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“Expansão Geográfica do Brasil Colonial”. Basílio de Magalhães
1935. Há 89 anos
No começo do século XVII, provavelmente pelo caminho chamado de São Thomé, estabeleceram-se relações frequentes entre São Paulo e Assunção, - que dão testemunho as atas da edilidade paulistana.

Segundo as documentadas informações de padre Pastells, d. Francisco Arías de Saavedra, governador do vice-reino do Prata, não só sugeriu á corôa a fundação de povoações entre a província de Vera e Santa Catarina, como também, para impedir que os portugueses continuassem a escravizar os nativos daquela região, lembrou a conveniência de despovoar-se Cananéa, que ele acreditava pertencer a Castella.

Ao tempo em que d. Francisco de Sousa administrou a Repartição do Sul, não consta a existência de expedições de "resgate", o que se explica por ser a elas contrário aquele governador. Mas, na interinidade de seu filho d. Luiz de Sousa, este mandou á sua custa diversos tuxáuas de Guayrá, então em São Paulo, a buscar os parentes que tivessem por lá, afim de lhe virem lavras as minas de Araçoyaba, que ele herdara do pai. Combinando-se os relatos de Gay e de Pastells, verifica-se que a expedição, da qual era Fernão Paes de Barros, um dos cabos, atingiu ao Paranapanema em fins de outubro de 1611, saqueando o povo do morubixaba Taubiú, e dele e de outra maloca arrebanhando mais de 80 indivíduos ou 800 famílias; mas, perseguida a tropa do governador de Guayrá, que ali acabava de chegar, o general d. Antonio de Añasco, foi quase completamente destroçada. Isso não impediu que Sebastião Preto, em agosto de 1612, andando a prear escravizados nativos naquela zona, reunisse cerca de 900 deles, com os quais marchava para São Paulo, quando o governador de Ciudad Real saiu com as forças superiores no encalço do paulista, conseguindo retomar-lhe mais de 500 guaranys apresados, dos quais, todavia, a metade ainda fugiu, para de novo juntar-se ao comboio do paulista. [Página 115]

Deviam ser constantes as arremetidas dos caçadores de escravizados no rumo do sul, por toda a segunda década do século XVII, porquanto a 5 de junho de 1619 era expedido um alvará régio mandando tirar devassa "aos culpados em fazer expedições ao sertão de Patos a resgatar gentios".

Um dos mais destemidos e perseverantes pioneiros dos sertões meridionais foi Manuel Preto. Este sertanista realizou contra as reduções hispano-jesuíticas diversas investidas, que lhe valeram, talvez na tradição popular do seu tempo, a denominação de "herói de Guayrá". Combinando-se as informações dos nossos cronistas com as do padre Pastells, conclui-se que Manuel Preto em 1619 tirou grandes contingentes de nativos das aldeias de Jesus-Maria e Santo Inácio; que pelos anos de 1623 e 1624, apresou na mesma região mais de 1000 nativos com os quais lavrava as suas terras da Expectação (hoje Nossa Senhora do Ó), nos subúrbios de São Paulo, onde desde 1580 montara fazendas de canas e criação. O Barão do Rio Branco assegura que - "em 1627, os paulistas foram atacados pelo cacique Tayaobá, aliado dos espanhóis. No ano seguinte, para se vingarem dessa agressão, os paulistas assolaram as fronteiras da província de Guayrá".

