' Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, 1994. John Manuel Monteiro - 01/01/1994 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, 1994. John Manuel Monteiro
1994. Há 30 anos
A revolta dos Tamoios entre as décadas de 1540 e 1560 tornou a escravização dos Tupinambás um negócio arriscado e caro. Diante disto, os portugueses voltaram sua atenção a outro inimigo dos aliados tupiniquim, os carijós, que em muito sentido forneciam o motivo principal para a presença tanto dos jesuítas quanto de colonos no Brasil meridional. Cabe ressaltar que existia, antes mesmo da fundação de São Paulo, um modesto tráfico de escravos no litoral sul, encontrando-se, no meio do século, muitos escravos carijós nos engenhos de Santos e São Vicente. De fato, a consolidação da ocupação europeia na região de São Paulo a partir de 1553 estabeleceu uma espécie de porta de entrada para o vasto sertão, o qual proporcionava uma atraente fonte de riquezas, sobretudo na forma de índios.[Negros da Terra, MONTEIRO, 1994, página 37]

O colégio além de abrigar os padres que trabalhariam junto à população local, também serviria de base a partir da qual os jesuítas poderiam projetar a fé para os sertões. Porém, ao orientarem suas energias para os Carijós do interior, acabaram entrando em conflito direto com os colonos, que procuravam nestes mesmos Carijós a base de seu sistema de trabalho [Negros da Terra, MONTEIRO, 1994, página 38]

Os índios do Aldeamento de Pinheiros observaram placidamente que a terraque cultivavam para os padres não servia mais e, portanto, solicitam adoação de uma área em Carapicuíba, alguns quilômetros distantes doaldeamento apertados entre as propriedades de Domingos Luís Grou eAntônio Preto. [Negros da Terra, MONTEIRO, 1994, página 45]

Contudo o incidente mais inquietante foi aquela revolta no aldeamento de Pinheiros em 1590, quando os nativos juntaram-se com guerreiros de aldeias independentes num levante geral contra os jesuítas e colonos. Embora os danos materiais e o números de vítimas tenham sido consideráveis, o que mais preocupou os colonos foi o ato simbólico da destruição da imagem de Nossa Senhora do Rosário, padroeira do aldeamento, não lhes escapando seu significado de rejeição do cristianismo e da autoridade colonial. [Página 51]

Em 1590, de acordo com a Câmara municipal, "se juntaram todas as aldeias do sertão desta Capitania" para rechaçar a presença européia na região. Naquela ocasião, uma força aliada de Guianá e Tupiniquim assolou uma expedição de 50 homens, sob a liderança de Domingos Luis Grou e Antonio de Macedo, nas proximidades da futura vila de Mogi das Cruzes. Dando sequência a esta vitória, os aliados nativos lançaram novos ataques aos sítios portugueses localizados ao longo do rio Pinheiros e, com o apoio dos residentes do aldeamento de Pinheiros, fizeram uma rebelião surpreendente contra o controle europeu da região. Da mesma forma, um ano depois, a oeste da vila, no local denominado Parnaíba, os nativos aniquilaram outra expedição escravista no rio Tietê. [Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, 1994. John Manuel Monteiro. Páginas 54 e 55]

Ao mesmo tempo, apesar do estabelecimento de uma fábrica de ferro em Santo Amaro por volta de 1609 e da suposta edificação de uma vila nas imediações da futura Sorocaba, onde existiam de fato depósitos significativos do minério, o projeto fracassou também na sua dimensão industrial.

De fato, entre 1599, quando chegou a São Paulo, e 1611, quando faleceu, d. Francisco de Sousa autorizou e mesmo patrocinou diversas viagens em demanda de minas e de nativos. Apenas uma, liderada por André de Leão e contando com apoio do círculo íntimo de d. Francisco, voltou, em 1601, para a região do Sabarabuçu, onde vagou pelos sertões durante nove meses, produzindo além do fascinante relato do mineiro prático holandês Willem Jostten Glimmer.

Considerando o alto custo e pequeno êxito deste empreendimento, d. Francisco e seus seguidores passaram a concentrar esforços na região imediata do planalto. Um resultado direto desta iniciativa foi o redimensionamento dois objetivos das expedições para o interior, que agora buscavam capturar, indiscriminadamente, os nativos dos sertões da própria capitania de São Vicente.

Realmente, todas as expedições tinham características comuns: voltavam com muitos cativos e sem nenhuma riqueza mineral. A expedição de Nicolau Barreto, com a participação de mais de cem colonos, ao devassar o vale do Paranapanema em 1602-3, apresou cerca de 2 mil cativos tememinó.

Quatro anos mais tarde, sob o comando do mamaluco Belchior Dias Carneiro, outra expedição, apesar das hostilidades sofridas pelos ataques dos Kayapó meridional, que trucidaram diversos colonos, retornou ao povoado ostentando centenas de nativos do chamado sertão dos Bilreiros.

