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Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tomo XXI
1858. Há 166 anos
A Sereníssima Snr.a. D. Luiza, como regente de Portugal na menoridade de seu filho o sr. D. Afonso VI conferiu a Salvador Correia de Sá e Benevides no governo desta cidade, com o caráter de governador geral da repartição do Sul sem subordinação alguma ao governador geral do estado do Brasil. Por este motivo lhe ordenou, que levantasse ao governador da Bahia a homenagem, que havia feito pela repartição do Sul. Na parente declarava S. Majestade que no caso de estar governando João de Mello o Rio de Janeiro devia ele continuar no governo desta capitania, e Salvador Correia encarregar-se somente das outras. Em Lisboa se embarcou o novo governador para a cidade da Bahia onde levantou a dita homenagem de que se fez termo lavrado na mesma cidade aos 2 de setembro de 1659. No arquivo da câmara de São Vicente, se acha o registro assim da patente como do termo citado (livro que serviu de registro pelos anos de 1600 a fl. 40 e 41).

Da Bahia se dirigiu a esta cidade, onde tomou posse e ignora-se o quando, mas é certo que já governava a 4 de outubro de 1659, porque nesse dia conferiu o posto de capitão-mór da capitania de São Vicente a Antonio Ribeiro de Moraes. Com os acertos e zelo com que costumava servir a El-Rei, e promover a felicidade da sua pátria, e também sem descontentamento nem alteração alguma dos povos, governou Salvador Correia até o fim de setembro ou princípio de outubro de 1660, tempo em que se embarcou para a vila de Santos, com o desígnio de visitar as minas situadas nos distritos de Iguape, Cananéa, Paranaguá, e vilas de serra acima. Deixou por governador desta cidade durante a sua ausência Thomé Correia Alvarenga, que em outro tempo tinha governado esta capitania com geral satisfação.

Ainda não contava muitos dias de hospedagem na vila de Santos, quando lhe chegou aviso de que logo depois de sua retirada insurgia nesta cidade um motim execrando ao qual haviam dado princípio alguns moradores da freguesia de São Gonçalo, instigados por malévolos que invejavam a glória do governador geral do Sul, e não podiam sofrer que os Correias de Sá se achassem exercitando os cargos principais da republica para que haviam sido nomeados por Sua Majestade. Não se lembrou mais o povo que esta família a quem ele era devedor de tantos e tão grandes benefícios tinha conquistado, fundado, aumentado, defendido e governado muitas vezes a capitania do Rio de Janeiro, sempre com aprovação dos soberanos, e notória conveniência dos súbditos.

Sublevou-se a gentalha, e desenfreado este monstro horrível, abortou excessos dignos de pena exemplar. Clamam os levantados contra Salvador Correia de Sá e seus consanguíneos, requerem que todos sejam depostos dos seus empregos, e prendem ao sargento-maior do terço, ao provedor da fazenda real, ao governador substituto Thomé Correia de Alvarenga, e outros muitos. Determinaram que Agostinho Barbalho Bezerra com os oficiais da câmara governem a capitania, e ordenam, que ninguém obedeça Salvador Correia de Sá e Benevides. A Barbalho tiraram por força do convento de Santo Antonio, para onde havia fugido na suposição de que no sagrado deste convento acharia seguro Latíbulo, e com ameaças de morte o constrangeram a aceitar o governo.

Aos camaristas, não seria necessário violentar; porque em uma carta, que os desse ano escreveram aos de São Paulo, e essa de falsidades, acusando a Salvador Correia de Sá e Benevides, deram provas inegáveis de sua má vontade e perversa intenção.

Na própria vila de Santos recebeu Salvador Correia segundo aviso, não menos sensível, que o primeiro, de estarem os moradores de São Paulo resolvidos a não lhe darem obediência, com o fundamento de não terem jurisdição alguma, sobre a capitania de São Vicente, os governadores do Rio de Janeiro, por se achar disposta a matéria, para lhe imprimirem a forma, que quisessem. Os paulistas, geralmente falando, eram desafeiçoados a Salvador Correia de Sá e Benevides, pelas razões seguintes.

