as anteriormente feitas. Com efeito, essa terceira edição trazvários trechos não existentes nas anteriores. Ademais, as edições antigas grafam “Informaçõessobre as minas...”, enquanto as mais recentes grafam “Notícias das Minas...”. Pedro Taques descreveu as atividades em Biraçoiaba ao tratar de Afonso Sardinha naNobiliarquia Paulistana. Por ser curto e fundamental, opta-se pela sua transcrição integral:500“E sua mulher D. Maria da silva foi filha de Pedro da Silva, e de sua mulher Luzia Sardinha, a qual foi filha do afamado paulista Affonso Sardinha, primeiro descobridor das minas de ouro em todo o Estado do Brasil em S. Paulo nas serras de Iaguamibaba, que agora se chama Mantaguyra; na de Jaraguá, termo de S. Paulo; na de Vuturuna, termo da vila de Parnahyba; e na de Hybiraçoyaba, termo de Sorocaba.

Este Affonso Sardinha, terceiro avô de Fernando Dias Falcão, fez muitos serviços á sua custa á real coroa, não só com os descobrimentos das minas de ouro já no anno de 1590, mas também quando foi capitão da gente de S. Paulo para reger e governar, de que teve patente datada de 29 de abril de 1592 por Jorge Correa, moço da câmara, capitão-mor governador e ouvidor da capitania de S. Vicente e S. Paulo em qual se vê os muitos e grandes serviços que havia feito a Sua Magestade (câmara de S. Paulo liv. de registro tit. 1583 pag. 26v). Este Affonso Sardinha fez fabricar dois engenhos de ferro em que se fundia excelentemente ferro, e com muita abundância, dos quaes ainda no presente tempo existe no serro de Hybiraçoiaba uma muito grande fábrica (falleceu no tempo do morgado de Matheus, e continuou por pouco tempo).

Em 1606 eraprovedor e administrador d’estas minas Diogo de Quadros por ordem régia, como se vê na câmara de S. Paulo nocaderno de vereações tit. 1606 pag. 18. N’esta mesma serra de minas de ferro descobriu Affonso Sardinha as de ouroe prata; de sorte que, tendo d’isto inteira informação D. Francisco de Sousa, governador e capitão-general do Estadodo Brasil, passou em 1599 da cidade da Bahia por ordem régia para a villa de S. Paulo, onde constituiu capitão aDiogo Gonçalves Laço em julho de 1601; e n’esta provisão se declara que o descobridor fora Affonso Sardinha (câmara de S. Paulo tit. 1600 pag 36).

Porém muito tempo antes havia o mesmo general provido ao dito Laço em capitão das minas de ouro e prata com 500 cruzados de soldo por provisão do 1º de outubro de 1599, como se vê na dita câmara, e dito caderno tit. 1598 pag. 46. e já em 1602 era fallecido o dito capitão Laço, e os 200$ do seu ordenado conferiu o mesmo D. Francisco de Sousa ao neto do dito Laço, que também se chamava Diogo Gonçalves Laço, por provisão datada em S. Paulo a 8 de maio de 1602 (Câmara caderno tit. 1600 pag 44).

Affonso Sardinha contentou-se com a gloria do real serviço, fazendo os descobrimentos dos três metaes, ouro, prata e ferro, tudo á sua custa. Até os engenhos para se fundir o ferro entregou a Sua Magestade. Porém correndo os annos houveram mais engenhos; porque os de el-rei administrava Diogo de Quadros como provedor. E em 1609 ainda existia o dito Quadros com esta administração, como se vê na câmara de S. Paulo no caderno de vereações do anno de 1607 pag 23 e 23 1. d’onde consta que os ditos engenhos foram de Affonso Sardinha, que os dera a Sua Magestade por lhe fazer este serviço etc. em 1629 falleceu em S. Paulo Francisco Lopes Pinto, cavalleiro fidalgo da casa real, professo na ordem de Christo; e no seu testamento declarou que era senhor de um engenho de ferro, cuja metade vendera por preço de três mil cruzados a D. Antonio de Sousa, filho de D. Francisco de Sousa, governador e capitão-general que fora do Estado do Brasil. Porém ao presente tempo não existe mais certeza, que a do sítio onde as pedras de ferro são em grande abundância. E por falta de quem anime o corpo da pobre capitania de S. Paulo (que foi a que deu tantasminas de ouro, e pedras preciosas á real coroa pelos seus nacionaes paulistas, que ainda continuam nos mesmos descobrimentos ao presente) estão muitos haveres debaixo da terra, podendo existir patentes par augmento do real erário, etc”. [Entre a memória coletiva e a história “cola e tesoura”: as intrigas e os malogros nos relatos sobre a fábrica de ferro de São João de Ipanema, 2012. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em História. Área de Concentração: História Social Orientadora: Profa. Dra. Nanci Leonzo. Páginas 113 e 114]

