Só em 1674 o padre Lourenço Craveiro, reitor do colégio dos Jesuítas em São Paulo, anotando o primeiro daqueles títulos, escreveu que aquela “serra que está sobre o mar” é a Paranapiacaba. Mas, em nota do padre Lourenço Craveiro, não prova senão que já naquele tempo, em 1674, o nome Paranapiacaba era atribuído á serra Cubatão. [“Supplemento aos apontamentos para o diccionario geographico do Brazil”, 1935. Alfredo Moreira Pinto. Página 233]
As confrontações de que trata a sesmaria e posse constantes da escritura que acabamos de transcrever, tem á margem do papel as explicações postas em nota no ano de 1674, por letra do padre Lourenço Craveiro, reitor do colégio dos jesuítas de São Paulo, as quais são as seguintes:
1) Defronte de São Vicente, ilha, porque então não havia ainda a vila de Santos, e começam donde nasce o sol, que nasce da banda d´além de Santos, onde está o rio Jerybatyba, que é bem conhecido.
2) Esta serra é a de Paranapiacaba; este Capetevar até agora não é bem conhecido, deve ser algum morro; este rio que está da banda do Norte é o rio Anhemby, que a quem vem de Santos lhe fica da banda do Norte adjacente, por isso não diz que corre do Norte, senão que está, porque da parte do Norte é que corre para o poente e fica adjacente ao Norte.
3) E pelo rio Anhemby abaixo até o rio Maqueroby, que está junto á aldeia Conceição(*), o qual rio entra no Anhemby ai mesmo, e é maior que este nosso rio Tamanduatehy, e tem junto da barra um outeiro de que fala a dita data.
A dos Guarulhos não existia então (1533). Sem dúvida, era alguma aldeia no lugar em que o Rio-Grande, ou Pinheiros, conflui com o Tietê. VARNHAGEN, História Geral do Brasil, XXIII, menciona a aldeia da Conceição dos Pinheiros.
4) Este pinhal é a paragem da Conceição, que estava de uma e outra banda do rio Anhemby, de que existem vestígios desta banda e pinhal da outra, e no cabo do campo desta terra, que isso vem a dizer Joápen.
5) Caminho de Piratininga é o caminho velho do mar, por onde vai virando esta data de terras.
6) Esta serra é a bem conhecida Paranapiacaba, que está sobre o mar.
7) Ponta do Ururay bem de sabe onde é; é a quebrada da serra.
8) Ribeira ao pé da serra Mamoré, é abaixo da dita quebrada da serra de Paranapiacaba.
9) Ururay se chama aquele vale onde teve sítio o capitão Antonio de Aguiar Barriga, e a ribeira que lhe corre é Ururay.
10) Ilha Caramocoara(*) é a que está na barra do rio Cubatão, onde vem dar a ribeira Ururay.
11) Rio de São Vicente. Este é o que chamam Caneú, ou o largo, o qual se dizia Rio de São Vicente(**), porque em toda aquela ilha não havia outra povoação mais que a de São Vicente.
12) Esta serra de Taperovira é o monte ou montes ao pé dos quais vem o rio Gerybatyba, defronte de Santos. [“Algumas notas genealógicas: livro de família: Portugal, Hespanha, Flandres-Brabante, Brazil, São Paulo-Maranhão: séculos XVI-XIX”, 1886. João Mendes de Almeida (1831-1898). Páginas 223, 224, 225, 226 e 227]
O nome Piquiroby, assim escrito nas cronicas, não é senão Pi-kì-yrob, "pinheiro". Pi, "pele ou casca", ki, "espinho, ou ponta aguda", yrob, "amargo": "árvore de casca amarga e folhas agudas". Parece que não há outra explicação; tanto considerados os motivos que passamos a expor. Ou, quem sabe, seria Pi-cury-oby?.
A aldeia Ururay, cujo era chefe ou maioral Piquiroby, estava situada, segundo cronistas, em um recanto dos campos de Pirá-tininga. Não podia deixar de ser á margem de um rio Pi-kì-yrob, cujo nome aparece corrompido em Maqueroby, nas notas que, em 1674, o padre Lourenço Craveiro, reitor do Colégio da Companhia de Jesus em São Paulo, escreveu sobre o título de sesmarias de Pedro de Góes; e esse rio era assim denominado, por correrem suas águas entre extensos pinhais, até entrar no rio Anhemby (Tieté).
A tribo Ururay ocuparia o território desde o vale de Ururay, da banda do norte, na serra de Paranapiacaba, seguindo o curso do Piquiroby (ora Rio Grande até que, encontrando o Rio Pequeno, toma o nome dos Pinheiros), a afluir no Anhemby (Tieté). A aldeia, portanto estaria á margem do Piquiroby, mais adiante, no vale de Ururay. [“Algumas notas genealógicas: livro de família: Portugal, Hespanha, Flandres-Brabante, Brazil, São Paulo-Maranhão: séculos XVI-XIX”, 1886. João Mendes de Almeida (1831-1898). Página 328]