Referências e teorias sobre o nome Itapocu. Correio do Povo, de Jaraguá do Sul. José Alberto Barbosa
14 de julho de 1989, sexta-feira. Há 35 anos
O rio Itapocú, além da importância histórica, oferece um problema toponímico e geográfico.
O rio Itapocu assume grande importância histórica, particularmente para catarinenses e paranaenses. Já nos tempos pré-colombianos, era importante ramal do afamado e perlustrado caminho nativo do Peabiru. Com a vinda dos povos brancos, lusos e espanhóis, o Itapocu tornou-se logo uma das preferidas todas de acesso por terra do nosso litoral a Assunção do Paraguai e vice-versa. Pelo Itapocu entraram e saíram aventureiros, bandeirantes, viajantes, colonos, padres, nativos. A empreitada mais afamada, foi a expedição, em 1541, do Adelantado espanhol D. Álvares Nuñez Cabeza ded Vaca e sua enorme comitiva, logo após haver, em nome da Espanha, tomado posse da Ilha de Santa Catarina.
Entrementes, enquanto por aqui a frota esteve, seu piloto-mor João Sanches, natural de Biscaia, registrou para o rio o nome Itapocú (que Cabeza de Vaca anotou Itabucu). Deixou-nos a respeito afamada Carta-descrição relatanto tal visita. E Sanches traduziu o nome por Pedra Alta. A tradução todavia, é incompatível com o rio.
De qualquer forma o registro de João Sanches para o nome Itapucu e o de Cabeza de Vaca para a forma Itabucu (nasalização daquela) tem especial importância face a sua antiguidade, pois estiveram na foz do Itapocu em 1541, quatro décadas apenas a contar da descoberta do Brasil. E é notável que, mesmo com algumas variações registradas, o nome se manteve através dos séculos. [p. 9]
Ytapucu também serve para a designação daquela mesma língua de pedra que o rio rompeu, pois compreende também a tradução por rocha comprida, rocha alongada. [p. 10]
(Itapocu) Lembrando também a cachoeira, diga signficar "itá", pedra, poc. estalar e ú, grande ou seja pedra (onde a água) estrondeia grandemente. [p. 11]
Ainda outra construção: "Ytá" (pedra rocha) mais "poca" (fender, rachar: fendida, rachada; estrondo, barulho) mais "ro" (ruir, cair, de "roara") mais "y" (rio, água), portanto, rio que faz ruir a rocha, fendida, rio que faz ruir rachando a pedra.
Pode haver correlacionamento com "Itapicuru". Deve provir de "Itapecuru", no qual "itape" é forma apócope de "itapeba" (pedra plana, pedra chata).
Muito já se escreveu sobre o Peabiru. Dele diz, por exemplo, Romário Martins (1874-1948):
"Chamavam os nativos Peabiru a um caminho pré-colombiano que se estendia por mais de 200 léguas, da costa de São Vicente ao rio Paraná, atravessando os rios Tibagi, Ivaí e Piquiri, por onde os povos nativos se comunicavam com o mar e com as regiões mais distantes do ocidente. Ao poente do Paraná o caminho prosseguia, atingindo o Perú e a costa do Pacífico."
Em seguida, arrola numerosas pessoas e expedições que se utilizaram do caminho do Peabiru, indo por ele em várias direções: Cabeza de Vaca e comitiva (1541); Joahnn Ferdinando, de Assunção para Santa Catarina (1549); os campanheiros de Hans Staden em toda para Assunção (1551); Ulrich Schmidel (em 1553) do Paraguai para São Vicente; o Pe. Leonardo Nunes; os irmãos Pedro Correia e João de Souza, Mártires pacificadores dos carijós; Juan de Salazar Espinosa, Cipirano de Góés e Ruy Diaz Melgarejo (1556) com algumas senhoras e soldados; Diogo Nunes viajando para Paraguai e Peru; Braz Cubas e Luiz Martins (1562).
E diz: "tudo isso antes, e depois de haver Tomé de Souza em 1552, mandado obstruir o caminho que da costa de Santa Catarina ia ter ao rio da Prata (Assunção) e que era um dos ramos da linha tronco de Peabirú". Esse roteiro fechado inutilmente por Tomé de Souza é o da subida ao planalto a partir do Itapocu. Antigo caminho nativo. [Página 15]