' “Visão do Paraíso - Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil”. Sérgio Buarque de Holanda - 01/01/1969 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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“Visão do Paraíso - Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil”. Sérgio Buarque de Holanda
1969. Há 55 anos
Ainda em 1436, o mapa de Andrèa Bianco, provavelmente conhecido de Colombo, mostra, ao lado do Paraíso, numa península projetada do oriente da Ásia, homens sem cabeça e com olhos e a boca no peito. A Índia verdadeira, Índia Maior, como lhe chamavam antigos geógrafos e que o Almirante presumia ter alcançado, tanto que escrevera, ainda em 1503, aos Reis Católicos que certa região por ele descoberta ficava a dez jornadas do Ganges, era, dada a notoriedade de seus tesouros e mistérios, um dos lugares favorecidos pela demanda do sítio do Éden. [Páginas 22 e 23]

Peças e PedrasÀ IMAGEM ou NÃO do Dourado propriamente dito - o dosOmágua e de Manoa - e também do Dourado de Meta, isto é odos Chibcha, foram repontando aqui e ali muitos outros reinos áureosou argênteos, não menos lisonjeiros para a desordenada cobiça dossoldados. Georg Friederici consegue assinalar, em sumária relação, oDourado de Paititi, nas regiões de Mojos e Chiquitos; o Dourado dosCésares, na Patagônia, até ao Estreito de Magalhães e, para o norte,na área do Chaco; o Dourado das Sete Cidades. no território do NôvoMéxico atuaJI, e o de Quivira, ao oriente das grandes planuras daAmérica do Norte2.

A êsses poderia juntar o Dourado do Vupabuçu e Paraupava, no Brasil, isto é aquela mesma lagoa dourada, segundo todos os indícios, que Gabriel Soares saíra a procurar e em cuja demanda se finou. Tributário, embora, do mito que se esgalhara de Nova Granada para a Guiana e o país dos Omágua, é significativo que êsse Dourado, impelido por alguns até ao Xaraies, na direção do Peru, não teve para nenhum dos cronistas portuguêses, ao que se saiba, aquelas côres deslumbrantes ou a auréola paradisíaca de que se envolvera a Manoa lendária.

Registado em alguns mapas e citado de passagem por Frei Vicente do Salvador com aquêle nome de Dourado ou Lagoa Dourada, a êle não se faz, entretanto, qualquer alusão nos escritos conhecidos do próprio Gabriel Soares. E em realidade, o simples atrativo do ouro, e ainda o da prata, segundo o exemplo de Potosi, bastaria, independentemente de qualquer elemento fantástico, para autorizar o longo prestígio alcançado por uma região imprecisa, onde depoimentos dos índios faziam presumir que comportava abundantes jazidas de metal precioso. Êsse elemento fantástico, se existiu no caso do Douradobrasileiro, nenhum texto quinhentista o certifica.

Êsse fato surpreende tanto mais quanto a mestiçagem e o assíduo contato dos portuguêses com o gentio da costa, longe de amortecer, era de molde talvez a reanimar alguns dos motivos edênicos trazidos da Europa e que tanto vicejaram em outras partes do Nôvo Mundo. Sabe-se, por exemplo, graças aos textos meticulosamente recolhidos eexaminados por Alfred Métraux, o papel considerável que para muitas daquelas tribos chegara a ter a sedução de uma terra misteriosa "onde não se morre".

Nem essa idéia, porém, que dera origem, por volta de 1540, a extensa migração tupinambá do litoral atlântico para o poente - causa, por sua vez, da malfadada aventura de Pedro de Orsúa na selva amazônica -, nem outras miragens paradisíacas dosmesmos índios, que se poderiam inocular nas chamadas "santidades" do gentio, parece ter colorido entre nossos colonos o fascínio, êste indiscutível, que exerceram s"ôbre êles as notícias da existência de minas preciosas.

Num primeiro momento, é certo, tiveram essas notícias qualquer coisa de deslumbrante. Delas tratara, em carta a D. João III, certo Filipe Guillén, castelhano de nação, o qual, tendo sido boticário em sua terra, fizera-se passar em Portugal por grande astrônomo e astrólogo, até que, revelado um dia seu embuste, o mandou prender el-rei.

Já à sua chegada ao Brasil, pelo ano de 1539, êsse mesmo homem,de quem Gil Vicente chegou a declarar, numas trovas maldizentes,que andou por céus e terras, olhou o solo e o abismo,de[ abismo vió el profundo,de[ profundo el paraisa,dei paraíso vió el mundo,dei mundo vió quanto quiso5,pretendera ter ouvido como de Pôrto Seguro entravam terra adentrouns homens e andavam lá cinco e seis meses. Empenhando-se eminquirir e saber das "estranhas coisas dêste Brasil", propusera-se sair,com o favor de Sua Alteza, a descobrir as minas que os índios diziamlá haver. [Páginas 34 e 35]

As tenças com que, apesar de tudo, o honrou D. João III, quando o fêz vir ao Brasil, não teriam ajudado a melhorar muito, na Côrte, o crédito de Guillén. De outro modo, como explicar a nenhuma atenção dada ali a essas auspiciosas notícias que se apressara a mandar por "todas as vias e navios que pera o reyno yan?" Amargurado com o pouco caso e por não vir recado nem mandado de Sua Alteza, êsse homem de tão boa prática e que tão docemente mentia, continuará, não obstante, aferrado aqui aos "falsos panos" e, não menos, naturalmente, ao extraordinário astrolábio de sua invenção, com que

sin ver astrolomia el toma el sol por el raboen qualquiera hora dei dia,certo de que o socorro dessa máquina lhe valerá muito quando puderir desvendar os segredos da terra.

Do paraíso, que deveria andar refolhado entre as montanhas do Brasil, só lhe chegarão uns confusos prenúncios no momento em que, já gasto da idade e dos achaques, não o poderá ver com os próprios olhos, nem medir com aquela "arte de Leste a Oeste", que pretendia ter achado. Querendo, porém, servir ao soberano, comunica-lhe em 1550 que, no mês de março dêsse mesmo ano, uns índios dos que vivem "junto de hu gram rio" tinham chegado ao Pôrto Seguro com a novidade de uma serra situada em seu país, que "resplandece muito" e que, por êsse seu resplendor era chamada "sol da terra".

Além de resplandecente era a serra de côr amarela e despejavaao rio pedras dessa mesma côr, que se conheciam pelo nome de "pedaços de ouro". Tamanha era sua quantidade que os índios, quandoiam à guerra, apanhavam dos ditos pedaços para fazer gamelas, emque davam aos porcos de comer, "que pera si não ousam fazer cousaalguma, porque dizem que aquelle metal endoença". E pela mesmarazão não ousavam passar-se à serra, que era muito para temer, devidoao resplendor.

Ao menos desta vez teve o astrônomo, em Tomé de Sousa, quem lhe desse ouvidos e o mandasse a descobrir as montanhas, que outros já pensavam em ir procurar por conta própria. Respondeu-lhe o castelhano que importava, para isso, ir homem de muito siso e cuidado, capaz de tomar a altura do Sol, fazer roteiro de ida e vinda, olhara disposição da terra e o que nela existisse.

