Papa Francisco assina decreto que torna santo o padre José de Anchieta. Eduardo Carvalho, G1 (Globo)
3 de abril de 2014, quinta-feira. Há 10 anos
Padre Anchieta torna-se o terceiro santo com laços estreitos com o Brasil. Vaticano canonizou jesuíta mesmo sem ele ter milagres comprovados.
Papa Francisco assina decreto que torna santo o padre José de Anchieta Padre Anchieta torna-se o terceiro santo com laços estreitos com o Brasil. Vaticano canonizou jesuíta mesmo sem ele ter milagres comprovados.
O Papa Francisco assinou nesta quinta-feira (3) um decreto que proclama santo o jesuíta espanhol José de Anchieta, conhecido como Padre Anchieta, mais de 400 anos após a abertura de seu processo de canonização.
Segundo o Vaticano, esse é o primeiro santo de 2014 e o segundo jesuíta a ser canonizado por Francisco. Antes dele, em dezembro de 2013, foi a vez do francês Pedro Fabro.
A assinatura, esperada inicialmente para acontecer na quarta-feira (2), ocorreu durante uma reunião entre o pontífice e o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação das Causas dos Santos, responsável por todos os processos de beatificação e canonização existentes na Santa Sé.
Durante o encontro, Francisco também tornou santo outros dois religiosos canadenses: D. Francisco de Laval (1623-1708), que foi bispo de Québec, e a Irmã Maria da Encarnação (1599-1672), fundadora de um mosteiro da ordem das freiras Ursulinas na mesma cidade.
O papa Francisco também reconheceu as "virtudes heróicas" - primeiro passo no processo de beatificação e canonização - da freira brasileira Maria Teresa de Jesus Eucarístico (1901-1972), fundadora da congregação das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada.Apóstolo do Brasil
São José de Anchieta, que viveu no século 16, atuou no Brasil na maior parte de sua vida. Foi um dos fundadores da cidade de São Paulo, em 1554, e visitou diversas localidades.Ele é o terceiro santo a ter laços estreitos com o país. A primeira foi Madre Paulina, santa desde 2002. Em seguida, veio Frei Galvão, brasileiro nascido em Guaratinguetá (SP), proclamado Santo Antônio de Sant´Ana Galvão em 2007 por Bento XVI, em visita ao Brasil.Entretanto, diferentemente de Madre Paulina e Frei Galvão, José de Anchieta não teve seus dois supostos milagres reconhecidos pelo Vaticano. Relatos de mais de 400 anos apontam que esses feitos aconteceram, mas o longo tempo passado desde então impossibilita sua comprovação, segundo historiadores.A canonização de Anchieta, portanto, se dará por seu trabalho missionário feito no Brasil, principalmente pela catequização de índios no período da colonização, além da fundação de missões jesuítas em várias províncias brasileiras.Sinal de esperançaDe acordo com o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, a criação de um novo santo, ainda mais quando tem relação com o Brasil, é motivo de festa."[Ele] Representa um membro da igreja que teve uma vida santa, fé profunda, amor ao próximo e que viveu integramente, ou seja, não fez mal ao próximo. É uma pessoa que representa um sinal de esperança para os outros", disse o religioso.Ainda de acordo com o cardeal, a canonização de Anchieta era aguardada desde a sua morte, em 1597. "Chegou o momento agora com o Papa Francisco, e nós nos alegramos muito e agradecemos a Deus", afirmou Dom Odilo Scherer.
Histórico
Nascido nas Ilhas Canárias, arquipélago que pertence à Espanha, Anchieta ingressou aos 17 anos na Companhia de Jesus, congregação religiosa fundada no século 16 e responsável pelo processo de evangelização na América Latina.
Os integrantes da instituição, que existe até hoje, são chamados de jesuítas – o Papa Francisco é o primeiro deles a ser eleito como líder da Igreja Católica, em março de 2013.
Segundo Carla Galdeano, coordenadora do Museu Anchieta, no Pateo do Collegio, em São Paulo, José de Anchieta chegou ao Brasil com 19 anos, ansioso para trabalhar com indígenas. Em 1554, participou da fundação de São Paulo.
