Tese de concurso á cadeira de História do Brasil. Colégio D. Pedro II, 1883. Capistrano de Abreu (1853-1923)
1883. Há 142 anos
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A questão de João Ramalho é uma das mais embaraçadas da História primitiva do Brasil.Ainda ninguém tornou bem claro que nos primeiros tempos São Paulo houve pelos menos dois João Ramalho. Um é o bacharel de Cananéa, deixado em 1502 pela primeira expedição exploradora, pai dos mamelucos, inimigo dos jesuítas. Outro, sogro de Jorge Ferreira, é um cavaleiro português, que veio para o Brasil muito mais tarde, com Martim Afonso ou logo depois. Taques Paes Leme, que no trecho acima citado dá notícia do primeiro e torna assim bem clara a distinção, em outros lugares perde-se de vista. [p. 50]
Si já houvesse suspeita de que a descoberta do Brasilnão fôra casual, poder- se- ia até certo ponto considera- lo como um indicio favoravel ; mas Gonçalves Dias já demonstrou que, pelo contrario, todos ostestemunhos, a começar pelo de D. Manuel, sãoaccordes em declarar o descobrimento como inopinado e fortuito .E não é só isto : Johanes Emenelaus assegurater visto o mappa- mundi ; mas el - rei tanto não ovira, que o mestre lhe diz : « mande vosa alteza traer » .E quem nos assegura que o tivessem visto Pedr´alvares Cabral e seus companheiros ? Entretanto, esta circumstancia é indispensavel para a proposição doSr. Norberto ser admittida.O descobrimento do Brasil explica- se muito maisfacilmente pela viagem de Vasco da Gama, pelas instrucções que redigiu e pelo meio social .Como observa Peschel ( 8 ) , Vasco da Gama, emsua primeira viagem para a India, passara por algum tempo ao longo das costas do Brasil, sem asreconhecer, pois, sahindo do Cabo Verde a 3 deAgosto de 1497 , no dia 22 achava- se a 8oo leguasda costa africana, isto é, a 45° ao Occidente doSul da Africa.Si então não descobriu o Brasil, deve- se talveza circumstancias insignificantes, a menos que não [p. 55]
é natural que o ousado marinheiro mais de umavez lhe falasse no problema que presentira, sem conseguir dar- lhe solução. Talvez este intuito atécerto ponto haja influido sobre as instrucções queformulou.« Estas instrucções, interpetra d´Avezac, si attendermos á direcção conhecida dos ventos aliseos dohemispherio austral, equivalem a uma recommendação expressa de tomar a partir do encontro delles ,a bordada de sudoeste para correr com amuras abombordo, emquanto o vento escasseasse, fazendobom caminho para ganhar a região ulterior, em queo vento permittisse governar direito a léste paradobrar o Cabo » ( 11 ) .Nestas instrucções já está implicito o descobrimento do Brasil e a melhor prova é a frequenciacom que aqui vieram ter os que as seguiram, acomeçar de Cabral em 1500 e de João da Novaem 1501 .Além dos signaes de terra entrevistos por Vascoda Gama em sua primeira viagem, e das instrucçõesque formulou, concorreu efficazmente para o descobrimento do Brasil o estado então vigente dosespiritos: « a intensa curiosidade movida pelos recentes descobrimentos no Novo Mundo e a nobreemulação que taes descobrimentos, feitos em ser viço de uma nação competidora, haviam de excitar no animo de homens que, seguindo outro rumo,tantos louros tinham ganhado na carreira das emprezas maritimas ( 12 ) ».Pesando estes factos, diz Major que podemosfacilmente duvidar si este rumo para sudoeste não foi emprehendido por Cabral na esperança de irdar a alguma terra do novo mundo occidental .22. Outro ponto controvertido é o motivo porque Cabral deu á terra que descobriu o nome deVera Cruz .Segundo Castanheda ( 13 ) . foi por causa da Cruzque ali mandou plantar a i de Maio.Gaspar Corrêa ( 14 ) diz que porque a ella chegaram a 3 de Maio.Ambas estas affirmações não têm, porém, consistencia, porque Cabral pôz o nome á terra, segundo se deduz de Vaz de Caminha, no mesmodia em que pôz o nome de Monte Paschoal — istoé, a 22 de Abril.Caminha nos dá o verdadeiro motivo do nome :... prégou ( frei Henrique) uma solenne e proveitosa prégação da historia do Evangelho e em fimdelle tratou da nossa vinda e do achamento destaterra, conformando-se com o signal da Cruz, sobcuja obediencia viemos.O nome de Vera Cruz imposto por Cabral, comoé sabido, durou muito pouco tempo. Em 1501 , nas [p. 57, 58]
São Paulo está há dez léguas do oceano [p. 66]
Em 1562 sabemos que João Ramalho foi por capitão das guerras contra os nativos do Parahyba. Afonso Sardinha é sabido que na última década do século, descobriu as minas de Sorocaba. Jorge Corrêa em 1594 foi para o sul fazer guerra aos Carijós.