Destino similar teve, dois anos depois, a expedição de Martim Rodrigues Tenório de Aguilar. Mas os caçadores de escravos conseguiram melhores resultados ao sul e oeste, onde existiam Tememinó e Guarani em números elevados. Duas expedições de 1610, ligadas à exploração das minas de ferro de Sorocaba, tomaram cativos desses dois grupos. Finalmente, na última viagem estimulada por d. Francisco, Pedro Vaz de Barros conseguiu escravizar, em 1611, quinhentos Guarani na região do Guairá. [Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, 1994. John Manuel Monteiro. Páginas 59, 60 e 61]

Se é verdade que os paraguaios e paulistas conseguiram forjar uma relação harmoniosa nas terras indefinidas - às custas dos Guarani, é claro - , tal relação foi desestabilizada pelos missionários jesuítas que se instalaram na região a partir de 1609, ocasião em que os padres Cataldino e Maceta ergueram as primeiras reduções. [Página 67]

O projeto de D. Francisco de Souza era a transformação de São Paulo no “celeiro do Brasil”, onde fazendas de trigo, organizadas no modelo da hacienda hispano americana, abasteceriam as minas e cidades. De fato, alguns de seus colaboradores introduziram os elementos técnicos essenciais para a produção e beneficiamento do trigo, instalando-se o primeiro moinho em 1609. [Negros da Terra, MONTEIRO, 1994, páginas 102 e 103]

Nota-se, por exemplo, um conjunto de sesmarias, outorgadas nas imediações de Mogi das Cruzes entre 1609 e 1611, associado ao processo de fundação daquela vila. [Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, 1994. John Manuel Monteiro; Página 105]

De qualquer modo, diversos colonos interessados nas minas da região assentaram-se nas imediações da futura vila (Santa Ana de Parnaíba) em fins desse século e nos anos iniciais de do XVII, aí então florescendo um próspero bairro rural de São Paulo. Ao que parece, Suzana Dias, já viúva, juntamente com seus filhos e genros teriam estabelecido a capela rural de Santa Ana por volta de 1609. [Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, 1994. John Manuel Monteiro. Página 108]

Outro aspecto que separava pequenos produtores dos de grande escala era o acedo a ou posse de moinhos de trigo. Estes, em São Paulo, podiam varias bastante em termos de escala e valor, mas as propriedades com moinho valiam bem mais do que aquelas que não possuíam. Mesmo assim, o moinho de maior importância na vila de Parnaíba, pertencente a Balthazar Fernandes, foi comprado por seu cunhado Paulo de Proença de Abreu, juntamente com a fazenda de trigo, por apenas 350$000, ou seja, um décimo do valor de um engenho de médio porte no Rio de Janeiro da mesma época. Porém, é preciso notar que este preço de venda não incluía os nativos da fazenda, enquanto o valor dos engenhos geralmente incluía escravizados africanos e o capital fixo das instalações. ["Escritura de venda de um sítio com moinho", de Baltasar Fernandes para Paulo de Proença, 1658, ASP-Notas Parnaíba, cx. 6076-28]. [Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, 1994. John Manuel Monteiro. Página 119]

Inicialmente, contudo, a Câmara permaneceu indecisa sobre o destino dos nativos trazidos do interior. Assim, por exemplo, em 1587, quando a expedição de Domingos Luís se apresentou na vila com um número considerável de cativos tupiná, a Câmara achou melhor encaminhar os nativos para um aldeamento, apesar dos energéticos protestos dos colonos. A decisão respaldava-se não nos argumentos dos interessados, mas na questão da defesa da Colônia, uma vez que a vila se encontrava assediada por outros grupos resistentes à conquista e à escravização. Apenas a partir da década de 1590 esta postura mudou, quando o conselho passou a adotar uma posição explicitamente pró-colono na questão dos nativos, colocando-se em oposição ao projeto dos aldeamentos e, por extensão, ao próprios jesuítas. [Página 131]



Em 3 de novembro de 1609, por exemplo, após a publicação da lei declarando a liberdade incondicional de todos os nativos, Hilária Luís enviou uma petição ao governador perguntando-lhe se os nativos trazidos por seu recém-falecido marido podiam entrar nas partilhas. O parecer do governador foi curto e direto: os nativos não podiam entrar em inventários por serem livres pelas leis do Reino. [Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, 1994. John Manuel Monteiro. Página 140]

Entre 1620 e 1640 vieram as famílias hispano-paraguaias: Camargo8, Buenoe Fernandes do lado espanhol e a família portuguesa, Borba Gato. Nosprimeiros anos do século XVII, o trigo era parte importante na diversificadaprodução agrícola paulista, e tinha valor de troca, frequentemente fazendoparte de dotes matrimoniais e servindo até de meio na liquidação de dívidasde jogo (MONTEIRO, 1994, p. 114).“A produção especializada do trigo começou a generalizar-se na década de1620, logo assumindo uma concentração geográfica. Três áreas tornaram-secentros de triticultura: os bairros rurais de Santana do Parnaíba, a oeste deSão Paulo; o bairro de Cotia ao Sul de Parnaíba; e a região denominadaJuqueri, banhada pelo rio do mesmo nome, ao norte de São Paulo e deParnaíba. Já na década de 1640, quase todas as fazendas e sítiosinventariados no termo de Parnaíba acusavam a produção, embora muitasvezes modestas, de trigo” (MONTEIRO, 1994, p. 114).

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