' “Viagem à provincia de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, provincia Cisplatina e missões do Paraguai”. Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853) - 01/01/1940 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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“Viagem à provincia de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, provincia Cisplatina e missões do Paraguai”. Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853)
1940. Há 84 anos
Gaspar da Madre de Deus reconhece que a narrativa de Charlevoix sobre as incursões paulistas no Paraguai é exata, muito mais exata do que certos relatos portugueses. [Viagem a provincia de São Paulo e resumo das viagens ao Brasil, Provincia Cisplatina e Missões do ParaguaiAcervo/fonte: Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853)Data: 1940Brasil/Brasil em 1940Página 40]

A capitania de São Paulo perdeu, assim, uma grande parte de seuterritório; mas novas descobertas recompensaram-na dessa perda, imediatamente, e com apreciáveis vantagens. Desde o tempo em que os paulistas tinham começado a percorrer os desertos, alguns dos seus bandos, passando de um rio para outro, atravessando infinidade de ca- tadupas, passando por pantanais insalubres, guerreando constantementehordas de selvagens, alcançaram o rio Paraguai e as vastas regiões regadas pelos seus afluentes.

No ano de 1718, António Pires de Campos, o mais terrível dos exterminadores de indígenas, subiu o rio Cuiabá, para conquistar a valorosa tribu dos curhipós. Estava êle por demais preocupado com a apreensão de escravos, para se interessar por qualqueroutra cousa.

A honra de descobrir os tesouros dessas terras que percorria estava reservada a Pascoal Moreira Cabral, outro destemido desbravador dos desertos, que seguia em suas pegadas. Pascoal, subindo o rio Cuxipomirim, viu grãos de ouro brilhar em meio das areias das margens desse rio. Deixando uma parte de seus companheiros no lugaronde fizera esse descobrimento e, considerando-o como o prelúdio deoutras descobertas, prosseguiu sua marcha. Não se enganara. Poucodepois, com efeito, encontrou alguns indígenas que traziam palhetas deouro como ornamento. Fez pesquisas e, dentro em pouco tempo, con- seguiu juntar considerável quantidade desse metal. Voltou, então, aolugar onde deixara seus companheiros, os quais não foram tão felizes,embora estivessem todos contentes. Esses homens, cercados de imensasriquezas, tomaram a resolução de só deixar a região, depois que a mes- ma estivesse esgotada. Construíram, então, cabanas nas margens dosrios e semearam o resto de grãos de cereais que ainda possuíam. Nãotinham transportado ferramentas — serviam-se das mãos para cavar aterra. A ambição deu-lhes força e coragem.

Um outro bando, que percorria também os desertos, foi levado, poracaso, ao local em que acampara o primeiro. Era constituído tambémpor paulistas, que se reuniram a Pascoal e seus companheiros, perfazendo, juntos, um grupo de vinte e duas pessoas. Depois de reunidos,resolveram enviar um emissário a São Paulo, para avisar o governadordo que ocorria e receber ordens. A título provisório, elegeram.

Pascoal por chefe, concedendo-lhe autoridade quasi absoluta e prometendo-lhe inteira obediência. Pascoal era inteiramente analfabeto, mas não era homem vulgar; aliava a um grande valor grande prudência, muita ati- vidade, inteligência notável e, o que era raro entre os paulistas desse tempo, possuía um coração compassivo. Tinha a habilidade de derimir os dissídios que surgiam a miúde entre seus companheiros. Com esses predicados, soube fazer-se querido dos mesmos guiando-os com grande prudência, desde o ano de 1719 até o de 1723, época em que foi substituído por dois magistrados enviados por D. Rodrigo César de Menezes, governador de São Paulo. [“Viagem à provincia de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, provincia Cisplatina e missões do Paraguai”. Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853). Páginas 52 e 53]

No dia 9 de dezembro de 1819, parti de São Paulo em demanda do Rio Grande do Sul, e comecei por visitar Itú, Porto Feliz e Sorocaba, cidades muito próximas umas das outras e pouco afastadas da capital da província. Foi para Itú que me dirigi em primeiro lugar. Existe, informaram-me, um caminho muito melhor do que o por mim percorrido, caminho frequentado quase que unicamente pelos tropeiros e de gado vacum; mas meu amigo João Roberto de Carvalho, que me fornecera um pequeno itinerário, tinha-me indicado a rota mais próxima de sua casa de campo [Página 213]