Ele próprio, no entanto, já podia anunciar que sem dúvida havia ali esmeraldas e outras pedras finas, e como nada desejava mais do que gastar a vida em serviço de Deus e Sua Alteza, prontificava-se a ir em pessoa e estivera nessa disposição. Aqui, dizia a el-rei, enganou-o a vontade no que a idade o vinha desenganando, pois adoeceu dos olhos e não pôde levar a cabo sua tenção.

Passados vinte anos, a fama das montanhas reluzentes do sertão ainda perdura intata. É de crer, com efeito, que Gandavo, escrevendo por volta de 1570, se reporte no seu tratado da terra ao mesmo caso que narrara a el-rei o astrônomo castelhano, quando alude às novas levadas a Pôrto Seguro por certos índios, de umas pedras verdes encontradas numa serra "termosa e resplandecente", muitas léguas pela terra dentro. As quais pedras, segundo amostras apresentadas, seriam esmeraldas, ainda que de baixo preço8. E nada impede que já então tivesse surgido, além da fama, o nome do Sabarabuçu associado a essas montanhas, embora se ache pela primeira vez documentado a propósito de uma entrada de 1601, feita de São Paulo e não de Pôrto Seguro.

De qualquer modo a explicação fornecida por Teodoro Sampaio, de que o nome "serra resplandecente" a que se referira Gandavo, corresponde ao tupi Itaberaba e, no aumentativo, ltaberabaoçu, que sem dificuldade se corromperia em Taberaboçu e, finalmente, Sabarabuçu, tem sido geralmente acatada entre os historiadores e pode virem abono dessa hipótese9. Semelhante interpretação parece tanto maisaceitável, aliás, quanto uma das formas intermediárias possíveis, Tuberabuçu, ocorre nas Memórias Históricas de Monsenhor Pizarro, quea poderia ter derivado de fonte hoje perdida, ao lado da alternativaSabrá-boçu. Observando que essas montanhas foram o alvo principalde Fernão Dias Pais, em sua grande bandeira, escreve o cronista queela "se diz hoje Serra Negra ou das Esmeraldas"1º.É difícil contestar, além disso, a existência de uma continuidadeentre a versão quinhentista das montanhas que reluzem e a Sabaraboçumítica de Fernão Dias. A localização da mesma Sabaraboçu aproximadamente na latitude da capitania onde primeiro a procuraram, será expressamente admitida, aliás, quando se organizarem as buscas pelocaminho de São Paulo. E é bem sabido que a preferência dada aêste último caminho, quando se cogitou na entrada do governador dasesmeraldas, seguiu-se quase imediatamente ao malôgro da expediçãode Agostinho Barbalho Bezerra cuja tentativa deveria ser retomada erematada pelo primeiro. Ora, Barbalho, que também levava expressamente a missão de descobrir o Sabaraboçu, saíra do Espírito Santo,capitania vizinha à de Pôrto Seguro, afundando-se nos matos doRio Doce.Por outro lado, as descrições conhecidas das refulgentes montanhas, que surgem em várias épocas nas capitanias do Centro e doSul, oferecem entre si tais semelhanças que parecem tôdas dependentes,em última análise, daquelas notícias levadas a Pôrto Seguro, já em1550, pelos índios do sertão, segundo a narrativa de Guillén.

Assim como êste, querendo denunciar a abundância de metal amarelo, alude às gamelas que do mesmo metal fazia o gentio, para dar de comer aos porcos, o aventureiro inglês Anthony Knivet, que em 1597 se desgarra no sertão com doze portuguêses de uma bandeirasaída de Parati, referirá depois, entre as muitas maravilhas de sua jornada, que os índios daquelas partes se valiam do ouro para as suas pescarias, atando à extremidade da linha um granete dêle.

E se em seu relato o resplendor da enorme serra avistada no percurso não se mostra tão temível que dê para afugentar os índios, como acontecia com as ofuscantes montanhas da versão do espanhol, o fato é que ainda continua a apresentar dificuldades a quem procure acercar-se das encostas.

Êle próprio e seus camaradas portuguêses não tinham conseguido chegar-se a elas durante o dia e com o sol a pino. Além dessas montanhas deslumbradoras, vira Knivet pedras verdes, e tinham o verde da erva do campo. Estas ou algumas das gemasbrilhantes que também encontrou, brilhantes como cristal, vermelhas,verdes, azuis, brancas, de tanta formosura e galantaria que davamcontentamento aos olhos, deviam aparentar-se, por sua vez, às esmeraldas e outras pedras finas pressentidas por Filipe Guillén e noticiadaspor Gandavo.

Por essas mostras julgara-se Knivet a pouca distância de Potosi.

Tomando o rumo de sudoeste foi dar, porém, com os companheiros, a uma grande serra áspera e selvagem; depois, passada ela, a um lugar de terras pardacentas, todo cheio de colinas, penedias e ribeiros. Aqui acharam de nôvo muito ouro, que se apresentava em fragmentos do tamanho de avelãs ou desfeito em pó. Dêste pó havia grandíssima quantidade, que cobria como se fôra areia, as beiradas de muitos riachos.

A crença de que o Potosi não ficaria longe, sugere-a o inglês ainda em outra ocasião, ao descrever a entrada de Martim de Sá. Nessa jornada, os expedicionários, depois de transposta a Mantiqueira e alcançada certa "montanha de pedras verdes", chegaram a um rio de nome Jaguari (Jawary), o qual tinha suas cabeceiras no próprio [Visão do Paraíso, 1969. Sérgio Buarque de Holanda. Páginas 37 e 38]

Filipe Guillén, de sua parte, continuava a confiar no feliz sucessodas explorações auríferas ou argentíferas, e nesse sentido dirigiu-se ael-rei em carta de 12 de março de 1561, insistindo em que as fizesseprosseguir. Não deixava de lembrar, a êsse propósito, o muito quelucrara a Coroa de Castela com proteger a Colombo, que lhe deratamanha riqueza com tão pouca despesa. Parecia-lhe contudo da maiorimportância que fôssem as expedições suficientemente numerosas para poderem vencer o embaraço dos índios contrários27. Outro tantodissera em 1560 Vasco Rodrigues de Caldas, quando obteve de Memde Sá autorização para rematar a jornada do espanhol.No mesmo ano e no anterior tinham-se realizado as expedições deBrás Cubas e Luís Martins, saídas do litoral vicentino. De uma delashá boas razões para presumir que teria alcançado a àrea do São Francisco, onde recolheu amostras de minerais preciosos. Marcava-se,assim, um trajeto que seria freqüentemente utilizado, no século seguinte,pelas bandeiras paulistas. É de crer, no entanto, que o govêmo, interessado, porventura, em centralizar os trabalhos de pesquisa mineral,tanto quanto possível, junto à sua sede no Brasil, não estimulasse aspenetrações a partir de lugares que, dada a distância, escapavam maisfàcilmente à sua fiscalização. [Visão do Paraíso, 1969. Sérgio Buarque de Holanda. Páginas 44 e 45]

