' Ligeiras notas de viagem do Rio de Janeiro á Capitania de São Paulo,no Brasil, no verão de 1813, com algumas notícias sobre a cidade da Bahia e a ilha Tristão da Cunha, entre o Cabo e o Brasil e que há pouco foi ocupada - 01/01/1813 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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Ligeiras notas de viagem do Rio de Janeiro á Capitania de São Paulo,no Brasil, no verão de 1813, com algumas notícias sobre a cidade da Bahia e a ilha Tristão da Cunha, entre o Cabo e o Brasil e que há pouco foi ocupada
1813. Há 211 anos
Ligeiras notas de viagem do Rio de Janeiro á Capitania de São Paulo,no Brasil, no verão de 1813, com algumas notícias sobre a cidade da Bahia e a ilha Tristão da Cunha, entre o Cabo e o Brasil e que há pouco foi ocupada (Página 275)

No dia 25 empreendi a viagem as minas em companhia do sr. Elboque, tenente-capitão da artilharia montada e o sr. Huntley, comerciante inglês, além de cinco criados e uma escolta de dois dragões e um sargento que por ordem superior tinham de tomar conta de nossa bagagem e prestar os serviços necessários. Todos iam montados, inclusive o conde v. Pahlen e eu. O caminho seguia direção sul atravessando Jaraguá, Ponamduba, Itú, Porto Feliz, São João de Ipanema, Sorocaba, Cotia e São Roque, ao longo do rio Tieté que passamos em vários lugares e por pontes compridas. Para não ficarmos surpreendidos por homens e animais ferozes, guardamos a seguinte ordem: 1° dois criados pretos; 2° o sargento; 3° os viajantes, dois a dois, de modo a podermos conversar; 4° três criados com a bagagem, cozinha e cantinas; 5° dois dragões, todos com fuzis.

Tiete é um rio especialmente curioso, porque corre do litoral para o interior, onde se torna mais fundo e mais largo servindo de comunicação entre Rio, Santos e São Paulo ao norte e os distritos ricos de Cuiabá, Mato Grosso, Paraguai, Rio da Prata, Potosí, Chiquisaca e uma grande parte do Perú, ao sul. As suas margens são encantadoras. Tiete tem 23 cachoeiras que tornam difícil a viagem porque em muitos lugares é preciso conduzir por terra as canoas, únicas embarcações que servem para este rio. Ele une-se com os rios Paraná, Pardo, Sucuriú e Sorocaba e, ha pouco, o governo deu ordem para explora-lo por hábeis oficiais de marinha, dos quais esperam-se interessantes descrições.

Jaraguá, que pertence ao ex-governador Orta (Horta), é conhecido pela quantidade excepcional de ouro ali extraído ha 200 anos, quando era considerado o Perú brasileiro. Hoje, porém, não é assim, apesar de continuar a extração. [Página 291.292; 301, 302 do pdf]

Um pouco além de Porto Feliz deixamos o Tietê para nos dirigirmos diretamente ao rio Sorocaba, que passamos em canoas. Os animais passaram a nado, amarrados uns aos outros pela cauda. Aqui começa a verdadeira exploração mineira e por toda a parte ha ouro e ferro,porém não em tal abundância como em São João de Ipanema a algumas léguas distante onde, numa extensão de 10 léguas suecas, se encontra um minério de 80 a 85% de ferro, é flor da terra e com matas numa extensão dupla.

Há vários anos funciona aqui uma fábrica, atualmente dirigida poir um sueco, sr. diretor Hedberg. Na mesma ocasião organizaram-se mais duas fábricas de ferro, uma em Tijuca pelo Barão von Eschwege, da Alemanha, e outra em Minas Gerais pelo afamado mineralogista sr. da Camara, que o mundo cientifico conhece desde as suas viagens pela Rússia, Suécia e Alemanha.