Encontrei, durante o dia, um grande número de muares que, carregados de açúcar, iam de Itú para Santos; encontrei também um enorme rabanho de bois conduzidos da cidade de Curitiba para a capital do país. Isso serve para demonstrar que não me encontrava numa região deserta; entretanto afora a vila de Pinheiros, não ví senão um pequeno número de casas, e não encontrei plantação.

Foi a cerca de de 1/4 de légua da casa de Joaquim Roberto que passei pela vila a que acabo de me referir, antiga aldeia formada outrora por certo número de nativos de nação guaianaz. As casas dessa vila são esparsas e construídas inteiramente como as dos luso-brasileiros; mas, todas são muito pequenas e em mau estado de conservação, algumas foram até completamente abandonadas. A igreja é muito bonita na parte exterior, mas também é muito pequena.

Não é lícito acreditar que ainda até presentemente os habitantes da aldeia de Pinheiros sejam todos indivíduos de raça americana perfeitamente pura, porquanto essa aldeia existe a muitíssimo anos. Muito próxima de São Paulo, seus habitantes mantem relações frequentes com os brancos e, sobretudo, com os mulatos e negros; assim, a maior parte das pessoas que vi, quer à porta das casas, quer na estrada, acusava evidentes traços do seu sangue mesclado.

É sabido que, quando Anchieta lançou os primeiros fundamentos de São Paulo, vários chefes nativos guaianazes, atraídos pelas virtudes desse homem venerável, reuniram-se com suas tribos, à escassa população da vila em formação. Esses nativos, entretanto, viam os portugueses, cada vez mais numerosos, apossarem-se de suas terras, razão pela qual abandonaram São Paulo, onde permaneciam desde dilatado número de anos, indo fixar-se (1560) nas duas aldeias que formaram, uma sob a invocação de Nossa Senhora dos Pinheiros, a outra, sob a proteção do arcanjo São Miguel. Alguns anos mais tardeo delegado de Lopo de Sousa, donatário da capitania de São Vicente, concedeu aos habitantes de Pinheiros 6 léguas quadradas de terras, na região de Carapicuiva, e outro tanto, na região do Uruguai, aos de São Miguel (403).

Gaspar da Madre de Deus, Mem S. Vicente Eis que de maneira se expressa o autor a quém devemos preciosas informações sobre os nativos de Queluz, de Itapeva e de Grapuava:

"Quando da invasão dos conquistadores, os guaianazes não puderam acompanhar as tribos de sua nação que procuraram, em meio das florestas, um refúgio contra a escravidão e a morte. Os que permaneceram na região, fatigados por trinta anos de uma vida nômade e pelos longos sofrimentos que padeceram, cederam, afinal, ante a força das circunstâncias; déram a entender que queriam a paz e que submeter-se-iam completamente ao serviço dos brancos, sob a condição, porém, de que viveriam em comum entre si, mas separados daqueles... Foram atendidos. Sabemos, por tradição, que a aldeia dos Pinheiros... foi fundada em 1560."

(...) Mas, na realidade, não poderia ser assim, pois que Pêro Lopes de Sousa desapareceu durante uma viagem que empreendeu em 1539, sem que houvesse qualquer notícia, desde então, a seu respeito (Gasp, da Madre de Deus, Mem., 162), e que a concessão ocorreu em 1580.[Páginas 215 e 216]

Não querendo deixar Itu sem ver o salto à qual a cidade deve o nome, pus-me a caminho para visitá-lo, acompanhado do meu arrieiro José Mariano. Num círculo de cerca de uma légua até a margem do Tietê, que atravessa a estrada de Itú a Campinas, percorri uma região coberta de matas virgens antigamente, mas onde hoje só se vêem capoeiras. Vi no campo alguns engenhos de açúcar. Chegando ao Tietê, encontra-se uma ponte estreita, muito mal conservada e desprovida de parapeito.