Paraupava. Esta se acharia tão bem no sertão dos goiases, onde andouaparentemente Domingos Rodrigues, quanto no Xaraies ou no própriosítio de Paraopeba, que até hoje conserva êsse nome, em Minas Gerais.f: de notar-se que êste último lugar deveria corresponder melhor aoda lagoa Dourada do São Francisco, tão procurada pelos aventureirosque buscavam as origens do grande rio.Tão persistente se mostrou a noção da existência dêsse lago central- berço de tôdas as principais correntes fluviais que fenecem na costaatlântica do Brasil e túmulo dos que nascendo nas alturas dos Andes,~e precipitam pelas vertentes orientais -, que ainda em 1648 encontrava ela guarida no sábio e austero tratado do naturalista JorgeMarcgrave de Liebstad. Entre os muitos braços que, à maneira dearanha monstruosa, lançava êsse lago em tôdas as direções, deveriaincluir-se forçosamente o Rio da Prata. :Êsse era um ponto pacífico,"já ninguém o põe em dúvida", são as palavras mesmas de João deLaet no seu aditamento ao livro de Marcgrave. E outro tanto, na suaopinião, ocorreria com o Maranhão e o São Francisco.A propósito dêste último, teve Laet a idéia benemérita de reproduzir no texto as observações de seu compatriota Guilherme Glimmerr.cêrca de uma viagem que pudera empreender em 1601, quandomorador na capitania de São Vicente, e que até hoje representa oúnico documento conhecido sôbre o percurso da bandeira confiada aomando de André de Leão. As origens dessa expedição prendem-se,de acôrdo com o t~stemunho de Glimmer, ao fato de ter recebido D.Francisco de Sousa de certo brasileiro, pela mesma época, amostrasde uma pedra de côr tirante ao azul, de mistura com grãos dourados.Submetida ao exame dos entendidos, um quintal dessa pedra chegaraa dar nada menos do que trinta marcos de prata pura57.Não é impossível que a pedra tivesse sido enviada a D. Franciscopelo próprio Domingos Rodrigues, durante sua viagem ao Paraupava.Se assim se deu, como hã quem o presuma, o célebre roteiro deGlimmer explica, não apenas a mudança para São Paulo do governador, como a origem da identificação, logo depois geralmente aceita,entre as esperadas minas de prata do sertão e a fabulosa serra resplandecente, agora, e também pela primeira vez em documento conhecido,designada pelo nome indígena de Sabarabuçu.

Completa-se assim, na capitania sulina, a mitologia geográfica surgida desde os tempos iniciais da colonização, em tôrno da cobiça dos tesouros ocultos do sertão. Aquelas riquezas, que tanto empolgavam as imaginações, situavam-se, fora de dúvida, junto às nascentes do São Francisco, acessível também pelo caminho de São Paulo.

Glimmer alude, efetivamente, a duas correntes de água, de diferentes volumes, que abrem caminho com dificuldade por entre as montanhas de Sabarabuçu ou, conforme diz, Sabaroasu, que foi o sítio de onde se extraíra a pedra mandada a D. Francisco, e refere a crença corrente de que ali se achariam as cabeceiras do rios.

Deixa o autor de tocar, ao menos nas partes transcritas de seuroteiro, na existência ou não da lagoa fantástica, mas João de Laetnão encontra dificuldade em admiti-la, no que se mostrava dócil àsteorias de seu tempo. E tal crença não se pretendia fundada emengodos, mas buscava arrimar-se em razões demonstrativas e poderosas.Pois se era certo que ninguém, até então, tinha explorado as fontes eorigens do São Francisco, só a presença da famosa lagoa, formada deáguas que ali se juntavam, das vertentes dos Andes, e onde se dariamtambém as mãos o Prata e o Amazonas59 poderia fornecer a boaexplicação para certo fenômeno que, de outra forma, participaria domiraculoso.O fato estava nisto, que em contraste com os demais rios queno Brasil correm para o Atlântico, êste, no período do verão, tãovolumoso se ostenta que suas águas continuam doces através de váriasmilhas mar adentro. À peculiaridade que oferecia, por tal aspecto,não se mostraram tão cegos os portuguêses que dela não se ocupassemseus cronistas. Da mesma forma os castelhanos não deixarão deadmirar-se de fenômeno idêntico no Paraguai. O qual rio, escreveAcosta, colhendo cada ano, nos meses de verão, infinidade de águasque se vertem das serras do Peru, "sale tan desaforadamente de lamadre y baii.a tan poderosamente toda aquella tierra, que les é forzosoa los que habitan en ella, por aquellos meses, pasar su vida en barcoso canoas, dejando las poblaciones en tierra"60.É de crer que, no caso do São Francisco, tivessem já ati~ado osportuguêses com as mesmas razões que para o fenômeno propõe Joãode Laet. Tanto mais quanto, por estas, ficava naturalmente justificadaa existência da "alagoa grande", também constituída das águas oriundasdas cordilheiras ocidentais, e ainda a fama das muitas riquezas quenela haveria: despojos das minas do Peru, que as mesmas águas acarretavam para o coração da América lusitana.Pode-se presumir também que essa idéia da formação da "alagoagrande" em virtude do acúmulo das águas coalhadas de detritos de preciosos metais e gemas originadas do alto das cordilheiras, tenha sido, noentanto, uma espécie de explicação e racionalização a posteriori dacrença, recolhida da bôca dos índios de terra adentro acêrca dasgrande riquezas que encerraria a mesma lagoa. É significativo que [Páginas 59 e 60]

podêres e honrarias, pudera alcançar, à custa de muitos trabalhos econtratempos, alguns dos mesmos privilégios que obtinha, agora D.Francisco sem maiores dificuldades76, graças às suas manhas proverbiais, ao prestígio de que desfrutava no Paço e sobretudo à fôrçacontagiosa de suas magníficas esperanças e promessas.Neste ponto conviria, mais uma vez, fixar a questão da preferênciadada agora às capitanias do sul como centro das explorações oficiaisdas minas, que até então, e mesmo no caso de Gabriel Soares, cujainfluência parece primordial na elaboração dos projetos do Senhor deBerinjel, se dirigiam, em geral, para as do centro: Pôrto Seguro, sobretudo, e Bahia.

Antes de tudo o argumento dado em 1550 por Duarte de Lemos para se fazerem as entradas através da primeira dessas capitanias, ao recordar que estava na altura das minas do Peru,também era válido, e com melhores motivos, para aquelas regiões mais ao sul. Por um lado já se sabia como o Rio Doce, que atravessa o Espírito Santo, se acha na latitude do Sêrro de Potosi. Por outro, São Paulo, onde eram costume endêmico as correrias no sertão (e deonde, aliás, iam cada dia novas de rescobrimento de ouro), parecia o caminho adequado para a provável região das minas e mesmo para as raias do Peru, dado que a silhueta do continente se adelgaça na direção daquelas partes. Seriam necessárias outras razões, após o malôgro das buscas feitas inicialmente, para favorecer, desta vez, a área que seestendia para o sul de Pôrto Seguro, até abranger a antiga donataria de Martim Afonso?

Entre os motivos que tinham aconselhado a escolha de terras maispróximas do Centro e sede do govêrno-geral para as entradas de descobrimento, uma das principais fôra, sem dúvida, a da maior comodidade que nelas se oferecia para a observação das ditas minas e assimtambém para a cobrança e arrecadação dos quintos pertencentes àReal Fazenda. Essa mesma causa iria desaparecer, porém, coma simples providência da separação das capitanias do Sul, que deviamsujeitar-se agora a um govêrno próprio.Com todo o desvairado otimismo de seus planos grandiosos, nãoé impossível que, no íntimo, D. Francisco se deixasse impressionar poraquela idéia, partilhada com outros portuguêses da época, de que, emmatéria de ouro e prata, Deus se mostrara mais liberal aos castelhanos, dando-lhes a fabulosa riqueza de suas minas. Assim se explicaa miragem do Potosi, o sonho, que já tinha sido o de Tomé de Sousa,de fazer do Brasil um "outro Peru" e que está presente em todos osatos de sua administração.