Mas nem uma nem outra tem dado bons resultados para os proprietários. A superintendencia de Ipanema é exercida por uma "junta", de que o diretor é membro, e o capital de movimento está em ações de que o governo possui um terço. A fábrica é situada próxima ao rio Sorocaba que fornece a água necessária e está projetada para trabalhar com dois foles e 5 fornos, dos quais um deve estar em descanço.

O trabalho é executado por cem negros, além de creoulos. Os açudes são feitos de pedra lavrada e todas as obras internas são feitas das mais lindas madeiras do Brasil, cortadas numa serra bem montada e por meio da queda d´água do próprio rio conduzidas até a fábrica.

O lugar mais rico, porém, é a montanha chamada "Goraçoiaba", ordinariamente denominada "Morro do ferro", a meia légua de distância da fábrica com a qual comunica por uma estrada nova e larga. Em relação a fabricação do carvão, julgava-se por muito tempo que as madeiras brasileiras não prestavam por causa da sua dureza, porém a experiência do sr. Camara convenceu o contrário.

Imaginava-se também que a fabricação de ferro no Brasil prejudicaria à Europa e suplantgaria a importação da Suécia, porque o aproveitamento dos recursos próprios seria de grande valor, caso uma guerra entre a Inglaterra e as potências do Norte impedissem a exportação dos artigos de primeira necesidade. Ignorância topografica foi a causa desta opinião erronea, ou, seria isso um meio de afastar a concorrência?

Em todo o caso despertou-me a atenção e para melhor conhecer as condições fui mais umas 20 léguas adiante. Ferro em quantidade somente há na capitania de São Paulo e, si alguma vez as fábricas forem aperfeiçoadas, havendo alguma sobra para vender, será necessário transportal-a até o porto de exportação mais próximo que é o Rio de Janeiro, ou então, ao longo da costa que tem 300 léguas e, neste caso, o processo é o seguinte:

em Ipanema o ferro é carregado por animais, por causa da falta de boas estradas, até a serra do Cubatão onde desce 7000 pés num declive forte, de modo que a carga não pode ser grande.

De Cubatão, onde se pagam os direitos por ser alfandega arrendada, o ferro é conduzido algumas léguas em canoas até á cidade de Santos, lugar em que é baldeado de novo para pequenas embarcações cobertas para ser conduzido por 30 léguas ainda até o rio de Janeiro, onde finalmente, pode ser exportado.

Considerando agora que todo este trabalho é pago em ouro, vê-se que o ferro fica tão caro que não pode dar lucro nenhum, mórmente quando já existe uma exportação remunerada de café, açucar e couros e não pode concorrer com o ferro europeu em preço. Segundo meu modo de pensar, o resultado final dos novos projetos, isto é, si forem executados, será apenas que uma das mais interessantes provincias do globo, poderá produzir para si todo o ferro de que precisa.

Duas léguas daqui está a cidade de Sorocaba, que tem o seu nome do rio que a atravessa. É muito espalhada, mas escassamente habitada, sendo notável por seus cortumes de couros de cabra, suas redes de algodão e a grande renda que a coroa aqui arrecada do segundo imposto sobre todos os cavalos, bestas e bois que, em estado selvage nos campos, são conduzidos até aqui, para irem á São Paulo ou Rio de Janeiro.

O primeiro imposto é pago em Curitiba na divisa da capitania. Hospedamos nós todos em casa do coronel Francisco de Aguiar, um homem abastado que poz uma casa inteira a nossa disposição e nos recebeu de modo mais amável. Em Sorocaba mudei do intento de continuar nesta direção, onde já vi o mais interessante e deliberei, em vez disso, visitar as minas de diamantes em Minas Geraes na companhia do Conde de Oyenhausen que fazia parte das tropas ali, o que necessitava novo equipamento e novos animais, porque os que tinham servido até agora já estavam imprestáveis.

Um acontecimento infeliz, porém, privou-me de fazer esta viagem para uma das mais ricas partes do Brasil e a mais interessante para o mineralogista. Voltamos á São Paulo por Cutia e São Roque e chegamos no dia 5 de junho de tarde... [Páginas 294 e 295; 305, 306 do pdf]

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