A referida ponte é seccionada por uma linha em duas partes desiguais; a parte mais vizinha da margem direita do rio tem cerca de 48 passos de extensão, a ilha tem 47 e a outra parte da ponte, 120. Nesse local o rio, divide-se, formando várias ilhas eriçadas, como o seu próprio leito, de rochas de pedras negras, que parecem sobrepostas com regularidades, formando uma espécie de muro de apoio.

Maciços de árvores e de arbustos, de um efeito pitoresco, cobrem as ilhas e tufos de orquídeas, que crescem sobre as pedras, formam soberbos ramos de flores purpurinas. Em cada extremidade da ponte existe uma venda, tendo ao lado um pequeno rancho, e um pouco mais abaixo, à direita do rio, vê-se a capela de Nossa Senhora da Ponte, com a casa do vigário. Todo esse conjunto forma uma lindíssima paisagem. [“Viagem à província de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, província Cisplatina e missões do Paraguai”. Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853). Páginas 236 e 237]

Em Itu, tinha-se grande confiança na imagem de Nossa Senhora da Ponte; no tempo das secas, era a mesma carregada em procissão e transportada para a igreja paroquial da cidade, onde permanecia em exposição até que chovesse. Quando de minha visita, essa imagem alí se encontrava, porque havia grande necessidade de água, e todas as vezes tardes a multidão lhe dirigia preces. Era o segundo ano que a seca se fazia sentir. [“Viagem à provincia de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, provincia Cisplatina e missões do Paraguai”. Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853). Página 238]

Parti de Porto Feliz dirigindo-me à cidade de Sorocaba, distante apenas cinco léguas e meia, empregando nessa viagem dois dias. Durante cerca de um quarto de légua acompanhou-me o capitão-mór de Porto Feliz, o qual me cumulara de gentilezas e me forçara a fazer uma refeição em sua companhia. Era um bom homem de campo, franco, alegre, um pouco orgulhoso de sua dignidade de capitão-mór, na qual fora recentemente investido, e que me pareceu desejar que eu comunicasse ao capitão-general a boa acolhida a mim feita. A região que percorri no primeiro dia de viagem, numa extensão de quatro léguas, é antes ondulada do que montanhosa. Percorri, a princípio, três léguas por dentro de matas não muito vigorosas, e durante a última légua atravessei campos, além dos quais existem ainda matas. Existem alguns sítios esparsos pelos campos. Às seis horas da manhã, o termômetro de Réamur marcava 14°. Durante o dia foi insuportável o calor. Nenhuma planta encontrei em estado de florescência nas matas; só encontrei, nesse estado, três ou quatro nos campos. Fiz alto na localidade denominada Guarda de Sorocaba, onde existia uma pequena casa com uma varanda, e onde eram pagos os impostos devidos, como direi mais adiante, sobre os muares precedentes do sul. Um diminuto número desses animais passava por esse caminho, pelo que a guarda compunha-se apenas de dois soldados da milícia (guarda nacional), os quais eram substituídos de seis em seis meses e recebiam dez patacas (20 francos) como pagamento. [Páginas 247 e 248]

Sorocaba empresta à paisagem uma perspectiva encantadora; mas a cidade é de má aparência, em seu conjunto.As ruas não são calçadas, e, como são em declive, as chuvas cavaram nas mesmas, de todos os lados, profundos buracos. As casas são, de ordinário, pequenas, e poucas há que não constem apenas do andar térreo; são cobertas de telhas, construídas com terra socada (taipa), e todas possuem um quintal plantado de bananeiras e laranjeiras. Existem na cidade duas praças públicas — uma muito extensa e muito irregular, situada na parte mais baixa da cidade; a outra, quasi quadrada, diante da igreja paroquial, igreja consagrada a Nossa Senhora da Ponte, edificada em ponto que domina considerável parte da cidade. [Página 249]

