(...) a Irmandade se Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos acabou como vimos, se transformando na Irmandade da Boa Morte. A piedosa organização, mais à frente integrada também por homens livres, tinha entre suas principais finalidades a missão de acompanhar os enforcamentos de escravos condenados pelo júri.
Por que só acompanhavam os escravos? Aluísio de Almeida dá uma resposta curta e esclarecedora: “Branco não era enforcado”. Segundo a tradição, se a justiça divina, divergindo da humana, considerasse os condenados inocentes, a corda da forca rebentaria, impedindo que o condenado morresse. Nesse caso, a Irmandade da Boa Morte colocava sobre sua cabeça o estandarte e ele voltava para a cadeia, à espera de nova sentença.
Por três vezes a Irmandade foi acionada para essa tarefa, quando de enforcamentos determinados pelo júri e realizados no enorme campo do Piques, entre as atuais ruas Comendador Oeterer e Hermelino Matarazzo, local em que, em 1863, se construiu o cemitério municipal, hoje da Saudade.
A primeira foi em 1835, quando se enforcou um escravo, condenado por haver assassinado com muita crueldade uma escrava de Francisco Ferreira Braga. Em 1842, foram enforcados três escravos por haverem morto, na véspera do Natal de 1841, em legítima defesa, o feitor da fazenda de dona Gertrudes Eufrosina de Aguirre, no Passa Três - local em que se situa o casarão do Brigadeiro Tobias, sede daquela propriedade. Em 1851 foram enforcados três escravos que mataram seu senhor, Joaquim Rodrigues da Silveira, em Inhaíba. Em nenhum dos casos teve a Irmandadea chance de exercer sua tarefa humanitária. O estandarte portado por seus membros é conservado no Museu Arquidiocesano de Artes Sacras. Houve pelo menos mais um enforcamento anterior à organização da Irmandade, em 1837, do escravo Manoel,pertencente ao rico fazendeiro José Ferreira Braga. Em 1875, o escravoGeneroso, que havia fugido meses antes, matou a tiro o vice-presidente daCâmara, Fernando Lopes de Souza Freire. O crime ocorreu diante do palacete deste, na rua das Flores e o matador nunca foi encontrado.
(A trajetória silenciosa dos escravos e a abolição em Sorocaba: uma história ilustrada 350 anos. Fascículo 14 p.218 . In: Publicação do jornal Cruzeiro do Sul, 2004).
1° de fonte(s) [27936]
“Rua da Penha é caminho de lembranças afetivas e históricas”, Jor...