No início do texto,501 abordou o descobrimento do Brasil, as fundações de São Vicente ede Salvador, a procura por esmeraldas e sua descoberta por Fernão Dias Paes, para,repentinamente, registrar que Ribeiro Dias, da Bahia, tinha ido a Madri oferecer ao Rei D. FelipeI de Portugal mais prata no Brasil do que Bilbao dava ferro em Biscaia. Teria voltado ao Brasilcom o cargo de Administrador das Minas e Provedor da Fazenda Real. Com ele, teria vindo D.Francisco de Sousa, com o título de Marquês das Minas, se as descobertas se concretizassem.Porém, Ribeiro Dias teria tentado desviar D. Francisco de Sousa para localidade diversa, masesse acabou morrendo, mantendo-as ocultas até de seus herdeiros.502Mencionou a descoberta de Afonso Sardinha na região de São Paulo em 1597, entre eles,no morro Biraçoiaba.503 Continuou dizendo que, comunicados esses descobrimentos a D.Francisco de Sousa, teriam sido mobilizadas muitas pessoas para o trabalho na região.Inicialmente D. Francisco de Sousa teria enviado Diogo Gonçalves Laço, com cem mil reis deordenado por ano, para exercer o cargo de Administrador das Minas. Para mineiros, GasparGomes Mualha e Miguel Pinheiro Zurara, com ordenado de duzentos mil réis anuais para cadaqual, e o fundidor Domingos Rois [Rodrigues], com autorização para solicitar dinheiro doalmoxarifado da Fazenda Real da vila de Santos. Esses valores não teriam sido pagos, segundoPedro Taques.

Da Capitania do Espírito Santo, D. Francisco de Sousa teria enviado duzentos índios paratrabalhar nas minas, os quais teriam sido transportados de navio pelo Capitão Diogo AriasD’Aguirre, por conta da Fazenda Real [Nesse trecho, Taques usou o livro do Arquivo da Câmara de São Paulo de 1598 o livro de Registro de Cartas da Provedoria de 1597].

Essas pessoas teriam chegado a São Paulo em 1599, trazendo consigo uma Companhia de Soldados Infantes do Presídio da Bahia, sob o comando de Diogo Lopes de Castro e seus oficiais. Com eles, teriam vindo o mineiro alemão Jacques D’Oalte e o engenheiro alemão Geraldo Betink, ambos com ordenado de duzentos mil réis por ano e o cirurgião José Serrão, com ordenado de duzentos mil réis. Em 23 de maio de 1599, D. Franciscode Sousa teria se dirigido à região de Biraçoiaba, mas antes teria tomado providências para resguardar a capitania dos ataques de piratas e solicitara do Provedor da Fazenda, Pedro Cubas, o envio de carne, pescado, azeite e farinha. Em 2 de agosto de 1599, D. Francisco de Sousa teria ordenado ao Provedor da Fazenda, Braz Cubas, para que cobrassem duzentos mil réis de João e Nicolau Guimarães, ambos fiadores dos flamengos, para a cobertura de despesas incorridas na região.

Em 27 de novembro de 1599 teriam sido remetidos seis contos, cento vinte e nove mil, seiscentos e setenta e oito réis. Após ter examinado as minas, teria ordenado a construção de pelourinho e teria retornado para São Paulo em 11 de fevereiro de 1601 com “muita gente para minerar as terras”. Em São Paulo, teria expedido bando, ordenando o pagamento do quinto dos metais extraídos e sua fundição em barras. Também teria enviado ao sertão a tropa de André Leão, atrás de minas de prata.