A casa da Câmara de Sorocaba é um edifício pequeno e de mal aspecto, elevado no canto de uma rua estreita e imunda. Uma ponte estabelece comunicações entre a margem direita do rio Sorocaba e esquerda, sobre a qual foi construída a cidade. É uma ponte de madeira, medindo, pouco mais ou menos, 150 passos de comprimento. [Página 251]

furnas [página 258]

Entre as muitas fábulas criadas sobre a origem, o governo e os costumes dos antigos paulistas, o padre Charlevoix e François Correal (pseudônimo) algo disseram relativamente à posição de São Paulo. O primeiro pretende que "essa cidade é cercada, por todos os lados, de inacessíveis montanhas" (Voyage aux Indes Occidentales, I, 249); ; e o segundo, "que a mesma é situada no cume de um rochedo e que só poderá ser submetida pela fome" (Histoire du Paraguay, I, 308). [Página 173]

em grande parte do litoral; e, se, algumas vezes, em certas regiões da costa raramente visitadas, há tão pouca hospitalidade quanto nos portos, é isso devido ao natural apático dos habitantes, cujo sangue mesclou-se com o dos indígenas, e que são congenitamente inervados pelo extremo calor e por alimentação muito pouco substanciosa.

Bem pesado tudo o que acabo de dizer, torna-se claro que à cidade de Santos, pela sua localização, advêm as maiores vantagens, que teria perdido se, à semelhança de alguns pequenos portos da província, não tivesse diretas comunicações com o interior.

Para ir do litoral à planície de Piratininga, os portugueses, até 1560, só tinham um perigosíssimo caminho, infestado pelos tamoios, seus fidalgais inimigos. Estes selvagens se ocultavam nos matos, à direita e à esquerda do caminho, atacando de improviso os viajantes, despojando-os, aprisionando-os e levando-os para seus bárbaros festins.

Tocados de compaixão, os jesuítas Luiz de Gram e Nóbrega resolveram por um fim a essa dolorosa situação, que tanto atemorizava a população branca. Os referidos jesuítas, com mais dois padres seus colegas, tão empreendedores quão industriosos, favorecidos pelo governador Mem de Sá e auxiliados por indígenas catequizados, abriram, com perigo de vida, um novo caminho, seguindo um traçado isento do perigo de ataques por parte dos selvagens. Os habitantes do planalto e os do litoral puderam, afinal, comunicar-se entre si, sem se expor a horrorosos suplícios, e testemunharam o mais vivo reconhecimento aos padres da companhia de Jesus e ao governador Mem de Sá.

É certo, e nem o contrário poderia imaginar-se, que essa estrada em nada se assemelhava às que, atualmente, são abertas, com tanta arte, em meio das mais escarpadas montanhas.

O padre VASCONCELOS, que pela mesma passou cem anos depois de sua abertura (1656), afirmou não ter ela passado por qualquer modificação, e assim a descreveu, mostrando como era difícil o seu trajeto e como é admirável a região que atravessa:

“Não é caminhando” — disse o padre Vasconcelos — “que se faz a maior parte da viagem; é de rastros sobre as mãos e os pés, agarrando-se às raízes das árvores, em meio de rochedos ponteagudos e de tão terríveis precipícios, que eu tremia, devo confessá-lo, quando olhava para baixo.

A profundeza do vale é aterrorizante, e o número de montanhas que se elevam, umas por cima das outras, faz quasi perder toda a esperança de chegar ao fim. Quando se acredita estar no cume de uma delas, chega-se ao sopé de outra mais alta ainda.

Mas é verdade que, repetidas vezes, sente-se recompensado das fadigas da ascenção. Quando eu me sentava sobre um rochedo e lançava o olhar para baixo, parecia-me estar olhando do alto do firmamento, e que o globo encontrava-S€ abaixo de meus pés; uma vista admirável descortinava-se — a terra e o mar, planície, florestas, cadeias de montanhas, numa infinita variedade, constituindo a mais encantadora paisagem que o nosso espírito possa imaginar”.