Essa idéia obsessiva há de levá-lo, em dado momento, ao ponto dequerer até introduzir lhamas andinas em São Paulo. Com êsse fito chegaria a obter prov1sao real, lavrada em 1609, determinando que se metessem aqui duzentas lhamas ou, em sua linguagem, "duzentos carneiros de carga, daqueles que costumam trazer e carregar a pratade Potosi, para acarrear o ouro e a prata" das minas encontradas nas terras de sua jurisdição. E recomenda-se no mesmo documento que das ditas lhamas se fizesse casta e nunca faltassem77. Já seria essa, à falta de outras, uma das maneiras de ver transfiguradas as montanhas de Paranapiacaba numa réplica oriental dos Andes.

E se a imagem serrana das vizinhanças de São Paulo ainda não falasse bastante à sua imaginação, outros motivos, em particular a suspeita de que estando ali se acharia mais perto do Peru, por conseguinte das sonhadas minas de prata e ouro, poderiam militar emfavor da escolha que fêz dessa vila para lugar de residência. Justamente pela época em que andaria na côrte da Espanha a pleitear junto ao Duque de Lerma e Filipe III sua nomeação para a conquista, benefício e administração das minas das três capitanias do Sul, deverater chegado às mãos do donatário de São Vicente, aparentado seu, uma carta dos camaristas de São Paulo com data de janeiro de 1600, que era de natureza a suportar tais ambições e ainda mais corroborar suas ilusões acêrca da distância entre aquela vila e o Peru.

A carta é, antes de tudo, um cerrado libelo contra os capitães, ouvidores e até governadores-gerais que segundo diz, não entendiam e nem estudavam senão como haviam de "esfolar, destruir e afrontar" o povo de São Paulo. Para dar remédio a tais malefícios, pede-se ao donatário que, por sua pessoa, ou "coisa muito sua", trate de acudircom brevidade à terra que o Senhor Martim Afonso de Sousa ganhou e Sua Majestade lhe deu com tão avantajadas mercês e favores. E para mostrar a bondade da mesma terra, referem-se os oficiais da Câmara entre outras coisas, às minas, exploradas ou não, que nela seacham, a de Caatiba, de onde se tirou o primeiro ouro, e ainda a serra que vai dali para o norte - "haverá sessenta léguas de cordilheira de terra alta, que tôda leva ouro" -, além do ferro de Santo Amaro, já em exploração, e o de Biraçoiaba, que é região mais larga e abastada, e também do muito algodão, da muita madeira, de outros muitos achegos, tudo, enfim, quanto é preciso para nela fazer-se "um grande reino a Sua Majestade". Ao lado disso, fala-se também no grande meneio e trato com o Peru e na presença de "mais de 300 homens portuguêses, fora seus índios escravos, que serão mais de 1500, gente usada ao trabalho do sertão, que com bom caudilho passam ao Peru por terra, e isto não é fábula" [M. E. de AZEVEDO MARQUES, Apontamentos Históricos, Geográficos, Biográficos, Estatísticos e Noticiosos da Província de São Paulo, 11, págs. 224 e segs. Cf. também ACSP, li, págs. 497 e segs., onde vem reproduzida a carta dos camaristas de São Paulo, de acôrdo com o texto anteriormente impresso por Azevedo Marques.].

Prata, há referências a cinocéfalos como os de que falara Colombo, estando nas Antilhas, e ainda a certos homens que tinham as pernas, dos joelhos para baixo, semelhantes às dos avestruzes, notáveis pela sua muita diligência: “dicen que en las dichas sierras ay hombres que tienen el Rostro como de perro y otros de la rodilha abajo como de Abestruz, y que estos son grandes trabajadores y q cogen mucho mays de que hacen pan y vino dei [...]” 27 . Bem se pode imaginar o efeito que produziram entre castelhanos as novas dessas serranias opulentas, as mesmas, aparentemente, que a Nunez de Balboa, quando o caminho do Darien anunciara um filho do cacique Conogre, mancebo de “muita cordura e discrição”. O qual, segundo Las Casas, ouvindo que em Espanha havia muito ferro, de que faziam as espadas, apontou para a direção do sul e deu a compreender que naquelas partes, segundo imagem familiar aos espanhóis, mais ouro havia “do que ferro em Biscaia” 2lS . O empreendimento de Garcia, comprovando a existência daquelas riquezas, teria reflexos, aliás, no próprio desenvolvi- mento étnico de vasta região sul-americana, segundo o demons- traram Erland NordenskjõkP e Alfred Métraux 30 . O último, em seus estudos sobre a civilização dos índios Chiriguano, adianta mais que “esse episódio da conquista, associado de modo tão estreito a um fenômeno étnico, surge hoje como fato de capital importância, e fato cujos efeitos foram consideráveis sobre a evolução étnica das províncias do Prata” 2 *.

Confirmadas, bem ou mal, as notícias obtidas pela expedição lusitana de 1514 e documentadas na Nova Gazeta acerca das terras do ouro e prata, não tardariam muito em manifestar-se os ciúmes e divergências nacionais em torno de sua posse. Entre as Coroas de Portugal e Castela, que eram as diretamente interessadas, conduziu-se a polêmica sem acrimônia visível, como convinha a casas reais tão intimamente aparentadas, e no entanto com obstinada firmeza. A esperança dos maravilhosos tesouros, alvo de todas as ambições, dissimulava-se naturalmente sob raciocínios mais confessáveis, de sorte que não vinham à tona senão argumentos como o da demarcação ou o da prioridade.

Não menos do que os castelhanos, presumiam-se os portugueses favorecidos, neste caso, pela linha de Tordesilhas, chegando mesmo a reivindicar todo o litoral que se estende até o estuário platino ou mais ao sul. E quem provaria a sem-razão dessas pretensões? Quanto ao problema das prioridades eram capazes de apresentar argumentos ainda mais impressionantes.

Se os outros talavam no Rio de Solis, poderiam alegar que antes de Solis lá tinha estado a gente de Dom Nuno. E antes de Caboto remontara seu curso Cristóvão Jaques, capitão del-rei de Portugal.

Neste particular parece decisivo o testemunho contido na carta já citada de Luís Ramirez, onde se lê que o referido capitão já ali estivera, tendo prometido a Francisco dei Puerto, um dos náufragos da expedição de Solis, que voltaria ao mesmo lugar.

Durante algum tempo, em realidade até a época das conquistas de Pizarro, podia parecer que o litoral sul do Brasil e principalmente o rio que dela tirou seu nome seriam passagem obrigatória para quem quisesse ir à misteriosa serra de prata, alcançada por Aleixo Garcia e depois procurada a mando de Sebastião Caboto, pela gente de Francisco César, que por sua vez daria origem a um dos mais persistentes mitos da conquista: o da “cidade dos Césares”.