Segundo Pedro Taques de Almeida Pais Leme (1714-1777), D. Francisco de Sousa fora substituído em 1602 por Diogo Botelho e teria retornado à Europa no navio dos alemães Erasmo Esquert e Julião Vionat, que tinham construído o engenho de São Jorge da Vila de São Vicente, primeiro engenho de açúcar do Brasil. Em Madri, teria comunicado ao Rei no fim do ano de 1602 o estado das Minas e teria conseguido ser eleito Governador e Administrador das Capitanias de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. D. Francisco de Sousa não teria regressado ao Brasil antes de 1609, já que o Rei havia oferecido o pagamento de passagem e mantimentos durante a viagem a quem viesse com D. Francisco ao Brasil, assim como são de 1609 os Alvarás e Provisões Régias que lhe foram dadas.

Destacou duas vezes a construção do Engenho de Ferro de Nossa Senhora D’Assunção,no sítio de Ebirapocera [Ibirapuera], da outra banda do Rio Jeribatiba [atualmente Rio Pinheiros]. Ter-se-ia constituído sociedade entre Francisco Lopes Pinto Cavalheiro, Fidalgo da Casa Real e professo da Ordem de Cristo e seu cunhado Diogo de Quadros, que em 1606 teria sido provedor e administrador das minas. Este engenho teria funcionado até a morte de Francisco Lopes Pinto em 26 de fevereiro de 1629. Antes, em 11 de agosto de 1609, ter-se-ia vendido metade do Engenho a D. Antonio de Sousa, filho de D. Francisco pelo preço de três mil cruzados.506

Pedro Taques informou que os vereadores de São Paulo, quando da aclamação de D. JoãoIV, solicitaram ao rei pessoalmente, por meio de Luiz da Costa Cabral e Belchior da Borba Gato,o envio de um fidalgo para administrar e mineiros experientes à região, já que acreditavam ter naCapitania outra Potosi. Salvador Correia de Sá teria continuado na busca por metais, mas sem 501 LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. (1714-1777) Notícias das Minas de São Paulo e dos Sertões da mesmaCapitania. Introdução e notas de Afonso de E. Taunay. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidadede São Paulo, 1980.
502 Citou História da América Portuguesa, de Rocha Pitta.503 Taques citou o “Arquivo da Câmara de São Paulo. Quadro de Ref. tto. 1600, p. 36v.504 Nesse trecho, Taques usou o livro do Arquivo da Câmara de São Paulo de 1598 o livro de Registro de Cartas daProvedoria de 1597. [Páginas 115 e 116]

Segundo Wilhelm Ludwig von Eschwege (1777-1855): Em 1602, voltando o governador para Portugal deixou a fundição a seu filho D. Antonio de Sousa a quem propriamente Sardinha fizera o presente. Deste recebeu-a Francisco Lopes Pinto, fidalgo e cavaleiro, da Ordem de Cristo. Morrendo este a 26 de fevereiro de 1629, todos os serviços foram paralisados embora o seu sogro, Diogo de Quadros, também fosse um dos proprietários da fábrica. Os citados documentos antigos dizem que Afonso Sardinha, após ter dado depresente essa fábrica, construiu uma nova, que trabalhou, então, por conta do Rei”. [*Entre a memória coletiva e a história “cola e tesoura”: as intrigas e os malogros nos relatos sobre a fábrica de ferro de São João de Ipanema, 2012. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em História. Área de Concentração: História Social Orientadora: Profa. Dra. Nanci Leonzo. Página 203]

Factos anteriores a fundação da nova Fabrica Principiarei este período transcrevendo, o que se lê nas Notícias Genealógicas de Pedro Taques: “Affonso Sardinha começou em 1590 uma Fábrica de Ferro de dois engenhos para a fundição do ferro, e aço em Biraçoiaba, que laborou até o tempo, que o dito Sardinha doou um destes engenhos ao Fidalgo D. Francisco de Sousa, quando em pessoa passou o Biraçoiaba no anno de 1600, e, como era Governadord Estado, alli fundou pelourinho, que muitos annos depois passou para a Villa de N. Senhora da Ponte deSorocaba: e recolhendo-se ao Reyno em 1602, em quechegou à Bahia o seu successor Diogo Botelhodespachado por Filippe III, Rey de Castella, ficou odito engenho a seu filho D. Antonio de Sousa, a quemSardinha tinha feito a graciosa dádiva, e deste passou aFrancisco Lopes Pinto, Cavalleiro Fidalgo e Professona Ordem de Christo, por morte do qual (em S. Paulo a26 de fevereiro de 1629) se extinguio o dito engenho, ecessou a fundição de ferro de Biraçoiaba, em que como dito Pinto era interessado seu cunhado Diogo deQuadros, e tudo consta do testamento do ditoFrancisco Lopes (cartório dos Órfãos de S. Paulo,maço de inventários de. F. n°. 24). Foi o dito Paulista,Affonso Sardinha, de muitos merecimentos pelo ardor,que teve no Real serviço; porque tendo dado o seuengenhou de fundir ferro a D. Francisco de Sousa, fezconstruir outro á sua custa para nelle laborar afundição por conta do Rey, a quem fez esta doação. [Página 204]