Lê-se, no útil Dicionário Geográfico do Brasil (I, 309), que, no século XVIII, os jesuítas fizeram abrir um caminho, inteiramente calçado, que ia de São Vicente à planície de Piratininga; e que Mem de Sá, encantado com a beleza desse trabalho, deixou-se dominar pelos padres da companhia de \jesus, e que foi devico a isso que na ocasião ordenou a destruição, para agradar-lhes, da vila de Santo André. (“Viagem à provincia de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, provincia Cisplatina e missões do Paraguai”. Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853). Páginas 209 e 2010)

Partí de Porto Feliz dirigindo-me à cidade de Sorocaba, distante apenas cinco léguas e meia, empregando nessa viagem dois dias. Durante cerca de um quarto de légua acompanhou-me o capitão-mór de Porto Feliz, o qual me cumulara de gentilezas e me forçara a fazer uma refeição em sua companhia. Era homem de campo, franco, alegre, um pouco orgulhoso de dignidade de capitão=mór, naa qual fora recentemente investido, e que me pareceu desejar que eu comunicasse ao capitão-general a boa acolhida a mim feita.

Percorrí, a princípio, três léguas por dentro das mapas não muito vigorosas, e durante a última légua atravessei campos, além dos quais existem ainda matas. Existem alguns sítios esparsos pelos campos. Às seis horas da manhã, o termômetro de Réamur marcava 14o. Durante o dia foi insuportável o calor. Nenhuma planta encontrei em estado de florescência nas matas; só encontrei, nesse estado, três ou quatro nos campos. Fiz alto na localidade denominada "Guarda de Sorocaba", onde existia uma pequena casa com uma varanda, e onde eram pagos os impostos devidos, como direito mais adiante, sobre os muares procedentes do Sul. (Imagem: 11738) [0]

Antes mesmo dos europeus terem tomado posse da ilha de São Vicente, o local em que Itú se eleva agora era ocupado por uma tribo de nativos guaianazes. Foram esses nativos do número dos que acorreram em defesa do país (1530), quando souberam que Martim Afonso de Sousa quis da mesma se apoderar; mas, vendo que o chefe de todas as tribos guaianazes, o grande Tebireça, tinha feito aliança com o capitão português, retiraram-se para a selva.

Atraídos, um pouco mais tarde pelo amor que Anchieta e seus companheiros demosntravam pelos homens de sua raça, os nativos de Itú, conduzidos pelo seu cacique, reuniram-se à colônia que os jesuítas acabavam de fundar sob o nome de São Paulo de Piratininga.

Foi possivelmente nessa ocasião que alguns portugueses mamalucos começaram a fixar-se em Itú; os primeiros habitantes da localidade foram aniquilados ou dispersados, e, desde 1654, a antiga aldeia tornou-se uma vila portuguesa. (Página 227)

Perto de Potribú, as casas tornam-se mais frequentes; mas são maltratadas e tem péssima aparência. Esse engenho de açucar a que vou me referindo, dependia da paróquia de Piedade. No dia em que alí me detive só caminhara três léguas; no dia seguinte não consegui vencer mais distância. Alojei-me num rancho muito alto, coberto de telhas e cercado por paredes de terra socada, rancho denominado "Rancho de Braga".

Era ainda um dos que tinham sido construídos as espenas do fisco (fazenda real) e que eram designados sob o nome de "ranchos del Rei". O rancho de Braga é situado na paróquia da cidade de Itú, paróquia que tem início um pouco antes de "Pau d´Alho" (nome deuma espécie de árvores), engenho de açucar muito importante, situado a cerca de uma légua de Potribú. Disse que entre São Paulo e Itú a vegetação muda três vezes na natureza e de aspecto; um pouco além do rancho de Braga, foi que vi operar-se a terceira mudança.

E região tornou-se menos ondulada e a terra de pior qualidade; entre nos "campos"> A vegetação parecia-me, em seu conjunto, a mesma que a de uma grande parte das regiões desprovidas de matas que por tão grande período de tempo percorrí em Goiaz e Minas Gerais: são ainda árvores pequenas e se elevam, muito próximas umas das outras, em meio de ervas e sub-arbustos; encontrei, entre outras, uma gutífera comum nos campos de São Francisco, pequís (caryocar brasiliense, Aug. S. Hil., Juss., Cam.), quáleas, entre outras a de número 1244, uma leguinosa e até barúleas (brosimum).

