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Correio Paulistano: A contestação e a nossa síntese histórica
2 de setembro de 1930, terça-feira. Há 94 anos
A contestação e a nossa síntese histórica

Um estudioso de Vila Bela publicou em "O Estado de São Paulo", edição do dia 5 de agosto de 1930, uma contestação á síntese histórica que fizemos de Villa Bella, trabalho "Ensaio de um quadro demonstrativo do desdobramento dos municípios de São Paulo". Alegou que:

a) o fundador de Villa Bella não foi o Padre Manuel Gomes Pereira Mazagão; este não fez senão erigir uma igreja numa villa que já existia havia muitos anos.

b) Villa Bella é mais antiga do que a Villa de São Sebastião, porque na célebre ata feita pelos representantes da capitania de São Vicente em 1640, não figura entre as vilas que deviam prestar certas contribuições, a de São Sebastião, mas, sim a vila da ilha de São Sebastião, que não é senão Villa Bella:

c) Diogo de Unhate e João de Abreu, moradores de Santos, requereram terras desabitadas defronte e na ilha de São Sebastião e as obtiveram por despacho do capitão-mór de São Vicente Gaspar Conqueiro, do 20 de janeiro de 1608;

d) quando a ilha já estava povoada pelas gentes de Unhate e de João de Abreu, é que foi fundado São Sebastião por Francisco Escobar Ortiz e sua mulher, d. Ignez de Oliveira Cotrim, segundo Pedro Taques;

e) Só em 1636 foi São Sebastião desmembrado de Santos e elevado a villa; povoação nascente, não pode em 1640 concorrer á finta para expulsão dos jesuítas, ao passo que villa Bella, onde já existiam feitorias, teve de contribuir com 60$000, o que na época representava uma fortuna.

Escrevemos no referido "Ensaio": "Villa Bella: antiga capela fundada na ilha de São Sebastião, sob a invocação de Nossa Senhora da Ajuda e Bom Sucesso, pelo vigário de São Sebastião, padre Manuel Gomes Pereira Mazagão, nos fins do século XVIII, em território de São Sebastião.

Formando-se ai em pouco tempo uma povoação, foi esta elevada a vila com o nome de villa Bella da Princesa, pelo capitão general Antonio José de Franca Horta, por portaria de 3 de setembro de 1805, e ereta em janeiro de 1806."

Cabendo-nos documentar o que escrevemos, devemos ver Villa Bella, como capela, como villa e como freguesia.II - Origem de São Sebastião e Villa BellaDonde vem o nome de São Sebastião no litoral paulista? Vem da primeira expedição exploradora, enviada por d. Manuel, o Venturoso, em 1501, á Terra de Vera Cruz, para reconhecê-la e explora-las. Essa expedição chegando em uma ilha no dia 20 de janeiro de 1502, deu-lhe o nome do santo desse dia: Ilha de São Sebastião. Observava assim a praxe que havia adotado de dar nos lugares em que tocava os nomes das festividades e santos.

Tanto o território da ilha, como o fronteiriço, continuaram despovoados até 1608, quando Diogo de Unhate e João de Abreu requereram terras ali e lhes foram concedidas pelo capitão-mór de São Vicente, Gaspar Conqueiro, por despacho de 20 de janeiro de 1608.

Senhor capitão-mór - Dizem Diogo de Unhate e João de Abreu, moradores na vila de Santos, moradores na vila de Santos, que eles são moradores de 40 ano nesta capitania, casados e muitos filhos e netos, em especial Diogo de Unhate que tem 11 filhos, sendo 7 filhas, 5 solteiras para casar, e que não tem terras para fazer seus mantimentos, e por esta causa padece grandes trabalhos e necessidades, e que eles haviam ajudado a defender os inimigos que a eles vinham, franceses, ingleses e holandeses, e contra os nativos rebelados nas guerras muitos trabalhos e necessidades, recebendo em seu corpo muitas flechadas e feridas de que o dito Diogo de Unhate ficára manco e aleijado do braço e mão direita, e derramara o seu sangue muitas vezes sem ter tido remuneração alguma; e porque a 15 léguas desta vila de Santos, na Ilha de São Sebastião, na terra firme defronte dela e toda a costa até o Rio de Janeiro eram todas as terras desabitadas e devolutas, e ainda que era tão longe pediam para ambos dois pedaços de terras de matos bravos que começavam defronte da Ilha de São Sebastião nos arrecifes que estão juntos de uma praia que chamam Piraqui-mirim, que estão da banda da terra dos Iguaramimis para o Nordeste e que dai vão cortando pela terra adiante ao longo do mar salgado, passando outros arrecifes que estão defronte da ilha ao longo da costa, e dai iria pela mesma praia a dar na praia que se chama Saranambitú e por ela ao diante irá cortando até chegar ao porto de canoas que chamam Ibapitandiba, e deste porto correria direito á serra e pelo cume dela iria cortando até onde começou a partir, e toda terra que houver dentro desta demarcação, águas vertentes para o mar, entraram nesta data. E outrossim mais uma légua de terra de matos, maninhos e capoeiras antigas dos gentios, que estavam devolutas, para plantações de canaviais, algodões e mantimentos, porque esta terra firme a queriam para criações, a qual terra partiria do capinzal que estava na ilha de São Sebastião que era ... de eyriba e juá a dar em outro Piraiquê que chama mirim até a enseada a que chama dos ingleses, e que a dita légua fosse em quadra. Despacho: - Concedo. Santos, 20 de janeiro de 1608. Gaspar Conqueiro. Capitão-mór".

Nessa região, um pouco para o norte, foi feita logo em 16 de junho de 1609 uma outra concessão de terras a Miguel Gonçalves, no lugar denominado Juqueri-querê. Antes dessas, já tinham sido feitas outras concessões, em 1580, como assevera Azevedo Marques, obra citada, a Braz Cubas, Domingos Pires e José Adorno. [Correio Paulistano, 02.09.1930. Página 4]

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