dos relatos acima parafraseados. A finalidade dos mesmos está em investigar as causas domalogro da siderurgia brasileira até a década de 1970. O principal desses relatos é o de João Pandiá Calógeras.618 Sua obra “As minas do Brasile sua legislação” é o resultado de um relatório que elaborou para a Comissão Especial das Minas,da Câmara dos Deputados e que o tornou famoso nacioalmente. Inicialmente publicada em 1905,foi republicada em 1938. Tratou de diversos metais, entre eles o ferro.619 Essa parte, no entanto,foi publicada em 1904 no volume IX da Revista do IHGSP. Ao contrário de Leandro Dupré,Calógeras indicou as fontes que usou para a elaboração de seu relatório.Para esse autor, o atraso na siderurgia brasileira deveu-se ao sistema de colonizaçãoadotado por Portugal e implantado no Brasil, razão pela qual esse assunto não poderia serestudado como fenômeno avulso, sob pena de tornar-se incompreensível a não-exploração dasjazidas de ferro até aquela época. Com base em Pedro Taques,620 ele apontou que Anchieta teriaencontrado ferro em São Paulo em 1554. Usando a obra Pluto Brasiliensis, de Eschwege,recordou que este afirmara que a primeira atividade de exploração do ferro foi realizada em SantoAmaro, à margem do Rio Pinheiros, por Afonso Sardinha, que morava em um sítio chamadoUbatá. Apoiando-se em Pedro Taques e Marcelino Pereira Cleto, sustentou que essa informaçãoestava errada, porque este teria se enganado quanto à fábrica, pois a que ele viu ficava no RioJurubatuba, enquanto a de Afonso Sardinha ficava no sitio Borapoeira, do outro lado desse rio.Apontou certa inconsistência da biografia de Sardinha, pois teria sido vereador com 25 anos eelaborado testamento em 1610, com oitenta anos. Além disso, seria estranho Afonso Sardinha terconstruído a fábrica, pois a escritura de 26 de fevereiro de 1609 em notas do tabelião SimãoBorges de Cerqueira, registrou o contrato de sociedade entre D. Francisco, o provedor da fazendaDiogo de Quadros e o cunhado deste, Francisco Lopes Pinto.618 Nascido no Rio de Janeiro em 1870, formou-se em 1890 pela Escola de Minas de Ouro Preto. Foi deputadofederal em duas oportunidades. Em 1914, foi Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio. No ano seguinte, foiMinistro da Fazenda. Foi chefe da Delegação Brasileira na Conferência da Paz de Versalhes. Foi Ministro da Guerrae sob sua gestão enfrentou o levante tenentista de 1922, por ele ter decretado a prisão do Marechal Hermes daFonseca e o fechamento do Clube Militar. Apoiou Getúlio Vargas na campanha de 1930. Trabalhou para o governonos primeiros anos da Era Vargas e elegeu-se novamente deputado em 1934. Faleceu em Petrópolis em 1938.Biografia de Pandiá Calógeras. Disponível em:< http://cpdfias/pandia_calogeras >. Acesso em: 20.jun.2012619 CALÓGERAS, João Pandiá. As minas do Brasil e sua legislação. Vol. 2. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,620 Citou a “História da Capitania de S. Vicente”, publicada na Revista do IHGB de 1847. 162Calógeras destacou o fato de que corriam

Entre a memória coletiva e a história “cola e tesoura”: as intrigas e os malogros nos relatos sobre a fábrica de ferro de São João de Ipanema
Data: 01/01/2012 2012
Créditos / Fonte: Eduardo Tomasevicius Filho
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Entre a memória coletiva e a história “cola e tesoura”: as intrigas e os malogros nos relatos sobre a fábrica de ferro de São João de Ipanema
Data: 01/01/2012 2012
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Entre a memória coletiva e a história “cola e tesoura”: as intrigas e os malogros nos relatos sobre a fábrica de ferro de São João de Ipanema
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Tese de mestrado de Eduardo Tomasevicious Filho
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