' “José Custódio de Sá e Faria e o mapa de sua viagem ao Iguatemi”, Jorge Pimentel Cintra e Rafael Henrique de Oliveira - 01/01/2020 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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“José Custódio de Sá e Faria e o mapa de sua viagem ao Iguatemi”, Jorge Pimentel Cintra e Rafael Henrique de Oliveira
2020. Há 4 anos
Obedecendo a esses princípios, orientação básica da poligonal, série temporalde mapas, toponímia e espigões, repetiu-se o processo para todos os trechos restantesda estrada, permitindo reconstituir basicamente as ruas e caminhos atuais, por ondepassava a estrada até Itu, no tempo de José Custódio de Sá e Faria e antes.Como comprovação, diversas plantas da Cidade Universitária, comopor exemplo a da figura 14, de 1943, mostram em seu limite superior, naépoca, a “Antiga estrada de Itu”.ESPIGÕES COMO CRITÉRIO PARA DETERMINAR O TRAÇADO DE CAMINHOS ANTIGOSVale a pena aprofundar em um dos critérios, o dos espigões, já que ele foifundamental para essa tarefa de identificação. Como se verá, nem sempre é possívelseguir por eles, por diversos motivos: não estarem na direção geral do caminho, nãoexistirem espigões em todo o trecho e também porque é necessário descer do espigãopara apanhar outro e assim cruzar rios e riachos em pontos estratégicos. Ou seja, noinício ou no fim caminha-se por uma meia-encosta. E, além disso, é preciso ter em contaque o termo espigão remete para uma feição cartográfica, que sobe e desce, mas semantém em cotas elevadas; na subida ou descida isso não se dá, e o caminho seguepor um divisor de águas, que é um termo mais abrangente que espigão.Capistrano de Abreu, em capítulos de História colonial,23 lista alguns critériosque determinaram o traçado seguido pelas primitivas vias: aproveitavam trilhasindígenas, balizavam-se pelas alturas (astrolábio que media a altura do sol sobre ohorizonte), buscavam gargantas, evitavam as matas e de preferência caminhavam pelosespigões. Mas, como é o estilo dessa obra, não cita exemplos nem indica referências.Assim, o caminho em questão é um bom exemplo, para esse último critério, odos espigões. Em seu diário, no dia 4 de outubro, Custódio assinala: “o caminho épelos espigões”. Isso pode ser comprovado pelos mapas com curvas de nível utilizadose através dos trabalhos de campo feitos para a presente pesquisa, percorrendo todoo caminho, em trechos sem dúvidas com automóvel, e, nos mais intrincados, a pé,efetuando medições com bússola e podômetro para avaliar as distâncias e procurandoencontrar pontos de sincronia, como o riacho da esquina do Botequim, hoje canalizado em parte, mas em parte correndo a céu aberto. Também se comprovam os espigões pelas hachuras que representam barrancos, presentes nesses borrões. Nas figuras seguintes (15 a 18), apresenta-se um trecho ilustrativo, comentado a seguir. (Página 26)

Nesse mapa, de 1804 (c), baseado no de Custódio, vê-se na esquerda um caminho em amarelo formando um triângulo. O vértice mais ocidental corresponde à fazenda de Araçariguama onde a tropa de José Custódio em 4 de outubro de 1774 pernoitou, junto à capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, instituída pelo padre Guilherme Pompeu de Almeida. Para isso, foi necessário abandonar o caminho principal, que segue direto, e retomá-lo pelo terceiro lado, no dia seguinte. Uma informação interessante que dá seu autor é que esse caminho amarelo vinha sendo utilizado faz mais de 200 anos, ou seja, desde 1604, primórdios da colonização da região de Itu.

O que interessa particularmente é a bifurcação que vem logo a seguir: avariante da esquerda corresponde ao caminho por espigão por cima do morrodo Putribu e a da direita ao caminho que margeia o rio Tietê. José Custódio, emsua viagem, tomou a variante da direita. Qual foi o critério para escolher umaou outra? O espigão corresponde a uma variante mais curta, mas com grandedesnível; a opção pela beira do rio é mais comprida, mas praticamente plana.Isso fica mais claro no mapa da CGG de 1901 (figura 16). (Página 27)



CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa permitiu aprofundar no estudo do Diário de José Custódio de Sá e Faria, em seu primeiro trecho, analisando textos originais e diferentes versões (ver apêndice). Os dados de azimute e tempo, conversível em distância, presentes nos borrões permitiram, em combinação com mapas antigos e alguns critérios (pontos de injunção, toponímia, espigões e outros), determinar as ruas atuais por onde passava esse caminho que, segundo as informações do mapa de Policarpo, remonta a 1604, ou seja, aos primórdios da colonização da região de Itu (Pirapitingui). O estudo mostrou que os caminhos presentes no mapa da CGG, existentes para a quase totalidade da região ocupada do Estado de São Paulo em inícios do século XX, coincidindo, em grande medida, com a poligonal de Custódio, refletem bem a situação dos caminhos antigos e podem ser a base inicial para estudos desse tipo. Essa metodologia de trabalho pode ser aplicada a outros casos, coisa que se torna particularmente interessante em um momento em que os órgãos responsáveis pelo patrimônio realizam tombamentos de caminhos.

APÊNDICE DOCUMENTAL COMENTADONeste apêndice transcrevemos os dizeres dos cinco mapas de José Custódioutilizados na pesquisa e fazemos comentários para sua melhor compreensão.Comentamos também outras versões do mesmo diário e dos mapas e listamosdocumentos complementares de interesse direto.TRANSCRIÇÃO DOS DIZERES DOS BORRÕES DO DIÁRIONa transcrição dos textos seguimos os princípios de: a) modernizaçãoortográfica e inserção de vírgulas e pontos; o leitor poderá correlacionarfacilmente a grafia antiga com a moderna; b) de colocar as abreviaturas porextenso, para facilitar a leitura; e c) em trechos mais longos, indicar a mudançade linha no original pelo sinal /.Fazemos a transcrição página por página, indicando o texto principal, queexiste em quase todas, a seguir os topônimos colocados ao longo do caminho ou nassuas proximidades, obedecendo a sequência com que aparecem no caminhamento. (Página 31)

Cruzaram também o riacho Putribu, pouco distante da sede da fazenda de mesmo nome. Em 21 de abril de 1660, nessa fazenda de Manuel Bicudo Bejarano, compareceram o tabelião de Santana de Parnaíba para registrar que Baltazar Fernandes doava aos beneditinos de Parnaíba a capela de Nossa Senhora da Ponte. Esse ato, presentes as partes interessadas, deu origem à cidade de Sorocaba.

– As Serra Altas correspondem à atual Serra do Guaxatuba (ou do Piraí), asudoeste do município de Cabreúva (ver imagem abaixo).– O desenho de Custódio mostra: (a) Cachoeiras (que na verdade sãocorredeiras); (b) ilhas; e depois (c) um ponto onde o caminho segue reto, com rumoaproximado noroeste, e o Tietê afasta-se da estrada em direção ao norte. Essaestrada corresponde a um trecho da estrada Municipal do Pau d’Alho (Itu 030).D) Página 4Texto principalDia 5 de outubro [de] 1774Saímos de Araçariguama às 9 horas e 28 [minutos] / e marchamos até a vilade Itu, aonde chegamos / às 5 horas da tarde, e nos foi encontrar no / caminho oAlferes Felipe Freire com um pique / te de cavalaria auxiliar e algumas pessoas /principais da vila e em duas casas de fronte / da cadeia nos aquartelamos, as quaishavia / mandado por aprontar o senhor General. Mar / chamos neste dia 7 léguas.Topônimos no caminhamento– Serrania ao longe, distâncias de ¼ e ½ légua– Principia a picada– Acaba a picada– Terrenos mui dobrados
– Engenho do doutor Antônio José de Sousa, 1/8 [de légua, na direção] N
– Pirapitingui (riacho)
– Vila de Itu [com o símbolo de círculo e cruz] (Página 37)

Trecho do mapa do então Coronel de Dragões Policarpo Joaquim de Oliveira
Data: 01/01/1804 1804
Ilustrativo do critério dos espigões. Fonte: adaptado de Oliveira (1804).

Mapa
Data: 01/01/1774 1774
Créditos / Fonte: José Custódio de Sá e Faria e o mapa de sua viagem ao Iguatemi, 2020. Jorge Pimentel Cintra e Rafael Henrique de Oliveira

Configuraçam dos rios Tieté, Paraná, Igatemi: mapa 1
Data: 01/01/1775 1775
Créditos / Fonte: José Custódio de Sá e Faria

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