Que a fama de tais tesouros logo tivesse ultrapassado, na Europa, as fronteiras ibéricas, é mais do que provável. Os “segredos” das novas terras descobertas não eram grandes segredos para muitos estrangeiros, armadores de navios, alguns deles, estabelecidos nos portos castelhanos ou lusitanos. Basta lembrar que a um alemão morador na Madeira e talvez agente comercial se deve o único documento até hoje conhecido acerca dos resultados da expedição de Dom Nuno Manuel, em 1514. Em 1526, o inglês Robert Thorne, também mercador e residente em Sevilha, contribuiu, ajudado de um sócio, com a quota de mil e quatrocentos cruzados para as despesas de certa armada de três naves e uma caravela, que devia dirigir-se às índias em abril daquele ano: foi graças a tal expediente que dois amigos e compatriotas seus, entendidos em cosmografia, puderam embarcar nessa frota, levando a incumbência de fazer um minucioso relatório das terras percorridas.

Na comunicação que a respeito enviou Thorne ao embaixador de Henrique VIII junto à corte do imperador, nada se acrescenta acerca da armada, mas os poucos dados que ele próprio fornece nos autorizam a identificá-la sem dificuldade com a de Sebastião Caboto, que constava precisamente de três naves, além de uma pequena caravela, e saíra de Sanlúcar para as índias, isto é, rumo ao Brasil e ao Prata, no dia 3 de abril de 1526. Mandando essa comunicação, o intento do autor, declarado reservadamente ao representante de Henrique VIII, era mostrar as vantagens que tirariam seus compatriotas do comércio das índias, [Páginas 91 e 92]

mente comercial dessa empresa parece excluir, no entanto, de seu itinerário, os portos sulinos, onde não se dá o pau-de-tinta que Jerônimo Verrazano pretendia levar de volta.

Se o súbito interesse geralmente suscitado por aquelas terras explicasse pelo atrativo que proporcionara o descobrimento, na parte austral do continente, de um novo caminho para as Molucas, é de crer que entre os portugueses especialmente, já afeitos à sua carreira das índias, se prendesse em maior grau à fama das grandes riquezas que de lá chegava ao Reino com os seus navegantes. Quase nada se conhece da viagem de Cristóvão Jaques a tais paragens, mas de uma carta do embaixador Juan de Çúñiga a Carlos V com a data de julho de 1524, consta como certo homem que vinha a descobrir terras na costa do Brasil e andava em demandas com Dom João III, para que lhe pagasse Sua Alteza o prometido pelo seu trabalho; falava em grandes tesouros minerais existentes nas terras que achou.

Ao embaixador castelhano logo pareceu que aquilo seriam terras do imperador. E ainda mais se certiíicou da suspeita quando tal homem, atendendo a solicitações que lhe fizera, foi dissimuladamente e com muito medo à sua pousada, e declarou-lhe que encontrara em certo lugar das terras percor- ridas nove homens que foram da armada de João de Solis e, mais adiante, deparara com um maravilhoso rio de água doce, largo de quatorze léguas na embocadura. Entrando por ele soubera dos naturais como águas acima havia outros índios, inimigos desses, entre os quais existiam daquelas coisas que lhes mostrava o navegante, que eram ouro, prata e cobre. Seduzido pelas novas, subira ele o rio, até encontrar certos velhos, com os quais fez resgates, e deram-lhe, os velhos, peda- ços de prata e cobre e umas pedras com veias de ouro. Além disso, falaram-lhe numa serra distante trezentas léguas do lugar, riquíssima naquelas coisas. Disseram ainda que se afeiçoavam menos à prata do que ao cobre, havendo ali muito cobre, porque este luzia mais. Quanto ao ouro, seria necessário ir mais longe para encontrá-lo. Prontificava-se o homem a continuar seus descobrimen- tos na dita terra, por conta de Sua Majestade, contanto que lhe fosse de algum modo assegurado o que em Portugal poderia perder, e seriam cinqüenta mil maravedis por ano. Não excluía a possibilidade de pertencerem aquelas regiões à demarcação de Castela, e o que de certo modo reforçava tal possibilidade era o pouco fruto dos esforços do mesmo navegante junto à Coroa [Páginas 94 e 95]

de Sua Majestade o Imperador. Nela pode ler-se o seguinte trecho: Del peru vyno por el ano pasado un pasajero natural português que se dize domyngo nunes natural de Moron ques Junto ala Raya de Castilla el qual trujo de veynte a treynta myll ducados este andado persuadiendo al Rey por uma conquysta por el Brasil para por ally entrar a las espaldas de cuzcol O assunto fica aparentemente liquidado com essa infor- mação. O principal obstáculo à identidade entre o Nunes natural de Mourão, junto à raia de Castela e o dos “Apontamentos”, ou seja, a diferença nos prenomes torna-se de pouca monta quando se pense que “Domingo” e “Diogo” são palavras que se podem eventualmente confundir, e abreviadas, segundo uso generalizado na época, não oferecem diferença alguma. Aliás, a transcrição esmerada de nomes portugueses não parece uma das preocu- pações de Martin de Orue, que nesse mesmo papel alude a um torjão de ocampo”, filho do capitão de Porto Seguro, querendo referir-se evidentemente a Fcrnão do Campo, filho de Pero do Campo Tourinho e seu sucessor na donataria. A “relação” citada, que em outros passos apresenta importantes subsídios no tocante ao estudo das primitivas comu- nicações por terra firme entre São Vicente e o Paraguai, é de grande valia para o conhecimento das coisas da América, espe- cialmente do Paraguai, onde andara por mais de uma vez durante anos consecutivos. Dele afirma Lafuente Machaín que foi dos “conquistadores de maior influência da incipiente colônia” 54 . Apesar da minúcia desse historiador no resenhar as atividades de tal personagem, não se encontra no seu trabalho sobre os conquistadores do Rio da Prata qualquer palavra acerca da missão secreta em Portugal, tão intimamente ligada a fatos daquela conquista. A respeito existem, no entanto, em Sevilha, duas cédulas reais perfeitamente claras. A primeira, datada de 21 de abril de 1554, discrimina o que deveria fazer Orue “con la mejor dilligencia que pudiere” durante a viagem a Lisboa. Outra, de 9 de agosto do mesmo ano, é uma carta de recomendação ao embaixador Luís Sarmiento de Mendoza. Esta deveria ser entregue ao destinatário caso o espião o julgasse necessário, sem prejuízo de sua incumbência.

O que pôde este apurar refere-se, por um lado, à armada de Luís de Melo, que depois se perdeu na costa do Brasil, assim como das pretensões dos portugueses sobre a região do Rio Piqueri e sobre a própria Assunção, estimuladas agora por amostras de metal precioso ido daquelas partes, e que as análises feitas indicavam ser muito boa prata. São Vicente tornara-se, já então, depois do porto dos Patos, do Viaçá e da Cananéia, um dos possíveis pontos de penetração do continente pelo litoral atlântico.

Dos Patos saíra Aleixo Garcia, e saíra, mais tarde, Cabeza de Vaca. Ambos tinham subido o Rio Itapucu, rumando para terras do atual Estado do Paraná, e sabe-se que o adelantado, valendo-se de guias indígenas, seguiu o itinerário de seu antecessor. Esse itinerário está descrito nos “Comentários” de Pero Hernandez e sobre ele discorre, com sua habitual segurança, o Barão do Rio Branco, além de reproduzi-lo em mapa 55.