O padre Pastells confirma essa versão, mencionando, entre os ataques então dirigidos contra as reduções jesuíticas, o de 1629, sob o comando de Antonio Raposo e Manuel Preto, que provavelmente pereceu nessa interpresa, pois o Padre Maseta, em carta de 22 de julho de 1630, diz que "Manuel Preto, autor de todas essas expedições, morreu no sertão com as muito boas flechadas que deram os nativos contra que ia". [Página 116]

Em 1610, iniciaram os missionários castelhanos da Sociedade de Jesus a sementeira das suas reduções, fundando Santo Ignácio e Loreto á margem esquerda do Paranapanema; e, de 1623 a 1630, fizeram surdir naquela zona mais de 11 aldeias (San Xavier, San José, Encarnación, São Miguel, San Pedro, San Pablo, Angeles, Santo Thomé, Concepción, Santo Antonio e Jesus Maria), que todas formavam a "Província de Guayrá", limitada pelos rio Paranapanema, Itararé, Yguaçú e margem esquerda do Paraná.

A "Província do Paraná", já organizada em 1626, compunha-se de sete reduções: Santa Maria la Mayor, Natividad de Acaraig, Santo Ignácio Guazú, Itapuã, Corpus, Yapeyú (ou Nuestra Señora de los Reyes) e Curuzú (ou Assunción).

Desde antes de 1620 tinham os inacianos começado a povoar, com aldeias missioneiras, o território do atual Estado do Rio Grande do Sul, onde constituíram duas administrações: - a "Província do Uruguay", que contava 10 reduções, fundadas entre 1617 e 1624 (Candelaria de Caazapámini, San Nicolás, Mártires de Caaró, San Carlos de Caápi, Apósteles de Caazapáguazú, San Miguel, Santo Thomé, San José de Itaquatiá e San Cosme y San Damián), e a "Província de Tape", a leste da anterior, a qual era constituída por seis povos, aí estabelecidos de 1632 a 1634 (Natividad de Araricá, Santa Teresa de Ibituruna, Santa Ana, San Joaquín, Jesus Maria de Yequí e San Cristóbal).
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Escreve Capistrano, a cujo excelente resume sobre a fundação das reduções jesuíticas preferimos, todavia, outros trabalhos de maior desenvolvimento:

- "Não se imagina presa mais tentadora para caçadores de escravizados. Porque aventurar-se a terras desvairadas, entre gente boçal e rara, falando línguas travadas e incompreensíveis, se por perto moravam aldeamentos numerosos, iniciados na arte da paz, afeitos ao jugo da autoridade, doutrinados no abá-nheen?

Houve alguns salteios contra as reduções desde o seu começo, mas a energia e o sangue-frio dos jesuítas contiveram os arreganhos dos mamelucos, que se retiraram proferindo ameaças. Para pol-as em prática, precisavam, porém da conivência da gente de Assunción. Isto conseguiram em fins de 1628, e muito concorreu para assegural-a Luis Céspedes Xería, governador do Paraguay, casado em família fluminense, senhor de engenho no Rio.

Fez por terra a viagem para seu governo; esteve em Loreto do Pirapó e Santo Ignavio de Ypã-umbuçú, admirou as igrejas, hermosísimas iglesias, que no las he visto mejores en las Indias que he corrido del Perú y Chile, - e fez sinal aos sertanistas para avançarem".

De Luiz Céspedes ocupa-se amplamente o jesuíta Charlevoix, que alega ter o governador infringido uma ordenação real, que vedava tais viagens pelo interior aos representantes da metrópole. Céspedes era casado com d. Vitória de Sá, filha de Gonçalo de Sá e sobrinha de Martim de Sá, então governador do Rio de Janeiro.

O engenho, a que se refere Capistrano, era sito em Jacarepaguá. Graças aos documentos recentemente aproveitados pelo Padre Pastells, sabe-se que Céspedes, depois de ter estado cerca de um mês em São Paulo, embarcou-se no Tieté a 16 de julho de 1628, indo, pelo alveo do Paraná, até a provincia de Guayrá, donde se passou para Assunción. É curioso que o governador, antes de empreender a sua derrota, se munisse de atestados das autoridades paulistas, - provisões de capitão-mór e oficiais da câmara de São Vicente, do capitão-mór e ouvidor de São Paulo (81), e até certificados dos jesuítas das aldeias de nativos da terras dos sertanistas, - de que não levava em sua companhia nem paulistas, nem contrabandos. Iguais precauções tomou ele em Mbaracayú. Ora, tudo isso faz crer que ele estivesse, de fato, conluiando com os caçadores de escravizados. O certo é que ele foi submetido a processo, por ter contribuído para a perda das reduções jesuíticas meridionais.

