O evento que os sorocabanos foram ensinados a crer ter sido a fundação de Sorocaba, dia 3 de março de 1661, quando Baltahzar Fernandes conseguiu a mudança do pelourinho existente no Itavuvu para o local atual, foi na verdade, como chamamos vulgarmente, uma "grilagem" de terras.É sabido que as terras já eram ocupadas, por nativos e europeus, contra a vontade da verdadeira donatária, a Condessa de Vimieiro. Isso foi retiticado várias vezes entre 1600 e 1700. Porém, no auge da controvérsia pelo limite das terras, por volta de 1620, houve ações fraudulentas que forçaram, contra todo o direito, a colocação do marco divisório (Santo Amaro/São Vicente) na terceira barra, ao sul da cidade de São Vicente.As autoridades foram coniventes com essa clamorosa injustiça que só foi reparada no reinado de D. Maria I, no fim do século XVIII.Como se não bastasse isso, o procurador da Fazenda, representante da Coroa, Fernão Vieira Tavares, que deveria ser árbitro na questão, serviu-se de prepotência, por despeito pessoal; sem efetuar nenhuma medição e contrariamente ao testemunho unânime dos dez pilotos que mediram os limites, e aos protestos do representante da casa de Vimieiro, mandou estabelecer a fronteira por uma pedra natural que ele indicou. Em função disso, com extrema injustiça, a condessa de Vimieiro, verdadeira herdeira, viu-se despojada de suas terras e transferiu a sede de seus domínios para a Vila de Itanhaém (1624).Talvez por isso, quando Balthazar Fernandes fundou a vila Nossa Senhora da Ponte pediu a mudança do pelourinho que existia em Itavuvu para algumas léguas "acima", e não um novo pelourinho. Isso bastaria para retirar de Balthazar o título de "fundador" e dar a D. Francisco de Sousa, aquele que erigiu o primeiro pelourinho.Soma-se a esses eventos a fundação da "vila de Sorocaba" em 1670 sob os termos da Capitania de Itanhaém, autorizada pelo herdeiro direto da Condessa de Vimieiro, o Conde da Ilha do Príncipe. Registro esse considerado por diversos autores, como a verdadeira fundação de Sorocaba. Constando inclusive nos arquivos do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro.
A pergunta imediata é: será que ninguém se deu conta disso na época da fundação das vilas? É fato, também, que na época era IMPOSSÍVEL fazer demarcações precisas. Eram terras que "iam daqui até Curitiba". Hoje temos meios de rastrear a posse da terra ao longo da curta história de Sorocaba. Testamentos, inventários, atestados de óbito, entre outros documentos, indicam a quem convém a história contada. Todos esses dados e informações podem ser conferidos no trabalho "Os limites das capitanias hereditárias do sul e o conceito de território" de Jorge Pimentel Cintra