Tudo faz admitir que em algum ponto dessa via devesse desembocar o caminho que tinham percorrido, saindo de Cananéia, os expedicionários de Pero Lobo. De outro modo explica-se mal o fato de a gente de Gabeza de Vaca transitar em sua entrada pelo mesmo lugar onde dez anos antes se verificara o trucidamento daqueles expedicionários encontrando, além disso, à altura do Tibaji, um índio recentemente convertido chamado Miguel, de volta à costa do Brasil, de onde era natural, após longa assistência entre os castelhanos do Paraguai. Desse Miguel dirá mais tarde Irala, em documento publicado por Machaín, que tinha seguido pelo caminho que percorreu Aleixo Garcia: “por el camiiío que garcia vino”.

Também é provável que a via de São Vicente a Assunção, aberta aparentemente pelo ano de 1552 ou pouco antes, fosse um dos galhos da mesma estrada. Não há prova de que antes da vinda dos europeus fosse correntemente usada, em todo o seu curso, pelos Tupi vicentinos. Ao menos em certa informação que, depois de 1554, escreveu do Paraguai Dona Mencia Galderón, a viúva de Juan de Sanabria, diz-se que de São Vicente se podia ir até Assunção “por cierto camino imevo que se habia descubierto”.

Esse novo caminho, descrito no livro do célebre aventureiro alemão Ulrico Schmidl, que em 1553 o percorreu de regresso ao Velho Mundo, foi largamente trilhado naqueles tempos, em toda a sua extensão, pelos portugueses de São Vicente, em busca dos Carijó, e ainda mais pelos castelhanos do Paraguai, que vinham à costa do Brasil ou pretendiam ir por ela à Espanha, até que os mandou cegar Tomé de Sousa no mesmo ano de 1553. Com alguma possível variante, deve ser uma das trilhas que no século seguinte percorrerão numerosos bandeirantes de São Paulo para seus assaltos ao Guairá.

Por esse tempo, o vivo interesse com que a “costa do ouro e da prata” fora disputada pelas duas Coroas ibéricas parecia em grande parte arrefecido. Tanto que, compreendida em um dos quinhões que a Pero Lopes coubera na distribuição de capitanias hereditárias, o qual quinhão devia estender-se de Cananéia até, aproximadamente, o porto dos Patos, não se preocupam em colonizá-la os portugueses. Quando muito continuam a impedir que nela se estabeleçam os seus rivais. Em vez do metal precioso que dali parecera reluzir aos antigos navegantes, o que iam a buscar na mesma costa eram os Carijó para a lavoura ou o serviço doméstico.

Assim, numa das relações que escreveu o piloto Juan San- chez de Biscaia, em 1550, diz-se da Ilha de Santa Catarina que se achava despovoada, “por causa que los portugueses y sus amigos ysieron muchos asaltos en los yndios naturales de la dicha isla i an destruydo todos los yndios da la costa dei mar, que eran amigos de los vasallos de Su Majestad”™. No ano anterior, a chegada a Sevilha de certo Brás Arias, português de São Vicente, dera causa a uma denúncia por onde os oficiais da Casa de Contratação pude- ram ter conhecimento dos processos usados em tais assaltos.

A denúncia partira do mesmo Martin de Orue que apare- cerá mais tarde em Lisboa a colher informações para o Conselho de Sua Majestade sobre as propostas de Diogo ou Domingos Nunes a el-rei Dom João III e sobre as pretensões territoriais lusitanas com respeito a terras da demarcação de Castela. Quatro ou cinco dias apenas depois da chegada de Arias, era este chamado a com- parecer perante o visitador de Sua Majestade na Casa, a fim de prestar depoimento acerca dos latrocínios e malícias atribuídos por Orue aos de São Vicente e outras partes do Brasil em prejuízo de vassalos e súditos do imperador. Tomado seu juramento na devida forma de como diria a verdade do que sabia, confirmou Arias, acrescentando-lhes novos pormenores, as acusações do espião castelhano. Referiu como, cerca de um ano antes, dois navios, um de São Vicente, outro da capitania de Ilhéus, se tinham reunido em Cananéia, seguindo em conserva até a laguna do Viaça, junto à Ilha de Santa Catarina, onde estavam vários espanhóis, além de muitos índios e índias, que vinham sendo doutrinados por Frei Alonso Lebron, da Ordem de São Francisco. Achando-se a testemunha num dos navios, em que saíra a fazer os seus tratos, viu como Pasqual Fernandes, genovês, vizinho de São Vicente, e Martim Vaz, de Ilhéus, senhores e mestres dos navios, atraíram a bordo com enganos e fingida amizade aos espanhóis, entre estes Frei Alonso, além de parte dos catecúmenos que apresaram, e seriam cento e tantas peças, entre [Páginas 101, 102 e 103]

“coisa muito sua”, trate de acudir com brevidade à terra que o Senhor Martim Afonso de Sousa ganhou e Sua Majestade lhe deu com tão avantajadas mercês c favores. E para mostrar a bondade da mesma terra, referem-se os oficiais da Câmara, entre outras coisas, às minas, exploradas ou não, que nela se acham, a de Caatiba, de onde se tirou o primeiro ouro, e ainda a serra que vai dali para o norte - “haverá sessenta léguas de cordilheira de terra alta, que toda leva ouro” -, além do ferro de Santo Amaro, já em exploração, e o de Biraçoiaba, que é região mais larga e abastada, e também do muito algodão, da muita madeira, de outros muitos achegos, tudo, enfim, quanto é preciso para nela fazer-se “um grande reino a Sua Majestade”. Ao lado disso, fala-se também no grande meneio e trato com o Peru e na presença de “mais de 300 homens portugueses, fora seus índios escravos, que serão mais de 1.500, gente usada ao trabalho do sertão, que com bom caudilho passam ao Peru por terra, e isto não é fábula” 78 . Sobre a distância entre o litoral atlântico e os Andes são muitas vezes imprecisas e discordes as notícias da época, e já se sabe como a idéia de que os famosos tesouros peruanos eram vulneráveis do lado do Brasil, chegara a preocupar a própria Coroa de Castela nos dias em que, tendo os portugueses seus soberanos próprios, maiores seriam as causas de emulação e dissídio entre os dois reinos. Mais tarde irão renovar-se as mesmas inquietações, mas dessa vez os agressores prováveis passam a ser os holandeses instalados em Pernambuco. Num dos “suenos” de Quevedo, escrito por volta de 1636, aparecem aqueles “rebel- des a Deus na fé e ao seu rei na vassalagem” senhores das partes do Brasil que formam como a garganta das duas índias, já prestes a devorarem as de Castela. Quando se enfadassem de tanto nave- gar, quem diria que não desejassem para si o Rio da Prata e Bue- nos Aires, onde poderiam chegar passo a passo e sem molhar os pés, apenas mordendo as costas como caranguejos? E não só punham em risco Buenos Aires, como já davam que pensar a Lima e a Potosi, “por assim afirmar a geografia”. Se a geografiq está longe de ser tão explícita neste parti- cular, e se hoje nos pode parecer mais razoável o que disse outro personagem do mesmo escrito de Quevedo, isto é, que “con el Brasil antes se desangra Holanda que cresce” 79 , não se podem considerar descabidas as previsões do primeiro. Foi, com efeito, dos estabelecimentos holandeses do nordeste do Brasil que, em 1642, o Conde João Maurício projetou a conquista de Buenos [Página 115]