Da ligação de Céspedes com os paulistas é prova o ter sua esposa seguido mais tarde para a Capital do Paraguay em companhia de André Fernandes (82), um dos maiores apresadores de nativos das aldeias do sul. Os inacianos increparam a Céspedes o ter mandado aos sertanistas, por Francisco Benítez, o aviso para que avançassem contra as missões de Guayrá, e afirmaram mais que André Fernandes confiou seu filho Francisco á aquele governador, afim de ordenar-se no Paraguay, como realmente aconteceu, vindo mais tarde o padre Francisco Fernandes de Oliveira a ser vigário da vila de Parnahyba, fundada por seu pai (83).

(81) Um documento dado á estampa por Washington Luís evidencia que os edís paulistas estranharam não haver Céspedes preferido o interior á via maritimo-fluvia, comumente seguinda para Asunción. Do arquivo da câmara de São Paulo, livro XIII, consta uma ata com os trechos seguintes:

"Aos oito de julho de 1628 anos... os oficias dela... puseram em prática as causas do bem comum e pelo procurador foi dito que requeria aos oficiais... soubessem como o governador do Paraguay que nesta vila está para passar mandassem saber se tinha ordem para passar por este caminho por ser proibido e os ditos oficiais mandaram se soubesse a ordem que tinha de sua majestade para passar por aqui..."

(82) Entre os paulistas que, no primeiro quartel do século XVII, mais se notabilizaram pela sua fecunda atividade, trazendo muitos nativos dos sertões longínquos e com eles semeando as povoações na terras dos sertanistas, contam-se três irmãos, a quem bem se aplicou o agnome de "povoadores":

- André, Balthazar e Domingos Fernandes. Ao primeiro deve-se a fundação de Parnahyba, elevada a vila em 1625; lançou o segundo, em 1645, os alicerces da capela de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba,em torno da qual repontou a arraial de Sorocaba, que foi feito em vila em 1661; e o terceiro, finalmente, com seu genro Cristovam Dinís, deu origem á igreja de Nossa Senhora da Candelária de Utú-guassú, junto á qual surgiu o núcleo de população em 1657 se erigiu á categoria de vila, com o nome de Ytú. [Páginas 117, 118 e 119]

Se como for, a invasão operou-se rapidamente, renovando-se sortidas sistematicas.

Sobre o herói principal dessa façanha memorável pairavam dúvidas, que os nossos compatriotas tratam não ha muito de dissipar. Além de Antonio de Toledo Piza, de L. G. da Silva Leme e do Barão do Rio Branco, publicou Washington Luís uma criteriosa e documentada monografia, demonstrando cabalmente que foi Antonio Raposo Tavares o autor do extraordinário feito.

Partindo de São Paulo em 18 de outubro de 1628, descendo pela costa e subindo a Ribeira de Iguape, a formidável expedição, que se compunha, segundo alguns escritores, de 900 mamelucos e 2000 nativos auxiliares, dirigidos por 69 paulistas qualificados, como loco-tenentes de [Página 120]

(91) Machado de Oliveira ("Quadro histórica da província de São Paulo", 109) conta que Raposo "levando 60 homens e alguns nativos, atravessou o Brasil de sudoeste a noroeste; escalando os Andes, chega ao Perú, penetra este país, entra nas águas do Pacífico com a espada levantada, dizendo que avassalava terra e mar pelo seu rei, é por vezes compelido a recontros e combates com os espanhóis, levando-os sempre de vencida. Deixa o antigo império dos Incas, e, dirigindo-se para o Amazonas, navega este rio em jangadas, abandonando-se á sua correnteza, desembarca em Guarupá e ali foi generosamente acolhido pelo povo, que se assombrara de tamanha audácia do paulista".