Este governador zelava a liberdade dos nativos, e desejava executar leis, que proibiam cativa-los. Ele, e seus parentes defenderam aos extintos jesuítas na ocasião em que, amotinado o povo desta cidade acometeu com mão armada o seu colégio, por haverem publicado na sua igreja uma bula em que o pontífice fulminava a pena de excomunhão contra os plagiários do gentio americano. Ele tinha castigado ao mestre de um barco, que vindo de Santos, nesse tempo, entrou por esta barra com sinais capazes de amotinarem o povo, e indicativos de novidade interessante ao público, por levar a notícia de que os moradores da capitania de São Vicente, e Itanhaém, induzidos pelos paulistas, haviam expulsados todos os jesuítas, pela dita causa de também publicarem, nas suas igrejas, a mencionada bula. Ele finalmente solicitou, e conseguiu a restituição dos mesmos padres aos seus colégios de Santos, e São Paulo, como lhe ordenara o Sr. D. João IV, em uma carta recomendando-lhe muito aquela restituição.

Desta displicência eram cientes os levantados desta cidade, os quais também sabiam, que Salvador Correia de Sá e Benevides não fizera registrar a sua patente na câmara capital de São Vicente, sendo que nesse tempo não se dava cumprimento a provisão alguma, sem que precedesse a esta solenidade, assim por costume antiquíssimo, que trazia a sua origem do principio da povoação, como por ordens que para isso haviam dos governadores gerias do Estado. Desta omissão, e daquele desagrado, se serviram os levantados, para atraírem os paulistas ao seu abominável partido. Tanto que se amotinaram, logo escreveram a seus amigos, e correspondentes de São Paulo, que se acautelassem, e por nenhum modo aceitassem o governo senão queriam ver-se reduzidos a pobreza total, pois a sua riqueza consistia no domínio dos nativos, e o governador vinha empenhado a liberta-los. [Páginas 43, 44 e 45]

Ponderavam que Salvador Correia falava com perfeição a língua do país, e era muito amado dos nativos, os quais se uniriam a ele se chegasse a subir a serra, e tendo da sua parte tantos mil flecheiros, poderia subjugar os brancos, como lhe parecesse; concluíram afirmando que o dito Salvador Correia pela razão de governador desta cidade não tinha jurisdição alguma sobre as outras capitanias do Sul, que a Majestade somente lhe dava nos casos respectivos ás minas, e que ele a ampliava interpretando a patente régia, como lhe ditava a sua ambição.

Assim enganados alguns dos correspondentes a quem se escreveram as cartas, entraram a amotinar o povo, e conseguiram que cinquenta ou sessenta indivíduos quase todos pobres, ou forasteiros (segundo confessa o próprio governador em um dos seus bandos) fossem á casa do conselho, e obrigassem aos senadores a decretarem que se proibisse a entrada de Salvador Correia de Sá e Benevides; mandando atrancar o caminho, e nele gente armada, que lhe vedasse o trânsito. Isto relata o mesmo Salvador Correia aos camaristas de São Vicente em uma carta que lhes escreveu, a qual se conservava ha poucos anos no arquivo da câmara. Quem noticiou ao governador o levante, também lhe disse que o Juiz dos Órfãos D. Simão de Toledo Piza, fidalgo muito ilustre natural da Ilha Terceira, e Antonio Lopes de Medeiros ouvidor atual da capitania de São Vicente foram cabeças do tumulto.

Por este motivo mandou o governador deitar um bando na vila de Santos a 15 de novembro de 1660, em que suspendia do exercício dos seus cargos ao dito Juiz e Ouvidor, ordenando-lhes que no termo de um mês comparecessem distante dele. Mandou registrar a sua patente na câmara de São Vicente, e da lá remeteu uma cópia aos vereadores de São Paulo, cópia que á imitação de São Telmo serenou felizmente a borrasca porque vendo os paulistas que Sua Majestade havia confirmado a Salvador Correia no governo geral da repartição do Sul, conheceram a falacia dos levantados desta cidade, e sem contradição alguma lhe deram pronta obediência. [Página 46]

Cap. 24 da obra de Fr. Vicente do Salvador intitulado: "Jornada que Gabriel Soares fazia ás minas dos sertão, que a morte lhe atalhou." Era Gabriel Soares um homem nobre dos que ficaram casados nesta Bahia, da companhia de Francisco Barreto, quando ia á conquista de Monomotapa, de que tratei no capítulo 13 do livro terceiro: [Página 446]

Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tomo XXI
Data: 01/01/1858 1858
Página 466

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