mandara interceder junto ao Pontífice, por intermédio do fundador da Companhia, para que fosse concedida indulgência plenária em seu dia e nas oitavas a todos os que então comungassem, c aos que não confessassem e comungassem não lhes fossem dadas. “Y a esto se mueve el senor Gubernador por amor que la gente se confiessc y comulguc.” 2 Pouco faltaria, em verdade, para que não apenas na índia, mas em todo o mundo colonial português, essa devoção tomasse um pouco o lugar que na metrópole e na Espanha em geral, como em todo o Ocidente europeu, durante a Idade Média e mais tarde, tivera o culto bélico de outro companheiro e discípulo de Jesus, cujo corpo se julgava sepultado em Compostela. Não foi certamente novidade, para os portugueses qui- nhentistas, a lenda da pregação de São Tomé Apóstolo na índia, já largamente divulgada e mesmo canonizada, ou a da existência ali de seu verdadeiro sepulcro, mencionado em numerosas relações medievais do Oriente, como as de Marco Polo e Monte- corvino, sem falar na famosa carta do Preste João. O que os poderia ter surpreendido ao desembarcarem naquela costa era a extensão do culto, que lhe devotavam inúmeras pessoas desde Bombaim até Madrasta, abrangendo o Ceilão, e ainda nas “colô- nias” de cristãos de São Tomé que iam até o Mar da China. A própria devoção a suas relíquias, em particular a certos pelourinhos de barro tomado ao seu pretenso túmulo, e que sem- pre levavam consigo os fiéis, assim como os mouros e gentios, era bastante generalizada quando lá chegaram eles. Nem são de sua invenção as notícias das pegadas deixadas pelo santo em várias partes do Oriente, e que depois acabariam por ser vistas também no Novo Mundo. 1 Da origem de tais notícias, uma das mais acreditadas versões é a que aparece no Livro cie Duarte Barbosa. Conta este escritor, fundado na tradição oral dos cristãos de Coulão, que São Tomé, quando de lá partiu perseguido dos gentios, fora j ter à cidade de Meliapor, então muito grande e formosa, de dez ou mais léguas de comprido e arredada do mar, que depois comeu a terra entrando por ela adentro. Principiando o apóstolo a anun- ciar a fé cristã, conseguiu converter alguns moradores, pelo que outros trataram de o perseguir, querendo matá-lo. Ante essas i ameaças, meteu-se Tomé algumas vezes nos montes, e certo dia, andando naqueles lugares um caçador com seu arco, viu estar grande soma de pavões reunidos, e no meio deles um, que aos mais se avantajara em tamanho e formosura, pousado numa laje. Não hesitou o caçador em alvejá-lo, e com uma flecha o atra- [Página 133]



Pode dar-se ideia de celeridade com que se difundiu a lenda do apostolado de São Tomé nas Índias, e não apenas nas Índias Orientais, lembrando, como, em 1516, quando Barbosa acabou de escrever seu livro já se falava em sua estada na costa do Brasil. A primeira versão conhecida dessa presença do discípulo de Jesus em terras americanas encontra-se, com efeito, na chamada Nova Gazetta Alemã, referente, segundo se sabe hoje, à viagem de um dos navios armados por D. Nuno Manuel, Cristóvão de Haro e outros, que a 12 de outubro de 1514 aportava, já de torna-viagem, á Ilha da Madeira.

Dos dados que o autor da Gazeta pôde recolher a bordo e mandar em seguida a um amigo de Antuérpia, constava a existência naquela costa de uma gente de muito boa e livre condição, gente sem lei, nem rei, a não ser que honram entre si aos velhos. Contudo, até àquelas paragens tinha chegado a pregação evangélica e dela se guardava memória entre os naturais.

"Eles tem recordação de São Tomé", diz o texto. E adianta: "Quiseram mostrar aos portugueses as pegadas de São Tomé no interior do país. Indicam também que tem cruzes pela terra adentro. E quando falam de São Tomé, chamam-lhe o Deus pequeno, mas que havia outro Deus maior". "No país chamam frequentemente seus filhos Tomé."

A presunção, originária das velhas concepções colombinas, e que a cartografia contemporânea nem sempre se mostrara solícita em desfazer, de uma ligação por terra entre o Novo Continente e a Ásia, facilitava grandemente essa idéia de que à América e ao Brasil, particularmente, se estendera a pregação de São Tomé Apóstolo.

Na própria Gazeta acha-se refletida essa idéia, onde se lê que o piloto da nau portadora das notícias, presumivelmente o célebre João de Lisboa, já afeito à carreira da índia, não acreditava achar-se o cabo e terra do Brasil a mais de seiscentas milhas de Malaca, e pensava até que em pouco tempo, e com grande vantagem para el-rei de Portugal, se poderia navegar do Reino até aquelas partes.

Achou também que a terra do Brasil continua, dobrando, até Malaca.”. E presume o autor que esse fato favorece a crença na vinda do apóstolo a estas partes. “É bem crível”, diz, “que tenham lembrança de São Tomé, pois é sabido que está corporalmente por trás de Malaca: jaz na Costa de Siramath, no Golfo de Ceilão.[Páginas 135 e 136]

Na atividade que, já a partir de 1538, e até 1546, ano em que morreu, desenvolvera na Ilha de Santa Catarina, no continente vizinho, no Guairá e até em Assunção, o Frade Bernardo de Armenta, comissário da Ordem de São Francisco, estariam, muito possivelmente, os acontecimentos históricos que podem ter servido para avivar a lenda.

A alta reputação ganha por ele entre os indígenas teria sido partilhada e talvez herdada, até certo ponto, por outro franciscano que o acompanhou e lhe sobreviveu, Frei Alonso Lebron, o mesmo que Pascoal Fernandes iria aprisionar em 1548, levando para São Vicente. A este podia corresponder, na história, o papel atribuído no mito indígena ao “companheiro” de Sumé.

Sabe-se que Frei Bernardo percorreu, pelo menos uma vez, em toda a sua extensão, o caminho chamado de São Tomé quando acompanhou, à frente de uma centena de índios, o Governador Gabeza de Vaca, e que o tinham em grande acatamento aqueles índios. Posto que o não estimasse o “adelantado ”, autor de sérias acusações ao seu comportamento, entre outras a de que, junto com Frei Alonso Lebron, guardaria encerradas em sua casa mais de trinta índias dos doze aos vinte anos de idade 40, a boa conta em que era geralmente havido entre catecúmenos e gentios Carijó espelha-se no nome que todos lhe atribuíam de Pay Zumé, como a identificá-lo com figura mítica.

Consta que, ao chegar a Santa Catarina, onde aceita a oferta do feitor real Pedro Dorantes, que se propõe ir descobrir o caminho “por donde garcia entró”, Cabeza de Vaca conseguiria realizar mais facilmente o intento de penetrar por terra até o Paraguai pelo fato de o julgarem os índios filho do comissário da Ordem de São Francisco, ou seja, de Bernardo de Armenta, “a quien ellos dizen Payçumé y tienen en mucha veneración”, segundo se expressaria em carta o próprio Dorantes 43 .