Parecerá extraordinário, à primeira vista, que, encontrando-me sob o trópico do Capricórnio, se me apresentassem quase que as mesmas plantas existentes aos 14 graus de latitude; mas, não se deve esquecer de que, a grandes distâncias, a vegetação se reproduz sob a mesma forma, seja no sentido dos meridianos, seja no dos paralelos, quando, além disso, são análogas as condições: (...) (Página 224)Esta rápida notícia bastará para mostrar quão perigosa é essa navegação, quasi tão longa quanto a da Europa às índias Orientais. Tãoperseverantes, quanto intrépidos, os antigos paulistas afrontavam todosos perigos : não temiam nem a flecha dos selvagens, nem a fome, nem as intempéries das estações, nem a falta de repouso, nem as privações detoda a sorte, nem mesmo as moléstias pestilentas, que, entretanto, dizi- maram, em meio daquelas regiões desertas, tão grande número de seus primeiros exploradores.

Contudo, quando em 1737 rasgou-se o caminho de Goiaz a São Paulo e que comunicações foram estabelecidas entre as províncias de Mato Grosso, Rio de Janeiro e Baía, quando, enfim, foi adotado habitualmente o itinerário de ida ao Pará pelos rios Guaporé, Madeira e Maranhão, a rota de São Paulo a Cuiabá, pelos rios, começoua ser menos frequentada (463).

Na ocasião de minha viagem, já havia quinze anos que a mesma estava sendo desprezada e depois de três anos os viajantes a renunciaram completamente. Da mesma só se servia o governo, alguma vezes, para o transporte, a Mato Grosso, de tropas oude munições de guerra.

Alguns meses antes de minha passagem por Porto Feliz, uma expedição desse género tinha sido realizada. Não foram as fadigas e as dificuldades da viagem que desgostaram os viajantes; se os costumes dos paulistas tinham se abrandado, não haviam eles, entretanto, perdido, seja o espírito empreendedor, seja a intrepidez: as viagens pelo Tietê, o Paraná e o Camapuan foram substituídas por outrasque não são muito menos penosas, mas que deixam maiores lucros.Parte-se de São Paulo com mulas carregadas; passa-se por Goiaz, e, chegando-se a Mato Grosso, as mercadorias transportadas são vendidas,prosseguindo-se daí para a Baía, onde as mulas são negociadas com umlucro superior a 100% (464). Uma especulação desse género não pode ser levada a fim senão depois de alguns anos, e a nossa imaginação admira-se, quando se pensa na extensão da viagem a fazer e nos sofrimentos a passar, sobretudo durante a travessia dos áridos desertos da Baía, ondea falta de água é comum. É evidente, de resto, que não se servirá maisdo Tietê e dos outros rios, senão para o transporte dos objetos de grandepeso, quando for executado o projeto de se abrir um caminho em linhareta, de Mato Grosso a São Paulo.

Parece mesmo, pelos discursos dos presidentes da província perante a assembleia legislativa, que alguns trechos desse caminho já estão construídos; e, em 1843, o presidente de Mato Grosso fez até passar pela picada demarcadora desse caminho o portador de sua correspondência, o qual só empregou dois meses na viagem (465).

Antes de chegar a Porto Feliz não sabia eu da pequenaimportância que desde então tinha a navegação pelo Tietê; esperavaencontrar ali pouco mais ou menos o mesmo movimento que há em nossas pequenas cidades situadas à margem dos rios, por menos consideráveisque sejam; mas, minha imaginação ficou infinitamente aquém da ver- dade. Só encontrei em Porto Feliz três ou quatro pirogas empregadaspelos cultivadores da vizinhança para a travessia do rio; nada indicavao porto, a não ser um grande rancho, onde se podia pôr as pirogas aoabrigo do sol e depositar as mercadorias antes do embarque.A maior parte das casas de Porto Feliz pertencem a agricultores, e nessa localidade só vi um pequeno número de lojas e vendas. Constitui a riqueza da região a cultura da cana de açúcar. Os habitantes de PortoFeliz afirmam ser suas terras, que têm côr vermelha, muito mais adequadas a essa cultura do que as terras de Itú; acrescentam que com oauxílio de dez pretos podem produzir mil arrobas de açúcar e mais até;enfim, que não é necessário, depois de arrancada a cana, deixar repousar o terreno por mais de dois a quatro anos. Mas, de outra parte,Porto Feliz está mais longe de Santos do que Itú, gastando-se mais deoito dias para a viagem a Santos; na época de minha passagem por ali,época em que o milho era raro e extremamente caro, os arrieiros exigiam, para o transporte de uma arroba (14,7 quilos) uma pataca e meia(3 frs.), importância que, convém não esquecer, tinha valor muito maiselevado do que atualmente.

