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Jornal Correio Paulistano
30 de março de 1941, domingo. Há 83 anos
Amador Bueno da Ribeira, brasileiro, paulista, era filho, e neto de espanhol. Seu pai, Bartholomeu Bueno de Ribeira, nasceu em Sevilha. Seu avô, Francisco Ramires de Póres, também nasceu na Espanha. Vieram juntos, pai e filho, Francisco Ramires e Bartholomeu, para o Brasil, no ano de 1571. Bartholomeu Bueno de Ribeira aqui se casou, em 1590, em São Paulo, com a brasileira Maria Pires, filha do capitão Salvador Pires, e de Messia Fernandes; neta do português Antonio Fernandes, e da brasileira Antônia Rodrigues; bisneta do português Antonio Rodrigues (companheiro de João Ramalho), e da nativa brasileira batizada pelo padre José de Anchieta, com o nome de Antonia Rodrigues; e ter-neta do nativo brasileiro Piqueroby, chefe da aldeia Ururay, e de uma nativa, cujo nome é ignorado.

Por conseguinte, Batholomeu, espanhol, casou-se com Maria Pires, e de sangue português e nativo, e desse casal houve 7 filhos: Amador Bueno de Ribeira (O aclamado); Francisco Bueno, Bartholomeu Bueno de Ribeira (o moço), Jerônimo Bueno, Maria de Ribeira, Messia de Ribeira e Isabel de Ribeira. Amador Bueno de Ribeira ocupou honrosos cargos de capitão-mór e de ouvidor da Capitania de São Vicente, no ano de 1627. Ficou célebre em nossa história por ter sido aclamado rei, em São Paulo, no dia 3 de abril de 1641. Havia aqui, nessa época, influente partido político, formado por poderosos e ricos castelhanos, dentre os quais, os três irmãos Rendons, d. Francisco de Lemos, D. Gabriel Ponce de Leon, natural de Guayrá, d. Bartholomeu de Torales, de Vila Rica do Paraguay, d. André de Zunega, D. Bartholomeu de Contreras y Rorales (irmão de André de Zunega), d. João de Espinola Gusmão, da província do Paraguay, e outros mais. Os componentes desse partido sobrescreveram termo de aclamação em 3 de abril de 1641, elegendo Amador Bueno da Ribeira, a rei de São Paulo. Ele, porém, recusou tão grande honra que lhe conferiram e com a espada desembainhada pronunciou as históricas palavras: "Viva D. João IV nosso rei, pelo qual darei a vida"!

Deu vivas, como leal vassalo, a D. João IV, rei de Portugal, em quem restaurou-se a monarquia portuguesa de 60 anos de sujeição ao domínio dos reis de Castella. Era esse homem, embora brasileiro, de sangue espanhol, e conservou-se fiel a Portugal recusando ser rei. Por esse ato, e por outros serviços que prestou á pátria, legou um nome immorredouro a seus descendentes. Recebeu carta do Rei, D. João IV, agradecendo su ato de lealdade. Casou-se em São Paulo, com Bernarda Luiz, filha de Domingos Luis, português, por alcuhna "o Carvoeiro", e de Anna Camacho, brasileira; e por esta, neta de Gonçalo Camacho, português, e de (fulana) Ferreira, brasileira; e por esta bisneta do nobre português Jorge Ferreira, e de Joanna Ramalho, brasileira; e por esta, terneta de João Ramalho, português, e de Mbicy, nativa brasileira; e por Mbicy, quartaneta de Tibiriçá, chefe dos nativos de Inhapuambuçú, localidade situada perto de São Paulo.

Advirto que o pai de Bernarda Luis, sogro de Amador Bueno de Ribeira, era homem importante, cavaleiro da ordem de Cristo. Esse apelido de "o Carvoeiro" não lhe foi dado por ser ele comerciante ou fabricante de carvão, e sim, por ter nascido em Portugal, em Marinhota, frequesia de Santa Maria da Carvoeira.

Jornal Correio Paulistano
Data: 30/03/1941 1941
Página 7

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