No que dirão mais tarde os guaiarenhos aos missionários jesuítas, não parece muito fácil separar o que pertenceria ao franciscano, predecessor daqueles na obra de catequese, dos atributos do personagem mitológico celebrado pelos seus avós e a eles comunicado de geração em geração. Mesmo no nome dado ao caminho que, da costa do Brasil, procurava as partes centrais do continente, não se prenderia, de alguma forma, a lendária tradição a uma verdade histórica ou, mais precisamente, ao fato de o ter trilhado Frei Bernardo, que na imaginação dos índios da terra deveria ser figura mais considerável do que o adelantado?

O certo, por este ou outro motivo, é que o mítico Sumé assume então no Paraguai, em particular no Guairá, que se achava para todos os efeitos dentro do Paraguai, proporções que desconhecera na América Lusitana, de precursor declarado e verdadeiro profeta da catequese jesuítica. Que dizer então do Pay Tumé peruano, em quem se acrisolam suas virtudes taumatúrgicas, dando ensejo à formação de toda uma brilhante hagiografia capaz de emparelhar-se com a do apóstolo cristão nas supostas andanças através do extremo oriente? [Páginas 152 e 153]

exerceram sobre consecutivas expedições que organizaram rumo à bacia amazônica, em particular a de Pedro de Orsúa, em 1560. Pero de Magalhães Gandavo, que registra aquela grande migração tupi, já dissera das constantes andanças dos índios que, falecendo-lhes as fazendas capazes de detê-los em suas pátrias, não tinham senão o intento de “buscar sempre terras novas, afim de lhes parecer que acharão nellas imortalidade e descanso perpetuo” 1 *. A imortalidade, a ausência de dor e fadiga, o eterno ócio, pois que ali as enxadas saem a cavar sozinhas e os panicuns vão à roça buscar mantimento, segundo presunção já recolhida por Manuel da Nóbrega e Fernão Cardim, a abastança extraordinária de bens terrenos, principalmente de opíparos e deliciosos manjares, tais são os característicos mais constantes da terra “sem mal”, ou seja, do Paraíso indígena. Impunha-se naturalmen- te o conforto com o Éden das Escrituras onde, num horto de delícias cheio de árvores aprazíveis e boas para comida, o homem se acharia não só isento da dor e da morte, mas desobrigado ainda de qualquer esforço físico para ganhar o pão. Essas coincidências, depois de terem sido, provavelmente, estímulo bastante para que dois portugueses acompanhassem os trezentos índios em sua peregrinação da costa do Brasil ao Peru e, mais tarde, certamente, causa da expedição de Pedro de Orsúa, que alongara o Paraíso do gentio no Dourado amazônico, ainda trariam inquietos, por muito tempo, os que não tivessem perdido esperança de recobrar o Éden em alguma parte deste planeta.

À fé comum dos índios Tupi poderia o cronista da Companhia juntar a de muitos descobridores e conquistadores brancos do Novo Mundo. O próprio Colombo não começara por ver no Pária, precisamente ao norte da Amazônia, em lugar que Schõner, no seu Globo de 1515, chega a identificar com o Brasil - Paria sive Brasília - a verdadeira porta do Éden? E não lhe parece tão bom como o do Fison o ouro que na mesma terra se criava? Mais tarde, sob a forma de Eldorado, se deslocaria esse paraíso colombino para a Guiana e para o rio de Orellana.

Nem faltariam argumentos ainda mais respeitáveis, apoiados estes em escritos de teólogos antigos e modernos, a favor da crença dos que situassem o sagrado horto no coração do Brasil, e de preferência na Amazônia. Observa Vasconcelos que muitos daqueles teólogos, entre eles o próprio São Tomás de Aquino, teriam colocado o Paraíso debaixo da linha equinocial, cuidando que era a parte do mundo mais temperada, mais de- [Página 173]

estabelecer sua celebridade, ainda arredonda a cifra para 150 anos - “Vivunt annis centumquinquaginta [...]” -, e diz mais que raramente padecem os mesmos índios de enfermidades que não possam tratar eficazmente 7 . Para isso recorrem a certas raízes existentes no país. Também não são contaminados pela peste ou quaisquer doenças oriundas do ar corrupto, benefício este que lhes vinha da virtude dos ventos austrais. A essas causas principalmente deveriam o poder viver longuíssimos anos, quando não sucumbissem de morte violenta. É muito provável que essas passagens tivessem impres- sionado fortemente os leitores quinhentistas, contribuindo de algum modo para popularizar a idéia da extrema longevidade dos índios do Brasil. Pouco mais de dez anos haviam decorrido desde a primeira publicação da Munclus Novus e já essa idéia era acolhida pelo autor da chamada Nova Gazeta Alemã - a New Zeytung ausz presillandt - no final de seu escrito, onde se lê, a propósito dos naturais do Brasil, que chegariam a alcançar até 140 de idade*. A coincidência entre essa notícia e o que se podia ler na Mundus Novus faz crer que a sugestão vespuciana tivesse ganho largo crédito, mercê, sobretudo, da imensa divulgação alcançada pelos relatos verdadeiros ou fictícios - e ainda neste último caso baseados, ao menos parcialmente, em escritos autênticos - do navegante florentino.

Importa pouco pretender verificar se tal notícia proviria dos marinheiros da nau portuguesa que visitaram a terra ou resultasse de colaboração do correspondente estabelecido na Madeira, onde colheu e registrou, para mandá-la a Antuérpia, as informações aparentemente levadas pelos mesmos marinheiros. A hipótese de terem partido do redator do texto alemão ganha alguma verossimilhança apenas em face da curiosidade excepcional que alcançara em terras germânicas a Mundus Novus.

Sabe-se, com efeito, segundo os dados compilados por Henry Vignaud, que as versões alemãs desse escrito antecederam mesmo, cronologicamente, as italianas, e que antes de 1515 tinham sido elas objeto, q)elo menos, de dez impressões sucessivas. Das próprias edições em língua latina que se haviam feito até aquela data, embora em sua maioria não trouxessem indicado o lugar de impressão, é provável que uma parte tivesse sua origem em prelos alemães, pois das quatro que contêm essa indicação, uma é de Augusta (Augsburg) e outra de Strasburgo, àquele tempo terra do imperador. [Página 303]

Brandenihjrger, Clemente, A Nova Gazeta da Terra do Brasil, Texto, tradução, glossário e comentário, São Paulo, 1922. Para essa edição e tradução da Newe Zeytung foi utilizado o texto encontrado por Ilaebler no arquivo da casa Fugger, em Augsburgo, que lhe fixa definitivamente a data de compo- sição: 1515. [Página 407]

Visão do paraíso
Data: 01/01/1959 1959
Créditos / Fonte: Sérgio Buarque de Holanda
Páginas 70 e 71

Visão do Paraíso
Data: 01/01/1969 1969
Créditos / Fonte: Sérgio Buarque De Hollanda
Páginas 134 e 135

Visão do Paraíso
Data: 01/01/1969 1969
Créditos / Fonte: Sérgio Buarque De Hollanda
Páginas 136 e 137

Visão do Paraíso
Data: 01/01/1969 1969
Créditos / Fonte: Sérgio Buarque De Hollanda
Páginas 142 e 143

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