Em 1838, quando o distrito de Pirapora dependia do de Porto Feliz, produziram-se, em todo este último, 73.113 arrobas de açúcar (2.924.520 litros) e 560 canadas de caxaça (2.541 litros) ; foram colhidos 20.480 alqueires de milho (807.200 litros), umpouco de arroz e certa quantidade de feijão. Contavam-se, então, em Porto Feliz, 76 engenhos de açúcar (466). [“Viagem à provincia de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, provincia Cisplatina e missões do Paraguai”. Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853). Páginas 243 e 244]

Se relacionarmos este quadro com o que apresentamos (pág. 231)relativamente à população do termo de Itú nos mesmos anos, veremosque ao fim de 23 anos o aumento dos brancos foi, nesse termo, de quasidois terços do numero primitivo, e o dos negros escravos de um poucomais da metade; ao passo que, no termo de Porto Feliz, o número debrancos quasi duplicou, e o dos escravos apenas teve o aumento de umquinto. Tal diferença pode parecer singular à primeira vista, mas éfácil explicá-la, a região de Itú é uma das da província que os brancosocuparam em data mais remota; todas as terras devem ter, desde muitotempo, proprietários, e as imigrações não podiam ter sido muito numerosas.

O termo de Porto Feliz, ao contrário, formado muito mais recentemente, está ligado a regiões desertas, e, em 1838, possuía ainda terre- nos sem proprietários; homens emigrados de suas terras, em satisfação do desejo de possuir qualquer cousa, ou por nomadismo natural, ou por qualquer outro motivo para ali se dirigiram, bastante contribuindo para o aumento da população.

O aumento dos negros escravos efetuou-se em sentido inverso: os proprietários dos engenhos de açúcar do distrito de Itú, estabelecidos desde tempo mais remoto, eram assaz ricos ou tinham bastante crédito para aquisição de negros ; mas os novos colonos de Porto [“Viagem à provincia de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, provincia Cisplatina e missões do Paraguai”. Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853). Página 245]



Pareceu-me que em Sorocaba os homens jogavam cartas muito maisdo que em qualquer outra parte. Existia também na cidade um beminstalado bilhar; em Itú, também, existia um, e foram ambos os primeiros que vi depois de minha estada no Brasil. Não tive ocasião depresenciar qualquer pessoa ocupando-se nesse jogo; mas não é de crer que o mesmo tivesse sido instalado sem a finalidade que lhe é própria, e a sua existência serve a comprovar que há, na localidade, um pouco menos de indolência do que nas outras partes do Brasil em que atéentão viajara. Os homens muito indolentes resignam-se a fazer exercício quando a necessidade de manter a existência a isso os obriga; nãoo fazem, entretanto, com o fim, apenas de se proporcionar um prazer.Estive em Sorocaba na época do Natal (482) ; houve, então, sete diasde festas. Nessa região e nas outras partes do Brasil que até o momentoeu tinha percorrido, pouco se trabalha nos dias úteis; nos dias de festanenhum trabalho se executa; essa é a única diferença entre os dias úteis e os de festa. Os deveres de cristão estão cumpridos quando se ouviuuma missa comum; as missas solenes são realizadas unicamente quandoalguma confraria ou qualquer particular paga os respectivos gastos, e não se conhece nenhuma das outras solenidades da igreja. Como jádisse noutro ponto (483), as festas do Natal são a épocha das reuniõesda família, mas decorrem tristemente ; a gente se aborrece só, da mesmaforma que se aborrece em numerosa companhia. Nada de passeios, nadade excursões campestres, nada que possa excitar a alegria; a gente se recosta indolentemente, entretendo-se longamente com assuntos os mais comuns e acaba se aborrecendo.