Aprendeu a língua nativa (o tupi) e, com a ajuda de curumins (crianças índias) que exerciam o papel de tradutores, escreveu o livro "Arte de grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil", que ajudava outros religiosos a entender a língua indígena durante o processo de catequização do Brasil-Colônia (o texto pode ser lido aqui).
Ao longo da vida, Anchieta ficou conhecido por sua característica de conciliador. Exerceu papel fundamental durante o conflito entre índios tamoios (ou tupinambás) e tupiniquins, chamado de Confederação dos Tamoios, que, segundo Carla, ocorreu entre 1563 e 1564.
Na época, os tamoios, apoiados pelos franceses, se rebelaram contra os tupiniquins, que recebiam suporte dos portugueses. Para apaziguar os ânimos, Anchieta se ofereceu para ficar de refém dos tamoios na aldeia de Iperoig (onde atualmente fica Ubatuba, no litoral norte de SP), enquanto outro jesuíta, o padre Manoel da Nóbrega, seguiu para o litoral paulista para negociar a paz.
Enquanto esteve "preso", a devoção de Anchieta à Virgem Maria o fez escrever na areia da praia a obra "Poema à Virgem", com quase 5 mil versos. A imagem desse momento foi retratada séculos depois pelo artista Benedito Calixto, no quadro que leva o mesmo nome da obra literária e está exposto atualmente no Museu Anchieta.
Anos depois, o padre foi nomeado "Províncial do Brasil" da Companhia de Jesus, responsável por todas as missões jesuítas do país. Assim, visitou várias regiões até morrer, aos 63 anos.
Processo longo de canonização
O jesuíta foi beatificado por João Paulo II em 1980, na primeira etapa antes de se tornar santo. O pedido para que isso ocorresse, no entanto, foi feito ainda no século 16. Mudanças no Código Canônico e conflitos que acabaram com a expulsão dos jesuítas do Brasil, em 1759, atrasaram o processo.Segundo o padre Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, a proclamação do jesuíta espanhol como santo ocorreu por suas ações que, segundo ele, "comprovaram que sua vida foi cheia de milagres"."[Com essa atitude] Acredito que a Igreja Católica deve rever o método de canonização. Isso pode abrir outras possibilidades para criar mais santos." [Eduardo CarvalhoDo G1, em São Paulo. https://g1.globo.com]
“Baltazar Fernandes: Culpado ou Inocente?”2014A página 23 do livro "Baltazar Fernandes: Culpado ou Inocente?" narra um episódio curioso da vida de Suzana Dias, mãe de "Balthazar", fundador de Sorocaba, contado pelos historiadores Mons. Paulo Florêncio da Silveira Camargo e também pelo padre Hélio Abranches.Essa história ganhou grande notoriedade em 2014, quando o Papa Francisco canonizou o padre José de Anchieta. Sem dar muitos detalhes, a o jornalista Sérgio Coelho separa a história em dois momentos:Primeiro: "(em São Vicente) Quando menina Suzana foi acometida de uma moléstia grave. Esgotados todos os recursos, Suzana recorreu a Deus, prometendo dedicar-se à vida religiosa, caso ficasse livre da doença. Miraculosamente, livre do infortúnio, Suzana cumpria a sua promessa, vivendo uma vida cristã, com plano de ingressar num convento."Segundo: "Certo dia, quando estava compenetrada em suas orações, acercou-lhe dela um irmão leigo jesuíta e sussurrou-lhe aos ouvidos: Você está liberada da promessa que fez ao Senhor. Suzana levou um susto, pois não havia reveleado a promessa a ninguém. Suzana casou-se e teve 17 filhos."O autor do livro não dá maiores detalhes, sugerindo que o fato teria ocorrido em 1560 e que ela tinha então 12 anos de idade quando estava "enferma e desejou morrer". (Página 23)
1° de fonte(s) [k-214]
A história por trás do feriado Paz de Iperoig, que foi celebrado ...