A narração devida ao inolvidável Antonio Piza, e que é, pouco mais ou menos, a dos tradicionalistas, relembra, em sua primeira parte, a destruição das missões de Itatines e da povoação de Xérez, de que tratamos atrás, e é provável não passe de uma reedição do raid de 1632.

Ao nosso ver, aquela atrevida façanha ressente-se de exageros, de excessiva fantasia, que lhe deturpou os fatos essenciais. Houve, além disso, e por muito tempo, sérias dúvidas sobre si o autor da longa e portentosa expedição teria sido o destruidor da "Província de Guayrá". Washington Luís, porém, tendo estudado, mercê dos valiosos documentos que se lhe depararam, a personalidade de Antonio Raposo Tavares, não só demonstrou que foi este o comandante do auxílio levado ao norte, em 1639, contra os invasores neerlandezes, como ainda que o herói da conquista das reduções hispano-jesuíticas meridionais foi quem realizou a pasmosa jornada de varar o Brasil de leste a oeste, indo sair quase na foz do nosso rio-mar.

Washington Luís chega a reconstituir o roteiro da derradeira expedição do intrépido sertanista, o qual, segundo o sobredito escritor, saindo de São Paulo, passando por Sorocaba, pela fazenda de Botucatú, que foi dos padres jesuítas, dirigiu-se a São Miguel, junto ao Paranapanema, tocou em Encarnación, San Xavier e Santo Ignacio, entrou no Paraná, subiu o Ivinhema até quase ás suas nascentes [Página 127]

Podemos assegurar, sem receio de erro, que a obra da Sociedade de Jesus na América do Sul seria hoje colossal, pela paraguayzação da nossa terra, se a famosa Companhia não houvesse encontrado pela frente os indômitos paulistas e o ínclito Pombal. [Página 185]

Quanto ao ciclo da prata, são diversas as lendas que escandeciam então o espirito dos europeus, quais a da grande serra resplandescente e a do El-Dorado, esta pura criação de sir Walter Raleigh. A proximidade do Perú devia fatalmente induzir os portugueses a acreditar na existência do metal branco em sua possessão americana, dando-se assim origem a episódios curiosos, felizmente já hoje destrinçados, qual o de Belchior Dias. Em vários documentos que coligi, acha-se a prata comumente associada ás esmeraldas, nos anseios de fácil enriquecimento por parte dos dinastas bragantinos.

As mais dignas menção, das muitas peças oficiais que compulsei, são as que concernem á expedição de Amaro Fernandes (cujo nome consegui laboriosamente precisar), auxiliada por Diogo de Almeida e Lara e José Tavares de Siqueira, á jornada de Godoy Collaço á Vaccaria e á expedição de Manuel de Borba Gato a Sabarabuçú.

Todas visavam exclusivamente ao descobrimento das minas de prata, tendo sido ordenadas por Arthur de Sá e Menezes, a primeira a 1 de outubro de 1697, a segunda e a terceira, respectivamente, a 3 de março e 15 de outubro de 1698. Antes disso, já se havia tentado explorar a prata em Biraçoiaba, por 1687, graças a uma expedição chefiada por Luiz Lopes de Carvalho e auxiliada por Frei Pedro de Sousa, mineralogista reinol. Mas, na região de Sorocaba, viu-se que rendia o ferro mais que o alvo argento, e aquela outras expedições foram todas de resultados nulos, exceto a de Borba Gato, que em 1700-1701 revelou as magníficas jazidas de ouro de Sabará. Das duas expedições de 1698, de capital importância para a história paulista, tratarei mais detidamente na terceira palestra. [Página 295]

Expansão Geográfica do Brasil Colonial
Data: 01/01/1935 1935
Página 143

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