Antigamente, quando um estrangeiro chegava a Sorocaba, recebia a visita dos principais moradores da localidade, como, em 1813, ainda era costume em Minas Gerais (484). Como muitas vezes tais visitas não eram retribuídas, esse hábito caiu em desuso. Os estrangeiros em viagem pelo Brasil parecem acreditar que nada devem aos brasileiros, e que estes tudo lhes devem; eu vi alemães, principalmente, tratar o povo brasileiro com um desprezo que nada justificava. Há nações como há indivíduos isolados; todas têm seus defeitos, todas têm algumas qualidades boas, e estas, como os defeitos, resultam de tais e tais influências. Nesse sentido poderia citar uma cidade da Alemanha, na qual, há 40 anos, falava-se das ciências e das letras com um menosprezo que nunca vi ninguém demonstrar entre os brasileiros.A cidade em questão é um porto de mar; fazia na época negócios com o mundo inteiro, o comércio absorvia todo o tempo e todas as faculdades dos seus habitantes, não lhes restando nenhum momento para pensar em qualquer outra cousa. E que país se tem encontrado em condições mais prejudiciais do que o Brasil?Desde o reinado de Filipe, seus habitantes foram, durante dois séculos, de tal forma sequestrados dos outros povos, que Commerson, aportando no Rio de Janeiro em 1767, foi obrigado a disfarçar-se em marinheiro para poder colher algumas plantas. Os brasileiros só tinham relações com os portugueses, que os oprimiam e os cobriam de desprezo; encontravam em seu próprio país poucos meios de se instruírem; nada lhes excitava a emulação, e, para dominá-los, eram mantidos na indolência e na torpeza. Depois, todos os vícios em plena capital do país; nuvens de aventureiros, provindo de todas as nações, invadiram a terra, autorizando-os a crer que a Europa estava mais degrada do que a América, aventureiros que lhes deram tristíssimos exemplos. (Página 254)

“avistar meu excelente hospedeiro, e dentro em pouco soube o motivo pelo qual o mesmo não me admitia em sua mesa — tinha êle por costume tomar as refeições em companhia de sua mãe e suas irmãs, e, como estas senhoras não queriam aparecer a extranhos, não podia receber-me Rafael Tobias de Aguiar, cujo conhecimento eu devia ao nosso amigo comum João Rodrigues Pereira de Almeida, barão de Ubá, era, na ocasião, se bem que muito jovem ainda, major da guarda nacional, tendo exercido, mais tarde, em sua província, um posto mais importante, pois foi presidente da mesma, desde o mês de novembro de 1831 a novembro de 1835.” (“Viagem à provincia de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, provincia Cisplatina e missões do Paraguai”. Páginas 255 e 256. Auguste de Saint-Hilaire em 1819)

É evidente que tal asserção resulta de uma dessas inadvertências quasi impossíveis de evitar num trabalho tão extenso como o Dicionário. Como muito sensatamente ponderam os próprios autores dessa obra (l, 159), foi em 1590 que Sardinha fez sua descoberta. Devo acrescentar que não encontrei, em nenhuma das obras que pude consultar, a denominação Itapebussú; mas, é evidente, que foi a pequena vila fonuada nos arredores de Araçoiaba pouco tempo após a descoberta da mina de ferro da montanha desse nome, e de onde os habitantes se retiraram para Sorocaba antes do ano de 1626 (Varnh. in EsHW., Jour., II, 261). Entretanto, é necessário admitir a ocorrência de erro relativamente a alguma das datas indicadas, porque o convento de Sorocaba não pode ter sido fundado em 1667, a vila em 1670 e os habitantes de Itapebussú à mesma se terem transportado em 1626. Itapebussú é, provavelmente, o local indicado por Van Laet {Orh. Nov., 580) sob o nome de São Filipe. (Página 249)

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