Para resumir, os nomes de sertanistas e bandeirantes paulistas que ha memória são em número extraordinário. Só o padre Simão de Vasconcellos, que apenas trata o assunto incidentalmente, nomeia João de Souza Pereira, Francisco Corrêa, Domingos Luiz Grou, Manuel Veloso de Espina, José Adorno, Ascenso Ribeiro, João Gago, Jeronymo da Veiga, etc. [Tese de concurso á cadeira de História do Brasil. Colégio D. Pedro II, 1883. Capistrano de Abreu (1853-1923). Página 77]
Havia o homem voluntarioso e indomável, que se impunha, dominava, tornava- se verdadeiro regulo, como aquele bacharel de Cananéa, que uma vez vendeu oitocentos escravos a Diogo Garcia. [Tese de concurso á cadeira de História do Brasil. Colégio D. Pedro II, 1883. Capistrano de Abreu (1853-1923). Página 83]
Aleixo Garcia, Peabiru, peruEm 1531 , Martim Affonso de Sousa mandou do Rio de Janeiro quatro homens pela terra dentro,que tornaram passados dois mezes, tendo caminhadocento e quinze léguas (115 léguas), das quaes sessenta e cincopor grandes montanhas e cincoenta por um vastocampo. Estas montanhas são as serras dos Orgãose provavelmente os campos a que chegaram foramos dos Goytacazes [Página 98]
João de Azpilcueta [.p 99]
Em uma das copias manuscriptas do seu · Roteiro, elle diz que passou muitos dos dezesete annosque residiu no Brasil a percorrer o interior. Na obrade Simão Estaço da Silveira, ( 1 ) publicada em 1624,diz - se que elle foi ao descobrimento do Maranhãopor terra, chegando ás cabeceiras do S. Franciscoe á serra Verde, perto da governação espanholade Charcas. Pelo livro do Frei Vicente do Salvador, sabemos que em 1591 ou 1592 elle chegouaté as cabeceiras do Paraguaçú onde infelizmentemorreu ( 8)A obra de Frei Vicente do Salvador nos dá relação de uma entrada feita pouco mais ou menosneste tempo por Luis Alvares d´Espinha que, par [p. 101]
Do Espirito Santo ha certeza que Domingos Martins Cão fez uma expedição a procura das esmeraldas por ordem de D. Francisco de Sousa, quando este ainda estava na Bahia, isto é, antes de 1598. Ha ainda notícia de uma expedição feita no mesmo ou no seguinte ano por ordem de D. Francisco de Sousa.
Provavelmente é esta a de Azevedo Coutinho, que, como se sabe, é posterior á de Domingos Martins Cão. Do Rio de Janeiro temos notícias preciosas transmitidas por Knivet de expedições feitas ás cabeceiras do Parahiba e aos sertões de Minas Gerais, entre 1592 e 1600.
De S. Paulo, as bandeiras são numerosas. Diz o epitáfio de Braz Cubas que este descobriu ouro no ano de 1560. Em 1562 sabemos que João Ramalho foi por capitão das guerras contra os Indios do Parahiba. ( 16 ) Affonso Sardinha é sabido que na ultima de cada do seculo, descobriu as minas de Sorocaba. ( 17 ) Jorge Corrêa em 1594 foi para o sul fazer guerra aos Carijós. ( 18 ) [Página 104]
rente, pois os colonizadores não tinham de subi-lo,mas de desce - lo, o que era muito mais facil. Outraera o systema de suas vertentes, que o punha emcontacto com o Parahiba, o Mogyguaçú, o Paranapanema, e, depois de confluir com o Paraná, punha- oainda em contacto com os afluentes do Paraguay.
Os Paulistas começaram a descer o Tietê desde os primeiros tempos, provavelmente antes do meiado do seculo XVI. Uns foram subindo pelos seus afluentes, Juquiry, Jundiahy, Piracicaba, Sorocaba. Outros foram até o Paraná.
Aqui encontraram circunstancias, á primeira vista insignificantes, que exerceram grande influencia sobre a direção das bandeiras e sobre a formação territorial do Brasil. Acima da confluência do Tietê, o Paraná tem um salto que é impossível transpôr: o de Urubupungá ; abaixo elle tem das Sete Quedas, ainda mais difícil de ser passado.
A consequencia foi que as bandeiras tinham, ou detornar, acto de que não eram capazes aquelles homens destemidos, ou de internar- se pelos affluentesdo lado direito e do lado esquerdo do Paraná.Foi o que fizeram .Parece que os affluentes do lado direito do Paraná foram explorados antes dos affluentes do ladoesquerdo, pois sabemos que em 1531 já houveraviagens ao Perú, e só por este modo é que se podem explicar. Sabe- se pelos mappas antigos que dois destes rios foram logo praticados : em primeirologar o Ivinheima com o Mbotetehu que com ellecontraverte ; em segundo logar o Pardo com o Ca [“O descobrimento do Brasil”. Tese de concurso á cadeira de História do Brasil. Colégio D. Pedro II, 1883. Capistrano de Abreu. Página 108]
Cruzes [Página 154]Caminha [Página 158 e 159]Esdras [Página 160]Ayres do Casal [Página 164]Bilreiros [página 247]